Cap 68. Vamos deixar rolar

Seguir o caminho do vento, o fluxo, foi isso o que eu fiz. Nada mais do que senso de oportunidade. Não havia melhor momento para conversar com Taylor e colocá-lo de volta em seu lugar senão aquele em que meu coração transbordava mágoas reativadas pelas lembranças recentes.

Quando o táxi parou em frente ao portão de ferro da entrada de veículos do West Wind, o pontapé inicial daquele dia da briga veio à minha cabeça, fazendo-me reviver, passo a passo, mais um dos instantes mais dolorosos da minha vida. Taylor esbravejando, pelo espaço comum do condomínio, que eu e Isaac tínhamos um caso só porque chegamos juntos de madrugada; fazendo um escândalo, sem nos dar chance de explicar que o encontro fora um mero acaso. Era péssimo, pesado demais, voltar ao passado, mas, ao mesmo tempo, foi graças àquelas recordações que me enchi de coragem para seguir em frente.

— O senhor poderia me deixar lá dentro? — pedi ao motorista que entrasse com o táxi no condomínio. — Estou um pouco debilitada para andar. Encoste perto da guarita que eu falo com o vigia.

O zelador noturno me reconheceu e liberou sem problemas a nossa entrada, nem mesmo interfonou para o apartamento de Taylor para avisá-lo da visita. O passe livre para a jaula do leão fez meu estômago se agitar, e um arrepio na nuca chegou junto para finalmente me fazer perceber o quanto eu estava nervosa. Será que eu deveria ter pedido para comunicar a minha chegada? Será que eu deveria ter ido até lá no final das contas? Levei a mão ao peito e soltei o ar; de onde eu estava, não ia desistir.

Saltei no pátio do estacionamento aberto, o mais perto possível da área dos edifícios, e me ajeitei da maneira que deu. Apoiei-me em apenas um dos pés, equilibrando-me para girar o vestido bagunçado, e passei os dedos pelos cabelos, cheios de frizz causados pelo vento. Em seguida, sentei em um dos bancos de concreto do caminho, tirei da bolsa um pequeno espelho para checar o meu rosto, e considerei que minha cútis sem maquiagem estava boa o bastante depois do tanto que eu havia chorado em frente à Code Six. Aproveitei o momento para dizer a mim mesma, rapidamente, uma declaração de autoamor, como a doutora Miwa havia sugerido:

"Estou aqui porque me amo, porque estou decidida e sei o que é melhor pra mim."

Achei que as afirmações não foram exatamente sinceras, a ponto de eu realmente me sentir mais forte, mas de qualquer forma foi bom falar em voz alta, para reforçar o motivo pelo qual eu fora até o West Wind.

Guardei o espelho, peguei o celular para ver a hora; apenas para me certificar de que não estava tarde para uma visita, e depois me ajeitei de novo, desta vez segurando as muletas para continuar o meu caminho.

Eu estaria mentindo se dissesse que transbordava confiança e serenidade. Pelo contrário, estava a ponto de ter um troço. A cada passo dado adiante, o meu coração acelerava mais e mais. E, quando cheguei bem em frente ao Wind Blue, o prédio de dois andares de estilo antigo onde Taylor e seus irmãos moravam, as pernas bambearam de tal forma que mesmo com o apoio achei que fosse cair. Aguente firme, Isabelle, você ainda tem um andar para subir, falei para mim mesma enquanto pensava no melhor jeito de vencer os degraus da escada externa até o meu destino. Trate de fazer isso direito, porque não era nem para você estar aqui. Tomar um banho quente e cama foi o que o seu noivo sugeriu.

Fui capaz. Cinco minutos depois, lá estava eu, parada na porta do apartamento WB-2 com o dedo trêmulo prestes a tocar a campainha. Hesitei umas quatro vezes antes de tomar fôlego e finalmente ouvir o ding-dong. Não deu para saber ao certo quanto tempo demorou até Taylor abrir a porta, mas ainda que tivesse levado apenas um segundo, para mim, que derretia como sorvete e mal conseguia respirar, foi como se tivesse se passado uma hora.

