Cap 76. De volta
— Você é uma tremenda mal-agradecida! — Lola gritou comigo quando retornei ao seu apartamento depois de visitar Mirana.
— Desculpe ter saído daquele jeito. — Tive que baixar minha cabeça para ela. — Vamos definir de uma vez como vai ser o nosso acordo, eu preciso ficar aqui.
Larguei minha bolsa na mesa e me sentei no sofá, esperando que ela se sentasse também para continuarmos negociando. No entanto, Lola continuou em pé, andando de um lado para o outro, eufórica demais, a ponto de eu achar que estava sob efeito de drogas. Ela pegou um cigarro do maço sobre a mesa de centro, o acendeu, soltando uma baforada fedida e depois, menos agressiva, voltou a falar:
— Eu já fiz minha proposta: dois shows online por semana, nu total. Já pensei em tudo. Vou fazer um banner e colocar na homepage do Queen's Lollie. Pensei também em dar um bônus para quem é assinante, por exemplo, primeira transmissão gratuita. Além disso, pretendo fazer um valor especial para quem não é assinante, mas quiser comprar a transmissão avulsa. O acesso ao site vai duplicar, triplicar, com o ao vivo lésbico.
— Não vai, porque eu não vou fazer.
Lola tragou mais uma vez e depois estreitou os olhos para mim, gesticulando com o cigarro entre os dedos.
— Ha. Ha.
— Lola, não quero a minha imagem divulgada para o mundo ligada a sexo. Eu já não curto muito o meu rosto rolando em panfletos em Beverly Hills, mas sei que no máximo isso vai sair daqui para Los Angeles toda e, extrapolando, vazar para o resto da Califórnia. Eu tenho família, tenho pai, tenho mãe... Não vou dar esse desgosto para eles. E eu não quero. Me peça um valor alto pelo aluguel, me peça outra coisa, mas não insista para eu ficar nua na internet.
— Então durma comigo.
— Uh? — Minha cara de nojo foi instantânea.
— Não estou falando de sexo, Riot. Não a princípio. — Riu. — Durma na cama comigo. Nada de colchonete. Aceite e eu faço um valor fixo pelo aluguel e libero você do compromisso com o site.
Ah, caramba! Que sacrifício dividir os lençóis com ela, mas seria melhor do que me expor ou dormir na rua. Uma solução temporária, até juntar uma grana e alugar um quarto em algum outro lugar. Eu conseguiria aguentar.
— Tudo bem. Eu durmo na sua cama. Mas com você bem afastada de mim.
— Faça do jeito que achar melhor. Sei que vai mudar de ideia por conta própria, não vai resistir e acabará em cima de mim, ou embaixo, ou como preferir.
Claro que ela falava brincando. Não era possível que realmente acreditasse que aquilo poderia acontecer.
Como loucos não devem ser contrariados, deixei Lola sonhar com o que estivesse a afim e dei o assunto por encerrado.
*****
De maneira geral, ela cumpriu o trato. Tirando um braço ou uma perna que eventualmente vinha parar em cima de mim, dividimos a cama sem a necessidade de eu usar um cinto de castidade. A piranha passava grande parte da noite fora de casa, vendendo seu corpinho para engravatados endinheirados, e isso facilitou muito as minhas noites de sono.
Nos três primeiros dias em seu apartamento, ainda muito abalada com o término do noivado, não aceitei nenhuma proposta de Lola para fazer shows privados de striptease. Apesar de continuar me dizendo que nenhum homem merecia as minhas lágrimas, ela não forçou a barra para que eu a acompanhasse, agindo de forma bem bacana, aceitando que eu precisava de um tempo para me recuperar. Agradeci a Deus por isso, pois estava sendo bem difícil administrar minha tristeza e seria péssimo se eu, além de tudo, tivesse que lidar com Lola enchendo o meu saco.
O sofá da sala virou meu lugar favorito, e eu passava horas e horas ouvindo música e pensando em Nathan. Pensando, não importava o quão vergonhoso fosse, nos nossos momentos bons, no quanto a saudade estava me machucando, no quanto eu queria que aquilo tudo tivesse sido um sonho ruim e no quanto eu ainda desejava ver nós dois juntos. Mas então vinham outros instantes; em que eu pensava no quão idiota e covarde ele fora, principalmente por terminar antes de tentar mais um pouco, antes de dialogar mais, antes de, junto comigo, arrumar um jeito de superarmos as dificuldades. Nessa hora eu só o queria bem longe de mim.
*****
Na sexta-feira, ainda um pouco pra baixo, mas consciente de que precisava sair de casa para fazer dinheiro, fui com Lola ao The Heat cumprir a agenda que tínhamos fixa no clube.
