Cap 89. Jantar indigesto

Algumas vezes somos levados a fazer algo e não sabemos exatamente por quê. Sair com Taylor àquela noite era uma dessas coisas. Se eu não tivesse ido até o seu apartamento, ele estaria a caminho da Dark Circuit, sozinho, e eu estaria deitada assistindo à TV ou lendo um livro, esperando os dias passarem para reencontrar Nathan, e tudo estaria em seus devidos lugares.

Mirana entendia das coisas quando dizia que o Universo sabia exatamente como proceder, que ele quem ditava todos os acontecimentos. Bons ou ruins. Se eu não tivesse ido atrás de Taylor, se não tivesse topado ir com ele ao Chaosan, teria ficado cega para um monte de coisas. Coisas que eu precisava ver, sentimentos que eu precisava sentir, fatos que o Universo, claro, não me permitiria ignorar.

A hostess do restaurante cantonês nos recebeu cheia de cerimônia e nos levou até nossa mesa nos fundos do restaurante, onde havia uma área bastante aconchegante e mais discreta, na qual, segundo ela, ficavam os casais que procuravam privacidade.

— Muitos reservam esta área para jantares de negócio também — explicou-me Taylor, justificando-se, quando ela nos deixou a sós. — Já fiz algumas reuniões aqui. Aliás, foi David quem me trouxe ao Chaosan pela primeira vez, antes de se mudar para Londres. Foi aqui que fechamos o acordo de compra e venda do Landon.

— David, como sempre, com muito bom gosto. Eu já conhecia este restaurante — revelei, de forma natural, sentada de frente para ele. — Só não esta área. É bem intimista. — Meu olhar se perdeu em volta, na iluminação mais difusa, perfeitamente de acordo com a calma da música ambiente.

— Pensei que eu tivesse sido original. Quer dizer que já conhece o restaurante?... — Eu podia imaginar o que se passava pela sua cabeça, mas não dei corda.

— Uhum. O menu é ótimo. — Embora eu tivesse colocado tudo para fora da outra vez, sim, era ótimo. — O que pensa em pedir?

— Para começar, Classic baked dim sum. Croquete de caranguejo e espargos brancos, abalone assado e folhado de frango, legumes e trufas negras — respondeu, lendo o cardápio e colocando-o de lado em seguida. — Mas, antes, pedirei um drinque. O que quer beber?

— Tanto faz. O mesmo que você.

O garçom se aproximou para anotar os nossos pedidos, e Taylor pediu vinho de arroz e os dim sum de entrada.

— Então você vai viajar... — Iniciei um assunto quando voltamos a ficar a sós, enquanto mexia no guardanapo. — Acha que terá condições de pegar a estrada amanhã cedo depois de beber vinho de arroz e trabalhar durante a madrugada?

— Devo ir um pouco mais tarde, sem pressa.

— Para onde exatamente em Santa Barbara você vai?

— Uma região bem pequena e tranquila, de cerca de 1500 habitantes, chamada Toro Canyon. Já ouviu falar?

Sacudi a cabeça, em negativa. Não fazia a menor ideia de que lugar era aquele.

— Alguém lhe indicou ou você escolheu essa localização por conta própria?

— Disse ao corretor o que estava procurando; um lugar aqui na Califórnia, de frente para mar, com muita paz principalmente... e ele me sugeriu uma mansão, no meio do nada, que ficou disponível há pouco tempo. Também não conhecia Toro Canyon, mas confesso que, pelo que procurei na Internet, parece ser incrível. Ele acertou, em cheio.

— É bastante corajoso de sua parte viajar sozinho para o meio do nada, ainda mais para uma casa tão grande. Eu teria medo dos sentimentos que a solidão me traria.

— Algumas vezes a solidão é necessária para nos organizarmos internamente. Pode ser essencial para clarear a mente em momentos de tomadas de decisões. Especialmente decisões difíceis.

O garçom retornou com as nossas bebidas e nos serviu, interrompendo o pensamento de Taylor, ao qual fiz questões de retornar após tilintarmos nossas taças, sem propor nenhum brinde específico.

— Então essa viagem tem outro propósito além de relaxar e compor, como você disse mais cedo. — Dei um gole em meu vinho, sentindo o calor proporcionado pelo álcool. — Que decisão é essa, tão importante e difícil, que você precisará se afastar da civilização para tomar? — Fui indiscreta, mas a curiosidade falou mais alto.

