Capítulo 16
Fiquei boa parte do caminho olhando para fora da janela, me mantendo para mim mesma. Meus olhos estão um pouco pesados de todo o choro e estresse, e o caminho de volta para o Santuário era longo, mas eu não queria dormir no carro.
- Eu não sou um cara tão ruim - Negan murmurou, pegando minha atenção. Era a primeira frase que ele trocava comigo depois de tudo o que aconteceu a algumas horas.
- O quê?
- A vida é diferente agora. Tem que mostrar as pessoas quem manda, antes que alguém tente alguma besteira. Nem tudo é luz do sol e arco-íris - ele riu - Eu não sei por que ficar desse jeito, você mais do que ninguém sabe o que ele me pediu.
Ao mesmo tempo que eu pensava que Negan não precisava ter matado ele, eu tinha plena certeza que uma hora ou outra ele ia armar contra o Rick. Na verdade ele armou, falando com Negan. Mas eu estava assim por causa de Olivia.
- Não estou assim por ele. Olivia era inocente.
- Eu, pessoalmente, não teria a escolhido, se isso te consola - ele diz em tom de deboche, me fazendo virar para olha-lo.
- Quem o transformou nesse maldito monstro? - eu perguntei, sussurrando com voz trêmula.
- Eu não sou um monstro. É assim que a porra do mundo funciona agora.
- Isso não é desculpa para matar alguém inocente. Você não dá a mínima para ninguém - eu mexi o braço, sentindo o sangue começar a ressecar a pele. Tudo que eu ouvi foi Negan rir.
- Você pode não entender mais como é lamentar e sentir emoções, mas eu faço - sibilei com a voz rachada.
Todo mundo já fez coisas cruéis, era assim que se sobrevivia. Mas eu nunca poderia imaginar fazer as coisas que ele faz, especialmente porque ele parecia gostar.
- O que vai fazer com ele? - eu pergunto, pensando Deus sabe o que ele faria a Jax.
- Não é assunto seu, não pergunte de novo - ele avisou, agora sem nenhum humor na voz. Fizemos o resto do caminho em silêncio.
Quando chegamos no Santuário, já estava escurecendo, e eu caminhei rápido para dentro. Quando viro o primeiro corredor, esbarro em alguém e olho para cima, para encontrar um cara moreno com um cabelo preto bagunçado, caindo na testa.
- Opa - ele fala ao mesmo tempo que eu balbucio um "desculpa" e continuo andando para dentro.
- O que aconteceu com seu braço? - Jasper pergunta quando me vê.
- Eu cai - falo subindo as escadas, e ele me segue - Quer que eu ajude a limpar?
- Não precisa, eu me viro - eu só precisava ficar um pouco sozinha. Ele concorda, ainda caminhando ao meu lado. Ele me faz parar de andar.
- Em vinte minutos vão servir o jantar, vou esperar você lá - ele avisa.
- Eu vou fazer algo para comer sozinha, não se preocupe, só to cansada - eu viro e começo a caminhar pelo corredor, mas Jasper toca meu ombro.
- O que aconteceu? - ele pergunta sério. Seus olhos estão com olheiras e ele parece mais magro. Eu o tenho visto tão pouco.
- Ele matou duas pessoas e trouxe Jax como prisioneiro - eu falo soltando um suspiro, tentando segurar as lágrimas. Eu estava esgotada de tudo que vi hoje.
- Ele fez isso com você? - Jasper pergunta hesitante, olhando para meu braço. Eu nego com a cabeça.
- Não. Eu cai. A gente se vê amanhã - eu sai antes que ele pudesse falar outra coisa, entrando no quarto e batendo a porta. Eu sabia que ele odiava quando eu fazia isso, mas eu não tinha cabeça para conversar com ninguém.
Abro todas as portas dos armários procurando uma caixa com ataduras que eu tinha visto quando vim para cá, mas não lembrava onde. Quando a achei, caminhei com ela em direção a cama, olhando meu braço.
O sangue seco grudava na pele, e havia pele morta grudada, junto com algumas pedrinhas. Limpar isso ia doer.
Acabando de sentar na cama, ouço uma batida na porta. Pensando que era Jasper querendo discutir porque eu virei as cosas para ele, eu gritei.
- Entre, está aberta - com isso, a maçaneta girou e a porta se abriu bem devagar. Meus olhos se arregalaram quando Negan entrou.
Caminhando e suavemente fechando a porta, ele levantou algo que parecia ser uma cartela de remédios.
