Cap 37. Brincando com o fogo

Pelo que tudo indicava, meu pior karma como stripper ainda não tinha acabado; eu voltaria para o The Heat. Não da mesma forma que antes, mas voltaria.

Como o prometido, Lola me ligou logo cedo para perguntar como fora a minha apresentação e para me contar da tal "situaçãozinha" que havia descolado para a gente. A vadia tinha se encontrado com Dennis, que, depois de perceber que Lola era muito importante para o seu negócio, fazendo muita diferença nos lucros do clube, queria de volta sua galinha dos ovos de ouro. Com o poder de negociação favorável para ela, Lola conseguiu diminuir em 5% o quanto teria que repassar a ele, e colocou como condição para a sua volta que ele me aceitasse junto. Ela era tão esperta que conseguira, ainda por cima, fechar acordo para um show por semana em dupla, do mesmo jeito que tínhamos feito na noite em que fomos expulsas. Só que, desta vez, com Dennis pagando um valor fixo para cada uma. Quanto ao resto, continuaria o mesmo esquema; sem vínculos com a casa e apareceríamos quando quiséssemos, faríamos o nosso horário.

— Ai, pu-ta-que-pa-riu — lamentei ao telefone. — Não acredito que você fez isso, Lola!

— Você pode não aceitar, mas eu não faria isso. — Ela deu início a sua argumentação. — Pense: se você não quiser ir lá todos os dias, não precisa, mas pelo menos garante um show bem remunerado por semana. Riot, nós seremos as estrelas daquela porra. No dia do nosso show em dupla, só vai dar a gente. Vai ser uma chuva de verdinhas no palco e depois uma porrada de danças privadas. Uma noite para garantir uma boa parte da renda do mês. E se você estiver num mês fraco de danças no nosso esquema, pelo menos terá onde se enfiar para ganhar uns bons trocados.

Fazendo de quatro a cinco shows por mês no The Heat, eu conseguiria uns 5 mil dólares, se não mais. Com isso eu poderia trabalhar menos no esquema do Strippers Party, ser menos refém de Lola, e, assim, teria mais tempo livre para aproveitar a companhia de Nathan. Nada mal.

— Tudo bem. Tem razão. Quando será essa tal apresentação em dupla?

— Daqui a uma semana, próxima sexta, dia mais movimentado do clube. — Lola parecia animadíssima para a volta. — Vai ser um grande evento. Dennis disse que fará todo o marketing e promocional para a nossa estreia. Temos que pensar nas músicas, nos movimentos... Tudo direitinho. Falhar não é uma opção.

— A gente vê isso durante a semana — falei, sem dar muita importância.

— Eu tinha pensado de a gente se encontrar neste fim de semana agora para combinarmos o que fazer. Assim ensaiaríamos durante a semana, senão vai ficar muito em cima.

— Esse final de semana não vai dar, marquei umas coisas...

— Com aquele amigo do Max? — chutou. — Você está namorando, Riot? Sabe que isso vai acabar atrapalhando a sua carreira, não sabe?

Grande carreira!

— Eu não estou namorando — bufei. — Só não vou estar disponível neste final de semana. Na segunda a gente se encontra.

— Fazer o quê? Segunda então. Apareça aqui em casa na hora do almoço. Vou fazer alguma coisa para a gente comer, depois acertaremos tudo para a apresentação.

— Ok, chefinha, só não me perturbe no fim de semana. Off, estarei off!

*****

Agora bastava contar para Mirana a novidade, e fazer isso de um jeito que ela não ficasse irritada e que não desconfiasse do meu trabalho paralelo com a Lola.

Saí do quarto, de onde conversara com a Lola ao celular e, mais molenga que pudim, fui para a sala, onde Mirana assistia à TV. Não tinha muita ideia de como abordar o assunto da melhor maneira, então optei por falar de supetão:

— Vou voltar para o The Heat. Semana que vem.

— Como é? — Ela tirou o volume da TV e virou-se para mim. — Você falou isso mesmo?

— Exatamente — confirmei, arrumando o rabo de cavalo enquanto olhava para o Bart Simpson, mudo, na TV.

— Mas você não tinha sido expulsa? Dennis não estava uma fera com você? Como foi isso?

— A Lola me ligou agora... — O meu rabo de cavalo virou um coque, enroscando-se para sempre.

— Hum. — Revirou os olhos e fez bico. — Tinha que ter essa garota no meio!

— Ela arrumou um esquema com o Dennis...

Depois de eu explicar tudo para Mirana, da maneira como Lola havia me passado, tive que lidar com a fúria de minha amiga.