— Minha vida está uma bagunça, Belle... — respondeu-me, sem dar nenhuma dica. — Pensei que estivesse seguindo na direção certa, a um passo de reconquistá-la, de viver o que queria viver, quando me vi obrigado a dar alguns passos para trás. — Taylor olhou para baixo, para o prato vazio, e, depois, com o semblante triste, encarou o meu rosto.

— Mais uma vez me desculpe por ter sido sincera sobre a minha vontade de voltar para o Nathan.

— Não é só isso. — Ele esticou a mão sobre a mesa, tocando o dorso da minha, delicadamente, com a ponta dos dedos. — Não tem nada a ver com as suas escolhas, que você tem todo direito de fazer. Meus problemas vão além...

Girei a mão que ele acariciava, deixando a palma para cima, e apertei os seus dedos com os meus, sem tirar os olhos dos dele.

— Não quero que esse jantar vire um mar de lamentações — disse Taylor —, portanto, vamos fazer um brinde decente e desejar que eu e você, como amigos, possamos ter um futuro.

Acho que nem eu nem Taylor acreditávamos naquilo, mas brindamos à nossa amizade mesmo assim.

— Ao futuro de nossa amizade, independentemente do que vier... — Ergui minha taça, com o estômago embrulhado.

— Independentemente do que vier.

Não vi sorriso algum no rosto de Taylor, antes, durante e nem após o brinde, e a minha expressão refletia a dele. Silenciei-me após beber um pouco mais do vinho, mas gostaria de ter dito que soamos falsos, gostaria de ter desfeito aquela farsa. Gostaria, também, de ter revelado que era claro que após a sua viagem e o meu encontro com Nathan cada um seguiria para um lado e a tal da amizade iria para o espaço.

Muitas coisas iriam para o espaço, inclusive o meu equilíbrio, naquele exato momento.

Olhei para além de Taylor à minha frente, para o longo corredor que ligava a área reservada ao salão principal, e vi, sem a menor chance de ter me confundido, Nathan Edward Smith e Giorgina Robins caminhando ao lado da hostess. Meu rosto perdeu a cor, meus lábios ficaram frios, e meu coração chegou perto de parar com aquela visão dos dois, bem próximos um do outro, com a mão de Nathan apoiada nas costas de Gigi, logo acima do quadril, guiando-a pelo caminho. Não era uma miragem, mas um pesadelo vivo e com poder de locomoção, ao qual, com o que me restava de forças, pedi a Deus que não se aproximasse muito de mim.

Os dois acabaram direcionados para uma mesa um pouco antes da nossa, em um espaço recuado, onde era possível que eu enxergasse apenas parte de Gigi. Não me preocupei em me esconder, pois, além de o ângulo ruim em relação à mim e a Taylor, a loira parecia olhar para mais nada que não fosse Nathan, que se sentou de costas para a nossa mesa, junto a uma divisória de treliça, de trama fechada e escura.

— Belle? — Taylor me chamou, talvez até mais de uma vez, enquanto eu, congelada, praticamente morta na gaveta do necrotério, continuava com o olhar perdido na mesa da Barbie Estilista e Ken Fetichista. Não o respondi, com os olhos lacrimejando, a ponto de uma piscada ser suficiente para fazê-los transbordar.

— Hoje é... sábado — murmurei, atônita, pensando alto e encolhendo os ombros.

— Uh? — Taylor fez uma careta, com o rosto franzido de dúvida. — Belle! — Estalou os dedos perto do meu rosto, mas nem o movimento nem o barulho foram capazes de tirar a minha atenção de onde estava.

Gigi, sorridente, lia o cardápio, comentando alguma coisa, enquanto minhas narinas abriam-se e fechavam-se, três vezes mais rápidas, como na respiração de um recém-nascido, tamanho ódio que me consumiu.

Era sábado! Sábado! O cretino deveria sair da clínica somente na segunda, no mínimo. Além disso, o combinado era ele me procurar! O que ele fazia com aquela magricela loira antes do tempo, antes de me ligar? Ah, não! Por quê? Por quê?

Tremelicando, com o couro cabeludo ouriçado e prendendo o choro, reafirmei a conclusão à qual chegara quando vi Gigi e Nancy na Wishes. Havia alguma coisa rolando entre os dois — com certeza havia — e não precisava ser nenhum Sherlock Holmes para dizer "elementar meu caro Watson". Uma lágrima pesada escorreu pelos meus olhos, que continuavam perdidos, longe de minha mesa. E foi então que Taylor, mais perdido do que eu, virou-se na cadeira, para procurar a razão de meu estado alterado.

Sua olhadela para trás foi rápida demais para que se detivesse em alguma coisa, então, ainda com o semblante confuso, ele me perguntou:

— O que foi, Belle? Parece que viu um fantasma.

