Capítulo 10

Pensar e querer que todos em Alexandria fiquem bem é a única coisa que eu posso fazer. Se eu pensei que minha vida ia ser uma merda nesse lugar, eu consegui piorar cem por cento depois de ter batido em Negan.

Ele não revidou, mas com certeza eu ia pagar por isso. Ele não iria machucar Jasper, já que ele era como um cordeirinho, obedecendo todas as suas ordens, mas alguma coisa ia acontecer.

Talvez com Jax, e mesmo eu estando magoada, não quero que ele se machuque. Talvez se vingasse em alguém de Alexandria. Rick não era do tipo que se dobrava ou aceitava ordens, foi por isso que ele atacou primeiro. Balanço a cabeça, tentando me livrar dessa tsunami de pensamentos, quando escuto uma batida na porta. Levanto da cama num pulo, pensando ser Jasper.

Quando abro vejo uma garota baixinha, um pouco mais velha que eu, de cabelos castanhos e curtos.

- Sou Lauren. Me pediram para entregar algumas coisas - ela me entrega um pequeno saco transparente com algumas peças de roupas.

- Obrigado – falo pegando – Sou Emma.

Ela parecia ser diferente das outras pessoas que eu vi pelos corredores, não tinha aquele rosto fechado e mal encarado. Na verdade, parecia muito simpática, e me lembrou Maggie.

- Jasper me falou sobre você – ela fala, parecendo me avaliar com atenção – Já te explicaram como funciona as coisas por aqui? – ela pergunta e eu nego.

- Jasper vai te falar e amanhã passo aqui para te dizer quais serão suas tarefas – ela fala e nessa hora Jasper entra porta a dentro. A imagem dele assim, vivo e bem ainda fazia meu coração bater mais rápido.

- Oi, Lauren – ele a cumprimenta com um aceno de cabeça e ela sorri pra ele.

- Se você precisar eu fico na última porta do próximo corredor a direita – ela diz antes de sair e fechar a porta.

Jasper me olha e antes que ele possa falar algo, eu o abraço. Nos dois estávamos precisando disso.

- Me desculpe – eu falo o olhando, mas sem solta-lo – Me desculpe por ter te deixado aquele dia – peguei seu braço e vi que sua mão foi cortada acima do pulso, que estava enrolado com uma faixa branca.

Tudo que está acontecendo é minha culpa. Se eu não tivesse deixado Jasper, ele não estaria nesse grupo, e eles não teriam encontrado Alexandria.

- Não foi culpa sua – ele puxa o braço delicadamente da minha mão – Eu perdi depois de estar aqui.

- Eu sei – eu digo e todas as coisas que Negan me falou vieram à minha cabeça – Negan me contou. Como você me achou?

- Foi a alguns dias – ele começa e nos sentamos na cama – Te vi com aquele cara, e observamos vocês, esperando quando iam sair de novo.

- O que ele fez com Jax? – pergunto com medo da resposta.

- Isso não é da sua conta – ele me corta.

- Ele vai matar ele, não vai?

- Eu não sei. Talvez – ele fala e eu concordo, sabendo que não vou conseguir arrancar mais nada dele.

- Lauren disse que você ia me explicar como são as coisas aqui, o que ela quis dizer?

Jasper me explicou que cada um trabalhava com algo e com isso se ganhava "pontos" que era trocados por comida, água e qualquer outra coisa.

- Nós podemos ter uma boa vida aqui – ele conclui. O pior de tudo isso era que ele realmente achava aqui um bom lugar.

- Trabalhando para esse cara? Trabalhando para conseguir o que ele ganha roubando de outras pessoas? – eu olhei incrédula para o que ele disse.

Eu não me importava em trabalhar, até porque eu fazia isso em Alexandria, mas isso aqui era outra coisa.

- Essa é a única forma. Eu não quero que se machuque – ele levanta, colocando as mãos na cintura – O que você fez hoje, Negan deixou passar por que você é nova e não sabe das regras. Ninguém fala assim com ele. Nunca. Ele não se importa em machucar alguém, então não faça mais isso. Eu não vou poder te defender.

- Você não deve nada pra esse cara, você já perdeu uma mão por causa dele. Vamos embora – eu levanto, ficando na frente dele.

- Ninguém deixa o Santuário – ele passa a mão no cabelo, e põe a mão no meu ombro – Não é tão ruim quanto parece. Você pode fazer isso, pode dar uma chance pra esse lugar, por mim?

Eu concordo, mesmo sabendo que nunca estaria aqui por gostar daqui. Jasper passou por tanto, que ele adotou esse lugar como lar. Mesmo sendo terrível, foram eles que o salvaram, e eu não tinha mais nada a fazer a não ser aceitar.