— Puta que pariu! Mas puta que pariu cem vezes! Caralho, Isabelle! Só falando palavrão! Você aceitou fazer showzinho erótico com a Lola no The Heat? No The Heat e com a Lola? Puta merda! A vadia mor, a piranha que colocou droga na sua bebida?

Ai de mim se ela soubesse do resto.

— Mirana, uma vez por semana — mantive a tranquilidade —, não vai nem doer. Eu preciso pagar as contas.

— Você gostou de se esfregar nela, por acaso? — Sua cara parecia de quem havia cheirado peixe podre. — Ecaaa! Que coisa mais repulsiva. Eu não quero ver isso.

— Então não veja. E é claro que não gostei de me esfregar nela, mas vou. Vou. Pelo dinheiro.

— Nathan vai detestar isso.

Que golpe baixo ela citar o Nathan.

— Isso eu resolverei com ele. E duvido muito que ele vá se importar. Quem sabe até goste! — retruquei, ríspida. — Nathan é o ser humano mais evoluído que já conheci. E, além de tudo, ele me conheceu lá mesmo, no The Heat. Se existe algo que não o incomodará é a minha volta para o clube. Mas você está incomodadíssima, pelo visto.

— Estou sim, admito. — Touro brabo, com argola no nariz, fingindo manter a calma. Se eu tivesse uma capa vermelha para agitar, ela viria na minha direção com sangue nos olhos. — Entenderia você voltar para o The Heat sozinha, mas num esqueminha privilegiado com a Lola é outra história. Outra história!

Então, sem a menor paciência, eu comecei a agitar o capote.

— Incomoda mais a você o "esqueminha privilegiado", ou o fato de eu me apresentar com a Lola? — ironizei a sua fala, sem dó, porque senti certa inveja no comentário.

Suas narinas abriam e fechavam, enormes, a respiração pesada.

— As duas coisas! Nada a ver isso. Pode anotar, anote aí: essa garota ainda vai ferrar com você, vai acabar com sua vida! — Mirana lançou a praga, e me restava esperar que não fosse tão ruim quanto praga de mãe. — Onde já se viu voltar para o The Heat, ainda mais assim... Agora você quer andar para trás? Quer, por acaso?

— Calma, Mirana. Não é o fim do mundo também.

¡Pero es para mí! — O touro passou como uma bala em direção ao corredor e vociferou antes de se trancar no quarto: — E espero que não seja o seu fim! Não! Espero que seja! Quem sabe assim você deixa de ser burra! ¡Tú no hable otra palabra conmigo hoy!

E, bum! A porta bateu com tanta força que o prédio inteiro tremeu. Era melhor não tentar insistir no diálogo.

Aproveitei que vestia roupa de academia, peguei um energético na geladeira e, chateada, saí para a Gymx. Talvez em algumas horas ela estivesse melhor e pudéssemos voltar a conversar.

*****

Quando retornei, Mirana ainda estava no quarto, mas abri a porta e fui entrando.

— Superou? — Encarei-a.

— Porra nenhuma. — Depois das palavras secas, Mirana se ajeitou, sentada na cama, e virou o rosto para me evitar. — É inacreditável que depois de tudo que passou, você tenha aceitado fazer um show, que seja de dez minutos, com alguém tão baixa quanto a Lola.

— Mirana, se eu não estivesse precisando desse dinheiro, eu não teria aceitado. Custa entender a situação? — com calma, solicitei sua compreensão. — Coloque-se no meu lugar.

— Eu não vou entender nunca, mas juro que vou me esforçar para aceitar. Não tem outro jeito, né? — Ela usou um tom mais normal, voltando a me encarar. — Mas ficarei muito decepcionada se você mantiver amizade com ela fora o The Heat. — Engoli em seco. — E nem pensar quero essa piranha aqui em casa. Fui clara?

— Ela não virá aqui, pode ficar tranquila. — Levei os indicadores em cruz aos lábios. Muá-muá. Promessa.

Abri o armário e peguei uma bolsa esportiva de viagem.

— Vou separar minhas coisas para ir para o Nathan. Ele vai passar aqui depois do trabalho.

— Hoje não é quinta ainda?

— Uhum. — Sorri de orelha a orelha.

— Mas não era só na sexta o combinado?

— Ele me ligou agora há pouco. Conseguiu se liberar do trabalho amanhã, então vou para lá hoje mesmo. — Não importava se o clima com Mirana ainda não estivesse bom, não consegui conter a minha euforia. — Aiiiinn. Não posso esquecer nada. Ficarei até segunda.

— Eu sei, você já tinha me dito. — Foi curta e quase grossa.

— Achei que estivesse feliz por mim, que fosse comemorar o fato de eu passar o final de semana conhecendo a família do Nathan, aquele que o seu amigo Universo se esforçou tanto para me unir.