— Pior — respondi, quase sem som. — Muito pior.

Ele olhou novamente para trás, parecendo mais uma vez notar nada estranho, e, quando voltou a me encarar, pedi:

— Podemos ir embora? — A voz vacilou enquanto enxugava as lágrimas. — Quero ir para casa, ou para a boate, ou para o inferno... Mas vamos embora, por favor. Por favor, Tay.

— Os nossos dim sum já devem estar chegando.

— Por favor! — Fui mais incisiva, cheia de vontade de mandar Taylor e os dim sum para a China.

— Você pode me explicar o que está acontecendo? — Ele parecia preocupado, olhando para os lados e depois para mim. — Quero saber o motivo de a gente ter que ir embora tão de repente.

— Depois. — Estiquei o braço e segurei a mão dele, na qual encontrei uma instantânea sensação de apoio. — Juro que conto. Mas, por hora, peça a conta e vamos embora daqui.

Enquanto esperávamos para pagar, não consegui tirar os olhos da mesa de Nathan e Gigi. A tristeza e a decepção eram tantas que me debulhava em lágrimas, sem me preocupar com o showzinho proporcionado a Taylor, garçons e outros clientes próximos. Apesar do choro, no entanto, considerava ótimo o meu autocontrole, porque eu poderia muito bem me levantar, pegar Nathan pelo colarinho e gritar verdades na cara dele. Poderia fazer pior; cravar o garfo em sua jugular e a faca no peito de sua ex — ou atual, provavelmente.

De tão contida, apenas respirei fundo, enxuguei as lágrimas, e me levantei para ir ao banheiro, para me ajeitar antes de deixarmos o restaurante. Não pretendia permitir que Nathan me visse ao passar pela sua mesa, mas, como o risco existia, arrumei o rímel borrado, passei um pouco de pó, de blush, e retoquei o batom. Se eu desse o azar de ser flagrada ali, que pelo menos parecesse bem.

Quando retornei à mesa, pedi a Taylor para que me abraçasse quando levantássemos, pois gostaria de deixar o restaurante assim; grudada a ele. Fui ainda mais específica ao sugerir que me envolvesse pelo lado esquerdo, com o braço por detrás de minha cintura. A confusão em seu rosto aumentou com aqueles pedidos sem sentido — ainda mais com minhas declarações prévias contra paparazzis —, no entanto ele não questionou nada.

Levantei-me e posicionei-me como queria, curvando-me um pouco, e, como um casal apaixonado, caminhamos pelo salão restrito em direção ao principal. Não ousei olhar para Nathan e Gigi, mantendo meu rosto baixo e ligeiramente virado para o lado oposto. E, assim, invisível, deixei o Chaosan.

*****

Do lado de fora do restaurante, enquanto esperávamos o manobrista do valet trazer o carro, mantive-me abraçada à Taylor; não porque queria continuar me escondendo, mas porque me senti muito confortável e protegida em seus braços.

Com a cabeça em seu ombro e as mãos aquecidas dentro do blazer, voltei a chorar, com a certeza de que eu era a pessoa mais azarada do mundo. Ou, talvez, olhando pelo lado positivo, a mais sortuda, por ter descoberto que Nathan era um tremendo babaca antes de parar para dar ouvidos a ele.

Bastou entrarmos no carro e sair da frente do restaurante para Taylor me perguntar o que havia acontecido no Chaosan que me deixara tão atordoada.

— Nathan. — Não tive o menor problema em falar. — Eu o vi com Gigi Robins, chegando juntos ao restaurante e, depois, sentando-se em uma mesa próxima a nossa.

— A Gigi... da Beverly Angels? — Taylor olhou para mim, franzindo a testa.

— A própria. É a ex dele. Mas também não importa. Poderia ser qualquer garota que não faria diferença. O que importa é que ele disse que iria me procurar quando saísse da clínica e estava lá, jantando com outra! — Alterei-me. — Meu Deus, como ele pôde fazer isso comigo? — Soquei a porta do carro com a lateral da mão.

Taylor não disse nada e continuou dirigindo, seguindo por um caminho que eu tinha certeza de que não era o de volta para o condomínio.

— Você pode me deixar em casa? — pedi, mas praticamente ordenando.

— Não acha melhor ir comigo...

— Acho melhor ir para casa, é isso que eu acho. Por favor! — Quase gritei com ele, que não tinha culpa de nada daquilo.

