Cap 38. Toda rosa tem seu espinho

Nathan chegou na hora marcada e fez o mesmo ritual da noite anterior. Esperando-me do lado de fora do carro, recebeu-me com uma rosa vermelha e me beijou nos lábios. Em seguida, foi logo avisando que seus pais nos aguardavam ansiosos para o jantar.

— Minha mãe está empolgada para passar mais tempo com você. Já me fez mil perguntas.

— Que mil perguntas? — perguntei, depois de sentir o meu sorriso murchar. — Preciso saber, afinal, suas respostas precisam bater com as minhas.

Ele segurou a minha mão de leve, as pontas dos dedos, frouxas, acariciando as pontas dos meus. Um toque carinhoso, porém, receoso. E as palavras seguintes seguiram o mesmo tom:

— Então... Se ela perguntar se você é minha namorada, diga que sim.

Oi?

Não importava a quantidade exagerada de blush que eu havia passado, porque branca era a cor da minha face naquele momento.

Por mais que eu e Nathan já tivéssemos nos beijado — e muito —, feito um sexo oral gostoso, saído para jantar, trocado algumas informações de nossas vidas pessoais; não tínhamos ainda muita substância para fazer da nossa relação um namoro. Ainda mais assim, por escolha unilateral, sendo eu apenas comunicada do meu novo status. Podia parecer burrice, mas achei que devíamos ir mais devagar. Não queria cometer o mesmo erro do relacionamento anterior; ir com muita sede ao pote e acabar me estrepando.

Mas como eu diria isso a Nathan? Como lhe diria que antes de se autodenominar meu namorado e passar essa informação para a mãe, ele deveria ter perguntado o que eu achava?

Fiquei com medo de estragar o resto da noite e o final de semana, mas precisava expor o meu pensamento:

— Nathan... — comecei, devagar, sem tom de protesto, mas dei meio passo para trás. — Você não fez isso. Fez?

— Fiz. — Sem graça, ele tirou a bolsa de viagem do meu ombro e a colocou pendurada no seu. — Estamos nos dando tão bem, sinto tanta vontade de passar todos os segundos com você...

— Eu também sinto, Nathan, mas precisávamos ter conversado sobre isso antes de você falar com a sua mãe. Não é o tipo de decisão que você tem a liberdade de tomar sozinho. Tem outra pessoa envolvida, outras questões...

— Desculpe. Você ficou chateada. — Não era uma pergunta. — Então você não quer ser minha namorada. É isso? — Ele não tirou os olhos dos meus, pronto para encarar a resposta, fosse qual fosse.

— Não é isso... — Aproximei-me dele, dando o meio passo à frente de novo, tentando diminuir a espessura do muro de gelo que havia se instalado entre nós dois. — Você acha que me conhece o suficiente para me desejar como sua namorada? Você não sabe muito do meu passado, das minhas manias, do que eu gosto, do que eu não gosto, dos meus traumas... E se eu não for a garota fantástica idealizada por você?

Ele me ouvia sem alterar muito a sua expressão, paciente. Então continuei:

— Você me conheceu num clube de strip. Muitos homens confundem as coisas. E se, depois que eu não for mais novidade, você enjoar de repente?

Nathan levou dois dedos aos meus lábios, pedindo que eu me calasse um pouco.

— Linda, não vou enjoar de você, mas entendo o que acabou de dizer. Eu realmente não a conheço a fundo. E entendo que você também deva pensar o mesmo: que não me conhece, que não sabe muito do meu passado, dos meus traumas, das minhas manias, do que gosto, do que não gosto... Mas nós gostamos um do outro, isso é claro, e não vejo problema em descobrirmos todo o resto já estando dentro de um relacionamento sério. O máximo que pode acontecer é desistirmos, terminarmos se não der certo.

Depois de puxar o ar, dei um longo suspiro.

— Terminar... dói.

Ah, era esse o meu medo. Foi ao pronunciar essa frase que eu percebi o que de fato me travava. Ter algo sério, terminar e ter que passar pela dor. Não.

Nathan segurou a minha mão, a da tatuagem, passando o polegar sobre o relevo da minha cicatriz, e, olhando nos meus olhos, disse:

— Dói, mas... Por enquanto está doendo? Está sendo um sacrifício? Por que se não estiver, qual o problema de termos um relacionamento, um compromisso sério um com o outro?

— Nathan... E o meu trabalho? Você tem certeza de que vai conseguir encarar isto, namorar alguém que quase toda noite tira o sutiã e dança se esfregando em outro homem? É bom fazê-lo lembrar e visualizar a cena, porque eu não tenho, neste momento, como mudar essa situação. Mas também não quero lidar com ataques de ciúme.

A minha referência era Taylor e seu histerismo, seu discurso raivoso e machista quando descobriu que eu trabalhava no The Heat — na época, como bartender. Um espiral de choques elétricos passou de cima para baixo e de baixo para cima por todo o meu corpo, só de eu relembrar. Nem pensar eu queria viver algo parecido com aquela cena de novo.