- Trouxe para você - ele deixou Lucille encostada ao lado do sofá, e veio caminhando até mim, me estendendo a cartela de remédio. Eu não peguei e ele deu os ombros, jogando-a em cima do criado mudo.
Eu quase me esqueci como respirar quando ele sentou-se na borda do colchão, a cama mergulhando para abaixo com seu peso. Nossos corpos estavam tão perto que eu enrolei as pernas para cima, chegando mais perto contra a parede, para colocar mais espaço entre nós dois. Eu assisti enquanto ele tirava a luva de couro grossa e colocava sobre sua coxa.
- Me deixe ver - ele pediu, apontando para meu braço.
- Não - murmurei, desviando o olhar e abrindo a caixa de primeiros socorros no meu colo.
Antes que eu pudesse protestar, Negan arrancou a caixa do meu alcance com uma mão antes de envolver a outra delicadamente em torno do seu pulso, puxando meu braço ferido para mais perto dele.
Tive de me inclinar para a frente, para mais perto dele, o que anulava minha tentativa anterior de criar uma certa distância entre nós.
- Eu posso fazer isso sozinha - protestei tentando, sem sucesso, torcer para fora do seu aperto.
- Me deixe ver - ele disse de novo, seu tom era sério. Seus olhos brilharam em aviso quando ele levantou meu pulso para examinar o machucado.
Suspirando em derrota, parei de lutar assisti enquanto ele molhou a gaze com um líquido e cuidadosamente começou a limpar o sangue seco ao redor do machucado. Para alguém com mãos tão grandes e ásperas, ele foi surpreendentemente suave.
- Vai doer um pouco agora - ele avisa e eu puxo meu braço quando ele passa a gaze na parte que estava sem pele. Ele segura meu pulso de novo, e molha mais a gaze, fazendo o mesmo, e eu cerro os dentes.
A situação parecia tão surreal que era quase cômica. Negan, o homem que todos temiam e que acabou de matar duas pessoas estava sentado na cama comigo, com a cabeça inclinada, limpando meu machucado.
- Ele não fez nada para você, porque trouxe ele? - me atrevi a perguntar de novo.
- Ele tentou, isso já basta - ele responde sem me olhar, continuando a trabalhar no meu machucado. Ele terminou de limpar, e fez um curativo. Me levantei, jogando a gaze suja no lixo e todo o resto para dentro da caixa novamente a empurrando na prateleira de cima onde estava, tendo que ficar na ponta do pé.
- Deus, metade do tempo você me deixa louco, a outra me provoca e nem percebe - ele fala com a voz mais grossa, ainda sentado na minha cama. Franzi o cenho com a mudança brusca de assunto. Mas é claro que ele não veio aqui só para limpar meu machucado.
- Você não precisa de ninguém para ser louco - eu disparo no automático. Negan parecia que estava longe de achar o que eu disse engraçado.
Emocionalmente exausta do caos que só tinha durado um dia, mas parecia que tinha sido um ano, eu me encostei no balcão e olhei para ele silenciosamente. Ele se levantou, vindo até mim.
Seus olhos correram sobre mim e eu congelei quando chegaram ao nível do peito. Seus olhos escuros se estreitaram, me fazendo descer o olhar também.
Vi que minha blusa estava mais para baixo que o habitual, mostrando a curva dos meus seios. A partir do olhar no rosto de Negan, ele gostou. Seu olhar finalmente subiu para meu rosto, travado em meus olhos.
Tirando os olhos de mim só o suficiente para jogar a luva na cama, ele silenciosamente se virou e começou a avançar de novo. Eu sabia o que iria acontecer quando ele chegou até mim. Era como se estivesse acontecendo em câmera lenta.
Será que ele realmente ia me beijar de novo? Inferno, sim! Meu subconsciente gritou em excitação.
Infelizmente, o meu cérebro não estava concordando com meu subconsciente, mostrando a imagem mental de Olivia morta e Jax sabe-se lá como.
Negan estava a um palmo de distância quando eu coloquei a mão para detê-lo. Seu peito era sólido sob a palma da mão, mesmo através da jaqueta de couro. Isso fez eu me perguntar como eram músculos que estavam escondidos por baixo; músculos que eu só tinha conseguido ver brevemente através de sua camiseta.
Meu cérebro e consciência sentaram cada um em cada ombro, como fossem demônio e anjo.
Meu cérebro manteve a piscar imagens de tudo o que tinha acontecido hoje, enquanto meu subconsciente estava gritando: Quem se importa! Ele está aqui agora! Aproveita, filha da puta!
Olhando acima, Negan estava olhando para mim sem falar, como se à espera de uma decisão.
