Cap 79. Tentativa final
Não sei como em algum momento acreditei que fosse mais esperta do que a piranha e que seria capaz de enganá-la. Lola tinha mestrado e doutorado em malandragem, e eu me iludira quando pensei o contrário e superestimei a minha capacidade de tomar decisões corretas.
A vadia veio atrás de mim, como um gato atrás de um rato, e me puxou pela alça do vestido, impedindo-me de descer a escada do camarote. Meu coração parou com o tranco, e as pernas bambearam, quase me fazendo rolar do primeiro degrau até lá embaixo.
— Quê? — Virei-me para ela, com os olhos arregalados, segurando-me ao corrimão e me perguntado qual era o problema agora.
— Você não pensou em descer para resolver a questão. Conheço a senhorita muito bem e conheço linguagem corporal — relembrou-me sua especialidade, encarando-me de cima. — Suas lindas pernas andaram mais rápido do que deveriam. Correu por que, Riot? Pressa para encontrar o loirão ou para escapar do nosso acordo pela primeira porta aberta? — A vagabunda apertou o meu queixo e grudou o seu rosto no meu. — Você não vai a lugar algum sozinha.
Cogitei, mais uma vez, contar a ela que eu e Taylor já havíamos nos relacionado, que era um erro tratar o nosso encontro como um negócio, mas olhei para os gêmeos, que prestavam atenção em nós duas, e desisti. Se Lola ficasse sabendo da verdade, Jayden e Jason também saberiam, e eu não queria envolver o meu ex mais a fundo com gente daquele naipe. A saída seria continuar usando a meu favor o delírio de Lola, de que Taylor estava louco por um programa e que eu realizaria seu desejo.
— Eu não vou fugir — usei a voz mais firme que consegui —, sei exatamente o que tenho que fazer para ir com ele para casa. Agora me deixe resolver essa merda.
— Ande logo, pode descer. — Quase deslocando o meu queixo, ela me empurrou em direção ao próximo degrau. — Vou ficar na sua cola para ter certeza de que vai conseguir fazer esse troço direito. Ao chegar lá embaixo, trate de melhorar essa cara de cu e ser simpática.
Lola tinha fodido a minha noite, em todos os sentidos, então era muita cara de pau me pedir para sorrir e ser simpática. Não tinha como sorrir, nem fingir alegria, quando ainda sentia a mão de Jason na minha virilha, o dedo de Jayden dentro de mim, quando me sentia imunda, invadida, ameaçada e perseguida... Quando me sentia qualquer coisa, qualquer coisa sem valor, menos eu mesma. Ela deveria levantar as mãos para o alto e agradecer que, apesar da cara de cu, as lágrimas ainda não tinham vindo à tona.
*****
Fui na frente, espremendo-me entre as pessoas que bebiam e conversavam ao redor do bar e as que dançavam na pista, abrindo caminho em direção aos bastidores. Lola segurava o meu pulso, bem firme, quase me queimando com sua radiação nociva, enquanto eu tentava não surtar de vez ao som da insuportável Barbie Girl, do Aqua. A voz feminina e estridente cantava, animada demais, que a vida em plástico era fantástica, mas a vida real, de carne e osso, a minha especificamente, estava bem longe disso.
— Olhe só, que sorte a nossa... Aquelas bruacas escandalosas já foram embora. — Lola comemorou quando paramos na porta do camarim, agora livre de fãs. — Isso facilita muito pra gente.
— Você não vê que essa merda não vai dar certo? — Meu estômago queimando e o peito comprimido era o maior sinal de que voltar atrás seria o melhor caminho. — Não dá para impor um programa, Lola. E se eu não for capaz de seduzi-lo?
Eu tinha certeza de que se propusesse a Taylor irmos dali para a sua casa, ele toparia na hora. Sairíamos juntos da boate, eu me livraria de Lola, e depois daria um jeito de arrumar a bagunça. O problema era que, parada diante daquela porta, no estado de nervos no qual me encontrava, eu não tinha a menor vontade de ficar frente a frente com ele. Toda a empolgação e envolvimento que eu me permitira sentir e viver em relação a Taylor durante sua apresentação havia desaparecido no desenrolar da noite.
