Cap 72. Minha

Era a minha, a minha calcinha vermelha com strass, da Beverly Angels, que eu usara no dia da apresentação em dupla com a Lola. Minha! Eu já estava irritada por ele ter ejaculado dentro, morta por vê-lo numa lingerie extremamente feminina, mas o fato de ser a minha calcinha — minha, minha, minha — fez-me surtar.

— Não! Nãããooo! Puta que pariu, Nathan! Você está todo errado hoje. — Senti minha garganta apertar enquanto limpava o sêmen da perna e ajeitava a minha calcinha. — Está tudo muito errado hoje!

— Eu posso...

— Pode o quê? Pode explicar? Não, você não pode; ou melhor, não precisa explicar. Até porque isso aí é autoexplicativo. — Sacudi o rosto, encarando o seu pênis melado tombado para o lado. — Você me disse que não usava calcinha no dia a dia, que só usava para se masturbar, e, mesmo assim, disse que ultimamente nem pra isso estava rolando. E o que temos aqui é... Tchan tchan ram ram! Você de calcinha! Vestido com a minha calcinha! Minha!

Que coisa mais ridícula aquela lingerie apertada, com os elásticos laterais deixando marcas profundas e vermelhas em sua pele clara. E eu tinha certeza de que a parte de trás estava cravada em sua bunda.

Nathan não emitiu uma palavra sequer, enquanto eu, vermelha, com a cabeça explodindo, gritava com ele:

— Eu achei que tivesse deixado claro que aceitava o seu fetiche, mas com certas limitações. Eu avisei que não gostaria de ver você vestido com uma lingerie e que transar dessa forma era inconcebível. E aí, sem conversarmos antes, sem entrarmos em um acordo para dar um passo extra, você apagou as luzes e me comeu do jeito que queria, sem se importar com o que o que penso. E se eu não tivesse enfiado a mão no interruptor e revelado a surpresinha, você ia terminar a foda, suspender as calças e não me falar nada? — Abri a torneira para passar água nas pernas e lavar as mãos e, depois, peguei minha bolsa na bancada da pia e a transpassei no corpo. — Pior de tudo é fazer isso vestido com a minha lingerie. Uma coisa tão íntima... tão minha! Em que momento do dia você a pegou no meu armário e vestiu?

— Eu...

— Não. Não responda. Que diferença faz? Você surrupiou uma peça de roupa minha na cara dura. Era só ter me pedido. Desde que não me dissesse que era pra vestir, claro. Mas você não pediu porque o fato de a peça ser roubada deve fazer parte do fetiche. Não é? Minha nossa! Eu achei que tínhamos superado esse assunto. — Desci o vestido depois de me ajeitar e enxuguei as mãos nele. — Fora isso, você ignorou o nosso combinado e terminou dentro. Nosso acordo era este, desde o começo; nada de sexo sem camisinha. Mesmo quando eu insistia em fazer sem proteção, você me chamava à atenção, e vice-versa. A gente combinou que se rolasse sem preservativo era para gozar fora. Você disse que ia me fazer engolir, não disse? O que foi que deu em você hoje?

Nathan se levantou, finalmente, um pouco sem equilíbrio, guardou o pênis e as bolas na minha calcinha — ai, como foi tenebroso ver aquilo — fechou a calça e veio até a mim.

— Não me encoste! Tô puta, caso você não tenha percebido.

— Será que dá para a gente conversar direito? — perguntou Nathan, enquanto eu, sustentando-me na bancada da pia, encurralada entre ela e a parede, olhava para ele vendo tudo rodar. Podia ser efeito da bebida, podia ser a raiva, o nojo, podia ser tudo isso e um pouco mais.

— Nathan, agora não dá. Vou ser bem sincera, sincera no nível extremo: eu olho pra você e só consigo vê-lo nu na minha calcinha apertada. E isso... isso me causa... — Parei antes de dizer o que gostaria de dizer. — Eu sei que você deve ter um bom motivo para usar a minha lingerie, acredito que tenha, mas agora, nesse exato momento, eu não quero saber qual é. Permita-me esquecer isso, tirar essa imagem medonha da minha cabeça, antes de a gente conversar. Se é que eu vou conseguir. E quanto ao não cumprimento do nosso outro trato, se eu não ficar grávida, e espero que não, eu supero a decepção. Supero, mas não agora. A sua porra ainda está molhada aqui dentro...