Não ia ser fácil. Não ia. Essa era uma certeza que eu tinha e que apenas se confirmou quando ele surgiu diante de mim. A sua incredulidade ao se deparar comigo foi tanta, que ele não sabia se sorria; se piscava; se passava as mãos pelos cabelos ou se as colocavam na cintura. E Taylor fez tudo isso sem tirar os seus olhos brilhantes dos meus, inconscientemente me seduzindo. Era impressionante a sua capacidade de ser sexy, ainda que descabelado e mal vestido. Ai, Deus.

— Belle?

— Eu — respondi o óbvio, escaneando-o de cima a baixo, reparando na sua regata branca, comida por traça perto do ombro; no short de tecido maleável com estampa de Mickey, que brilhava no escuro e que eu não me lembrava de tê-lo visto usando desde a nossa viagem para Angra quatro anos antes; e nos seus pés descalços. Ele definitivamente não estava esperando receber ninguém. — Desculpe ter vindo sem avisar.

— Ah, sim... Que bom, que bom que veio me ver. Foi uma grata surpresa. Não precisava avisar. — Ele parecia mais tenso do que eu, olhando por cima da minha cabeça para o início da escada, provavelmente para certificar-se de que não havia mais alguém. — Entre. Entre.

Taylor escancarou a porta e me deu passagem, e, em seguida, apressou-se para puxar uma cadeira da mesa de jantar e me oferecer um lugar para sentar.

— Este assento é mais firme que o do sofá; mais seguro caso queira se levantar — ele explicou o motivo de ter me acomodado ali, e, porque não riu, saquei que o seu comentário era uma demonstração de cuidado comigo e não uma gracinha referente ao meu mais recente tombo no The Heat. — Quer me dar as muletas?

— Obrigada. — Entreguei a ele aquela porcaria que eu não aguentava mais usar e depois, completamente sem jeito, voltei a justificar a minha visita fora de hora. — Eu estava aqui perto, resolvi passar... — Mordi os lábios e olhei em volta, reconhecendo o ambiente que não tinha mudado nada desde que estivera ali pela última vez. Talvez a única diferença agora fosse o cheiro; mais dele do que meu.

Depois de apoiar as muletas junto à porta de entrada, Taylor pegou o controle remoto e apontou para a TV, retirando o som, e, em seguida, dirigiu-se para a cozinha aberta, falando comigo de lá enquanto pegava alguns utensílios nos armários e nas gavetas do balcão.

— Eu não esperava, jamais, que fosse aparecer aqui, mas fico feliz que tenha vindo; especialmente depois de bloquear o meu número. — Riu, tenso. — Eu sei que bloqueou, porque tentei ligar... Achei que não quisesse mais falar comigo.

— E não quero.

— Então você estava aqui perto?... — Ele ignorou o meu comentário ríspido e continuou o que estava fazendo; separando dois pratos, dois copos e alguns talheres, colocando-os de qualquer jeito sobre bancada.

— Sim. Em frente à Code Six, mais precisamente. — Acompanhei os movimentos de Taylor, vendo-o retornar à sala trazendo um jogo-americano e descansos de madeira, e não consegui evitar reparar que por debaixo do short de seda, seu pênis e suas bolas chacoalhavam livremente. Foi o suficiente para me fazer sentir uma pressão na vagina. Ahhh, maldiiito. Comprimi os lábios e juntei as coxas, para ver se reprimia a pulsação louca e fora de hora entre as pernas, mas não pude fazer nada para ocultar o rubor. Olhei para o teto, para disfarçar, pois tinha quase certeza de que a rave que rolava no meu peito e na xoxota podia ser ouvida de longe, e depois me concentrei na mesa, curiosa sobre a arrumação para o jantar. — Está esperando alguém?

— A pizza. Pedi um pouco antes de você chegar. Come comigo? Por acaso escolhi pepperoni, sua favorita. — Ele passou de volta para a cozinha, para pegar os pratos e os copos, e trouxe tudo de uma vez só. Tudo: os pratos, os copos e os balangandãs genitais.