***

- Esse vai ser seu trabalho fixo da manhã – Lauren diz quando chegamos na horta – Negan quer este lugar seja auto-suficiente o mais rápido possível, o que significa que há muita coisa para ser planada e colhida. Nós marcamos a entrada e saída. Não se atrase ou será descontado dos seus pontos.

Pelo que percebi ela era uma das encarregadas. Havia uma pessoa vigiando cada atividade, para garantir que ninguém ficasse parado. Ela era simpática, mas prática.

- Você vai pagar por suas refeições com os pontos que você ganha através do trabalho – Lauren explica enquanto anda – Mas os novos são geralmente dada uma exceção para seus primeiros dias.

- E a tarde? – pergunto, vendo Jasper vindo na nossa direção. Eu ainda não o tinha visto hoje porque Lauren me chamou cedo.

- Hoje nada. Amanhã eu decido – ela fala antes de sair, me dando um pedaço de papel com os horários, eu enfio no bolso do jeans.

- Horta é legal – Jasper diz, batendo com o cotovelo de leve no meu braço – Vou sair, volto no almoço – ele avisa e vejo Negan olhando para nós.

A forma como seu rosto estava retorcido em uma carranca mostrava que ele não estava de bom humor. Ou talvez seja por que eu enfiei a mão na cara dele ontem. Eu sabia o quanto isso era perigoso, mas não consegui deixar de rir.

Jasper se despediu de mim e eu fiz o que Lauren me pediu, e o tempo passou rápido.

- Leva essa última caixa e volta aqui que vou mostrar onde vamos almoçar – ela diz e eu levo a caixa de tomates para a dispensa, junto com as outras.

- Precisando de ajuda? – escuto alguém falar atrás de mim e quando viro dou de cara com o mesmo cara gordo que eu vi quando cheguei aqui ontem.

- Não – respondo e caminho para a porta, mas ele a bloqueia.

- Pra que a pressa? – ele dá alguns passos, e eu vou para trás, até bater com os calcanhares em uma pilha de caixas. Ele tocou meu braço, e quando eu fui empurrar a mão dele para longe, ele agarrou meu pulso, o apertando.

- Me solta – eu disse com a voz baixa, tremendo por dentro. Só o jeito que ele me olha é doentio.

- Precisando de alguma coisa? – Lauren aparece porta a dentro e ele larga pulso na mesma hora.

- Apenas conversando – ele olha pra mim uma última vez antes de sair. Ela faz sinal para eu seguir ela e começamos a caminhar para dentro do prédio.

- Isso não acontece aqui – ela fala a mesma coisa que Negan me disse.

- Não é o que eu percebi – eu falo e ela para de andar.

- Não, você não entendeu. Isso nunca acontece. Há poucas regras aqui: sem estupro e sem roubo. Quem estupra morre e quem rouba perde a mão. Os poucos que tentaram, não estão mais aqui para contar.

A cada segundo que passava eu odiava mais esse lugar. Eu ia dar um jeito de sair daqui.

Entramos na área onde fica o refeitório, ficamos na fila e eu vejo que Dwight está mais a frente, falando para um outro cara sobre sair para buscar algumas coisas. Se eu pudesse ir com eles, eu poderia fugir e eles só iam perceber quando eu estivesse longe. 

Pego a comida e procuro Jasper e vejo que ele está sentado com outros caras e com Negan. Vejo Dwight sentado em uma mesa, sozinho. Essa é minha chance.

- Oi - falo dando um sorriso, pedindo a Deus que não pareça tão forçado como eu estou sentindo – Posso sentar aqui? 

Ele me olha surpreso, e sua postura fica rígida, mas ele dá os ombros, confirmando que posso sentar. Olho pra Jasper que está com cara de interrogação, assim como a maioria das pessoas perto, menos Negan, que me olha com uma expressão séria. Desvio o olhar. Mesmo longe ele parecia sugar minha energia. 

- Dwight, certo? - eu pergunto, tentando começar uma conversa - Eu sou Emma.

- Eu sei quem é você - ele responde sem se dar ao trabalho de me olhar. Olho por um segundo a marca em seu rosto e um arrepio sobe pela minha coluna imaginando o quanto isso deve ter doído.

- Ouvi você falar que vai com um grupo hoje para procurar algumas coisas - eu falo, remexendo com o garfo na comida - Eu posso ir?

- Eu sei o que você tá tentando fazer. Não vai funcionar - ele avisa, me olhando baixo. Será que estava tão na cara assim? Merda, merda, merda.