— Isabelle! — Ele saiu de sua passividade e apertou o meu pulso direito, o que me fez lembrar de Max me coagindo no banheiro. — Chega! Eu já entendi. Vamos lá pra fora.

— Dá para me largar e pegar essas drogas de muletas no chão? Vou chamar um táxi, quero ir embora daqui.

Nathan me segurou pelos ombros e grudou as minhas costas na parede, abrindo as minhas pernas com os joelhos. Só não me desequilibrei porque me segurei em seus braços.

— Dá pra parar e me deixar sair daqui? — Virei o rosto quando ele quis me beijar. — Estou irritada, e você está cheio de rum na cabeça. Hmm... — gemi e, momentaneamente, deixei de lado a minha firmeza, quando ele chupou meu pescoço e levantou o meu vestido, roçando o seu pau sob a calça na minha calcinha. — Já chega... — Tentei resistir.

— Você é minha, Isabelle.

— Sou! Sou sua, mas você não sabe mais o que está fazendo. Saia daqui, Nathan! Não quero mais sexo, muito menos depois de saber com que peça íntima você está vestido. Estou enjoada! — Afastei o seu corpo do jeito que deu, e foi relativamente fácil devido à sua embriaguez. — Acabou aqui, acabou por hoje. Amanhã, com calma, quando o efeito do álcool passar, a gente conversa. Pegue, por favor, essas porcarias de apoios.

Ajeitei o meu vestido no lugar e esperei que se agachasse para pegar as muletas e colocar nas minhas mãos.

— Quer que eu chame um carro para você? — ele ofereceu, resignado.

— Por quê? Você não vai pra casa comigo?

Nathan pegou o celular e, enquanto procurava o número da companhia de transporte executivo na agenda, deu-me uma resposta:

— Eu sei que você não quer que eu vá, não precisa fingir que quer. Vou depois.

******

Deixei a mansão à francesa uns cinco minutos depois, puta da vida. Transtornada com tudo o que tinha acontecido no lavabo e com o fato de ele ter querido ficar. Era para Nathan ter ido embora comigo, mesmo que eu tivesse dito o contrário, mesmo que não fôssemos estender a DR naquele momento ou que não houvesse jeito de nos reconciliarmos imediatamente. Onde já se viu ficar sozinho na festa?

Assim que entrei no carro, tive uma crise de choro muito pior do que a do dia anterior. Aquela era a minha primeira briga séria com Nathan, e eu não fazia ideia de que poderia doer tanto. Mas por que ele tinha que fazer tudo tão errado?

Cheguei em casa, fui direto para a cozinha e, depois de beber bastante água, para ver se ajudava a eliminar o tanto de álcool que ingerira, tive que ir o mais rápido possível para o lavabo ali perto. Vomitei a mistura de champanhe, rum, mojito e ansiedade do meu estômago vazio. E o enjoo e a aflição de ter que passar por aquilo sozinha trouxe-me ainda mais angústia, fazendo a minha crise de choro voltar com força total.

Em frangalhos e sofrendo os efeitos do excesso de drinques, fui para o quarto, tomei um banho e me joguei na cama, esperando que algumas horas de sono me fizessem melhorar. Mas claro que aquela madrugada foi um terror para dormir.

Eu não dormi.

Fiquei o resto do tempo, até amanhecer, pensando em Nathan; no fato de que talvez eu devesse ter sido mais maleável, de que havia pressão sobre ele por causa do meu encontro com Taylor, de que ele havia bebido... E, para dizer a verdade, foi devido ao tanto que ele bebera, e não muito pelo sexo desprotegido, usando a minha calcinha, que não dormi. Eu havia largado Nathan naquela festa abastecida a etanol, chateado, sentindo-se culpado e bêbado. Que tipo de noiva incompreensiva era eu?

Liguei para o seu celular umas quatro vezes conforme as horas passavam, mas nenhuma das ligações foi atendida, o que me deixou com o coração ainda mais apertado. Ou agora era ele que estava puto comigo, a ponto de não querer ouvir a minha voz, ou tinha encontrado consolo nos braços de alguém; nos de Gigi, por exemplo. Deus! Era só o que me faltava; pensar em Nathan me traindo àquela altura. Traição não era algo que eu esperaria dele normalmente, mas de acordo com seu comportamento tão fora da curva naquela festa, eu não colocaria a minha mão no fogo.