Taylor não ousou abrir a boca enquanto pegava o caminho de volta para o West Wind, apenas ouvindo o meu choro incontido. Ele me acompanhou até o apartamento quando chegamos ao condomínio, mas avisei que não precisava de companhia, que ele podia me deixar e ir para o seu compromisso na Dark Circuit.

— Não vou a lugar algum. Ainda tenho um tempinho e ficarei aqui até você se acalmar — determinou, seguindo-me pelo corredor até o quarto.

Se Taylor ficasse até eu me acalmar, perderia a hora de sua apresentação, com certeza. Porém, sem forças para debater, para insistir que me deixasse sozinha, apenas me joguei atravessada na cama, de bruços, agarrando-me a um travesseiro.

— Filho da puta! — gritei, abafando o xingamento no objeto macio, e depois me virei de barriga para cima, com o travesseiro apertado sobre o peito. — Ele não podia ter feito isso comigo; dizer que me amava, que queria que as coisas se ajeitassem, que a gente ia conversar... Não podia! Como ele pôde me faz promessas e depois reaparecer com outra?

Taylor sentou-se nos pés da cama, de lado, um pouco distante, e ficou me observando morder a ponta da fronha, enquanto lágrimas escorriam pela lateral de meu rosto em direção aos lençóis.

— Você pode estar se precipitando — opinou.

— Porra nenhuma! — protestei, raivosa. — Eu vi os dois lá, eu vi! Não tô maluca!

— Não é isso. — Taylor falou baixo, porém firme. — Você viu os dois, tudo bem, mas viu alguma coisa que sugerisse que estão juntos?

— Ah, Taylor, pelo amor de Deus! — Virei-me de lado, ainda agarrada ao travesseiro, para olhar para ele. — O idiota estava com a ex na área restrita do restaurante, no escurinho. Não tem nem do que duvidar. Tá rolando alguma coisa entre os dois, sim, e eu fui uma burra de cair no papinho dele.

— Isabelle, eu e você estávamos no escurinho, na área restrita, e não está rolando nada entre a gente.

Parei para pensar, mas não muito convencida de seu argumento. Não estava rolando algo entre a gente, mas por muito pouco, apenas porque eu não permiti irmos além. Tivemos o nosso momento revival e Nathan e Gigi poderiam muito bem estar tendo o deles. Eu tinha certeza de que sim.

— De repente eles são apenas bons amigos.

— Hum! Eram! Agora tudo indica que são um casal novamente. — Mordi a fronha do travesseiro, puxando uma das pontas com os dentes enquanto revisitava a cena dos dois chegando juntinhos ao restaurante. — Mas que ódio! — Espumando pela boca, continuei liberando minha raiva: — Ele sempre, sempre manteve essa garota por perto. Falava de você, achava ruim sua proximidade, mas fazia pior. Sempre com o papinho de que ela era apenas amiga... "Gigi e eu somos amigos e blá-blá-blá"... Eu sabia! Sabia que tinha razão para sentir ciúme. Essa coisa de ter a ex como amiga; isso não cola, isso não existe. Nunca que ex-namorados, ex-noivos, conseguem ser amigos. Só se tiver algo mais envolvido. E é sempre sexo, sempre, sempre é.

Vi quando Taylor prendeu o riso, comprimindo os lábios um no outro, mas não captei o motivo para achar graça. Nem se ele pudesse ler mentes, revelando a cena em minha cabeça, de Nathan de calcinha transando com Gigi, teria motivo para rir.

— Belle, eu não vi os dois juntos no restaurante, para opinar direito, mas existe, sim, amizade entre exs sem o tal algo mais. Hoje nós brindamos a isso, inclusive. Não foi? — Taylor me encarou, novamente prendendo o riso, enquanto eu observava nada de modo específico. Finalmente entendi que seu riso se referia à minha contradição. — Você tem que dar um voto de confiança para o cara. Se ele disse que a ama e que a quer de volta, deve ter saído com a ex por algum outro motivo.

Estreitei os olhos inchados para Taylor, fuzilando-o.

— Sério que você está defendendo o Nathan? Esperava outra reação de você, não essa.

— Ah, é? Qual reação você esperava? — Foi a vez de ele estreitar os olhos para mim.

— Achei que você fosse comemorar que deu tudo errado. Você não disse que ia torcer contra o meu lance com ele? — Fui ríspida e irônica. — Então... Taí o resultado que você queria!

Taylor respirou fundo, escondendo e esfregando o rosto nas mãos, com os cotovelos apoiados nas pernas.

— Não, Isabelle. — Vermelho, ele voltou a me encarar. — Não era isso o que eu queria de verdade. Falei para você, nesta noite mesmo, que gostaria que você fosse feliz com quem lhe fizesse feliz. No caso, ele.

