Cap 59. Uma tonelada a menos
Nathan agora sabia de quase todos os detalhes dos meus anos ao lado de Taylor. Passei umas duas horas desabafando; falando sobre o nosso começo, com a não aprovação dos pais dele — e dos meus —; contando sobre o drama do bebê que era filho dele, fruto da traição com a minha melhor amiga; das constantes brigas de Taylor com seu irmão mais velho, que mal ou bem me afetavam; dos altos e baixos da banda dele, que me afetavam idem; e terminei contando do meu emprego no The Heat, como bartender, e o fato de eu não ter me aberto para Taylor sobre a minha ocupação, o que culminou no término da nossa relação. Despejei em Nathan uma tonelada de informação e me senti exatamente uma tonelada mais leve. Somado ao efeito do calmante que ele havia me dado, eu achava que poderia flutuar.
— Você passou por muita coisa, linda. Coisas que ainda não superou e que as lembranças trazem dor. — O peso do braço de Nathan sobre o meu peito, com a mão apoiada em meu ombro, passou-me total segurança. Apesar do que lhe contei, sua reação foi a melhor possível. Ele estava do meu lado, continuava sem me julgar, só queria me entender e me dar apoio. — Você entrou nessa história muito jovem, e para se envolver com uma pessoa famosa, precisa ser muito firme. Uma firmeza que, pela idade e pelo que contou, você não tinha na época. Esse rapaz também era jovem demais para a carga enorme que teve que carregar. Não à toa ocorreram altos e baixos, deslumbramentos, traições... Esse meio da música, do cinema, da fama em geral, é muito cruel. Foi tudo muito duro para você. As coisas foram acontecendo e você não soube colocar limites, apenas seguiu o fluxo, se maltratando e se permitindo ser maltratada.
— E agora o estrago está feito — lamentei. — Eu deveria ter colocado limites, ter pulado fora, mas aceitava e fazia tudo em nome do amor. Ou do que eu achava que era amor. Nem sei mais... Só sei que ainda dói.
Deixei escapar um suspiro longo e pesado.
— Não posso dizer se o que você sentia por esse cantor era amor. Possivelmente era. Não sei... Só você pode saber, mas... quando estar com alguém faz mais mal do que bem, devemos nos questionar o porquê de permanecermos na relação. E nos questionar, também, o motivo de querer que ela continue, mesmo quando os sinais indicam que não há mais para onde ir. — Ele me deu um beijo na lateral da cabeça enquanto eu refletia sobre o que acabara de dizer. — Você falou que o estrago está feito...
— Sim, está — reafirmei.
— Não há estrago feito que não possa ser amenizado, linda. Você precisa se fortalecer, se cuidar. Não dá para apagar o que foi vivido com esse rapaz, e, se desse, jamais pediria para que esquecesse o que viveu... No entanto dá para conviver com os traumas de outra maneira, sem todo esse peso que você carrega. Eu nem consigo me colocar no seu lugar, pois de fato meu noivado não terminou desta forma; dolorido como o seu. Mas... Eu também tive minha cota de sofrimento na vida e posso lhe dizer; a terapia me ajudou e ainda me ajuda muito.
Fechei os olhos ao concluir que não teria como escapar. De novo aquele assunto de terapia.
— Você conhece alguém que possa me ajudar? — perguntei, um pouco receosa. — Eu entendi, finalmente entendi que preciso resolver essa coisa dentro de mim. Libertar.
— Isso. Libertar o que a faz sufocar, que transforma em dores físicas a dor emocional que está aí dentro. Com terapia você começará a se entender e, como resultado, se sentirá muito melhor. — Nathan acariciou o meu rosto e estalou seus lábios doces nos meus. — Amanhã vou pensar no profissional mais adequado para lhe atender, de acordo com o tipo de abordagem terapêutica que será melhor para você. Escolher a pessoa certa é fundamental.
— Acha que, além de terapia, precisarei de um psiquiatra?
Nathan me abraçou mais forte e me deu outro beijo antes de responder:
— Linda, pelo pouco que convivemos e pelo que pude observar do seu comportamento ansioso e autodestrutivo, somado ao que acabou de me contar sobre o seu passado; seria interessante que, sim, você também fosse atendida por um psiquiatra.
Torci o nariz, e Nathan, ao perceber a minha reprovação, disse:
— Muitas pessoas não procuram tratamento com medo do estigma, o que é uma tremenda bobagem. Não há problema algum em ser atendida por um psiquiatra. Isso não quer dizer que seja louca ou algo assim. Talvez você até seja dispensada por ele e fique só com a terapia... Não custa nada conversar com um e ver o resultado.
— Pode ser você?
— Não é o adequado. Mas estarei aqui sempre que precisar. — Nathan olhou nos meus olhos, que marejaram após sua declaração. Ele era demais. — Na Wishes temos excelentes médicos. Você pode ir comigo até lá, na semana que vem, e ter uma consulta com algum deles. O que acha?
— Pode ser... — resmunguei, sem muita convicção. As pálpebras pesaram e as fechei de vez, para que as lágrimas não voltassem a cair.