- Eu não vou fazer isso. Não com você machucando as pessoas assim - eu disse, surpresa e orgulhosa de soar firme e segura. Ele parecia se divertir com a minha resistência.
- Então me explica porque você está assim, sendo que eu ainda nem toquei em você - ele passa o dedo levemente pelo meu braço.
Meu corpo não estava escondendo a reação à sua proximidade nem o pensamento do que ele poderia fazer com a proximidade.
- O que você vai fazer com Jax? - eu mal chego até seus ombros, tendo que levantar o rosto para olha-lo.
- Que diabos isso tem a ver agora, porra? - ele gritou e se afastou, ficando a alguns passos de mim - Eu vou fazer a merda que eu quiser. Talvez eu o mate, talvez eu corte um pedaço do corpo dele a cada semana e o veja morrer aos poucos. Não é da porra da sua conta.
Ele falou tão sério e com tanta raiva como pode ter um homem, e eu não duvidei nenhum segundo que ele faria isso. Não era uma ameaça vazia, ele realmente machucaria Jax. Ele machuca todos, porque seria diferente agora? Toda a atração que eu sentia, agora foi despedaçada como um espelho quebrado.
- Nós não estamos falando dele. Estou falando de você e eu - ele estalou no mesmo tom rude e áspero, quando eu fiquei calada. Eu tomei uma respiração profunda.
- Quero que você saia - eu falo em voz baixa, segurando a raiva. Ele ri - Eu não sinto atração por assassinos torturadores - eu cuspo as palavras, mas ele continua rindo.
- Claro, você prefere os que te abandonam - ele debocha, se referindo a Jax.
Eu sabia que qualquer resposta que eu desse para ele não o atingiria, porque ele não tinha remorso, a única coisa que ele tinha era um ego enorme que estava ferido por eu rejeitá-lo, e eu iria pisar mais ainda. Cada um joga com as cartas que tem.
- Ele é mais homem que você. E ele teve o que você nunca vai ter, sabe porquê? - engoli o nó na minha garganta - Porque não há maneira nenhuma no inferno que me faça pensar em estar com um homem doente como você - eu senti meus olhos queimando, meu peito subindo e descendo de raiva.
Negan estava parado a alguns passos com a maior carranca em seu rosto. Se ele fosse um personagem de desenho animado, estaria saindo vapor dos seus ouvidos agora. Ele me encarava como se não acreditasse no que eu acabei de falar. Oh, eu também não.
- Você vai ter que se contentar com essas idiotas que abrem as pernas para você em troca de vida fácil, porque uma mulher de verdade, você nunca vai ter.
- Eu juro, se você não calar a boca agora... - palavras saíram num som estridente, gritando em neon que eu devia calar a boca, assim como ele disse.
- O quê? - eu dou um passo para a frente - O que você vai fazer? Você vai me bater? Não é isso que você está louco pra fazer? Me machucar? - no início, as palavras surpreenderam até a mim, mas eu continuei - Ou você vai me jogar na cama, e me forçar para provar o quão homem você é?
Seu corpo inteiro ficou mais rígido do que granito. Ele caminha na minha direção, parando a centímetros do meu rosto. Eu estava preparada para tudo, com o medo gritando dentro de mim.
- Eu já forcei você a fazer qualquer coisa? - ele pergunta ameaçadoramente perto, com o rosto praticamente na altura do meu - Para com essa merda. Eu nunca forçaria qualquer mulher.
Eu precisava falar qualquer coisa para atingir ele e faze-lo se sentir mal assim como eu estava me sentindo depois de tudo o que ele fez. Mas não pensei que as palavras o atingiriam assim. Eu nunca vi um homem tão duro parecer ferido. Ele realmente levava isso a sério. Tomei uma respiração funda e me afastei dele, sem responder.
- Pode ficar à vontade, obrigada pelo curativo - digo e saio, batendo a porta atrás de mim.
Era isso. Eu o havia empurrado o suficiente para ele ter ódio de mim pelas próximas encarnações, e com certeza ele se vingaria em Jax. Mas isso não era o pior. O pior era a culpa crescendo dentro de mim por eu ter falado aquilo tudo.
Eu me sentia tão culpada. Mas culpada do quê? Que que eu tinha feito?
Eu devia me sentir orgulhosa de tudo o que eu disse. Ou pelo menos me sentir orgulhosa de ter dito tudo aquilo para ele e conseguido sair viva daquele quarto. Mas já estava feito. Não havia como voltar atrás, mesmo que eu quisesse.
No próximo capítulo vai ter personagem novoooo
Beijossss
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