Nossa apresentação aconteceria às duas da manhã, e como não pretendíamos zanzar pelo salão antes disso, ficamos no vestiário bebendo. Desta vez foi uma garrafa de vodca importada com sabor de pêssego que misturamos com Flying Skull e detonamos boa parte antes de subir no palco. Não importava quantas vezes eu sofresse com tonturas, enjoos e ressacas; para encarar aquela vida de tirar a roupa para estranhos, só mesmo estimulada artificialmente com energéticos e cheia de álcool.
O assanhamento de Lola ultrapassava um pouco o limite, especialmente depois de beber. Todo assédio que ela me poupara de sofrer em sua casa, estava sendo despejado sobre mim sem a menor cerimônia. E acabou que, o que eu bebera para conseguir me despir para estranhos, colaborou para que eu ficasse soltinha além da conta. Excitada o bastante para fazer com Lola um show erótico tão realístico, mas tão realístico, que deve ter deixado todos os homens daquele clube de pau duro.
Todos. Inclusive Nathan.
No final da nossa última música, de joelhos, de frente para a plateia, pernas afastadas e mãos remexendo os cabelos, sentindo os dedos de Lola no fecho do meu sutiã, eu o vi. Em pé, encostado a uma pilastra espelhada no fundo do salão, de calça de moletom e camiseta, ele segurava um copo que, certamente, não era de água.
Minha cabeça rodava pelo efeito do álcool e das luzes refletoras e piscantes, então olhei de novo para ter certeza de que era Nathan. Fizemos contato visual, ele deu um gole em sua bebida e apertou seu pênis discretamente. Para provocá-lo, deslizei as alças do sutiã frouxo pelos braços, apertando o bojo nos meus seios e, por fim, arremessei a peça em direção a um dos homens que apreciava o show na primeira fileira. Inclinei meu tronco para trás e coloquei a língua para fora, deixando que Lola, que continuava agachada atrás de mim, me lambesse com vontade. Em seguida, retornei à posição original e fiquei de quatro, permitindo que a vadia se encaixasse atrás de mim e deslizasse suas mãos pela minha cintura enquanto remexia o quadril, fingindo que metia em mim no ritmo da música.
Aproveitei o momento extremamente erótico para mais uma vez trocar olhares com Nathan, que, observando tudo muito sério, continuava no mesmo lugar, do mesmo jeito. Lola me puxou pelos cabelos e ergui meu tronco novamente, sentindo os seus seios desnudos tocarem a minha pele. Ainda grudadas uma na outra, terminamos os últimos versos da música nos abraçando, apertando as nossas nádegas e dando um beijo de língua que, assim como a lambida anterior, não estava no roteiro.
— O que foi isso? — perguntou Lola, toda sorridente, assim que descemos do palco. — Não esperava esse bônus no final. Caralho; foi quente! A gente devia aproveitar que Dennis não reclamou de nada e estender para uma festinha, só nós duas...
— Não se iluda, não vai acontecer. Para aquele beijo havia um propósito. — Lola apertou um dos meus seios e dei-lhe um tapinha para parar o abuso.
— Sei... O propósito de me dar um beijo. — Ela riu e depois fez um biquinho pedindo mais um. — Não me provoque porque é na minha cama que você dorme.
— Lola, vá arrumar o que fazer. — Ri também e estalei um beijo rápido nos seus lábios, mais pelo efeito da vodca do que por vontade de agradá-la.
— Vou, sim. Nós Vamos. — Ela insistiu com as mãos bobas, desta vez as duas apalpando os meus seios. — Vamos recuperar o seu sutiã e arrumar uns gostosos para colocar uns dólares nas nossas calcinhas.
— Tenho algo a resolver. — Olhei para o bar, onde Nathan já havia se acomodado após a apresentação.
Lola acompanhou o meu olhar e se virou para ver qual era o assunto.
— Ah, não! O hobbit? Mande se foder, Riot! O indivíduo deixou você na merda, chorando todos esses dias... O que mais você quer resolver com ele? Já está resolvido.
— Se ele veio até aqui, deve ter um motivo.
— Seja qual for o motivo, foda-se. Quando você o convidou na nossa estreia, ele não veio. Você ofereceu sexo no quarto VIP e nem assim ele saiu de casa... Lembro bem. Muito sem noção aparecer aqui agora. Deixe esse idiota pra lá.
— Lola, eu sei o que estou fazendo.
— Uhum — desdenhou. — Vou lá fora fumar, para evitar ter que ver isso. Divirta-se.