— Ih, mas está negativa, hein? Você não disse que sabia o que fazer para fisgar o macho? Então mostre que sabe! Levante um pouco isso aqui. — Lola suspendeu a barra do meu vestido, deixando-o mais curto possível. — E... abra mais isso aqui. — Esgarçou o decote. — Prontinho. Só vai dar errado se você for incompetente. Come on Barbie, let's go party! Ah, ah, ah, yeah!
Mais confiante do que nunca na realização do seu objetivo, Lola abordou o mesmo segurança que nos dera a pulseira para a área VIP. A piranha sussurrou em seu ouvido alguma coisa que não consegui ouvir, mas da qual pude imaginar boa parte após a apalpada, nada discreta, que ela deu em suas partes íntimas. A promessa — essa dita em alto e bom som — de continuar o servicinho mais tarde, enquanto alisava o comprimento roliço do homem sobre a calça, foi o nosso passe-livre, pois sem nem consultar alguém no rádio, o troglodita liberou a nossa entrada.
— Aprendeu como se abre uma porta, Riot? É assim, pegando com vontade na maçaneta. Para algumas coisas não é necessário criar joguinhos de sedução, basta focar no ponto certo.
Se ela achava que eu daria uma patolada em Taylor Hanson, sem mais nem menos, podia esquecer. Tampouco faria joguinhos de sedução. Depois de ter passado pelas mãos dos gêmeos, qualquer ato ou piada de conotação sexual, por menor que fosse, embrulhava o meu estômago. Portanto, fiz o possível para ignorar os conselhos vulgares da piranha, mantive-me calada e segui em frente.
Na primeira sala logo depois da entrada, onde provavelmente acontecera o encontro de fãs com Taylor, o pessoal da organização, com a camiseta da staff da boate, desmontava o equipamento usado na sessão de fotos. Em outro canto, funcionários da limpeza recolhiam pratos, copos de acrílico espalhados, e as migalhas deixadas sobre a mesa do bufê.
— Chegamos tarde, como você pode ver — resmunguei para a vadia, ajeitando o vestido no lugar e dando graças a Deus que, até então, ninguém havia nos notado. — Por que não desiste?
— Ei! — Lola gritou para um funcionário de camisa polo que coordenava o desmonte o backdrop. — Ei! Um minutinho, por favor... Estamos procurando o Taylor Hanson.
— Como vocês conseguiram entrar aqui? — Agora eu queria ver a vagabunda usar a técnica da maçaneta. O homem saiu do meio das peças, largou a equipe trabalhando e veio imediatamente para cima da gente, agarrando-nos pelo braço e nos dirigindo de volta à porta. — O evento já acabou e o artista está descansando. Não tem mais encontro hoje, preciso que saiam.
— Ai! Dá para me soltar? Está me machucando! — resmunguei entre os dentes, tentando me livrar do ogro, quase chorando, sentindo-me extremamente humilhada mais uma vez naquela noite. Aquela agressão me deu certa coragem e, mesmo com a voz embargada, abri a boca para tentar me impor. — O senhor está cometendo um grande erro, sabia? Ele está me esperando.
— Nos esperando! — Lola reforçou a mentira, debatendo-se para que o homem soltasse o seu braço. — Agora vá avisá-lo da visita antes que você arrume um problemão para si mesmo, fofinho.
Detestava o deboche de Lola, mas aquele foi necessário e merecido, tanto que quase aplaudi. Desconfiado, o funcionário pediu para que esperássemos e foi para o outro lado sala falar com outro homem, este de camisa social e ar de importante. Aparentemente o problema relacionado a nós duas foi repassado ao superior, enquanto os dois cochichavam olhando em nossa direção. O que nos recebeu de maneira agressiva, voltou a cuidar do desmonte do backdrop, e o com ar de importante, veio falar com a gente. De perto, vi no crachá de que se tratava do gerente, que nos analisou dos pés a cabeça e deu um veredito:
— Seguinte; aqui encerrou. Pulseirinha dourada é lá em cima. Não me foi informado se o artista solicitou esse tipo de entretenimento, portanto terei que confirmar. — Fui reduzida a "esse tipo de entretenimento", era só o que me faltava. A humilhação não tinha fim. — Vou pedir para que subam, por gentileza, e esperem lá em cima. Mas não posso dar garantia de nada. Participar da festinha privada depende da vontade do cliente.
