Capítulo 3
- Jasper, cuidado! - Gritei quando um zumbi mordeu seu braço, e outro chegou por trás, cravando os dentes em seu ombro. Eu começo a disparar a arma na direção deles, mas não acerto ninguém.
Pelo canto dos olhos vejo que mais e mais deles chegam, e Jasper cai de joelhos, sendo devorado.
- Calma, foi só um pesadelo - alguém fala, com as mãos nos meus ombros, me sacudindo, e vejo que é Jax. Metade do meu medo se vai por ver que não estou sozinha.
- Não - balanço a cabeça - Eu o deixei, eu... - o soluço cortava minha voz, meu peito parecia que ia explodir. A imagem de Jasper sendo devorado não sai da minha cabeça.
Uma única vela no chão iluminava a sala, longe da janela, quebrando a escuridão total, me permitindo ver pouco do seu rosto. Ele me olhava com cuidado. Eu estava tremendo e soluçando, as lágrimas não paravam de descer pelo meu rosto.
Eu senti seus braços em torno de mim e afundei o rosto contra seu peito, abafando o choro. Ele cheirava a cigarro e roupa lavada. Eu devia estar muito desequilibrada para estar sentindo cheiro de roupa limpa nele.
Ilusório ou não, me apeguei nesse sentimento de proteção que ele me passava.
- Você vai embora? - eu pergunto tão baixo que não tenho certeza se ele me ouviu. Eu me sentia ridícula por perguntar isso para alguém que eu mal conhecia.
- Shhh. Eu não vou a lugar nenhum. Durma - ele diz baixinho, acariciando meu cabelo.
***
Acordo e esta tudo quieto, sem sinal de Jax. Será que ele saiu? Passo os olhos pela sala, e vejo sua mochila e a besta no mesmo lugar de ontem.
Levanto e pego minha mochila, e caminho me equilibrando nos moveis, procurando o banheiro. A massagem de ontem deu resultado, meu tornozelo ainda dói, mas não como ontem. Passando pelo corredor, vejo porta-retratos na parede.
Um de homem e uma mulher que se abraçam, um de uma criança que persegue um cão em um quintal, outro da família pequena e feliz. Isso fez meu coração doer por pensar no que aconteceu essa família; Se o sangue nas paredes era deles ou não. Se afastei em direção ao banheiro, sem querer pensar nisso.
No banheiro, eu me olho no espelho. Meu cabelo castanho está um ninho imundo. Tento o arrumar com os dedos e faço um rabo de cavalo no alto da cabeça. Estou mais magra, minhas maças do rosto mais proeminentes que antes.
Limpo a sujeira do rosto com o resto de água da garrafa, quando ouço um estrondo e vidros quebrarem. O barulho continua e eu vejo que vem da cozinha.
Quando entro, vejo Jax no chão lutando com um morto-vivo gordo em cima dele. Vejo que sua faca está caída longe dele.
Manco o mais rápido que posso e pego a faca do chão com as mãos tremendo, e enfio atrás da cabeça do zumbi, que se partiu, encharcando a camisa dele de sangue. Ele joga o zumbi de lado.
- Oh Meu Deus! Você está bem? - pergunto, olhando seu corpo para ver se ele foi mordido. Mesmo não o conhecendo bem, eu não queria perdê-lo. Não depois de ver tanta gente morrer.
Ele tinha um sorriso no rosto, e eu o olho com cara de interrogação. Ele se levanta, ainda rindo. Uma raiva repentina invade minhas veias.
- Você acha isso engraçado? Qual é a merda do seu problema? - gritei, empurrando o peito dele.
- Fica calma e fala baixo - ele diz num tom repreensivo, mas calmo, dando dois passos pra mim, me fazendo recuar - Eu tinha tudo sob controle.
- Sob controle? Ele quase mordeu você! - joguei minhas mãos pra cima, não acreditando no que ouvi. Como ele pode brincar com uma coisa dessas?
- Eu estava te testando. Era a única forma de saber se você é realmente confiável. Se você me ajudaria.
- O quê? Me testando pra que? - perguntei confusa. Qual o problema desse homem? Meu coração esta na boca, tanto pela raiva quanto pelo susto.
- Eu tenho um lugar seguro. Uma comunidade. Esse foi um teste para ver se você iria enfrentar o perigo para me ajudar ou sairia correndo. Você passou. Quero que se junte a nós.
Fico parada tentando assimilar o que ele falou.
- Você disse que estava sozinho. Você mentiu antes, como vou saber que não está mentindo agora? - pergunto na defensiva.
Eu não sabia o que esperar. E se ele fosse um doente e tudo isso fosse um jogo? Ele cuidou de mim pra depois me matar ou coisa pior? Engulo seco e tento me acalmar.
