Capítulo 22
Dias depois
Por incrível que pareça, os dias seguintes foram calmos. Já era noite e havia poucas pessoas do lado de fora, eu, Lauren e Brand — um garoto novo e assustado que havia chegado a alguns dias — estávamos terminando de passar as coisas de um galpão para o outro, e depois de um dia cheio, havíamos finalmente conseguido.
— Leva isso e acabamos — ela chuta uma caixa em direção a Brand — Essa vai na sala 8 ao lado do disjuntor inativo. Sabe onde fica?
Ele nega com a cabeça e ela bufa. Lauren era muito legal, mas não tolerava quem fazia corpo mole. Mesmo nós duas sendo amigas, eu nunca me aproveitei disso para ela aliviar meu lado.
— Deixa que eu levo — eu tiro a caixa da mão dele — Nos vemos lá em cima — eu digo a Lauren.
Caminho rápido, não gosto de ficar afastada de onde tem pessoas, principalmente à noite. Depois de deixar a caixa na sala eu chego ao lado de fora, passando pelo primeiro galpão. Alguém cobre minha boca e me arrasta para dentro. Eu me debato, gritando abafado, tentando em vão me soltar dos braços.
— Não grita, sou eu, Jesus, de Hilltop — ele fala ainda tampando minha boca, e eu automaticamente paro de tentar me soltar. Como ele entrou aqui?
Ele me vira de frente para ele, com a mão ainda em minha boca. Mesmo com a pouca claridade, seus grandes olhos claros me fitam dizendo para eu ficar calada. Ele tira a mão da minha boca e tira o lenço que está cobrindo a sua.
— Eu não tenho muito tempo, escuta com atenção — ele começa, falando baixo — Nós precisamos saber informações daqui, você acha que consegue alguma coisa?
— Informações? Que tipo de informações? Como você está aqui? — eu pergunto num sussurro. Meu coração está na boca ainda.
— Nós precisamos saber como é o funcionamento daqui, como eles trabalham, onde ficam os demais postos — ele me puxa para longe da claridade quando um grupo de homens passa falando alto — Você acha que consegue?
— Eu não sei. Eu não tenho acesso a esse tipo de coisa — eu penso em Jasper, mas eu não meteria ele no meio disso.
— Nós vamos atacar, não sabemos quando, temos que reunir o máximo de informações possíveis. Quanto mais preparados estivermos, menos pessoas morrerão.
— Nós quem? Hilltop e Alexandria? Isso não é o suficiente — digo quando lembro da sala recheada de armas que eu vi, e as pessoas daqui não pensariam duas vezes em obedecer as ordens de Negan.
— Estamos unidos com outra comunidade. Vai dar certo, mas precisamos da sua ajuda.
— Jesus, você está arriscando demais vindo aqui, se eles pegarem você... — eu aviso.
— Não se preocupe com isso, ninguém vai me ver — ele diz calmo e convicto — Emma, você vive aqui, deve saber como é a rotina, quando eles saem e quando voltam, alguma coisa você sabe. É disso que precisamos.
— A única coisa que eu vi é uma sala cheia de armas. Eles saem sempre, mas sempre fica muita gente aqui.
— O que mais? Acha que há pessoas que sabem atirar bem para usa-las?
— A maioria daqui são pessoas comuns, sem treinamento — ele parece pensar por um momento.
— Isso é bom — ele concorda com a cabeça — Você poderia fazer uma planta do prédio? Jax disse que você sabe fazer esse tipo de coisa.
— Não posso fazer isso, se vocês atacarem ou lutar, pessoas inocentes vão morrer, eu...
— Pessoas já estão morrendo — ele me corta, o peso de suas palavras afundando em meu peito. Ele estava certo. Isso não podia continuar.
— Como estão todos?
— Por enquanto bem. Não sabemos o que esperar, mas não vamos ficar parados — disse, com a testa franzida — Jax está preocupado com você, assim como os outros. Ele está com medo de Negan fazer algo com você.
— Ele não vai me machucar — falo rapidamente. A única coisa que ele quer fazer comigo não envolve me matar. Mas se ele descobrir que eu estou ajudando eles, não vai ser só eu quem vai morrer. Balanço a cabeça, me livrando do pensamento — Não esquentem com isso. Vou conseguir o máximo de coisas possíveis.