— Ele sabe que estamos aqui, foi o próprio Hanson quem nos convidou — insistiu a vadia. — Lollie e Penny, pode avisá-lo.
— Aguardem lá em cima, por favor. — A educação do gerente permaneceu, mas de maneira mais incisiva. — Não posso liberar a entrada na sala privada do artista e... Bem, se ele quiser se divertir, irá até a área VIP.
O responsável por tudo ali nos conduziu até a saída, e eu, morta de vergonha, já dava todo esforço como perdido, quando Lola deu a cartada final.
— Está vendo lá? — Ela puxou o gerente para fora e, apontando, fez com que olhasse para o andar de cima, de onde Jayden e Jason, apoiados ao parapeito, fizeram sinal para ele. — Somos garotas dos gêmeos. Você não precisa confirmar nada com o Hanson. Ele optou por não subir, mas pediu o delivery.
Como Lola conseguia inventar, tão rapidamente, as tramas mais convincentes, era uma coisa de doido. Ficou claro que, apesar de frequentar a Code Six e descolar um trocado por lá, ela não tinha intimidade com o gerente, no entanto, sabia bem que ele estava por detrás da livre atuação dos gêmeos naquela boate. Pedir o respaldo de Jayden e Jason para a sua própria armação, e na hora certa, foi uma jogada de mestre. Lola era realmente muito inteligente, no entanto, lamentável que usasse sua capacidade para o mal.
*****
Voltamos para dentro da sala e, conforme passávamos pela bagunça, Lola fez questão de acenar para o coordenador escroto que nos tratara mal. Eu gostaria de ter mandado um piruzinho para ele, só para descontar o meu ódio generalizado, no entanto, concentrei-me em tentar me reestruturar, mesmo que minimamente, antes do encontro com Taylor. Em menos de um minuto eu, obviamente, não me reestruturei nada; nem a minha respiração voltou ao normal, nem o meu peito se livrou da opressão, nem meu estômago deu uma trégua. Teria que me virar para parecer bem daquele jeito descompensado mesmo.
— Lembre-se de sorrir — sussurrou a vadia enquanto o gerente, por uma fresta da porta, avisava a Taylor da nossa presença.
Sorri, sim, mas de desespero, quando o homem escancarou a porta para nos dar passagem. Lola entrou na frente, rebolando bem mais do que o normal, sentindo-se a dona da situação, e fui logo atrás, desejando poder apertar o botão de rebobinar, para voltar ao ponto em que chorava no sofá pelo término definitivo com Nathan. Ah, como seria bom estar em casa — ainda que na de Lola — na fossa, ouvindo baladinhas de metal melódico e me entupindo de chocolate. Como eu gostaria de nunca ter recebido aquele convite para ir a Code Six, ou, pelo menos, ter sido forte para recusar. Cair na tentação de reencontrar o diabo loiro naquela noite tinha me trazido, de quebra, tantos problemas pesados, que me dava até vontade de celebrar os antigos.
— Ei! — Taylor abriu um largo sorriso ao nos ver chegar, estendendo a mão para cumprimentar Lola, que tratou de agarrá-lo pelo pescoço e dar-lhe um beijo estalado na bochecha.
— Olá, bonitão. Cheiroso, hein? — Fungou em seu pescoço. — Que prazer em revê-lo!
Lola não estava nem aí para o fato de que seu cumprimento ultrapassava o limite da educação, ela ainda passou a língua pelos lábios e desceu as unhas pelo peito dele até o cós da calça. Taylor, vermelho, visivelmente constrangido, ignorou a inconveniência e veio até a mim. Ao contrário da vadia, sem vontade alguma de dar-lhe confiança, limitei-me aperto de mão. Porém, quando tentei me livrar de seu toque, ele me surpreendeu e me puxou para um abraço, meio de lado, meio sem jeito, apertando o meu ombro.
— Que bom que veio, mesmo no finalzinho. — Ganhei um beijo na cabeça. — Pensei que não a veria mais hoje.