Ah, caramba. Foco, Isabelle, foco.

Puxei o ar para me acalmar e restabelecer o meu rumo, porque àquela altura eu não me sentia ainda mais sufocada, e tonta, por um milagre divino.

— Obrigada, mas não vou jantar. — Eu não ia ficar ali para comer pizza com ele. Minha presença em seu apartamento era para resolver um problema e não para arrumar mais um. O local, por si só, já me trazia muitas lembranças — as boas em maior quantidade. Se parasse para comer uma pizza, nossa comida favorita, ainda mais com o salame dele, inteiro, sacudindo na minha cara, talvez eu esquecesse o meu propósito e deixasse a sua sedução barata acabar comigo de vez. Meu estado compenetrado era algo construído e mantido com muito custo, não era natural. Eu sabia bem os meus limites, e, por saber, foi que decidi ir logo de uma vez ao assunto que importava. — Então você tentou me ligar e não conseguiu. Ontem?

— Ontem — confirmou enquanto colocava os pratos, copos e os talheres nos lugares. — Foi para saber do seu pé e o que achou do presente.

— Esqueceu que eu pedi para não me procurar? Ah, claro que se esqueceu, lógico, senão não teria mandado aquela encomendinha lá pra casa. Onde é que você estava com a cabeça, hein?

— Em você, claro. — Taylor apertou os olhos ao me encarar, insuportavelmente perfeito, e dei graças a Deus quando ele saiu de perto da mesa, e consequentemente de perto de mim, e andou até a adega integrada à estante, a uns três metros de distância. — Não gostou da música? — perguntou enquanto examinava o rótulo de uma das garrafas de vinho. — Coloquei todo o meu sentimento ali. Eu te amo, como nunca amei alguém antes. Você poderia abrir a porta? Estou de joelhos. Implorando. Abra a porta, deixe-me entrar. Falta-me ar. Ver você partir assim doeu...

Ah, não! Rescue me saindo de seus lábios, ao vivo, seguida de seu sorrisinho provocante, era demais para mim. Merda. Revirei os olhos, sem paciência para ser torturada, ao mesmo tempo em que sentia uma revolução em todos os meus órgãos.

— Não vem ao caso se gostei ou não gostei, mas... se quer saber, não gostei. Odiei. — Menti, obviamente. Se eu precisava resistir, eu ia resistir. — Gostei menos ainda de você ter pegado o meu endereço com a Lola. — Isso era verdade. — Nem adianta negar, porque eu já confirmei. Você deu trezentos dólares para aquela vagabunda traiçoeira liberar a informação, e ainda disse a ela que era para me mandar flores.

— Vinho? — Ele me mostrou a garrafa, passando a pontinha da língua pelo lábio superior, enquanto sorria com os olhos.

Argh. Como Taylor conseguia ser tão irritante? Tinha certeza de que o maldito estava prestando atenção nas minhas palavras, mas fazia questão de fingir que não. Fiz o mesmo que ele e solenemente ignorei a sua oferta.

— Eu não sei se você sabe, mas eu moro com alguém. — Ele sabia, sim, porque eu já tinha dito, apesar disso, foi bom reforçar. — Eu tenho alguém, Taylor. Ouviu? Inclusive você sabe quem ele é. Nada a ver enviar declaração de amor para uma pessoa comprometida.

Depois de dar outro sorrisinho contido, sem nem olhar para o meu rosto, como se fizesse pouco caso do que eu estava falando, ele passou com a garrafa escolhida em direção à cozinha.

— Vou repetir: eu tenho alguém e quero você longe de mim, Taylor. Eu vim até aqui para dizer isso pessoalmente, para ficar bem claro, já que no nosso último encontro você não entendeu; e depois, pelo telefone, você continuou sem entender. Pra ser mais exata, você entendeu, só não quis e não quer aceitar. Mas aceite. Não vou mais tolerar as suas mensagens, sejam por quais meios forem. E Nathan também não está gostando nada disso.