*****
Assim que Lola desistiu de mim, fui até o sujeito para quem tinha jogado o meu sutiã, na intenção de resgatar a peça, e, depois, já recomposta, seguindo a necessidade do que restara do meu coração, caminhei para o bar.
Sentado em um banco alto, de costas para o salão, Nathan não viu quando cheguei por trás. Ele só percebeu a minha presença quando coloquei a mão em seu ombro esquerdo e o rosto encaixado no direito, quase grudado ao seu.
— Não esperava ver você por aqui — sussurrei, sem demonstrar muita emoção. — Não era para estar se tratando ao invés de encher a cara?
Tentei ser dura, mas as minhas palavras saíram trêmulas e o meu coração disparou com toda aquela proximidade. Merda. Seja forte, Isabelle. Nathan me olhou de rabo de olho, ainda com o semblante endurecido, mas segurou a mão que estava em seu ombro.
— Está sendo muito difícil... Não teve um dia em que eu não pensasse em você.
— Nada o impediria de pensar em mim internado na clínica. Desistiu do tratamento? — Livrei-me de sua mão e me encaixei no espaço ao lado, entre ele e o outro cliente, realmente preocupada com o fato de continuar bebendo.
— Não desisti, é que... — Nathan parou para dar um gole no copo de uísque que a bartender acabara de colocar sobre o balcão. — Eu fiquei pensando... esses dias. — Ele fez uma pausa. — Quer um drinque?
— Já bebi demais — recusei. Eu realmente já havia bebido além da conta e não queria incentivar Nathan a beber ainda mais. — Esses dias... No que ficou pensando?
— Que você não precisava ter ido embora lá de casa. Muito menos tarde da noite, daquele jeito... Sem dizer adeus. Eu não pensei que fosse arrumar as coisas e sair tão depressa.
— Ah, não? — Ri, um pouco debochada, mas o ritmo descompassado do coração persistiu. — Qual o sentido de continuar morando na mansão do meu ex-noivo? Se você conseguir me explicar, eu agradeço.
Nathan ficou encarando a bebida, e eu fiz o mesmo à espera de uma resposta, observando as pontas de seus dedos criando rabiscos aleatórios no copo.
— Terminar foi um grande erro.
Respirei fundo, sentindo as borboletas no estômago batendo as asas.
— Foi sua escolha, Nathan. Se foi um erro, foi um erro seu. Em nenhum momento passou pela minha cabeça terminar o nosso relacionamento. — Puxei o seu copo e acabei dando um gole largo no uísque. — Pensei que nesse momento você estaria em Malibu, em tratamento, muito seguro de suas decisões.
— Isabelle...
— Shhhh. — Fiz sinal de silêncio e o repreendi. — Penny, aqui.
— Penny. — Soltou rapidamente o ar e sorriu, meio sem graça, visivelmente decepcionado. — Você se incomodaria de irmos até um daqueles quartos privados? Não me sinto à vontade para conversar aqui.
— Não acho uma boa ideia. — Mas as borboletas achavam.
Problema delas.
— Por favor... — pediu apenas com o movimento dos lábios, com seu rosto sardento próximo ao meu. Fiquei pensando em como resistir ao apelo daqueles olhos claros, expressivos, tristes, que imploravam para que eu o escutasse.
— Nathan, não. Se você tem algo a dizer, além de tudo aquilo que disse, diga aqui mesmo. Vamos ser práticos.
— Eu quero você de volta — admitiu sem enrolar, sério e olhando nos meus olhos. — Depois de todos esses dias eu tomei coragem para vir até aqui, para pedir que reconsidere.
O cliente sentado no banco ao lado providencialmente se levantou, e aproveitei para me sentar ali, de frente para a tentação. A tontura provocada pela bebida chegara a níveis altíssimos com a ajuda das palavras de Nathan.
— Esquece. Não vai acontecer — respondi com a mesma rapidez, para evitar me desviar do caminho que, racionalmente, decidira seguir. — Acabou porque você quis e... por mais que ainda doa, que eu ainda chore — admiti com os olhos cheios d'água —, você fez o certo.
Nathan pediu mais uma dose e vê-lo se degradando só me incentivou ainda mais a dizer não a ele. Pedi à bartender para servir-lhe água em vez de uísque, e, vendo-o me olhar de cara feia, contrariado, continuei:
— Você realmente precisa se tratar, não quero que a sua situação chegue a um ponto insustentável. E... — Uma lágrima fez questão de escapar e a limpei rapidamente.