Não era o melhor momento para sentir raiva de quem, se tudo desse certo, me levaria embora dali, mas, com os ânimos à flor da pele, senti. E muita. Como o filho da mãe teve coragem de lamentar o fato de eu não ter aparecido ali mais cedo? A culpa de não termos nos esbarrado naquele camarim logo depois de sua apresentação foi de Lola, que me carregou para a orgia disfarçada de festa, mas, em parte, dele também, por não ter facilitado em nada o nosso encontro desde o começo. Veio-me na ponta da língua que ele poderia muito bem ter me dado um ingresso VIP.
— Quase que esse encontro não rolou mesmo... — resmunguei, desviando um olhar fulminante para a vadia e outro para ele. — Precisei ser persistente.
— É, imagino... Isso aqui ficou uma loucura. — Taylor passou a mão pelos cabelos, jogando para trás a mecha que cobria parcialmente o seu rosto, usando sua voz rouca e sexy para se justificar. — Gostaria de ter ido até a pista falar com você. Era o que eu tinha em mente, para nos divertirmos um pouco, dançar, beber... Mas essa coisa de cumprir agenda, contrato, acabou me prendendo aqui. Você sabe como é. — Ele apertou minha bochecha, dando uma leve sacudida, enquanto espremia os olhos. Esse era o seu jeito de me pedir desculpas, o que não amenizou em nada a raiva que eu sentia. — Mas, e então... Tudo bem? Uau, nossa, estou muito feliz que veio! Bom saber que eu ainda valho a sua obstinação. — Revirei os olhos e soltei o ar, de uma vez, deixando bem clara a minha falta de paciência. Ele notou, tanto que me puxou, de novo, para um abraço sem jeito, mudando subitamente de assunto: — Gostou do meu set?
Lola nem tentou disfarçar o tédio, via-se nitidamente em o seu rosto que conversar sobre música não fazia parte de seus planos. Nem dos meus. Quanto antes eu conseguisse resolver a minha situação de prostituta agenciada por uma noite e dar o fora dali melhor.
— Foi uma lista bem... eclética.
Sentindo-me desconfortável nos braços de Taylor, afastei-me um pouco. E se não fosse Lola, bocejando, pedir-nos licença para usar o celular, o silêncio teria sido insuportável.
— Fui ontem ao The Heat... — O maldito enterrou os dedos na palma da outra mão, aparentemente com vergonha de sua obviedade, mas sem tirar os seus olhos dos meus. — Sei que não fiz o que pediu, não respeitei aquela coisa de ficar longe e tal, mas... eu precisava ver você.
— Uhum. Lola me disse. — Olhei para vadia, que falava ao telefone em outro canto da sala, pois se permanecesse hipnotizada pelo olhar apaixonado de Taylor, corria sério risco de me jogar em seus braços. — Fui embora cedo do clube, porque... Bem, você ficou sabendo o porquê.
— Ah, sim, eu soube... Hum. Sinto mui...
— Não sinta. — Um pouco mais dura, impedi-o de continuar. Ele não sentia nem um pouco o meu término com Nathan, era óbvio, e não precisava mentir.
Lola voltou para perto de nós dois depois de finalizar seu breve telefonema e o momento foi perfeito para interromper o assunto entre mim e Taylor.
— Querem se sentar? — Ele indicou o sofá de couro sintético preto, de aparência desconfortável, encostado a uma parede, afastando sua jaqueta jeans e uma bolsa para fazer lugar. — Fiquem à vontade enquanto eu termino de arrumar as minhas coisas.
Lola acomodou-se rapidamente, mas eu me mantive de pé. Sem saber o que fazer ou o que falar — até porque não sentia mesmo vontade de abrir a boca, muito menos de tomar alguma atitude — fiquei apenas observando-o de perto guardar o seu notebook aberto sobre a mesa.
— Mais um pouco e vocês não me pegariam aqui... — Taylor quebrou o silêncio.
— Mas que bom que pegamos — disse Lola, levando a jaqueta jeans do seu gatão loiro até o nariz e respirando profundamente para sentir o cheiro. — A melhor parte sempre fica para o final, não é mesmo?
— Isso é verdade, mas deveria ter invertido a minha prioridade. — Taylor piscou para mim e embora parte do meu coração tenha se derretido, a parte machucada me pediu para desprezá-lo. — Nossa! Esta noite foi insana! Uma hora atrás acho que tinha umas cem garotas do lado de fora.
