Cap 95. Prós e contras

Taylor deixou o quarto, mas os meus pensamentos permaneceram nele e no que havíamos acabado de conversar. Doía, e muito, reverberando calafrios pelo meu corpo. Lamentei a situação com um choro abafado no travesseiro, pois mesmo que ele se livrasse do casamento, teria um filho com Emmeline; um elo para toda vida.

De tão exausta emocionalmente, acabei apagando sem nem perceber. Acordei quando mais um dia começava a surgir, e, da cama, acompanhei a mudança da luminosidade no horizonte. O sol nascendo, imponente, e o céu azul haveriam de trazer esperança, clareza para encontrar soluções.

Desci por volta das 7 horas, ainda com a calça de plush e uma camiseta, achando que era cedo demais para encontrar Taylor, no entanto, sentado à mesa de jantar, ele fazia anotações em sua caderneta enquanto tomava um café.

— Ei! Bom dia! — Fechou a caderneta e puxou uma cadeira ao seu lado. — Pensei que você fosse se levantar mais tarde...

— Bem que eu gostaria, mas a ansiedade não deixou. — Sentei-me no lugar indicado, onde havia um prato, talheres e um copo vazio. — Também não imaginei que fosse o ver tão cedo.

— Ontem saí de seu quarto para o meu, encucado, e não consegui dormir. Então, por volta das 5 da madrugada, eu desci e fiquei até há pouco zanzando pela sala.

— Sua noite foi pior do que a minha, então.

— De cabeça cheia é impossível relaxar. — Ele bebericou um pouco de seu café preto fumegante. — Não lembro quando foi a última vez que realmente dormi direito. — Depois de deixar a xícara sobre a mesa, ele se virou na cadeira, para ficar de frente para mim.

— Essa coisa de gravidez, de chantagem, ainda vai tirar muito de seu sono... — comentei, observando as suas olheiras escurecidas e profundas.

— Com certeza. No entanto, o que me deixou angustiado nessa madrugada não foram exatamente as minhas questões com a Emme, mas o modo como você reagiu a elas. No final das contas, você me pareceu muito compreensiva em proporção ao tamanho da merda que fiz.

— Que reação você esperava que eu tivesse depois de saber que você fora chantageado de maneira tão baixa? — Taylor não me deu resposta alguma, então continuei: — Parte dessa história é culpa sua, mas, apesar disso, me solidarizei com a sua situação. — Dei um risinho nervoso, bufante. — No seu lugar eu já teria surtado.

— Pareço calmo, mas não estou. — Taylor tocou o meu antebraço apoiado à mesa e senti o nervosismo dele pelo contato. Suas mãos suavam frio. — Gostaria de dizer que, no meio disso tudo, fiquei aliviado de saber que você está do meu lado, disposta a me ajudar. Isso significa muito pra mim.

— Hmm. — Mordi o interior das bochechas, pensativa. — Mas, olhe, apesar de toda compreensão, estou, em parte, decepcionada. Pensei que você fosse mais inteligente.

— Errei ao transar com a Emme e tenho me culpado o suficiente por isso. Não precisa me lembrar da minha burrice.

Eu me referia, principalmente, ao fato de ele ter contado a ela o segredo de sua família, mas já que ele focou no sexo com a vigarista, segui adiante no tema, um tanto inflamada:

— Você não foi fiel aos seus sentimentos por mim e não conseguiu dizer não a ela, como disse que vinha fazendo. Cagou para todas as suas convicções quando comeu sua ex e não há explicação lógica para isso. A não ser o fato de que se deixou comandar pela cabeça de baixo, como sempre!

— Fui fraco, eu sei. Mas, Belle, você tinha me colocado para correr e...

Interrompi-o depois de respirar fundo, na tentativa de acalmar os ânimos. O coração disparado e o rosto quente não eram bons sinais.

— Está certo. Eu o havia colocado para correr. — Suspirei. — Sei que não tinha e não tenho direito de exigir nada. Pode esquecer o que eu disse.

— Sempre fui, e continuo sendo, fiel aos meus sentimentos de amor por você, Belle. — Acariciando meu antebraço, como quem amansa um cachorro, Taylor olhou dentro dos meus olhos, e, apesar de tudo, enxerguei verdade no brilho de suas írises azuis. Depois de um instante de silêncio, ele olhou para baixo e puxou o ar antes de continuar: — Escorreguei quanto aos sentimentos carnais; deixei me levar pela libido acumulada e uma boceta se esfregando em mim...

— Pode parar! — Era só o que faltava; saber detalhes da cópula daqueles dois. Estragar um momento quase romântico, com facilidade, era uma habilidade que só ele tinha.

— Você também transou com outro nesse período. Acha que não penso nisso?

— Ao menos ele era meu noivo e eu não negava o que sentia por ele; muito pelo contrário. Já você... disse até para uma revista que não tinha nada com aquelazinha. Seus atos não corresponderam às suas atitudes. — Voltei a frisar.

— Esse papo não vai nos levar a nada.

— Não mesmo.

