Capítulo 28
— Não precisava me esperar — eu disse quando vi Jasper do lado de fora do meu quarto. Comecei a subir as escadas, com ele do meu lado. Eu não olhei para ele. A cada passo que eu dava, eu sentia minhas pernas fraquejarem.
Quando Jasper abriu a porta para eu entrar, a primeira pessoa que eu vi foi Negan, apoiando na mesa de frente para Bellamy, que estava sentado. Ele olhou para mim, mas não parecia com medo, só tenso. Simon e Arat estavam perto do sofá que tinha ali. Havia outras pessoas na sala que eu só conhecia de ver pelos corredores.
— Ai está ela — Negan fala olhando para mim — Pensei que você tinha algo mais importante para fazer, já que nos fez esperar.
Eu não respondi nada, eu não sabia se era um comentário ou eu devia falar algo, mas eu preferi ficar calada.
— Vamos começar — ele avisa, apontando com o taco para a cadeira ao lado de Bellamy — Sente-se.
Sentei, olhando para Bellamy que estava com o rosto sério.
— Me fale o que você fez nos últimos dias — ele pergunta a Bellamy.
— Eu estava trabalhando no que você mandou — Bellamy começa — E ontem eu sai para conseguir algumas coisas que faltavam.
— Já fazem semanas, e você ainda não conseguiu arrumar as malditas placas. Você não está sendo produtivo. Se você não é útil, você não é melhor que a porra de um caminhante.
— Eu sei — Bellamy fala hesitante entre olhar ou não para Negan — Eu não estava achando o que precisava.
— Você achou?
— Sim. Em dois dias vai estar tudo pronto — ele garante, e Negan parece ponderar o que ele disse.
— Sabe qual a única razão para seu cérebro não estar enfeitando chão do meu escritório agora? — ele gesticula, com Lucille no ar — Você é o único que sabe arrumar essas placas do caralho. E eu realmente gosto de tomar banho quente.
Ninguém responde nada, esperando ele continuar. Eu cruzo os braços, sentindo minhas mãos suarem.
— Sabe, Bellamy — Negan dá uma batidinha com Lucille em cima da mesa — Você é um dos meus melhores homens. Tanto que cuidava da porra de um posto inteiro para mim antes de eu precisar de você aqui. Certo?
— Sim — Bellamy concorda, parecendo um pouco relaxado pela conversa ter mudado de foco.
— Mas talvez você deva deixar de ser um Salvador e voltar a trabalhar por pontos. Como isso soa pra você?
— Eu estou bem sendo um Salvador — ele se endireita na cadeira, e eu não entendo onde Negan quer chegar com isso. Eu esperava chegar aqui e vê-lo de joelhos sendo machucado, não Negan dando uma palestra.
— Claro que está — ele riu — Você tá bem pra caralho sendo um. Mas não foi isso que eu perguntei. Quero saber como soa para você voltar a trabalhar por pontos?
— Ruim.
— Exatamente — Negan disse pausadamente, aumentando o tom de voz — É um inferno, e você sabe bem disso, porra. Mas pelo que vejo, você não tá se importando muito em manter seu cargo. Principalmente levando alguém aqui de dentro para fora.
Ele olhou para mim e sorriu, e eu percebi que ele tinha chegado onde queria. Isso não era sobre Bellamy concertar as placas, era sobre eu ter ido com ele.
— Não foi ele que... — eu fui cortada por Negan antes de terminar.
— Eu estou tentando ser legal, então, eu sugiro que você mantenha essa linda e pequena boca fechada enquanto eu falo. A não ser que eu faça uma pergunta. Então você pode abrir essa boca bonita e falar tudo o que você quiser.
— Se eu soubesse que teria problema eu não teria levado ela. Eu juro que eu... — Bellamy começou a se desculpar como se a culpa fosse dele.
— Não — eu disse mais alto, e Bellamy parou de falar — Eu pedi para ir. Pelo que eu sabia não existe nenhuma regra que impeça alguém de sair do Santuário para buscar coisas o funcionamento daqui.
Todas as cabeças da sala viraram para mim, obviamente surpresos pela minha ousadia. Senti Bellamy como uma pedra ao meu lado, acho que ele nem estava respirando. A tensão densa no ar era quase sufocante.