— Tudo bem. Reúna o que conseguir durante a semana e na próxima semana eu venho aqui pegar — ele fala, cobrindo a boca com o lenço.
— Como vou saber que você está aqui? — Vou vir com eles no caminhão. Fique atenta. Dou um jeito de encontrar você. Não deixe ser pega — ele fala antes de desaparecer na escuridão.
Ele era louco. Ou eu que era, em concordar com isso. Se Negan descobrisse isso, ele mataria todos sem pensar duas vezes, e eu iria no mesmo pacote. Mas eu não poderia deixá-los na mão. Eu sabia que uma hora ou outra isso ia acontecer, só não achei que eu estaria com a mente tão despreparada.
— Ei, Emma! — escuto alguém me chamar quando entro no corredor do meu quarto. Eu tinha encontrado Lauren no meio do caminho, e estava tentando disfarçar minha cara pelo que acabou de acontecer.
— Desculpa não ter aparecido aquele dia, me mandaram sair e fazer algumas coisas e fiquei uns dias fora — Bellamy fala. Minha cabeça ainda está no que aconteceu a minutos atrás, e eu levo um tempo para processar.
— Ah, sem problemas.
— Vamos beber algo depois do jantar. Não aceito não como resposta.
— Ela vai. Eu ia mesmo chamar ela — Lauren se manifesta antes de eu abrir a boca. Eu olho para ela de cara feira.
— Vou sim — digo olhando para ele, que, pela cara de felicidade esperava que eu dissesse não — A gente se vê mais tarde.
Saio caminhando, deixando os dois para trás. Eu precisava de um banho frio para acalmar minha mente.
***
Quando Bellamy disse "vamos beber algo" eu achava que seria uma bebida olhando para o céu. Mas não era. Longe disso. Entramos em uma sala que mais parecia um bar, cheio de mesas, pessoas jogando cartas e sinuca. O mais estranho não era esse lugar — dado que as coisas aqui eram sempre mais do que em qualquer outro lugar — mas sim pensar que depois de todo esse tempo ainda havia cerveja.
— Então, como chegou aqui? — ele pergunta, abrindo a cerveja e me entregando. Estamos em uma mesa, enquanto Lauren estava longe, conversando com outras pessoas.
— Meu amigo achou esse grupo depois que nós nos perdemos um do outro. Ai nos reencontramos eu vim para cá — bebo um gole da cerveja e decido não falar de como aconteceu esse reencontro.
— É o Jasper, não é? — ele pergunta e eu concordo com a cabeça — Ele é só seu amigo?
— Sim.
As pessoas sempre achavam que nos éramos namorados, talvez pelo cuidado que ele sempre teve comigo.
— Que bom, não quero arrumar problema com ninguém — ele diz e eu rio nervosamente, pensando em Negan. Não queria que Bellamy se machucasse.
— Claro que não, ele é como um irmão para mim.
— Eu tenho uma irmã — ele fala olhando para frente, onde as pessoas estão jogando sinuca, e eu noto que é a mesa do Spencer. Era.
— Sério? Ela está aqui também? — eu pergunto. Hoje em dia era raro as pessoas ainda terem alguém da família.
— Não. Ela ficou com o cara que ela tá — pela cara dele, ele não gostava muito do cunhado — Ele é um babaca, mas cuida bem dela.
— Pelo menos você tem alguém vivo — eu suspiro, não querendo lembrar da minha família — E você, porque veio para cá?
— As placas solares daqui estão com problema, e eu sou o único que sabe arrumar — ele fala dando os ombros — Não sei se Negan vai querer que eu fique depois de terminar.
— Era isso que você fazia antes disso tudo? — Mais ou menos. Eu fazia faculdade, mas meu pai trabalhava com isso, então eu entendo. Nunca pensei que fosse agradecer ele por alguma coisa.
— Bellamy! — alguém gritou e nós viramos para onde veio o som. Havia três caras sentados numa mesa de pôquer a umas duas mesas a nossa frente, um deles com a mão levantada, fazendo sinal — Vem jogar.
— Não sou muito bom no pôquer — Bellamy grita de volta. Uma mulher ruiva se senta com eles, desviando um pouco a atenção deles — talvez pelo generoso decote.