- Eu não estou tentando fazer nada - eu me defendo, tentando parecer o mais natural possível - Eu realmente preciso de roupas e outras coisas, já que eu não consegui trazer nada.

Ele não parecia ser tão ruim. Ele não me olhava como se eu fosse um pedaço de carne ambulante. Ele era o estranho no meio disso tudo, não era um cara bom, nenhum deles era. Mas ele era o menos pior.

- Beleza – ele fala depois de um tempo – Esteja no portão em uma hora. 

***

- Eu vou com um grupo conseguir algumas coisas – eu disse, quando Jasper entrou no meu quarto.

- Foi por isso que sentou com o Dwight? – ele pergunta com um om de acusação.

- Sim. Não vai demorar muito.

- Você não está pensando em fugir, esta? – essa pergunta me fez parar de andar.

- Não – falo e sinto que minha voz aumenta, indicando a mentira que estou tentando esconder. O fato era que eu pensei isso quando estava estressada pelo que aquele idiota que tentou me agarrar fez, mas Jasper não tinha nada a ver com isso. O olhar de decepção dele me fez desistir do plano.

- Eu não vou fugir. Só preciso de roupas e tudo mais – eu garanti a ele. Por um lado era verdade, eu estava usando a única roca de roupa que Lauren me deu – A gente se vê depois – falo antes de sair. 

***

- Você pode me dar uma arma? Ou uma faca? Eu não quero ir para fora sem nada – eu peço a Dwight e tudo que recebo é um olhar desconfiado – Eu devolvo quando voltar.

Os caminhões e carros estavam todos em fila na entrada do portão para sair. Dwight tira uma faca do cinto e me entrega, virando as costas na sequência.

- Ora, ora – aquela voz dispensava quaisquer apresentações, e eu parei no meio do caminho, me virando. La estava ele. Com Lucille, jaqueta de couro e seu sorriso largo e arrogante.

- Não tão rápido – ele estende a mão enluvada e tira a faca da minha mão - Desculpe por ter que fazer isso, mas demora um pouco para eu confiar em um rosto bonito.

- Como eu vou sair sem uma arma? – pergunto, depois de juntar cada gota de paciência. Eu odiava ter que inclinar a cabeça para cima olha-lo, já ele parecia adorar me ver de cima.

- Aposto que você vai dar um jeito. Ou você pode ficar – suas sobrancelhas se ergueram, o sorriso nunca vacilando. Eu respirei fundo.

- Eu vou – falo prontamente. É um esforço para manter o tom tão casual e indiferente e ignorar os lampejos de ansiedade e incerteza em no meu estômago.

- Bom. Você vem comigo – ele diz e eu acho uma ideia inteligente não o questionar. Eu aceno em resposta, vendo como ele me olha uma última vez antes de se virar para ir. 

O som tranquilo do motor do carro e a paisagem passando pela janela era algo para desfrutar se Negan não estivesse ao meu lado.

- Nada a dizer? – um sorriso se arrasta lentamente ao longo do seu rosto – Nós finalmente estamos fazendo algum progresso, porra?

Eu franzi a testa ligeiramente, não completamente certa do que ele está querendo dizer. Eu não falei nada desde que saímos. As palavras de Jasper "ele não se importa em machucar alguém" valiam para mim também, então, eu não queria pagar para ver.

- O que você quer que eu diga? – pergunto, desencostando minha cabeça do vidro.

- Não vai me perguntar por que quis que viesse comigo? 

- Porque você está no comando – dei os ombros, olhando para ele.

Negan ri de novo, seu sorriso se encaixa o seu rosto melhor do que o esperado. Mais do que deveria.

- Bom que você pegou a ideia rápido – ele bate um dos polegares no volante, olhando para a estrada – A merda que aconteceu ontem, querida, essa porra nunca mais vai acontecer.

- Eu sei, me desculpe – eu disse, embora não fosse verdade, mas era preciso. Se eu ia ter que viver no Santuário, eu procuraria facilitar minha vida.

Negan não falou por um longo momento. Eu notei que ele me estudando como se eu fosse um carro na concessionária. Ele deu uma risada em resposta, seus olhos brilhando quando ele sorriu para mim.

- Quem caralhos você quer enganar? – ele perguntou, se divertindo, e eu vi que ele não acreditou no meu pedido de desculpas – Você é uma porra de um motim, boneca. Não é do tipo que pede desculpas.

- Sei quando estou em desvantagem.

