Cap 96. Eu, você e nada mais
Ou Taylor mentira para mim, ou não fizera o trabalho direito. Não havia nada sobre Nathan e Gigi no Empire Gossip, no entanto, no site concorrente, o Stars Radar, uma matéria inteira fomentava a suspeita de que o casal reatara, inclusive com uma foto do carro de Nathan entrando na mansão de Gigi em pleno domingo à noite. Enquanto Taylor e eu desenrolávamos a problemática da gravidez da golpista, o casalzinho amado de Beverly Hills encontrava-se mais uma vez. E pelo segundo dia consecutivo!
Era uma pena que os paparazzis não conseguissem fotografar o interior da mansão, de modo que eu pudesse saber o que acontecera entre os dois. Porém, não foi difícil imaginar um encontro ardente, com direito a trocas de calcinhas enquanto trepavam durante a madrugada inteira. Uma foda tão cansativa que no dia seguinte Nathan mal teve forças para trabalhar. Cansaço que usou como desculpa para continuar na cama, ao lado dela, e transar mais e mais na manhã de segunda-feira, agora, no exato momento em que eu chorava com raiva da situação.
Isabelle, você merece o Oscar de pior roteiro. Quer fazer o favor de se acalmar? Tentei me convencer de que todas aquelas imagens ruins eram fantasias de minha mente fértil, mas nada fez com que elas não se repetissem e não se multiplicassem, cada vez com maior riqueza de detalhes.
Para ver se encontrava mais informações, vasculhei outros sites de fofoca e, no da revista Beat News — a versão adulta da Boom Beat —, vi uma declaração de Emmeline, antecipando-se às conversas que teria com Taylor.
"Estamos grávidos!" dizia a manchete acima de uma foto caseira e antiga dos dois juntos, que ela própria devia ter cedido ao site.
Embora eu já soubesse daquilo, ver a gravidez anunciada oficialmente enjoou-me até a alma, e agradeci que comera o muffin no café da manhã, pois era ele mesmo que colocaria para fora assim que chegasse à privada.
Não sabia se chorava ou se limpava a boca, e somente quando consegui me acalmar foi que retornei ao quarto, para me jogar de volta na cama e acabar de ler a notícia. A vagabunda desmentira a nota publicada no dia anterior no Empire Gossip, declarando que Taylor e eu éramos apenas amigos e que os dois haviam reatado recentemente, que estavam felizes e não viam a hora de realizar a cerimônia de casamento e ter o filho nos braços.
Se eu ficara revoltada quando lera aquilo, imaginava como Taylor ficaria. Sua intenção era dizer não a ela, mas talvez fosse tarde demais.
— Isabelle! — Ouvi ele me chamar, ainda no corredor, aproximando-se do meu quarto. — Isabelle! Você não quer aproveitar a praia?
Quando Taylor entrou e me viu recostada à cabeceira, com o notebook no colo e a cara inchada de tanto chorar, seu semblante e sua voz murcharam. Sem fazer mistério, virei a tela para ele, que se sentou ao meu lado, e o deixei ver o motivo de meu desânimo. Primeiro foi o site Stars Radar que o fiz apreciar, para mostrar que, quem procura, acha.
— É... parece que o seu ex tem visto a tal da estilista vezes demais — balbuciou, enquanto coçava o queixo e lia a notinha abaixo da foto.
— Agora você concorda comigo? — Limpei mais uma lágrima que ousou cair. — Só um romance explica se encontrarem tantas vezes no mesmo final de semana. Isso é tão... Ah, sei lá. — Funguei. — Não aguento mais.
— Não sei qual de nós dois está em pior situação... — Ao lamentar, ele fechou a janela do navegador, o que fez com que o site Beat News, que estava por trás, aparecesse.
— Acho que você está. — Opinei, vendo-o arregalar os olhos para a declaração leviana de Emmeline à publicação. — Aquela corda amarrada ao seu pescoço acabou de ser puxada. E firme!