— Foda-se, a gente precisa de mais um jogador. Você pode trazer ela de enfeite, é só ela sentar aqui e ficar quietinha — o homem fala olhando para mim, assim como os outros na mesa.
— Se eu sentar nessa mesa vai ser pra fazer você perder — bebo um gole da cerveja e vejo ele rir.
— Sabe jogar, meu bem? — ele pergunta debochando, enquanto embaralha as cartas.
— Sei — eles se entreolham e riem.
Homens e sua mania de subestimar as mulheres. Meu pai jogava muito bem, e quando eu digo muito bem, é muito mesmo. Ele me ensinou todas as regras, blefes e artimanhas do jogo. Levantei para jogar a garrafa vazia no lixo.
— Então deixe que ela jogue — uma voz rouca falou atrás de mim e todos viraram para olhar.
Negan passou por mim e se sentou na ponta da mesa, e todos os homens ficaram em silêncio.
— Sente-se querida — ele diz para mim — Vamos ver se você é boa como diz.
— Você joga também? — perguntei olhando para Bellamy.
— Claro — ele levantou e tocou minhas costas, me deslocando em direção da mesa e sentando ao meu lado.
Negan me olhou profundamente nos olhos. Eu sabia que ele estava irritado. Seus músculos estavam tensos, mesmo não querendo transparecer isso. Claro que ele não iria mostrar, não na frente de todos.
— E você, sabe jogar? Seria bom mais uma mulher na mesa — Negan pergunta a mulher que nega com a cabeça. Ela sorri para ele, praticamente se debruçando na mesa. Claro que não sabe. A única carta do baralho que ela deve conhecer é paus.
— Vai jogar, chefe? — um dos homens pergunta.
— Hoje não — ele se recosta na cadeira. Os olhos dele faiscavam na minha direção.
— Nós apostamos pontos — o homem que ouvi chamarem de Harrison me dá uma caneta e um pedaço de papel — O mínimo são 50. Quem ganhar leva tudo.
Eu anoto o número 50 no pedaço de papel e coloco em cima da mesa, onde estão os outros. Bellamy faz o mesmo. Um cara faz menção de embaralhar as caras, mas Negan levanta um dedo, e ele para.
— Mostre-me a sua habilidade em embaralhar e dar as cartas — ele diz olhando para mim. Seu tom é extremamente neutro e desafiador.
Engulo seco e deslizam o baralho na minha direção. Embaralhei e distribuir as cartas com maestria. O homem na minha frente examinou as cartas que tinha na mão e assobiou baixinho.
Negan não tirava os olhos de cima de mim, me mirava a cada movimento e eu sentia como se tivesse uma arma apontada para a cabeça.
A mesa estava silenciosa, e notei que o homem a minha esquerda mantinha um sorriso sacana no rosto e, pelas cartas que ele pegou, provavelmente devia estar com um Full House. Eu também.
— Tenho um Full House e vocês me devem uns pontos – disse com a maior cara de alegria do mundo. Como previ.
— Eu não cantaria vitória antes da hora — eu falo e eles me olham — Tenho um Full House de 9 e, pelo visto, o seu Full House de 7 não é bom o bastante — sorri para os derrotados. Eu estava muito bem. Um Full House na primeira rodada.
— Uau, você está me surpreendendo — o de boné diz, começando a embaralhar as cartas.
Olhei para Negan que falava com a ruiva. Ela sorria e falava ao pé do ouvido dele tão sedutoramente que meu estômago revirou. Eu não esperava ver aquilo, e eu realmente não queria ver, mas meus olhos estavam grudados na cena. Ela era alta e ruiva, e literalmente dava duas de mim, tanto na altura como no corpo.
Negan sorriu, correndo os olhos pelo corpo dela. O problema não era esse, o problema era eu estar incomodada com isso.
— Você é boa mesmo — Bellamy puxa sua cadeira para mais perto de mim, me fazendo desviar o olhar para ele — Eu não botei muita fé quando você disse que sabia jogar.
— É fácil, e eles blefam muito — eu falo baixinho e ele concorda. Continuamos e eu ganhei a próxima rodada também.
— Royal Straight Flush – falo deitando as cartas na mesa.