— Ele não me faz mais feliz! Você não tá vendo? Olhe bem para mim!

— Neste momento você não está feliz por uma conclusão precipitada. E eu, no meu papel de amigo, não o estou defendendo e ficando contra você. Estou tentando ser sensato, tentando lhe dar a luz que você não está conseguindo enxergar. Ainda acho que deveria falar com ele, deixá-lo se explicar, antes de tomar qualquer decisão. Não dá para sair atacando o cara sem provas. Você viu os dois se beijando, por acaso?

— Não...

— Então não conclua nada.

Mastiguei um pouco mais a fronha do travesseiro, refletindo sobre o que Taylor dissera.

— Estou julgando a situação por uma junção de fatos... Fui à Wishes na segunda, à clínica psiquiatra da família do Nathan. Pretendia fazer uma visita, saber como ele estava, e conversar sobre a gente, definir a nossa situação de uma vez... No entanto, mal passei pela recepção, e quem foi que eu vi? A Gigi e a mãe dele. As duas chegando, juntinhas, muito animadas para a visita.

— E, claro, você concluiu o pior, mesmo com ele tendo dito que amava você, que queria você — relembrou. — O que aconteceu nesse dia?

— Acabei indo embora da clínica sem falar com ele, arrasada. Fiquei mal o dia todo, pensando as piores coisas... como agora. Apenas à noite eu consegui olhar para o problema com mais calma. Fiquei bem o resto dos dias, certa de que não havia nada demais na visita da Gigi, que era coisa de amigos... Mas agora vejo que era, sim, tudo demais! Não tinha e não tem razão para toda essa proximidade dos dois, a não ser estarem juntos novamente.

— Pode ter um motivo nada a ver com amor, paixão ou coisa assim, para eles terem se reencontrado. Nem tudo é o que parece, Belle. — Taylor respirou fundo e, curvado, com os antebraços apoiados nas pernas, encarou o chão. — Assim como eu e você, como qualquer casal que se separa, eles têm uma história, da qual, às vezes, não é tão simples se desfazer. E, mais uma vez, não estou me referindo a amor e paixão, mas a outras coisas... Resquícios. Mas, enfim, sei que nada que eu fale mudará o que você pensa. Eu a conheço bem.

— Não mesmo. Nada me livrará da raiva que sinto daquele filho da puta! — Soquei a cama, agarrando-me ainda mais ao travesseiro em seguida. — Sou a mais iludida do mundo. A mais iludida! Ainda bem que não me casei com ele. Aposto que seria corna!

— Belle... — Suspirou. — Não precisa ficar remoendo essa situação se na sua cabeça ela já está definida. Se você está certa de que ele é um filho da puta, então tudo bem. Mas nada de ficar chorando e se lamentando. Por que não tenta se acalmar, se recompõe e me acompanha até a Dark Circuit? Hein, que tal?

Girei os olhos.

— Claro que não. Se quisesse ir à boate não tinha lhe pedido para me trazer em casa.

Okay. — Ele bateu as mãos na perna e se levantou. — Tudo bem, então.

— Desculpe — murmurei, ciente de que fora grossa. — Eu até planejava ir com você à boate depois do jantar, mas agora já não me sinto disposta para acompanhá-lo.

— Acha que ficará bem sozinha?

Seus olhos, cheios de preocupação, fixaram-se em meus pulsos. Notei quando ele observou os meus hematomas, provavelmente se perguntando se eu adicionaria mais algumas mordidas ali.

— Não tem problema, pode ir. Vai ser bom ficar sozinha. Como você mesmo disse, a solidão pode ser essencial para clarear a mente em momentos de tomadas de decisões.

— Não sei se, nesse instante, a solidão lhe fará tão bem assim. — Coçou a cabeça, visivelmente angustiado. — Tem certeza de que não quer sair um pouco?

— Tenho. — Precisava ficar sozinha para decidir em qual buraco me enfiaria, para de lá nunca mais sair. — Bom trabalho e, se por acaso a gente não se vir novamente, boa viagem amanhã.

— Pode me desejar boa viagem depois. Vou passar aqui quando voltar da boate, se não se importar.

— Pode passar. — Dei de ombros. —Duvido muito que eu esteja dormindo mesmo.

Taylor, a caminho da porta, apertou, de leve, meu tornozelo que estava para fora da cama.

— Até logo mais, então. Se cuida.

......

[ Nota ]

Dim sum - estilo de comida cantonesa, preparada em porções individuais (petiscos) e servidas em pequenas cestas de bambu ou em pratos pequenos.

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