Ao sentir mais uma gota escorrer pela outra bochecha, aceitei que era melhor ir para um lugar mais reservado. A seriedade do assunto e o pranto abundante, que certamente viria com a conversa, não deveriam ser compartilhados com estranhos ao redor do bar. No entanto, não o levei para um dos quartos VIPs, pois ficar entre quatro paredes com Nathan poderia me desviar do meu foco de negá-lo. Fiz apenas o caminho até um dos sofás mais escondidos, onde eu havia feito uma dança desengonçada para ele da primeira vez. Nathan sentou-se no pequeno estofado e eu me apertei ao seu lado.
— Então você acha que tomei a decisão certa de terminar. — Ele começou falando alto o suficiente para eu ouvir, mas baixo o bastante para demonstrar sua decepção.
— Analisando friamente, eu não estava sendo tão boa pra você. E você, do mesmo jeito, num efeito dominó, ia começar a não ser tão bom pra mim. Você sabe disso. Foi esse argumento, em outras palavras, que usou para terminar.
Nathan ficou em silêncio, olhando para as suas mãos repousadas em seu colo e eu continuei falando:
— Não tem por que reatarmos... — Respirei fundo. — Nathan, nenhum de nós dois estávamos prontos para um casamento. É duro admitir, mas você foi, sim, precipitado quando pediu a minha mão, e eu fui inconsequente quando aceitei. Eu não queria decepcionar você...
— Então foi só por isso que disse sim? — Ele virou o rosto para me olhar e percebi que, discretamente, também chorava.
— Não, Nathan, claro que não... Pensei em tudo que nós tínhamos naquele momento, no quanto estávamos apaixonados e felizes, na amizade, no sexo delicioso, na segurança que você me passava... Eu estaria mentindo se dissesse que não me senti pressionada, mas levei em conta todas as coisas maravilhosas que tínhamos e acreditei nas que poderíamos ter.
— Me perdoe por tê-la decepcionado — ele olhou novamente para baixo —, por você não mais acreditar nas coisas maravilhosas que podemos ter.
— Eu ainda acredito. Mas você tinha razão, não tem como dar certo nesse momento. Foi melhor terminarmos, melhor do que seguirmos em frente e acabarmos perdendo o respeito que temos um pelo outro. — Olhei para Nathan, triste, mas aparentemente resignado, ouvindo palavras que não gostaria de ouvir. — É difícil admitir que um relacionamento não vai bem, mas... você conseguiu me dizer isso, e agora, mais calma, eu consegui perceber.
— Não sei como vou conseguir ficar sem você.
— Você disse que precisava disso, lembra? Disse que eu também precisava. Você tem que se tratar, esse é o foco agora. Não acho que ficar do seu lado, com os problemas que eu tenho... você sabe... vai ajudar nesse processo.
Enxuguei as lágrimas de Nathan e toquei a sua barba por fazer, doida para abraçá-lo e beijá-lo, dar o carinho que ele estava precisando. Porém, ao pensar em nós dois juntos, fui eu quem voltou a chorar.
— Então essa é a sua decisão? — perguntou após virar um pouco o rosto para roçar os lábios na palma da minha mão.
Balancei a cabeça, confirmando.
— Não quero mais que receba de volta menos do que merece. Nem você quer isso.
Nathan caiu em prantos, totalmente fragilizado. Péssima por vê-lo daquele jeito, trepei em seu colo e levantei sua cabeça, retirando os óculos embaçados e fazendo-o olhar para mim, que chorava junto com ele. Aproximei meu rosto do seu, deixando nossos narizes se encostarem, e, satisfazendo a vontade que sentira antes, selei a sua boca com um beijo. Seus lábios salgados foram rápidos a tomar os meus, sua língua demostrou sofreguidão ao encontrar a minha. Não demorou sentir o seu pau se expandindo na calça, excitando-me mais e mais à medida que enrijecia. Com as mãos firmes de Nathan na minha cintura, esfreguei-me na sua ereção, fungando e gemendo enquanto continuávamos nos devorando.
— Eu não vou desistir de você, Isabelle — murmurou, mal se desgrudando da minha boca —, nem do que sentimos um pelo outro, nem dos sonhos que a ajudei a sonhar. — Nathan voltou a me beijar, chupando os meus lábios e dando pequenas mordidinhas enquanto procurava desatar o fecho do meu sutiã.
— Não me prometa mais nada, Nathan, por favor. — Dei um último beijo estalado em seus lábios e voltei ao controle da situação. Saí de seu colo e fiquei em pé em frente a ele, com as mãos na cintura depois de enxugar os olhos. — Acho que devemos parar por aqui.