— Filha da mãe! — Ele empurrou o notebook longe, que por sorte não caiu da cama. — Quem essa garota pensa que é para falar sobre a gravidez para a imprensa? Quem ela pensa que é para afirmar que vamos nos casar?
Ignorei as perguntas retóricas, mas não consegui me manter calada:
— A golpista colocou palavras em sua boca, inclusive. — Depois de bufar, repousei minha mão sobre o seu antebraço, em um gesto de apoio. — Já que ela pediu a você que desmentisse a declaração à Boom Beat, e você não a obedeceu, ela mesmo o fez. E o pior é que o Beat News tem alcance muito maior do que o tabloide adolescente.
— Emmeline está dificultando as coisas e me deixando com cada vez mais raiva. Em breve os repórteres entrarão em contato comigo e serei obrigado a desmentir essa história de que estamos felizes e de que terá casamento. Ela vai ficar em péssima situação.
— Que se dane! — Dei de ombros. — Ela não pensou em você em momento algum. Para que se importar com a situação constrangedora em que essa garota vai ficar? Até porque, assim que você a desmentir, ela irá retaliar com as armas que tem. Se prepare, a guerra começou.
— Preciso ligar para os meus pais. Agora não terei mais como adiar, eles precisam saber o que, de fato, está acontecendo. — Taylor jogou a cabeça para trás, batendo-a de propósito contra a cabeceira. — Preciso falar com meus irmãos também, especialmente com o Isaac. Mas que merda, viu? É inacreditável...
Taylor não esperou muito e deixou o quarto, e, como não me disse o que faria, imaginei que ele fora telefonar para os pais.
Engatinhei até o notebook e o trouxe de volta para o meu colo, morrendo de vontade de cuspir na cara daquela garota cretina na foto. Se alguém sabia armar um rebu, era Emmeline. Eu me considerava problemática, mas ao menos não era mau-caráter.
Abri o servidor de webmail e comecei a escrever uma mensagem para Barbara. Queria a deixar a par de todos os últimos acontecimentos. Avisei que Nathan me decepcionara e que, em breve, devido ao comportamento louco da ex de Taylor, talvez a vida dela e de sua família virasse de cabeça para baixo.
"Desculpe, minha amiga, por contar isso de primeira mão, dessa maneira tão informal, mas Taylor está disposto a abrir mão do segredo da paternidade da Angie para se livrar da ex-namorada psicopata..."
*****
Passara-se uma hora desde que Taylor sumira, então me levantei da cama para procurá-lo pela casa. Havia um silêncio desagradável e persistente em todos os cômodos, de modo que cheguei a pensar que estivesse sozinha.
— Taylor! — Bati à porta de seu quarto. — Você está aí?
— Entre. — Ele fungou enquanto eu entrava.
— Está chorando? — Perguntei ao vê-lo deitado com o antebraço sobre os olhos. O loiro agora se encontrava com uma toalha branca enrolada à cintura e não mais com um roupão, como visitara o meu quarto mais cedo, após chegar da praia.
— Estou fodido! — Reclamou, com uma voz rouca e desesperançada, ainda sem me permitir ver os seus olhos. — Meu pai ficou contra mim.
Como sempre, pensei.
— O que foi que ele disse? — Sentei-me nos pés da cama, olhando para aquele ser acabado logo adiante.
Taylor finalmente tirou o antebraço do rosto, apoiando-se sobre os cotovelos para olhar para mim. Sim, ele havia chorado, e, a julgar pelas pálpebras vermelhas e os olhos diminuídos, não fora pouco.
— Ele acha que se eu fiz a merda de engravidar a minha ex, devo assumir os meus erros. — Seu polegar e indicador beliscavam sem parar o lençol, em um gesto que transmitia sua inquietude. — Falou que não vale a pena lutar contra isso e expor o segredo de família por um mero capricho.