Taylor e eu ficamos um instante em silêncio, até que ele me deu um tapinha no antebraço e disse:

— Mas gostei de saber que esperava fidelidade. Isso mostra que enquanto você negava, havia interesse seu por mim. — Lançou-me um sorrisinho de canto de boca. — Talvez ainda exista.

Isso era óbvio. Todo esse tempo, desde o seu retorno para a minha vida, eu nunca negara o meu interesse por ele, mas não discutiria os meus sentimentos àquela hora da manhã. Muito menos em meio a uma pauta que, devido ao seu caráter pesado, não lhe dava o direito de fazer gracinhas e dar em cima de mim.

— Agora sim esse papo não nos levará a nada. — Fechei a cara e fiz questão de trazê-lo de volta à realidade: — Que tal pegarmos papel e caneta para fazermos uma lista de prós e contras?

— Prós e contras... de que exatamente?

Taylor inclinou a cabeça, como se estivesse confuso. Precisei ser mais específica, antes que ele pensasse que era uma lista de prós e contras de voltarmos a ficar juntos.

— Pontos positivos e negativos de você dizer sim ou não para Emmeline, claro. Não falei que ajudaria na sua decisão? Acho esse método muito eficiente.

— Ah, sim. — Seus ombros caíram, em visível sinal de desânimo, e ele se ajeitou na cadeira, virando-se para o seu prato. — Antes me deixe terminar o café, não quero perder a vontade de comer.

Eu perdera o apetite desde que soube que ele seria pai, mas aproveitei para empurrar um muffin e um copo de suco para dentro. Encarar aquela lista e a escolha de Taylor, de estômago vazio, poderia ser bem pior. Imagine que merda ter apenas bile para vomitar.

*****

Após o café, subi para trocar a roupa de dormir por um biquini e um vestidinho leve e, em seguida, encontrei Taylor no deque. Sentado no sofá com a sua caderneta aberta no colo, ele aproveitava o sol do melhor horário da manhã.

— Estou pronta. — Coloquei a bolsa de praia sobre a poltrona e me sentei ao seu lado, com as pernas cruzadas sobre o estofado. — Vamos fazer a lista?

Taylor escolheu uma página dupla, em branco, mais para o final da caderneta, e a colocou aberta sobre o meu colo com uma caneta.

— Não! — recusei a tarefa, passando de volta os objetos para ele. — Posso até ditar os itens, mas você escreve. Você é quem tem que visualizar o quão ferrado está.

Taylor olhou para as páginas em branco e depois para mim, o seu desânimo era quase palpável.

— Você não tem muito tempo. — Segurei seu antebraço em um gesto de apoio. — Sei que não é uma decisão simples e que as duas possibilidades têm pontos ruins, mas ela precisa ser tomada.

Okay. — Depois de bufar, Taylor traçou uma linha vertical, dividindo a página em dois. Escreveu prós de um lado e contras do outro. — Vamos listar as consequências de dizer não para Emmeline, que é o que vou dizer.

— Você já se decidiu? Tem certeza? — Ajeitei-me no assento, sentando-me completamente virada para ele.

— A resposta que darei a ela é não. Eu já tinha afirmado isso antes. — Ele escreveu não bem grande na página em branco e o sublinhou. — Caí em uma cilada e não serei prisioneiro disso. Viver amarrado à Emme não é justo comigo e com ninguém.

— Então vamos às consequências... — Peguei a mão dele, que segurava a caneta, e a direcionei para a página dos prós e contras. — É importante analisar o que virá.

Ele começou a escrever do lado negativo da lista.

— Ao dizer não à ela: um, viverei longe do meu filho; dois, o segredo de minha família será exposto...

— Caso a golpista abra a boca quanto a isso, você poderá a processar por difamação! — Apontei para o segundo item da lista, achando-me superesperta por ter pensado naquilo. — Negue até o fim, e ela que passe por mentirosa enquanto lida com a justiça.

— Já havia cogitado essa possibilidade, mas um processo não impediria o estrago. Ainda que eu desmentisse tudo, a mídia se encarregaria de procurar as provas e de fazer o meu inferno. Para iniciar um incêndio, basta uma fagulha.

— Você precisa avaliar se terá força para enfrentar os efeitos desse escândalo. Quando o mundo todo souber que você é o pai da Angie, sua afilhada querida, será um choque, um baque na sua carreira.

— Eu sei...

Fizemos alguns instantes de silêncio, ambos olhando para a lista, e a aura de derrotismo quase nos destruiu. Puxei a caderneta e a caneta para o meu colo e circulei o primeiro item.

— Você também poderá processar sua ex caso ela não lhe permita ver o seu filho. — Após sentir uma alfinetada no estômago, levantei os olhos para ele e voltei a mirar o papel. — Mas no que você precisa pensar, com calma, é se quer viver longe da criança, porque Emmeline mora do outro lado do país. Portanto, mesmo se você conseguisse na justiça o direito de ver o seu filho, não seria aquele contato do dia a dia. Você está disposto a abrir mão disso?