— Você tá brincando – o cara tira o boné e joga na mesa, junto com suas cartas. Eu não tenho como não rir.
— Tem que dar um desconto, você nos distraiu um pouco — Harrison fala, sorrindo malicioso.
— Não arrume desculpas por você ser ruim pra caralho, Harrison. Você nunca ganhou antes, não ia ser agora — Negan fala e o sorriso do homem desaparece na hora. Era a primeira vez que ele tirava a atenção do decote da ruiva para se manifestar.
— Obrigado pelo jogo — falo levantando da mesa, e pegando os pontos que ganhei. Bellamy fica de pé também.
— Sempre que quiser, meu bem — um deles fala.
Um cara moreno e baixo chega ate a mesa e fala com Negan, abaixado perto dele.
— Leva o Bellamy com você — Negan fala serio e Bellamy para onde está, olhando para ele, assim como eu. O moreno faz sinal para Bellamy segui-lo.
— A gente se vê amanhã — ele fala rapidamente quando passa por mim, antes de ir atrás do cara. É claro que ele não ia perguntar a Negan porque ou onde precisava ir, ninguém fazia isso.
Saio de perto da mesa em direção a porta, já que não tinha mais nada para fazer aqui, quando Lauren me puxa.
— Vamos jogar sinuca — Lauren avisa e eu levanto os papeis com os pontos que ganhei — Você ganhou tudo isso? Pode ficar a semana sem trabalhar.
— Cuidado para não quebrar as unhas — viro para onde veio a voz e vejo Arat, perto da parede onde estão pendurado os tacos.
— Quer jogar? Tem tacos de sobra — eu falo pacificamente, mesmo sabendo que ela não vai com a minha cara. Ela não ia com a de ninguém. Lauren arrumas as bolas na mesa, mas vejo que ela está prestando atenção no que acontece.
— Você devia dar uma volta por ai, ver se alguém te paga uma cerveja — ela fala para me provocar.
— Posso pagar minha própria cerveja. Talvez você esteja com medo de perder — eu falo sorrindo e erguendo as sobrancelhas, e vejo que devia ter calado a boca, mais uma vez.
Não sei se foi a intolerância ao álcool que fez com que essa única cerveja me enchesse de coragem, mas o fato é que as palavras saíram lindamente da minha boca.
— O que você disse, vadia? - ela bateu com o um taco na mesa, o partindo ao meio. Eu não esperava por isso. Ou ela que esperava que eu falasse qualquer coisa para partir para cima de mim, e ela fez.
Antes dela conseguir avançar, eu a chutei na barriga, a fazendo cair em cima de uma das mesas, derrubando o que havia em cima. Ela se levantou num pulo e me acertou no rosto.
Arat agarrou em meu cabelo dolorosamente, e eu cai por cima dela. Ela bateu com tudo no chão, e quando diminuiu o aperto no meu cabelo eu me levantei de cima dela.
Quando eu fui para dar um chute, longos braços se envolveram em torno de mim, me puxando pra longe dela. Ainda me segurando, sua voz berrou.
— Que porra é essa?
Era Negan. Depois disso, hoje seria o dia que ele me assassinaria publicamente. Mas como eu não poderia revidar quando ela tinha iniciado? Arat levantou-se para falar.
— Essa puta idiota — Arat falou entre respirações. Ela se lançou para outro ataque e Negan afastou ela, se colocando na minha frente.
— Arat, corta essa merda agora. Por mais que eu adoraria ver uma briga de garotas, essa merda não acontece aqui — ele falou pesadamente e ela se encolheu um pouco. Ele olhou a bagunça de mesas e garrafas caídas, quando viu o taco quebrado.
— Isso foi sobre o jogo? Você tem que estar brincando — ele riu para si mesmo — Tudo bem, nenhum filho da puta sai daqui sem arrumar essa bagunça do caralho — Negan gritou e todos começaram a se mexer. Ele olhou para Arat antes de me puxar pelo braço e me levar para fora.
Oi pessoassss
Amanhã posto a continuação, tive que dividir em dois, porque não sei se vocês gostam de capitulos grandes. Beijos
P.S.: eu não entendo nada de pôquer (li um pouco e escrevi, não sei se esta certo) então, por favor, me desculpem.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top