— Cem? Nah! Um milhão de necessitadas histéricas — opinou Lola, tirando as palavras da minha boca. — Levamos várias unhadas dessas guerrilheiras safadas disfarçadas de fãs. Não sei como você aguenta.
— Estou acostumado — rebateu, rindo do comentário de Lola, exalando orgulho pela sala e piorando sua situação comigo. — Faz parte do trabalho. Lidar com as mais assanhadas, inclusive.
Ui, essa tinha sido diretamente para ela.
— Viemos até a porta do camarim mais cedo — senti-me uma idiota por admitir, mas Lola já tinha entregado o jogo, então não fazia diferença —, chegamos a pedir para entrar, mas fomos direcionadas para uma festinha no segundo andar. Até me senti especial... por alguns instantes.
Taylor ergueu os olhos para mim e vincou a testa, visivelmente confuso com meu tom, que permanecia seco, e com aquela história de festinha.
— Ninguém da produção me avisou nada. Estranho... Não fiquei sabendo de outra recepção privada além desta aqui. — Encarei Lola como quem dizia "tá vendo?" — Então está rolando um afterparty?
Um "não" saiu de minha boca com a mesma intensidade do "sim" proferido por Lola.
— Tá ou não tá? — Ele liberou um sorrisinho, cheio de dúvida, olhando de mim para ela e dela para mim.
— Nada que valha a pena conferir. — Desafiei a vagaba, passando bruscamente o carregador do notebook para ele guardar na mochila.
— Se você diz... — Taylor levantou os olhos azuis para mim e sorriu, despertando-me zero de qualquer sentimento positivo. Não considerei bom o frio que subiu do meu estômago até o peito. A sensação foi bastante desagradável até. — Então, qual é a boa depois daqui?
Enquanto meu ex organizava os últimos objetos no bolso da frente de sua mochila, fiz um sinal discreto para Lola, pedindo para que me deixasse resolver aquilo do meu jeito. Era a oportunidade perfeita para executar o desfecho do meu plano.
— Hmmm... — Peguei a echarpe embolada na mesa, entreguei para que Taylor a guardasse, e, depois, tremendo, dei em suas mãos as chaves do carro e do apartamento. — Que tal a sua casa?
O aperto no peito, que não se dissolvia, ficou ainda pior ao me oferecer para ele naquele pedido de socorro mascarado. Enquanto Taylor sorria, eu me consumia e culpava-me, sem vontade alguma de ir para casa com ele. No entanto, nada mais era importante, nem a minha raiva e muito menos a vergonha, a não ser a necessidade desesperadora de ir embora dali.
— Na sua casa... — Tossi, de propósito. — Na sua casa será bom, ideal, porque... porque a gente precisa conversar. — A ideia de agendar uma DR para aquela madrugada foi apenas para afastar quaisquer segundas intenções que ele pudesse ter em mente. — Precisamos conversar sério... a sós, sobre, bem...
— Sim, precisamos. — Taylor segurou minha mão, acariciando o dorso com o polegar, parecendo finalmente notar um peso sobre mim. O que ele provavelmente não imaginava era que meu péssimo humor não tinha a ver, apenas, com algo relacionado a nós dois. — Nós vamos ter essa conversa... Eu sei que as coisas mudaram um pouco agora...
— Bastante. — Interrompi sua linha de pensamento e fugi de suas carícias, puxando minha mão para junto do corpo.
Lola mantinha-se atenta à conversa, que começara a rumar para o lado pessoal. Então, para evitar entregar o ouro ao bandido, cheia de vontade de chorar, pressionei Taylor para que deixássemos o lugar.
— Podemos ir?
Taylor fechou a mochila, empilhou todas as suas coisas no sofá ao lado de Lola e pediu dois minutos para ir ao banheiro. Antes de se trancar no reservado, ele passou a mão pela minha cintura e depositou um beijo em minha testa.
— Estou tão cansado... — desabafou. — Não vejo a hora de chegar em casa.
— Falta pouco. — De olhos de fechados, suspirei de alívio.
Falta pouco para eu sumir daqui.