— Eu estou feliz, mas com medo de você meter os pés pelas mãos com essa história de fazer showzinho com a Lola.

— Esqueça a Lola. Não vou meter os pés pelas mãos... E o papo agora é outro: neste fim de semana, Nathan é quem vai meter muito em mim. Ah, vai!

— Isabelle! Nunca vi você falando dessa maneira. "Meter"? "Meter"? — Junto com a falsa repreensão, havia um pequeno sorriso esboçado no canto de sua boca, e gostei disso.

— Meter, sim, como uma britadeira furando concreto! Tá-tá-tá-tá-tá! — simulei o barulho e o movimento.

— Ah, sim. Até porque faz tanto tempo que você não usa essa xoxota que o hímen deve ter regenerado. — Mirana tentou falar sério, mas acabou rindo no final. — Deixe o pica-grossa meter, dê permissão a ele mesmo, aproveite cada segundo deste final de semana.

— Ah, minha amiga — corri para abraçá-la —, obrigada. Você vai ficar bem sem a minha companhia?

— Vou. Mas qualquer coisa eu procuro a Lola. — Veneno. — Mentira, claro que não, só quis lhe provocar.

Fingi dar uma chave de braço nela.

— Pare com isso, a Lola é só uma colega de trabalho, não tem amizade, não tem isso aqui que nós temos; abertura para falar de tudo. — Eu a soltei e dei um beijo na sua bochecha. — Então, repetindo: você vai ficar bem sem mim?

— Mais ou menos, né? Vou passar os dias louca para saber dos acontecimentos na mansão. Louca.

— Quando eu tiver uma brecha, ligo para dizer como vão as coisas.

— Nã, nã, ni, nã, não. Relaxe e aproveite. De maneira vulgar; relaxe e goze. E faça isso de um jeito que não sobre brechas.

— Assim ficarei assada.

— Fique assada então, mas não perca tempo me ligando. Eu consigo aguentar a curiosidade. — Ela contorceu os lábios. — Ou não.

— Se você estiver, digamos assim, muito, muito curiosa, mande uma mensagem. Eu tentarei responder assim que puder.

— Você sabe que, na prática, não vou me segurar, né? Que a cada transa vou querer receber uma mensagem. — Rimos alto. Era bem a cara de Mirana querer feedback de sexo. — Mas fique ciente de que não vou interromper o seu final de semana. Sou sem noção, mas nem tanto. Aproveite o tempo com ele, cada minutinho, e me conte tudo na segunda. Mensagem só em caso de vida ou morte.

Dei outro beijo estalado na bochecha dela.

— Aaiinn, amiga, você é demais. Não fique brava comigo, não. — Apertei bem forte o seu corpinho. — Parece que fiz uma escolha errada, aceitando dançar com a Lola...

Mirana me interrompeu, quase perdendo todo o bom humor que havia recuperado:

— Não vamos mais falar disso, já deu. Não precisa se explicar. Se está feito, está feito. Comece a separar as coisas para logo mais, quero lhe dar uma assessoria.

Eu soltei Mirana, voltei para o armário e abri a primeira gaveta.

— O que acha desse biquíni? — Mostrei a ela um biquíni brasileiro, fio dental, de lacinho no quadril.

— Nem pensar que você vai levar essa coisa minúscula e branca para um final de semana com os pais dele. Bunda de fora e pentelhos na transparência? De jeito nenhum!

— Mas posso levar e usar só para ele, não posso? A banheira do quarto é quase uma piscina. — Atirei a peça na direção da bolsa, em cima da cama, e cantarolarei Like a virgin, da Madonna. — Vou escolher umas lingeries bem safadinhas. — Abri uma string de renda vermelha na frente do meu rosto, dançando de um lado para o outro.

— Você está determinada a dar para esse cara, hein?

Like a virgin, touched for the very first time... — Ri. — Você também estaria, se estivesse no meu lugar.

— Até não estando. Sei que o homem é seu, mas eu ficaria de quatro para ele vinte quatro horas por dia. Daria até o cu. Like a virgin, ooh, ooh, like a virgin. Feels so good inside...

Em cima da cama, na posição anunciada, ela remexeu sua bunda enorme e simulou uns gemidos. Ah, minha Mirana descontraída estava de volta! Então, aliviada, corri para enchê-la de palmadas e torturá-la com cócegas.

.......

[ Notas ]

Música citada:
"Like a virgin" (MADONNA, 1984)

*Como uma virgem, tocada pela primeira vez...

**Como uma virgem, ooh, ooh, como uma virgem. Sinto-me tão bem por dentro...

.......


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