— Você quer mesmo ter uma conversa sobre as regras daqui? — ele me pergunta, com humor na voz.
— Só estou querendo saber por que estou aqui sendo que não desobedeci nenhuma regra — eu aponto para Bellamy — E ele também não, muito pelo contrário, estávamos lá fora, provendo para você.
Eu questionei, a excitação nervosa estava começando a subir pela minha garganta novamente, mas eu não dei nenhum sinal disso. Eu recusei a ceder agora.
Ele travou o maxilar e cerrou os olhos para mim, parecendo atordoado, como se ninguém jamais ousasse falar com ele assim antes. E ninguém ousava.
Eu já o tinha questionado, mas nunca na frente das outras pessoas. Eu sabia que ele estava louco por eu estar usando seus argumentos contra ele, mas eu não ia parar. Não tinha motivos para ele estar fazendo isso.
— É justo. Mas a partir do momento que você para de cumprir suas obrigações aqui, a merda é outra, querida — sua mão se apertou em torno do bastão, um sinal claro para eu calar a boca.
— Achei que isso só dizia respeito à mim, sendo que se eu não ganho pontos, a única prejudicada sou eu — eu respondi no mesmo tom.
A sala estava em completo silêncio que poderia ouvir o som de uma agulha caindo no chão. Ele deu o passo de volta para mim, seus olhos nunca deixando os meus. Ele se inclinou para ficar o meu nível, olhando diretamente para mim.
Eu não me encolhi, mesmo com a adrenalina correndo tão forte nas minhas veias que eu senti o ar se recusando a entrar nos meus pulmões. Então, ele sorriu. Amplo e errático. Era o mais charmoso dos sorrisos, mas por trás dele, ele tinha uma malícia sombria. Ele ficou com sua postura ereta de novo, e seu sorriso sumiu no mesmo segundo que ele tirou os olhos de mim.
— Saíam — ele vocifera, sem olhar para ninguém, enquanto coloca Lucille com cuidado em cima da mesa. Negan não era alguém que alguém queria estar por perto quando ele estava com raiva, e todos começaram a caminhar para fora imediatamente — Você não — ele aponta para mim, quando eu fico de pé.
Ninguém parou — ninguém era louco a esse ponto — mas Bellamy virou a cabeça, assim como Jasper, mas foi só isso, eles saíram e a porta se fechou, deixando-nos no mais absoluto silêncio. Eu não me sentei, fiquei onde estava.
— E o que eu vou fazer com você? — ele perguntou, arrastando cada palavra como um relógio lentamente marcando os segundos. Eu já perdi a conta de quantas vezes ele disse essa frase para mim.
— Me deixar ir seria agradável — retruquei, a raiva substituindo a inquietação em meu peito. Eu não estava com medo por mim, mas pelo que ele faria a Bellamy. Negan deu um passo para trás, parecendo tentar me ler, mas eu mantive a expressão neutra.
— Acha isso engraçado? — ele segurou meus braços, me puxando.
Ele me olhou profundamente nos olhos. Eu sabia que ele estava com raiva. Seus músculos estavam tensos, suas mãos me seguravam com firmeza e seu olhar era gelado. Alguns segundos se passaram, mas eu não pronunciei nenhuma palavra.
Ele riu e tirou a mão dos meus braços, e eu pensei que ele fosse me soltar, mas ele agarrou minha cabeça me puxando para perto, me beijou forte. Ignorei-o e não retribui o beijo. Senti todo seu corpo se enrijecer e o sorriso sumiu de seus lábios. Ele tirou a boca da minha, afastando o rosto para me olhar.
Tudo que eu queria era puxar seu rosto de novo e o beijar. Mas com o restinho de sanidade que me sobrava, eu o empurrei. Ele me olhava atordoado.
— O que você pensa que está fazendo? — murmurei, dando um passo para trás e soltando o ar todo de uma vez que eu não tinha percebido que estava segurando.
— Emma — ele deu um passo à frente e eu dei dois para trás.
— O que diabos você pensa que está fazendo? — repeti a pergunta com a entonação mais afetada e desta vez, esperando uma resposta que não veio. Ele só me olhava pasmo e imóvel. Então continuei.