Até às oito da manhã continuei sem notícia e acabei sendo vencida pelo cansaço. No entanto, meu sono foi nem um pouco restaurador; quatro horas depois eu acordei de um pesadelo e soube que não voltaria mais a dormir.

Ainda criando cenas lúcidas — agora conscientemente — do meu noivo, de lingerie, transando com Gigi pelos cômodos de sua mansão, arfantes e insaciáveis, resolvi sair do meu casulo para ver se havia movimento na casa, se, por acaso, Nathan havia chegado e ido direto para o seu quarto. Porém o único ser vivo naquela mansão, além de mim, era a gata Princess. Joguei-me de pijama no sofá da sala, olhei para o bichano relaxado na almofada em frente, e me peguei enxugando lágrimas.

*****

Meu noivo entrou pela porta cerca de uma hora depois, com a cabeça baixa, descabelado, com o rosto exprimindo falta de sono, ressaca, com o colete preto aberto e a camisa amassada para fora da calça. O seu caminhar era o de quem arrastava peso, e identifiquei vergonha no rosto que mal olhou para mim.

Imediatamente me levantei para recepcionar o que restara dele, arrependida pela forma que o havia tratado. Ele tinha, sim, feito um tanto de coisas desagradáveis, mas eu deveria ter sido mais humana. Fiz Nathan parar no espaço livre, um pouco antes dos dois sofás, aproximando o meu rosto do dele para um beijo, mas logo senti o perfume inconfundível de Gigi em sua camisa.

— Agora não. — Ele se desvencilhou da tentativa de beijá-lo e o nó da agonia se apertou no meu peito. — Preciso de um banho.

A recusa do meu carinho e a necessidade verbalizada de um banho, somadas ao aroma de sua ex misturado ao seu suor, fez a minha humanidade e arrependimento se dissiparem de imediato.

— Ah, precisa de um banho. Sei... — O deboche e a raiva saíram mesclados nas minhas palavras. — Bastou eu ir embora da festa para você se jogar em cima dela? Ou foi o contrário? Eu já senti o cheiro da sua Giiio, okay?

— Você está impossível, Isabelle.

Sem paciência para a minha especulação, Nathan deu um passo para o lado, encaminhou-se para o corredor e se trancou em seu quarto. Eu ouvi a porta bater tão alto que nem ousei ir atrás dele.

Meu coração não sabia se parava ou se acelerava à mil por hora, e um embrulho no estômago se instalou imediatamente, sem dar sinal de que era passageiro. Aquela máxima de que "nada é tão ruim que não possa ficar pior" se cumpria na minha vida diariamente. Era uma coisa impressionante.

*****

Sentia-me desanimada, deitada no sofá, sem conseguir parar de pensar que houvera um revival sexual de Nathan com Gigi, quando o vi surgir na sala. De banho tomado, bem arrumado, ajeitando o relógio de pulso, ele carregava no ombro uma mala esportiva.

— Para aonde você vai? — perguntei enquanto me sentava num impulso, assustada com a sua aparição repentina.

— Malibu.

Catei as muletas e, vendo pontos pretos por me levantar rápido demais, fui até ele, que, até então, mal havia olhado para mim.

— Não, Nathan, por favor. Vamos conversar. Você não pode ir embora e deixar a nossa situação desse jeito.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, demonstrando, mais uma vez, pouca tolerância para os meus chiliques.

— Isabelle, eu estou de saída para Malibu.

— Mas por quê? Por favor, Nathan, a gente precisa conversar... — Minha voz tremeu com a vontade de chorar surgindo. — As coisas estão estranhas desde ontem, eu sei que... Olhe, precisamos colocar os pingos nos is...

— O que nós precisamos agora é de um tempo. — Sua voz saiu austera, assim como todas as suas palavras desde que chegara, e eu não consegui mais prender as lágrimas. — Conversar de cabeça quente não vai dar certo. Você ontem me tratou muito mal, mais do que o necessário, e ainda me acusou de traição assim que pisei de volta nesta casa... Com base em um cheiro, Isabelle? Sério?