Taylor voltou com duas taças cheias e parou ao meu lado para me entregar uma delas. Depois, o diabo foi até o aparelho de som, colocou Let's get it on tocando baixinho e apagou as luzes principais, deixando apenas as dos abajures acesas. Mas se ele achava que ia conseguir criar um clima com o Vamos deixar rolar de Marvin Gaye, vinho tinto e sua beleza estonteante ele estava redondamente... certo.

Não! Errado. Erradíssimo!

Esse foi o momento em que, suando frio e tremelicando, comecei a apelar para tudo quanto é santo para me manter firme. Mas o fato é que a idiota que se encontrava se borrando de medo de sucumbir, tinha colocado a si própria naquela armadilha; então, o máximo que os santos poderiam fazer era rir da cara dela. No caso, de mim. Eles deviam estar gargalhando, assim como eu tinha a sensação de que Taylor, pelo menos internamente, também rolava de tanto rir.

— Então o seu namorado não está gostando das minhas mensagens. — Ele se aproximou, puxou uma cadeira e sentou comigo à mesa, elevando a taça para propor um brinde. — Ele sabe que você está aqui?

Filho da mãe.

Era hora de revidar. Era agora ou nunca. No placar Taylor estava na frente e eu tinha ido lá para liquidar o jogo. Chega! Bebi o vinho todo de uma vez, sem brindar, enquanto ele aguardava a minha resposta. E foi nesse momento, quando seus olhos acompanhavam meus menores movimentos, que ele notou o anel de diamantes. Eu vi que notou. Seu sorrisinho desapareceu, e ele quase ficou vesgo, com as veias das têmporas saltadas e as bochechas vermelhas. Para aproveitar a iminência de fazer o gol, só faltando chutar para dentro, deixei a taça apoiada sobre a mesa e estiquei a mão direita em sua direção.

— Isso aqui? É isso mesmo que você está pensando. Lindo, não?

Taylor engoliu em seco e segurou a ponta dos meus dedos, em seguida acariciou a região da tatuagem. No entanto, assim como Lola, não teceu comentário sobre as marcas das mordidas. O foco era no anel; somente no anel. Seu toque, tão leve e despretensioso, mas triste, como de quem joga uma rosa sobre um caixão, fez meu estômago se revirar mais uma vez. Senti-me mal por ele se sentir mal.

Deus!

Não era possível que com qualquer uma das minhas atitudes eu chegasse sempre a lugar nenhum.

Understand me, sugar. Since we've got to be here. Let's live. I love you...*

A voz de Marvin Gaye, suave naquela música romântica, exacerbou as minhas reações, e logo comecei a ficar sem ar e a sentir o meu peito apertado.

Deus! Socorro!

— Vou me casar — falei e puxei a mão, para ver se longe do seu toque eu conseguiria voltar ao normal.

"Eu vou me casar com o Nathan, eu vou me casar com o Nathan, eu vou me casar com o Nathan..."

Eu ainda repetia aquele mantra na minha cabeça, sem parar, quando Taylor arrastou a cadeira para trás, de súbito, e se levantou. Ele deu dois passos em direção à porta, correndo os dedos pelos cabelos e bufando, e depois voltou, descontando o efeito da notícia ao bater com as mãos fechadas sobre o tampo da mesa. Esperava que ele reagisse mal, mas não daquela forma.

— Não! Não, Belle, você não vai. — Taylor se ajoelhou na minha frente, tão agachado que apoiou os braços e o queixo nas minhas pernas, lançando-me um olhar de cachorro abandonado. — Olhe pra mim. Você não vai. Diga que não vai.

— Eu vou me casar, Taylor — reafirmei, com os olhos úmidos. — A data já foi até definida. Tenho ao lado de Nathan a segurança que nunca tive com você. Você brincou com os meus sentimentos diversas vezes. Posso até enumerar, porque, infelizmente, não consegui esquecer. E o pior é que continua brincando.

Taylor segurou a minha mão, a do anel, dessa vez imprimindo mais força, sem tentar disfarçar o seu desespero.