Nathan também ficou em pé e encaixou seus braços por entre os meus, entrelaçando-os nas minhas costas perto do cóccix. Seu corpo em contato com a minha pele exposta voltou a me fazer sentir uma excitação que eu não queria sentir, e mais ainda quando, ao contrário do que eu pedira, ele voltou a tomar a minha boca com a sua. Passei os meus dedos pelos seus cabelos, enquanto sua língua embriagada brincava com a minha, e, sentindo o fogo me consumir, desci uma das mãos pela linha de sua coluna até chegar ao elástico da calça. Segui aquele caminho pela lateral até a parte da frente, por onde meus dedos começaram a cavar passagem.
— Não. — Nathan, um tanto alarmado, segurou o meu antebraço, impedindo-me de continuar.
Ele não precisou falar mais nada. A sua atitude, a sua expressão, tudo me levou a crer que por cima daquela ereção firme havia o que eu não queria ver nem sentir. Com o peito apertado e a cabeça rodando, senti-me idiota por ter permitido continuar o agarramento que nem deveria ter começado. Se eu não tivesse seguido o meu desejo sexual infinito por aquele homem, teria me poupado de saber que ele fora me procurar usando uma calcinha.
— É melhor você ir.
*****
Eu não consegui ficar muito tempo, sozinha, naquele sofá, desolada e chorando após a partida silenciosa de Nathan. Lola não me permitiu curtir a fossa nem por cinco minutos. Com um drinque na mão ela se aproximou, sentou-se ao meu lado e me deu um tapinha na perna.
— Bora, Tumulto! Trate de se levantar! Eu disse que não ia dar certo, não disse?
— Não enche — resmunguei.
— Eu fumei e deu tempo de voltar e ver de longe grande parte da exibição. Vocês iam o quê, transar nesse sofá?
— Pare!
— Que energia sexual vocês têm, hein? Aquilo ali foi uma tentativa de reatar? Hm. Porque deu pra ver que apesar do agarramento o cara foi embora.
— Eu que o mandei embora! — quase berrei, irritada com ela. — Acabou! Acabou de vez! Sou uma grande filha da puta.
— Ah, não comece. Não queira roubar o meu posto. Beba um pouco disso aqui. — Lola me estendeu o canudo de seu drinque e não o recusei, sentindo o gosto de abacaxi invadir a minha boca e substituir o de Nathan. — Acabou, acabou, paciência. Por quanto tempo mais você vai ficar chorando? Diga pra mim: você ainda gosta dele?
— Gosto. Muito. Mas não dá...
— Não dá por quê? Vivo criticando esse troço, mas vi a química de vocês. Riot, sexo de verdade com esse homem deve ser tudo de bom. E olha que prefiro uma boceta...
Olhei de rabo de olho para ela, nem um pouco surpresa com o seu comentário grosseiro.
— Relacionamento é muito mais que sexo, Lola! E mesmo que fosse só foder, foder e foder, chegamos num ponto que até isso ficou insustentável.
— Não me pareceu insustentável. Aposto que aquela piroca estava bem durinha e sustentada pra você.
— Ele usa calcinha, Lola! — berrei já arrependida por ter berrado. Não que Lola não soubesse das preferências dele.
A vadia gargalhou muito alto, quase derrubando o seu drinque, mas riu tanto que se não tivéssemos em um lugar reservado o seu escândalo teria chamado mais atenção do que a stripper seminua no palco.
— Qual a novidade? Você o viu comprando uma peça de rendinha azul na BV. Qual é a porra do problema do hobbit usar tanga? É um pouco engraçado no começo? É. Mas depois fica uma delícia. É só entrar no jogo, na magia da coisa.
— Magia... Magia porra nenhuma. Quando eu o vi paramentado foi como tirar um coelho morto da cartola.
Lola continuou rindo, mas eu não estava achando graça nenhuma. Mesmo que eu e Nathan superássemos nossos problemas particulares — o alcoolismo e Taylor —, o fetichismo, naqueles termos, seria sempre um obstáculo entre a gente.
— Vou abrir a sua mente quanto a isso, Tumulto. — Fechei a cara para Lola, esperando a próxima merda sair de sua boca. — Vou vestir um consolo e colocar a calcinha por cima, podemos treinar antes de você voltar pra ele.
— Primeiro: nem ouse chegar vestida com um pau de borracha perto de mim. Segundo: quem falou que vou voltar pra ele?
— Você não gosta do hobbit? Qual o problema? Se for só esse impasse da calcinha, a gente resolve.
Só que não era só o problema da calcinha.
— Lola, vou pra casa.
— Isso. Vá chorar na cama, na minha, que é lugar quentíssimo. Amanhã será outro dia.
.......
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