— Mas você chegou aqui com o perfume dela impregnado na sua roupa. — Não aguentei não dizer. — Acha que não reparei? Eu reconheci; benjoim e baunilha. Vai dizer que não era o cheiro da Gigi?

— Virou perfumista agora? — Ele deu um meio-sorriso, sarcástico, e fechei a cara. — Você tem razão para estar chateada comigo, mas não por causa da Giorgina. Eu não tive nada com ela. Nada. — Enquanto Nathan se explicava, tentei decifrar suas feições, para saber se ele dizia a verdade ou mentia. — Eu apaguei na festa, me levaram para o quarto da Gio, para a sua cama... Mas não dormi com ela, se é isso que está pensando. Eu não seria capaz e eu não tenho interesse. O meu interesse, nesse momento, é em você. Já disse um milhão de vezes que a Giorgina e eu somos amigos, apenas bons amigos — ele explicou, firme, olhando nos meus olhos críticos, e tive certeza de que falara a verdade. — E agora que já esclareci sua dúvida, vou para Malibu. Na volta nós conversaremos sobre as outras questões.

— Nathan! Não... Por que isso? É desnecessário você ir para longe. — Não aguentei a insistência de ele fugir para Malibu, para longe de mim, e as lágrimas passaram a cair com ainda mais vontade. — Vamos resolver isso de uma vez. Primeiro, desculpe pela desconfiança, foi mais forte do que eu. Morro de ciúme da Gigi, morro, você sabe... E desculpe por ter agido daquela forma estúpida na festa. Eu sei que não fui legal, que surtei e exagerei quando vi a calcinha, exagerei também pelo jeito que terminou o sexo, e... eu não devia ter ido embora, eu... eu...

Nathan deixou a mala cair no chão, foi até o sofá, bufando, e sentou-se com as pernas cruzadas e os braços sobre elas.

— Sente-se. — Sem conseguir olhar para Nathan, fiz o ele pediu e me acomodei no sofá em frente, escondendo o rosto nas palmas das mãos e soluçando. — Desculpe-me por ontem também. Fui bruto e realmente não cumpri o que tínhamos combinado. Você tem toda razão de ter exagerado na bronca, de ter ficado decepcionada... Ser seu homem não me dá o direito de... — pigarreou — terminar a transa do jeito que eu quero.

— Fiquei bem chateada — levantei o rosto vermelho para ele —, mas... você bebeu e isso pode ter...

Nathan me interrompeu:

— Não vou ser canalha e culpar a bebida, embora, sim, o excesso de álcool tenha me deixado agressivo e sem noção. A culpa é minha. Sinto vergonha por ter agido como um selvagem que, mesmo depois do seu "não", insistiu por mais sexo. E... peço desculpas também pela calcinha. Sei que não é algo que você tolera, não da forma que eu fiz. E eu jamais deveria ter pegado algo seu sem permissão.

Se não fosse pelo miado da gata, o silêncio teria sido sepulcral.

— Não tem outro jeito de explicar o porquê de estar com a sua lingerie... — Nathan deu uma olhadela para mim e depois se curvou e mirou o chão, com os cotovelos sobre as pernas e a cabeça apoiada nas mãos. — Quando você disse que tinha ido atrás do seu ex, eu... eu fiquei inseguro. Imediatamente pensei na possibilidade de perdê-la, de não estar sendo suficiente para você...

— Que besteira — murmurei, sacudindo a cabeça em negativa e enxugando as lágrimas.

— Eu fui até o seu quarto enquanto me arrumava para a festa, peguei a sua calcinha, a que você usou quando esteve com ele no dia em que torceu o pé, e vesti. — Ah, caramba, quanta informação! — A insegurança diminuiu consideravelmente, de imediato. Foi um alívio... Eu sei que é estranho, que talvez você não consiga entender, que é... — Ele soltou o ar. — Desculpe, mas... eu precisei ficar com ela grudada ao meu corpo para sentir que você pertencia a mim.

— Eu realmente não consigo entender. Nathan, o que é isso aqui? — Mostrei o anel para ele, tentando não me exaltar, porque sabia que o momento era delicado. — O que é isso aqui senão eu completamente sua?

— Tente, por favor, se esforce para compreender. Naquele momento não foi o bastante. A insegurança bateu forte, como nos velhos tempos, quando eu não me achava bom para ninguém.

— Hm.