— Eu sei muito bem onde estou pisando — continuou Nathan —, não estou entrando nessa enganado. Eu conheci você assim, respeitei suas escolhas desde o início. Eu quero, sim, um compromisso, mesmo que você precise fazer esse trabalho particular. A única coisa que nos impedirá de ficarmos juntos é você não querer esse laço comigo.

Mordi o lábio e fechei os olhos, soltando, em seguida, um suspiro longo, pesado. Não queria decidir isso tão rápido, mas estava de mala pronta para a sua casa; e sua mãe, o ponto focal da minha visita, já detinha essa informação.

— Eu só acho que você pulou algumas etapas.

Ele prontamente tirou da minha mão a rosa que havia me dado logo que chegou, ajoelhou-se diante de mim e fez a proposta:

— Isabelle, você aceita ser minha namorada?

Eu peguei a rosa de volta e levei até o meu nariz, cheirando o seu perfume suave enquanto tentava camuflar o sorriso largo com o botão aberto. Nathan permaneceu ajoelhado, encarando-me com um olhar de cachorrinho carente e faminto, então, mesmo insegura da minha decisão, dei com a rosa em sua cabeça e falei:

— Levante-se logo daí, claro que quero ser sua namorada.

Ele respirou fundo, parecendo aliviado ao levar a mão ao peito, e logo se levantou para me devorar com um beijo.

— Fiu, fiu.

Escutei o assobio vindo de cima e olhei para o alto do prédio. Lá estava Mirana, na janela, fazendo coração com as mãos e dando adeusinho no final.

*****

— Então... — começou Nathan, quando já estávamos dentro do carro a caminho de sua casa. — Você quer falar do seu passado, dos seus traumas, das suas manias, ou do quê? — Ele virou o rosto para mim, sorrindo de um jeito sacana, tirando onda com a minha cara.

— Poupe-me, Nathan. — Desconfortável, mas sorrindo de volta, dei um tapinha em seu antebraço.

— Você disse que não nos conhecemos direito... Então podemos fazer assim, tipo programa de entrevistas, perguntas e respostas.

— Tanto não nos conhecemos direito que eu não fazia ideia deste seu lado bobo. — Fiz uma careta de censura. — Você está brincando com a situação, mas eu estou preocupada. Sua mãe provavelmente me fará um monte de perguntas que não saberei responder. Temo que este jantar decrete o fim do nosso namoro, que mal acabou de começar.

— Vou lhe dar um conselho: seja honesta. Apenas honesta. A verdade nunca faz mal a ninguém.

A verdade. Acontece que a minha verdade era bem pesadinha para uma senhora como ela. Por mais simpática que fosse.

— Espero não me sentir no Show da Oprah.

Nathan riu alto.

— Não vai, não. E eu tenho certeza de que vocês duas vão se dar muito bem.

Pois eu não tinha certeza de nada, só de que precisava de um ansiolítico — ainda que natural — para me fazer respirar com tranquilidade.

— Coloque uma música encorajadora aí, por favor — pedi.

Nathan cantou, empolgado e batucando no volante, a segunda estrofe de Girls, Girls, Girls, uma música muito conhecida do Motley Crüe, que falava sobre strippers. E eu, com o rosto quente, quis dar na cara daquele piadista, que, mais do que feliz, estava muito a fim de implicar comigo.

— Se você soubesse como estou por dentro, pararia com essa brincadeira agora mesmo. — Dei bronca, apertando o seu antebraço com a minha mão congelada.

— Parei, parei. Só estava tentando descontrair, linda. Desculpe se fui inoportuno e inconveniente, achei que você conseguiria lidar com essa questão de maneira um pouco mais leve.

— Não tem como! — Excedi-me no meu desespero. — Imagine a cara da sua mãe quando souber que sou stripper. Ela já sabe, por acaso?

Nathan parou no sinal e se esticou para me dar um beijo.

— Não, ela ainda não sabe, mas eu estarei lá para ajudar no que for preciso. — Ele fez uma pausa. — Você tem que parar de se envergonhar do que faz, sabia?

— Mas eu não vou — retruquei, seca. — As pessoas, de maneira geral, não levam essa profissão na boa. Você é um em um milhão, Nathan.

— Entendo sua angústia. A maioria é mesmo preconceituosa, mas essa não é uma característica de ninguém lá de casa. Está tudo sob controle.

Tudo sob controle nada. Se a senhora Nancy já estivesse sabendo qual era a minha ocupação, eu seria poupada de revelar a verdade a ela em algum momento. Significaria que ela já havia me aceitado do meu jeito, e, assim, eu poderia me desligar do medo que carregava para o encontro. Mas não era o caso.

— Vai ser um desastre — murmurei.

— Não vai, não. Pense em coisas boas. Em cinco minutos estaremos lá e você vai ver que toda a sua apreensão não tinha razão de ser.

Nathan beijou-me nos lábios e deu uma fungada em meu pescoço. E então ligou o rádio e seguiu em frente.

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[ Notas ]

Show da Oprah - O Oprah Winfrey Show foi o talk show de maior audiência na história da televisão americana. Foi ao ar nacionalmente por 25 temporadas a partir de 08 de setembro de 1986 a 25 de maio de 2011.

Música citada:
"Girls, Girls, Girls" (MOTLEY CRUE, 1987)

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