Eu ando pra trás, me afastando dele, quando sinto a parede nas minhas costas.
- Eu não estou mentindo. Eu tenho um grupo, um bom lugar. Você quer vir comigo? - seus olhos estudam meu rosto.
- Você está mentindo. Se tivesse um grupo, não estaria aqui sozinho - eu praticamente cuspo as palavras.
- Eu vim a procura de suprimentos e remédios - ele fala calmamente, como se explicasse o obvio para uma criança.
Eu não poderia dizer se ele estava mentindo, seus olhos pareciam tão genuínos e inofensivos, mas não se pode confiar nas pessoas hoje em dia, Jasper sempre me disse isso.
Eu não respondo, apenas fico em pé, olhando para o rosto dele. Eu tinha tantas perguntas mas não conseguia formar uma frase.
Ele fecha o espaço entre nós colocando uma mão em cada lado da minha cabeça.
- Você acredita em mim? - ele pergunta perto do meu rosto. Seus lábios tão perto dos meus que podia sentir o calor de sua respiração. Meu peito sobe e desce rápido, tanto pelo medo quanto pela proximidade, mas eu não desvio o olhar.
Não poderia deixar essa oportunidade passar, não depois de tudo que passei. Ter um grupo, um lugar seguro. Isso era tudo que eu queria... Tudo que eu e Jasper queríamos.
Eu concordei com a cabeça. Ele dá um sorriso de canto.
- Bom. Agora arrume suas coisas, saímos em cinco minutos - ele diz e sai em direção a sala.
Lembrei de ontem à noite. Ele cheirava a roupa limpa, então ele realmente pertencia a um grupo. Eu fiquei parada um tempo, encostada na parede, pensando que isso era bom demais pra ser verdade. Uma pessoa legal, um grupo, um lugar seguro finalmente.
Jax estava de costas, trocando a camisa suja quando entrei na sala. Pude ver a enorme tatuagem que ele tinha. Um ceifeiro com rosto de caveira que cobria grande parte das costas. Wow. Combina com ele.
A calça jeans folgada deixava parte da cueca branca aparecendo. Meu olhar passa pelos ombros largos e músculos tensos, quando de repente ele se vira e eu quero morrer.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele sorriu pra mim. Provavelmente pela expressão que estava em meu rosto. Senti meu rosto esquentar e desvio o olhar, começando a calçar meu tênis.
- Não precisa calçar - ele diz quando eu tento pôr o tênis no meu pé enfaixado.
- Nós não estamos saindo? - pergunto, olhando pra cima.
- Estamos, mas não vamos andando. Tenho um carro atrás da casa.
- Serio? O que mais você está escondendo? - pergunto erguendo as sobrancelhas, mas não deixo de estar aliviada por não precisar andar com meu tornozelo nesse estado. Não estava péssimo como ontem, mas ainda doía.
- Mais nada, eu juro - ele arqueou as sobrancelhas e levantou as mãos como se estivesse se rendendo. Eu me sinto estranhamente à vontade perto dele.
- Obrigada por ontem à noite. Por tudo o que você fez - digo meio sem graça, mas nao poderia deixar de agradecer. Ele assente e olha pro chão, e depois pra mim.
- Quem é Jasper? Você disse o nome dele algumas vezes enquanto dormia.
- Meu amigo - engulo o no na minha garganta - Fomos cercados, e ele ficou pra trás para eu poder fugir. Sempre fomos eu e ele, e agora...
Eu sempre mantinha a esperança que minha família estava viva, mas Jasper... não havia como ele escapar.
Ele se abaixou na minha frente, deixando nossos olhos no mesmo nível.
- Ele não é a primeira nem a última pessoa que você vai perder... é assim que são as coisas agora. Não foi culpa sua.
Apesar das palavras, o jeito suave como ele disse tornou mais leve.
- Eu sei - disse balançando a cabeça, tentando me convencer de suas palavras.
- Você é durona - ele fala - O jeito que você me empurrou lá na cozinha... Eu me desequilibrei por um momento - ele diz sério, tentando segurar o riso.
Revirei os olhos, rindo. O empurrão que eu dei nele não o fez se mover nem um centímetro. O jeito como ele agia era para me fazer ficar bem.
- Você deveria tomar cuidado, se eu sou assim com um pé machucado, imagine o que posso fazer quando estou 100% - respondo, entrando na brincadeira.
- Não me incomodaria em descobrir - ele responde com a voz rouca, e eu mordo o lábio, sentindo as maçãs do meu rosto esquentar. Ele fica de pé, joga a crossbow no ombro e estende a mão para mim.
- Vamos? - perguntou, como se estivesse querendo saber se eu estava preparada.
- Vamos - suspiro, pegando sua mão.
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