O pomo de adão subiu e desceu devagar enquanto Taylor engolia em seco, e vi confusão em seu rosto.

— Tenho muito a perder, eu sei, mas... — Fez uma pausa e, em seguida, interpelou-me, desconfiado: — Por acaso você está tentando me convencer a dizer sim à Emme?

— Não. Estou apenas fazendo você pensar nos danos que acompanharão sua decisão. Tenha em mente que, se não se casar com ela, ao escândalo da traição em família se somaria à notícia de que você abandonou a coitadinha grávida... — Levantei as mãos e as cruzei no ar, formando um splash imaginário. — "Taylor Hanson, de queridinho a filho da puta"; é isso o que dirão as manchetes.

— Eu perderia prestígio, certamente. Mas já passei por isso uma vez; não seria o fim do mundo se tivesse que enfrentar o fracasso de novo. — Deu ombros. — Eu e meus irmãos vimos a banda declinar, acompanhamos as vendas caírem, sumimos da mídia... mas tudo isso conseguimos reconstruir depois. — Suspirou ao segurar firme uma de minhas mãos. — Nada me doeu mais do que perder a mulher que eu amo, justamente por me importar demais com a opinião dos outros.

Taylor olhou para mim, com os olhos marejados, e baixei a cabeça para evitar a encarada quando, com a mão livre, ele acariciou minha face.

— Belle, se eu disser sim para Emmeline, nunca mais poderei ter você pra mim, e isso é a pior coisa que poderia me acontecer. — Meu couro cabeludo se arrepiou quando seus dedos deslizaram da lateral de meu rosto até a nuca, sustentando minha cabeça. — Não quero matar essa esperança, não quero perder você pra sempre.

— Você está se contradizendo, não acha? — Puxei o braço de Taylor pelo punho, livrando-me de suas carícias. — Alguns dias atrás você concordou que era melhor ficarmos separados e até me incentivou a voltar para o Nathan. Ontem mesmo você insistiu nisso!

— Quando a Emme me jogou a bomba, logo de cara eu me vi sem saída. Porém, não é verdade, existe saída, sim. Não tenho que me submeter aos caprichos e às chantagens dela! Não preciso me casar! — Vermelho, Taylor parecia revoltado com ele mesmo. Depois de tomar um tempo para respirar, ele voltou a tocar o meu rosto. — Eu não tinha nada que empurrar você para o seu ex, quando não era isso o que eu queria de verdade...

Um calafrio subiu de minha barriga até o pedaço de pele que suas mãos acariciavam, e fechei os olhos quando ele voltou a falar:

— Eu quero você, Belle, somente você. Vamos voltar a ficar juntos, por favor... — Seu polegar correu da minha bochecha para os meus lábios, que ele encarava como se os quisesse beijar. — Diga pra mim que você me quer. Sei que podemos superar qualquer coisa, sempre foi assim...

De maneira delicada, tirei a mão dele de meu rosto e fitei os seus olhos.

— Não é hora para isso. — Afirmei, embora meu estômago, agitado, concordasse com Taylor. — Faça a sua escolha sem que ela esteja ligada às minhas. Não quero sobre as minhas costas essa responsabilidade. Se quer dizer não a Emmeline, diga não, mas por você, não por mim.

Ele segurou o meu queixo, apoiando os dedos debaixo dele, e firmou o meu rosto na direção do seu.

— Direi não a ela por nós dois. Você pode fingir que não se importa, que tanto faz, mas sei que está contente com a minha decisão. Eu posso ver no seu rosto.

Desviei meus olhos dos dele, para que não lhe entregasse de vez o que sentia e me afastei, arrastando a bunda um pouco para trás.

— Estou contente por você, Taylor. Nada mais libertador do que fazer o que se tem vontade.

— Exatamente. Não vou me casar com alguém que não amo e passar o resto dos meus dias incompleto. Depois de viver um inferno e aguentar o meu nome na mídia por alguns meses; serei livre. — Ele se levantou e, logo depois de espreguiçar-se, retirou a camiseta, jogando-a sobre o sofá. — Acho que você deveria experimentar essa liberdade... de fazer o que realmente quer fazer, ignorando as consequências.

Meus olhos correram do cós de sua bermuda até o rosto perfeito, passando pelo seu peito nu, e mais uma vez meu estômago se revirou. Taylor esticou a mão, chamando-me para um mergulho, mas falei que iria depois. Lutava para dominar os impulsos que ele gostaria que eu seguisse livremente, e nadarmos juntos poderia colocar tudo a perder.

— Você pode me emprestar o seu notebook? Gostaria de checar umas coisas...

— Checar seu e-mail? Ou quer ver se tem mais alguma notícia do ruivo com a garota da Beverly Angels? — Ele cerrou os olhos para mim. — Eu conferi mais cedo, não publicaram mais nada. Mas, se quiser ver com seus próprios olhos, o notebook está sobre a minha cama. A senha é th14is2404.

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[ Nota ]

Nos Estados Unidos defamation designa todas as formas de "crime contra a honra", definidas na legislação brasileira como calúnia, injúria e difamação.

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