- Ouça com atenção, querida – a voz dele cai um pouco – Essa é a única razão de você não ter sido punida: você não conhecia as regras e estava abalada pelo que seu namorado fez – ele dá uma risada – Mas agora você vai segui-las, certo? Vai andar na linha, como a porra de um trem – isso não foi uma pergunta, foi uma afirmação.

- Sim – eu digo sem olha-lo. Ele não insiste mais em falar, e eu não sei dizer se isso é bom ou ruim.

Três horas depois paramos em frente a uma loja de departamentos com vidros quebrados. Todos saíram e começaram a matar os caminhantes. Eu fiquei um pouco afastada, já que não tinha nada para me defender.

Quando vejo que está limpo, eu me aproximo, e vejo um deles sair da porta ao lado da loja, e Dwight caminha para matá-lo.

- Não - Negan diz e ele para – Esse é dela – ele fala olhando pra mim, enquanto Dwight sai de perto, soltando o zumbi.

- Você tá brincando! – eu gritei, enquanto o caminhante vinha com os braços esticados para mim. Eu já matei tantos que perdi a conta, mas nunca sem uma arma. Olhei ao redor para procura de alguma coisa, mas não achei.

- Vá em frente, é todo seu – ele apoiou o taco nas costas e ficou olhando com um sorriso no rosto, assim como os outros. 

Quando chegou perto de mim, eu chutei sua perna, ouvindo o barulho do osso podre estalar e ele caiu no chão, como eu queria. Pisei na sua cabeça até esmagar seu crânio e ele parar de se mexer.

- Olha só pra isso! - Negan balança o taco no ar, apontando para mim - Isso é o tipo de coisa que me dá tesão - eu reviro os olhos enquanto minha bota na roupa do zumbi, tentando limpar o sangue.

- Se mexam, caralho - Negan ordena e eles começam a se espalhar.

- Ele podia ter me mordido - eu falo com a voz carregada de algo que eu não sei o que é. Esse homem era doente, ele simplesmente brincava com a vida das pessoas sem remorso nenhum. Ele ri, concordando.

- Eu disse que você ia dar um jeito – ele faz sinal para eu entrar, vindo logo atrás. Assim que entro, pego o pouco de roupas que acho. A maioria já foi saqueada, mas sobraram algumas coisas.

- Vai com calma, docinho. Você não está fazendo compras no shopping – um cara moreno me bloqueia quando estou pegando algumas roupas. Meu foco sai do seu rosto quando vejo Negan atrás dele.

- Leva a merda que você precisa - ele me entrega um saco de lixo preto, e eu enfio as roupas dentro.

- Ela vai levar isso tudo? - o cara pergunta - Eu pensei que tinha um limite.

- Eu não sabia que a porra das minhas ordens estavam em discussão –Negan se levantou mais reto, fazendo o cara parecer menor – Você quer discutir comigo?

- Não, chefe. Só estava falando – o cara se defende, assustado, e eu sorri por dentro. Esses caras achavam que podiam nos tratar como merda.

- Vai achar o que fazer – Negan nem termina a fala e ele já está longe. Eu também me afasto, procurando mais coisas quando vejo Dwight subindo para o segundo andar da loja e o sigo.

Não queria subir sozinha porque se houvesse algum caminhante ou mais eu não conseguiria lidar. Graças a Negan. Para minha sorte havia algumas coisas de higiene ali ainda, e eu vejo Dwight nos fundos.

- Eu não tenho mais a sua faca – falo quando chego perto dele, olhando as prateleiras.

- Negan já me devolveu – a resposta veio ríspida.

- Fica pra você – falo quando tiro um protetor solar caído de trás da prateleira, e entrego para ele – Você devia passar ai – eu aponto para a queimadura no rosto dele.

- Se você está sendo legal esperando que eu conte algo sobre o que vai acontecer com seus amigos ou com o loiro, não vai adiantar.

- Estou sendo legal porque você não é um babaca comigo. Mas se você quiser contar algo sobre, não vou me opor – falo mesmo sabendo que isso não vai acontecer. 

Ele dá um sorriso de canto, e é o máximo que eu podia esperar. Ele era um dos braços direitos de Negan, e era melhor tê-lo como amigo do que inimigo.

Desci volta as escadas com Dwight e avistei Negan conversando com dois dos seus homens. Os outros estavam carregando um sofá para fora da porta da frente e se preparando para empurrá-lo para dentro do caminhão.

- Não tem mais nada nessa merda de lugar, vamos voltar – ele passou por nós, com olhar que parecia fuzilar. Coloquei minhas coisas no banco de trás e fomos embora, e nenhuma palavra mais foi dita durante o caminho de volta.

Espero que tenham gostado! Beijos.

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