— Eu amo você e isso não é brincadeira. Nunca falei tão sério em minha vida. Eu sei que esse sofrimento é o preço que estou pagando por ter sido um babaca. Fui mesmo péssimo namorado diversas vezes; impulsivo, machista e imaturo... E talvez ainda seja um pouco, porque é impossível ser perfeito, mas estou tentando ser melhor, Belle... Tentando crescer por você, para você... por nós dois. — Ele diminuiu a voz ao falar da possibilidade de nós dois juntos.

Assim como havia sentido durante a sua visita ao The Heat e, depois, ao ler a sua entrevista à Boom Beat, e, também, ao receber a música de presente, senti que a sua última declaração de amor era genuína. E ouvir aquilo com ainda mais intensidade, com ainda mais devoção, com Taylor "de joelhos, implorando", como na letra de Rescue me, mexeu demais comigo. Naquele instante eu senti que podia entregar os pontos a qualquer momento, e sequer encontrei alguma coisa de imediato para dizer. Cérebro em curto circuito e coração se despedindo da vida; essa era eu.

Apoiei um dos cotovelos na mesa e a cabeça na palma mão, fechando os olhos para tentar me reorganizar. O impacto havia sido tão grande que precisei me concentrar; focar na respiração e repetir para mim mesma que eu não estava tendo um ataque cardíaco e nem um AVC.

— Como está tentando ser melhor se nem conseguiu respeitar o meu pedido para não me procurar? — finalmente perguntei, com a voz embargada, fazendo esforço para não chorar e abrindo e fechando a mão, para ver se elas paravam de formigar.

— Peço desculpa por ter ido atrás do seu endereço, por ter mandado a minha música, mas entenda, por favor, que eu não sabia mais o que fazer. Eu só sabia que precisava agir, e rápido, antes que... antes que a perdesse de vez.

Eu estiquei o braço e caí na burrice de tirar os seus cabelos dos olhos. E Taylor, aproveitando meu único momento de abertura, segurou a mão que o acariciava e a fez percorrer a lateral do seu rosto, prendendo-a entre as suas no final de tudo.

Arrepio na espinha, pontada na cabeça, aperto no peito. O que mais eu poderia sentir ao mesmo tempo?

— Como disse — continuou —, eu não sou perfeito, Belle. Sou apenas um homem apaixonado, sem medo de assumir os meus erros. Apenas disposto a lutar pela mulher que amo, aquela que eu nunca deveria ter deixado ir embora. Diga-me, Belle, diga agora que não sente mais nada por mim e eu juro que desapareço. — Os olhos dele brilhavam, a ponto de transbordarem.

— Olhe só como você é! — Livrei-me de sua mão e me levantei apoiada em um pé só, segurando-me na mesa. — Eu já disse o que tinha para dizer, não preciso repetir. Eu vou me casar. Por favor, fique longe de mim.

Taylor se ergueu do chão e me segurou com as duas mãos próximas aos meus cotovelos, sustentando o meu peso. Meu coração voltou a bater a mil por hora com a proximidade e com o fato de que no seu rosto não havia sorriso cínico nem olhar intenso, mas apenas lágrimas que ele não fez a menor questão de esconder. Sem que me desse tempo de pensar, o diabo me puxou de encontro ao seu peito e me abraçou; tão forte que quase me esmagou em seus braços. Suas mãos se emaranharam nos meus cabelos, na nuca, enquanto eu sentia a sua respiração e o seu choro sentido nos meus ouvidos.

— Já fiquei longe tempo demais, Belle. E... você não disse que não sente nada por mim. — Ele passou os lábios e o nariz nos meus cabelos, pela lateral do meu rosto e sussurrou: — Eu te amo. Por favor, me dê mais uma chance. Dê mais uma chance para vivermos a nossa história. Eu posso provar que mudei.

Os meus braços, que, até então, circundavam firmemente a cintura de Taylor para me manter estável, afrouxaram-se um pouco para afastá-lo com um movimento mais brusco, e, logo depois, apoiei-me novamente à mesa. Se eu continuasse ali, encaixada a ele, sentindo o seu volume, o sobe e desce do seu peito, o calor da sua pele, o toque de suas mãos e os lábios tão próximos, seria capaz de eu não resistir. Eu tinha certeza de que não resistiria.