— Quem disse que você poderia me tocar? Depois de tudo que você me disse — eu passei a mão no cabelo, tentando organizar os pensamentos — Você realmente achou que eu ia beijar você?
— Emma, você não pode mudar o que aconteceu — ele engrossou um pouco a voz, seu tom possessivo enfatizando suas palavras — Você é minha, e não existe nada no mundo que possa mudar isso.
— Eu não sou sua e nem de ninguém. Você não pode simplesmente tomar posse de mim como se eu fosse um objeto.
— Ah, eu posso sim. Não foi isso que você disse enquanto se contorcia comigo dentro de você — ele parou e estudou minha reação. Mas eu não tinha uma para ser estudada — Você é minha, assim como todos aqui são, assim como seus amigos de Alexandria são.
Eu não tive oura reação a não ser rir. Isso era absurdo.
— Seu ego é ridiculamente enorme. O fim do mundo acontece e você toma como seu playground. Dizendo às pessoas que você as possui. Que você possui todos? Somos crianças no seu playground? Quero dizer.. isso é uma piada?
Eu senti sua respiração pressionando em meu rosto e engoli pesadamente. Seu sorriso tinha desaparecido e eu poderia dizer que ele estava de repente muito sério. Ele foi em direção a mesa e pegou o bastão, segurando meu braço em seguida.
— Nós estamos subindo — ele avisa, caminhando para a porta. Dou um puxão e consigo tirar meu braço da mão dele.
— Nós não estamos indo a lugar nenhum. Eu não vou para o seu quarto.
Ele passou a mão no rosto e fechou os olhos antes de me encarar de novo.
— Eu quero conversar com você — Negan começou, dando um passo adiante e fechando a brecha entre nós novamente. Ele parecia estar tentando ficar calmo.
— Você vai fazer o que com ele? — eu perguntei e toda a calma que ele tinha reunido foi embora.
— Porque você se preocupa com as pessoas? Foda-se esse filho da puta. Você está dando para ele? Por isso está preocupada?
Quando eu levei a mão para bater nele, ele segurou meu pulso.
— Você ia me bater, caralho? — o fogo nos seus olhos me fez querer sair dali ainda mais rápido.
— Você não pode tratar me assim. Eu não sou uma vadia — o nó na minha garganta e o aperto no meu estômago eram sufocantes.
— Eu sei que você não é. Para com isso — ele pediu enquanto eu tentava me soltar.
— Então me solta — eu falo entredentes.
— Você vai subir comigo — não era um pedido. Ele me solta, sua mão agora apenas me guiando para a porta.
Quando chegamos ao quarto, ele me colocou para dentro antes dele. Ele estava furioso quando colocou Lucille em cima da mesa. Ele andou de um lado para o outro, passou os dedos pelos cabelos e na barba sem me olhar.
Eu me sentei no sofá, pronta para todas as perguntas que viriam. Eu só queria responder e ir embora.
— Por quê? — ele perguntou. Ele parou de andar, ficou mais calmo e olhou para mim esperando uma resposta.
— Por que o quê? — eu pergunto sem saber o que tinha para explicar. Eu queria responder corretamente e poder sair daqui.
— Por que você estava lá fora com ele?
Olhando em seus olhos e ouvindo o tom em sua voz, eu entendi o que estava acontecendo. Ele estava inseguro, mas estava tentando esconder, agindo duro e me questionando.
— Eu só queria sair um pouco daqui — eu digo a verdade.
— Porque? O que há de errado? Você não gosta daqui? — ele questionou, parecendo se importar em entender.
— Eu só queria sair um pouco daqui — eu repeti o que já havia dito.
— Porque com ele? — ele me olhava de cima, parado na minha frente.
— É bom ter alguém com quem se possa conversar. Alguém que não quer só usar você — eu disse, não querendo expor minha raiva e frustração, mas era impossível. Negan assentiu com as sobrancelhas franzidas.
— Você transou com ele? — ele perguntou, como se eu devesse explicações a ele. Eu já estava no inferno, e não ia dar esse gosto para ele. Dei os ombros.