— Transar com você, vestido com a sua peça, além do prazer transbordando, intensificou a sensação de pertencimento... Eu sei que não deveria ter feito desse jeito, mas... se não fosse assim, talvez eu não conseguisse dar conta. Talvez não, eu não daria.

Ah, Deus! Era demais para mim.

Refletindo sobre as suas explicações e ligando uma coisa na outra, concluí que gozar dentro também devia ter a ver com o sentimento de posse. Ainda que ele não tivesse deixado isso explícito para mim ou que não tivesse feito conscientemente, fazia todo sentido.

— Toda a sua insegurança foi desencadeada por que fui até o meu ex para pedir que se mantivesse longe?

— Pelo medo de perder você. — Eu vi Nathan apertar os olhos com os dedos e algumas lágrimas escaparem. A fragilidade daquele homem era praticamente palpável. Com a voz trêmula, ele continuou: — Eu fui fraco, não aguentei, voltei a beber... Consegui tornar ainda mais insuportável o que já estava difícil. Não sei como vai ser daqui pra frente, mas nesse momento, com tanta coisa acontecendo, nós precisamos nos afastar.

— Não, Nathan... — As lágrimas também voltaram aos meus olhos.

— Não é fácil tomar essa decisão, ainda mais depois de admitir que tenho medo de ficar sem você, mas... Você precisa decidir se quer mesmo se casar comigo, um homem que tem suas fraquezas e que... — Ele fez uma pausa, visivelmente abalado. — Enfim... Precisa escolher se quer mesmo um cara estranho como eu, mas que a ama de verdade, ou se prefere voltar para o seu ex. Reconheço que ele está bastante empenhado para isso.

— Nathan, não! — Aumentei a voz quando o vi se levantar e me ergui também, parando em pé diante dele para falar bem perto de seu rosto. — Eu não quero saber se ele está empenhado. O que foi que eu disse ontem? Eu já escolhi! Decidi desde que disse "sim" ao seu pedido de casamento, lá no jardim da piscina. Não tem por que cultivar essa insegurança e me colocar contra a parede. Esqueça o Taylor, esqueça tudo que não seja eu e você. Fique.

Nathan limpou as suas lágrimas e depois as minhas, e, sem jeito, acariciou o meu cabelo. Sua mão desceu pela lateral do meu rosto, com o dorso tocando a minha pele, e fechei os olhos esperando que ele me dissesse que não ia mais partir.

— Você precisa desse tempo, eu preciso desse tempo. Vou passar o resto do final de semana com os meus pais e volto na segunda-feira. Até lá, pense. Também usarei esses dias para refletir.

A adrenalina percorreu o meu corpo levando embora a cor dos meus lábios. Ele ia mesmo me deixar ali sozinha. E a nossa despedida foi daquele jeito; aquelas palavras frias e nada mais. Nathan pegou a mala do chão, recolocou no ombro, disse "se cuida" e seguiu o seu caminho.

Ainda gritei o seu nome mais algumas vezes, tentando alcançá-lo enquanto seguia pelo corredor de vidro que ladeava o jardim frontal. Desisti apenas quando ele passou pelo portão que levava à garagem e, mesmo me vendo implorar para que ficasse, virou-se apenas para dar um tchauzinho e dizer "até logo".

A vizinhança inteira deve ter ouvido os meus gritos e o meu choro sentido, quando o seu carro deixou a mansão. As lamúrias soavam como se eu estivesse sendo torturada, tomando uma surra. Abocanhei o pulso do braço direito para me calar com a mordaça da minha própria pele, tentando abafar o terror que estava vivendo, tentando diminuir o peso sobre o meu peito.

Quando finalmente consegui cessar o escândalo, encolhi-me no chão do corredor, debaixo do quadro do Mick Jagger, olhando para o jardim de cores sóbrias pelo efeito do céu cinzento.

Observando o todo e o nada ao mesmo tempo, vi quando uma chuva fina começou a cair, respingando no vidro em frente a mim. E, conforme a chuva apertava e as gotas escorriam por ali, dos meus olhos desciam, na mesma proporção, mais e mais lágrimas silenciosas.

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[ Nota ]

→ O sentimento é: "Bem feito, Isabelle mereceu" ou "Coitada, nada a ver ele ir embora". O que vocês acham?

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