— Tudo vai se ajeitar. Agora durma, minha linda. Descanse.
Nathan tocou os meus lábios com os seus, e, como se recebesse um beijo de príncipe com efeito reverso, adormeci.
******
Dormimos pouco. Eram 2 horas da tarde, e o sol brilhava do lado de fora, quando Nathan me sacudiu.
— Minha mãe veio nos chamar umas duas vezes, e eu disse que não precisavam nos esperar para o almoço. Voltei a dormir, mas acho que podemos nos juntar aos meus pais para o lanche. — Ele riu, debruçou-se sobre mim e me deu um beijo de boa tarde, ao qual retribui com um sorrisinho no rosto.
— Contou a ela que agora tem uma hóspede capenga? Uma incapaz e inútil?
— Deixe de ser exagerada. Você não pode andar, mas pode fazer muitas outras coisas. — Nathan estalou outro beijo em meus lábios e perguntou: — Como está se sentindo agora? Além de capenga, incapaz e inútil? — Riu.
— De ressaca; com sede e com uma dor de cabeça chatinha.
— Inevitável. Você bebeu demais ontem à noite. Mas nada que repouso, hidratação e uma boa alimentação não sejam capazes de curar. E quanto ao resto, como se sente?
— Melhor, mais leve. Não no pé, com essa bota de gesso de 50 quilos, mas aqui. — Levei a mão ao peito. — Obrigada por me ouvir.
— Foi muito boa a nossa conversa. Necessária. Seu desabafo me ajudou a entender o que se passa na sua cabeça e no seu coração.
— Meu coração foi muito machucado, mas agora é seu, Nathan — declarei, mesmo que meu coração ainda não fosse dele em sua totalidade, pois eu tinha esperança de que em breve seria, de verdade. — Gostaria de poder tê-lo entregado a você em melhores condições.
Nathan se debruçou em mim, raspando seus lábios devagar sobre os meus.
— Eu vou juntar cada pedaço desse coraçãozinho machucado e mostrar a você o que é amar de verdade.
O coraçãozinho machucado voltou a bater forte após aquela declaração, bombeando felicidade por todo o corpo. Era muito bom me sentir amada, e Nathan nem precisava se esforçar muito para me levar ao céu com o seu amor. Seria mesmo uma questão de tempo — e pouco — até que eu esquecesse Taylor de vez.
Agarrei meu namorado de um jeito desengonçado e o puxei para cima de mim. Chutei para longe os travesseiros debaixo do meu pé e abri as pernas, para que ele pudesse se encaixar entre elas. Meu tornozelo estava imobilizado, mas Nathan tinha razão; o resto funcionava perfeitamente. No momento, eu só queria que ele me beijasse, arrancasse a minha calcinha, ou a afastasse, ou o que preferisse, e me possuísse sem enrolações. Joguei o quadril para cima, para aumentar o contato entre nós dois, e gemi no seu ouvido ao sentir o pênis enrijecendo sob a calça. Mais do que depressa, enfiei a mão entre nossos corpos e puxei, com os dedinhos afoitos, o cós de elástico, para enfim alcançar o pecado.
— Definitivamente você não está incapaz e inútil. Capenga, apenas. Não. Capenga e devassa. — Nathan soltou um risinho e gemeu, abocanhando um dos meus seios, que havia escapado pelo bojo largo da camisola.
Nada mal para uma tarde de ressaca.
*****
O sábado, que havia começado bom — se eu considerasse sábado a partir do momento em que abri os olhos — ficou melhor. Depois do almoço, enquanto Nathan mexia em seu laptop no quarto, eu descansava, deitada na espreguiçadeira da varanda, aproveitando a sombra e o vento que me embalavam, quase a ponto de dormir.
— Linda — ele me chamou —, Gavin mandou um e-mail com as fotos escolhidas em baixa resolução. Disse que vai mandar entregar aqui, nesta próxima semana, um CD com as tratadas.
Dei um gritinho animado ao ouvir a notícia, doida para saber quais fotos Gavin havia selecionado.
— Traga aqui para mim, deixe-me ver.
— Você arrasou. Vocês arrasaram. — Nathan se sentou na ponta da espreguiçadeira, ao meu lado, e colocou o laptop sobre a minha barriga. — Vá passando uma a uma, impossível escolher a melhor. O trabalho dele é impecável, e você, nem preciso dizer o quanto é perfeita. Não vejo a hora de você ter as fotos definitivas em mãos e poder começar a buscar trabalhos como modelo, fazer o que gosta.
— Hum. — Desviei o olhar da tela para Nathan, que demonstrava uma empolgação muito maior do que a minha. — Calma. Não vou a lugar algum sem um número de seguro social. Essa coisa do visto vencido vai me ferrar.
— Vamos dar um jeito. Eu lhe prometi, não foi? Confie em mim.
Eu confiava em Nathan. Se ele dizia que daria um jeito, é porque cumpriria sua palavra. Passei de volta o laptop para ele e pedi para que respondesse a Gavin agradecendo mais uma vez. Mesmo sabendo que um milhão de "obrigados" não seriam suficientes para retribuir o que aquele fotógrafo havia feito por mim.
.......
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