— Já tivemos a nossa chance. E você estragou tudo. — Minha voz embargou novamente e desta vez não consegui controlar o choro. Que força era aquela que vinha de Taylor, como um furacão, que era capaz de levar tudo de mim com ele? — E eu não quero estragar o que tenho agora. Pegue as minhas muletas. Eu preciso ir embora.

Taylor não se moveu um milímetro. Fungou, passou as mãos debaixo dos olhos para enxugar as lágrimas e, em seguida, mais uma vez me pegando desprevenida, puxou-me pelo braço em direção ao seu corpo. Desequilibrei-me com a intensidade de sua pegada e acabei me segurando em seus ombros. Com as mãos firmes de Taylor entrelaçadas na minha cintura, seus olhos penetraram os meus, sua respiração tocou a minha e seu hálito de vinho me inebriou, quando ele abriu a boca para dizer:

— Não estrague o que você tem agora... Deixe-me estragar por você.

Aprisionando-me em seus braços, com as suas pernas procurando espaço entre as minhas, Taylor me surpreendeu com um beijo. Seus lábios salgados, alcóolicos, tocaram os meus com fome, tesão, e a sua língua ágil e determinada explorou cada canto da minha boca. Eu deixei, eu desejei, eu retribuí, aproveitando o seu gosto, voltando no tempo, soltando o meu corpo no embalo da música, no instante de loucura e entrega espontânea que... não deveria ter existido.

— Pare! Não! — Empurrei Taylor, encostei-me à parede mais próxima, limpei os lábios com o dorso da mão e depois enxuguei os olhos ainda lacrimejantes. Não dava para ficar ali, não mesmo, muito menos depois de me dar conta de que seu volume sob o short, teso, roçava a minha vagina, a qual, mesmo coberta, pulsava feliz em retribuição, encharcando a minha calcinha como se eu tivesse acabado de urinar. — Você não vai acabar com nada. Você não tem esse poder!

— Eu te amo, Isabelle. Não se case com esse cara.

Pulando em um pé só, eu me virei em direção à porta para ir embora. Taylor veio atrás e me segurou pelo braço quase me fazendo desequilibrar novamente.

— Você tem certeza? — Com o meu corpo grudado ao seu, ele me olhou de volta e cantou outro pedaço de Rescue me, o maior golpe baixo depois de todos os golpes baixos que ele tinha dado. — Não há mais ninguém para me fazer sorrir. O sorriso que você roubou depois de eu levar tudo embora. Você poderia abrir a porta? Tem um mundo para nós dois. Um mundo para eu te dar, compartilhar. Você precisa se abrir quando ouvir o chamado...

Consegui me desvencilhar, pegar as muletas e me sentir fisicamente segura; no entanto, emocionalmente, encontrava-me completamente desprotegida. Não deveria, em hipótese alguma, ter ido até ele.

— Abra a porta pra mim. A certeza está na resposta escrita no meu pé, Taylor — exibi o pedido de casamento e o meu "sim" na bota de gesso, para caso ele não tivesse notado —, está neste anel de noivado, e o mais importante; no meu coração.

— Não, Belle, não está. — Taylor voltou a chorar e mais uma vez me compadeci de sua dor.

Assim não era possível! Eu não podia ficar mais tempo diante dele, escutando verdades cruéis saindo de sua boca.

— Eu preciso ir — segurei as lágrimas insistentes —, abra a porta, por favor.

Taylor fez o que eu pedi, mas antes que eu partisse ele me puxou, sem jeito, para mais um abraço. Respirei fundo junto ao seu peito, aproveitando a última oportunidade de sentir o seu calor e o seu cheiro.

Eu tinha ido até lá para dizer "adeus", e eu disse.

.......

[ Notas ]

Música citada:
"Let's get it on" (MARVIN GAYE, 1973)

*Você me entende, amor. Já que estamos aqui. Vamos viver. Eu amo você...

.......


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