— Ah, não... — Lamentei, lembrando por que passara anos de minha vida com raiva daquele homem. Walker Hanson não tinha um coração, mas sim uma pedra no lugar.
— Eu não devia ter achado que ele pensaria diferente disso. "Tudo pelo bem da família, tudo pelos nossos valores..." — Usou o tom desdenhoso para criticar os argumentos e vontades de seu pai. — Se fosse só isso, okay, mas ele acha que será positivo para o meu marketing pessoal, e da banda, se eu me unir de vez à herdeira da Bryant's Cocoa. É como se ele não se importasse a mínima com os meus sentimentos, somente com a vantagem que pode tirar de acordos.
— Sempre foi assim, Taylor. — Não aguentei não dizer. — Seu pai vive de aparências. Eu não entendo como você ainda pede a opinião dele. Você é bem grandinho, viva a sua vida.
— Esse segredo envolve toda a minha família; não tinha como não pedir a opinião dele. — Seus dedos pararam de puxar o lençol para desenharem círculos infinitos.
— O que ele disse mudou alguma coisa, por acaso?
— Não, nada. Só me deixou chateado pra caralho. — Ainda apoiado sobre os cotovelos, Taylor jogou a cabeça para trás, encarando o teto por alguns instantes. Depois de respirar fundo, ele voltou a me fitar. — Apesar de tudo, de saber como meu pai é, eu gostaria de ter a aprovação dele. Mas, já que não tenho, irei em frente.
— Você ainda não falou com o seu irmão, falou?
— Não. E acredito que ele também achará uma loucura contar ao mundo sobre a verdadeira paternidade da Angie.
— Ele já sofreu tanto com isso no passado... — Lembrei a ele, cheia de pesar.
— Eu sei... E por minha culpa.
— Hum. Talvez ele surpreenda e fique do seu lado. — Achei melhor tentar animá-lo, mesmo que considerasse difícil Isaac concordar com aquela loucura.
— Não quero que ele tenha que viver um inferno de novo, não quero que haja um motivo para ele se sentir fraco, humilhado, e voltar a beber... Há muito em jogo, mas comprarei essa briga e espero que tudo se ajuste. Com Emmeline eu não me caso!
Depois de seu ultimato, um silêncio ocupou o quarto, e ele estendeu sua mão para mim. Ressabiada, estiquei-me toda, quase me deitando de bruços na cama, para tocar a ponta de seus dedos com os meus.
— Obrigado, Belle, por aguentar ficar do meu lado nesse momento. Eu sei que tem passado por muitas coisas e não está sendo fácil para você.
— Não mesmo. — Mordi o lábio inferior, enquanto o encarava com os olhos cheios de lágrimas. — Mas, olhe — levantei os antebraços e virei os punhos para ele —, nenhuma mordida nova nos últimos dias.
— Reparei...
— Você monitora as minhas mordidas?
— Eu presto atenção a cada menor parte de seu corpo, Belle. — Taylor perscrutou o meu rosto, e reprimi um sorriso sem graça. Depois de longos segundos em silêncio, ele continuou: — Fico feliz de saber que, de alguma forma, você está lidando melhor com as suas emoções.
Sorrindo e lacrimejando ao mesmo tempo, apertei os olhos com os dedos, para evitar que a represa se abrisse de vez.
— Estou tentando não supervalorizar os problemas, mas não é fácil. Sempre que acho que a vida não pode piorar, vem alguma outra coisa e me derruba. — Fiz uma pausa, para recuperar a firmeza da voz e para avaliar o meu discurso. Não queria mais me colocar no papel de vítima. — Mas acabo sobrevivendo no final. Sou uma fênix.
— Sim, você é, Isabelle. É a mulher mais forte e incrível que já conheci... E é quem eu quero ao meu lado.
O celular de Taylor tocou e vibrou sobre a cama, interrompendo a sua declaração apaixonada, e a angústia, que já se fazia presente, apertou ainda mais o meu peito. Ele pegou o aparelho para ver o nome na tela após o segundo toque e, logo em seguida, com força, bateu-o sobre o colchão.