A vadia aproveitou que ficamos a sós e levantou a bunda do sofá, puxando-me para um canto longe do banheiro para me relembrar das suas regras.
— Preste atenção, Tumulto. — Suas garras vermelhas quase afundaram na pele do meu braço. — Você fez direitinho o seu trabalho até o momento. Meio burocrático, frio, sem mostrar o seu potencial de sedução, que estou começando a achar que nem existe, mas, melhor que nada. Muito bem. Agora é o seguinte: você vai pra casa com o cidadão e vai fazer o que ele quiser. Dormir, conversar, foder, não importa; não ouse cobrar menos de 5 mil para passar a noite. Ouviu? E lembre-se de que se ele resolver esticar o final de semana, o valor aumenta, e consequentemente aumenta, também, o quanto vou ganhar. Não tente me aplicar um golpe porque sou muito mais esperta do que você!
— Não aplicarei golpe nenhum, agora pare de me pressionar. — Mesmo em frangalhos, fui firme com ela, dando-lhe as costas, para não enfiar a mão em sua cara.
Taylor deixou o banheiro um pouco depois, vestiu sua jaqueta, colocou a mochila nas costas, pegou a bolsa e estendeu a mão vazia para mim.
— Vamos?
*****
Para evitarmos cruzar a boate e Taylor ter de se esconder das fãs, deixamos o camarim por uma saída alternativa. Passamos por um corredor mal iluminado, com paredes e teto de concreto, cheios de tubulações aparentes, e fomos parar no estacionamento atrás da Code Six. Lola fez todo o percurso com a gente, como um cão de guarda, mas o pior não foi ela em minha cola.
Jayden e Jason pareciam ter a capacidade de se multiplicar.
Os pitbulls famintos fumavam do lado de fora, batendo ponto justamente na porta dos fundos, muito convenientemente, como se para garantirem que eu não iria fugir. Lola deve tê-los avisado naquele telefonema misterioso, ou talvez fosse mera coincidência. Não soube dizer, e o porquê de estarem ali não importava. Fato é que a simples presença dos dois acabou de me afogar no poço escuro de sentimentos ruins no qual me encontrava.
O sangue sumiu do meu rosto, o vento gelado da madrugada batendo em meu corpo me fez tremer ainda mais, e minha palma da mão suava, mas não pelo atrito dos dedos do meu ex, entrelaçados aos meus.
— Está tudo bem? — Taylor me perguntou quando me enrosquei em seu braço e me encolhi junto ao seu corpo.
— Frio... — Ele me puxou mais para perto, aquecendo-me em seus braços e beijou a minha testa em seguida. — Obrigada — murmurei, esforçando-me para as lágrimas não transbordarem.
Lola passou pelos dois irmãos, fingindo não os conhecer, e nos acompanhou até o carro, para se despedir como se fosse uma amiga íntima. Enquanto Taylor colocava as suas bolsas no banco de trás pelo lado esquerdo, encostada à lataria oposta pedi para a vadia me deixar sozinha, para que eu pudesse fazer o que tinha que fazer. Lola me deu dois beijinhos, dissimulada, desejou-me "boa sorte" e gritou "boa noite" para Taylor. Em seguida, a piranha retornou à porta dos fundos e juntou-se aos gêmeos, que acendiam mais um cigarro sem tirar os olhos de mim.
Entrei primeiro no SUV prateado e me ajeitei no banco do carona, acuada, olhando através do vidro para os cafetões. Jayden, ao perceber que eu os observada, jogou o quadril para frente e alisou o seu pau sobre a calça. Virei o rosto ao entender o recado, concluindo que não teria como fugir do determinado por Lola. Seria obrigada a dar a ela o tanto de dinheiro que esperava receber, pois era isso ou...
Minhas tripas se reviraram e o quentinho ardido do vômito chegou até a garganta, com a lembrança dos dedos ressecados de Jayden alisando a minha virilha, roçando na minha calcinha, abrindo os meus grandes lábios e... Respirei fundo, para evitar ter de abrir a porta e deixar transparecer o meu terror, mas, ao reviver aquela penetração lenta e dolorosa, não me restou outra saída, a não ser descer do carro e colocar tudo para fora.
.......
[ Nota ]
Música citada:
"Barbie girl" (AQUA, 1997)
.......
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