— Pode ser com ele, pode ser com qualquer outro. Você nunca vai saber.
— Você quer mesmo matar o cara que esquenta a água do seu banho? Muito egoísmo da sua parte, Emma — seu tom era de puro deboche.
— Pelo menos ele faz algo útil — eu fiquei de pé, de frente para ele.
— Você transou com ele? Eu estou te perguntando, mas eu com certeza posso fazer ele falar — disse em um tom ameaçador.
— Vá em frente — eu gritei, apontando para a porta — Se quer matar cada pessoa que chegar perto de mim, problema seu. Você já tirou tudo de mim. Tirou até Jasper. É só isso que você sabe fazer, destruir as pessoas.
Eu não consegui segurar. Ele conseguia me tirar do sério, mesmo eu tentando ficar calma e resolver as coisas. Ele deu alguns passos longe antes de voltar. Ele lembrou de um tigre agitado andando em sua gaiola.
— Eu quero ficar com você — ele começou, levando sua mão para me tocar, mas eu a empurrei.
— Para — os olhos de Negan se arregalaram ligeiramente — Tudo o que você vai dizer é besteira e você sabe disso — eu tentei estabilizar a respiração, desanuviar minha mente — Você só quer me levar para a cama, já que isso não vai acontecer, então corta isso e me deixa ir embora.
— Você não sabe o que eu vou dizer — ele disse sério, sua postura rígida. Ele me olhava como se estivesse querendo dizer algo que não conseguia. Do mesmo jeito que ele me olhou naquela noite que disse aquelas mentiras. E isso fez meu coração doer ainda mais.
— O que você quer, Negan? Você em todas essas mulheres. Porque eu? — minha voz estava quebrada e exausta. Ele desviou o olhar, quando finalmente olhou para mim. Ele realmente olhou para mim, não questionando, ou confuso, ou zangado, mas quase em transe.
— Você me desafia. Não tem medo de mim. Você me empurra até o limite, e isso me deixa ainda mais louco por você — ele parou na minha frente, segurando meu rosto — É como um fogo queimando dentro de mim. Eu não sei explicar. Confie em mim, eu tenho tentado descobrir isso.
Eu cruzei os braços e desviei o olhar, mas havia um sentimento. Havia algo mais em suas palavras e eu não sabia se queria descobrir o que era isso. Havia algo que eu queria dizer, mas eu não sabia o quê.
Ele segurou meu queixo e me beijou tão profundamente que eu senti como se estivesse flutuando no ar. Ele tinha feito eu me sentir assim antes, mas nunca tão intenso. Eu quase senti como se eu fosse chorar. O sentimento era esmagador. Eu coloquei minhas mãos em seu cabelo e gentilmente o puxei para trás, fazendo-o olhar para meus olhos.
— Eu não posso mais fazer isso — eu suspirei, descendo as mãos pelo seu peito antes de deixa-las caírem ao lado do meu corpo.
— Eu agradeço essa consideração que você em por mim mesmo depois de eu... desafiar você. Isso nunca mais vai acontecer. Eu só quero viver minha vida, bem e sem problemas.
Ele estava me olhando com uma expressão estoica, ouvindo, olhando diretamente para mim, bem em meus olhos. Ele nunca tinha realmente me ouvido. Ele sempre fazia alguma brincadeira ou qualquer coisa.
— Eu mereço mais do que ser usada como um brinquedo. Não que eu esperasse mais de você, é só que... eu não quero isso para mim.
Ele passou a mão no cabelo, olhando o chão um bom tempo antes de voltar para mim.
— Você disse que queria me conhecer, Emma. Naquela noite, a forma como você me olhou... Com carinho, não como se eu fosse uma pessoa ruim — sua voz rouca e baixa era quase como se estivesse me contando um segredo.
Eu queria acreditar, céus, o que mais eu queria era isso, mas eu sabia que era mentira. Eu estava com todas as minhas defesas levantadas.
— Você devia estar muito bêbado para ter visto isso.
— Eu não estava. Eu sei que você lembra, Emma — falou, fitando meus olhos — Eu também me lembro do que te disse. De tudo.
— Não importa. Era tudo mentira. Eu não quero ouvir mais nada.
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