— Ah, merda! Merda! — esbravejou, por cima do som irritante.
Não foi preciso mais nenhuma reação de Taylor para eu perceber que era Emmeline. Minha vontade foi pegar o telefone da mão dele e dizer, com o mesmo tom de voz que ela usara comigo: "será que dá para parar de incomodar?"
— Atenda logo a esse troço! — Olhei de Taylor para o celular, impaciente.
— Eu sei o que a Emme quer. Não contente em criar um enredo para o Beat News, ela precisa me ligar para avisar. Isso é somente para encher o meu saco, como se não bastasse ter acabado com a minha vida.
— Como essa garota consegue ser tão chata tão cedo? — Revirei os olhos, irritada com a vagabunda e mais ainda comigo, por estar ali presenciando um drama que não era meu. — Atenda logo a essa merda!
— Emme já fez o que queria, e não vou resolver mais nada agora. — Depois de olhar para o visor do celular, ele o largou sobre a cama. — Quando eu voltar para West Hollywood, entrarei em contato com ela e comunicarei a minha decisão. Depois darei a minha versão dos fatos à Beat News, para desfazer o mal-entendido. Até lá, eu mereço o mínimo de paz.
— Enquanto você não atender, ela vai insistir.
— Que insista até cansar! — De súbito, Taylor pegou o celular, levantou-se, e foi até uma cômoda de madeira maciça em frente a cama. Depois de desligar o aparelho, ele o colocou dentro de uma das gavetas e a fechou com violência. — Chega!
Com a respiração alterada e o rosto vermelho, ele voltou a deitar-se na cama. Levou um tempo até que voltasse a si.
— Onde estávamos mesmo? — perguntou.
Na parte em que ele dizia: "você é a mulher mais forte e incrível que já conheci... E é quem eu quero ao meu lado". Embora eu me lembrasse, fiz-me de sonsa:
— Não lembro, mas...
— Gostaria de propor uma coisa. — Taylor levantou-se novamente e, posicionado em pé, de frente para mim, estendeu-me a mão direita. — Vamos esquecer, pelo menos durante o resto desta semana, tudo de ruim que está acontecendo?
— Esquecer, esquecer, acho difícil. Mas, já que estamos juntos aqui, quando não era para estarmos, podemos aproveitar o tempo tentando um animar o outro. — Segurei sua mão, firmando o trato, e peguei impulso para ficar de pé. Era melhor encarar o seu rosto lindo, apesar do cansaço aparente, do que ter a sua cintura desnuda e o caminho do pecado bem diante dos meus olhos.
— Isso, vamos aproveitar. Topa um mergulho agora? É um bom jeito de lavar a alma.
— Uhum — concordei, sorrindo. — Da última vez que neguei um mergulho a você, acabei chorando diante do notebook.
— Então vá buscar o notebook. Vou guardá-lo junto do meu celular. Chega de notícias do mundo externo! Agora somos só eu e você, e nada mais.
— Só faltou dizer que somos imbatíveis. — Podia sentir meus olhos brilharem, e não eram de lágrimas iminentes, disso eu tinha certeza.
— Juntos somos imbatíveis — sussurrou, rouco, mais sexy do que deveria. — O que mais falta dizer?
A cerca de meio metro de Taylor, perto o suficiente para sentir a energia de seu corpo repercurtindo até o meu, tremi. Encarei os seus olhos, profundos, seus lábios convidativos, e desci a atenção pelo tórax, detendo-me a cada pinta marrom espalhada pela sua pele. Faltava dizer que, mesmo com toda adversidade, naquele exato instante eu o desejava demais. Porém, apesar do coração descontrolado, querendo saltar do peito e se entregar, não disse nada.
— Venha, o mar nos espera. — Taylor segurou minha mão, que suava frio, e me puxou para fora do quarto, parecendo entender que aquele não era o momento de darmos um passo além.
.......
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