Cap 32. Gosto amargo
— Agora que estou molhada, ficou um pouco mais frio aqui fora — murmurei, após os lábios de Nathan desgrudarem dos meus ao final do beijo mais efusivo.
Isso, fale bastante merda, Isabelle.
Embora estivesse mesmo úmida entre as pernas após o nosso agarramento, eu me referia à regata molhada de suco. A minha sorte foi que Nathan, gentil que era, apesar do olhar de dúvida, não aproveitou o duplo sentido que a frase permitia para falar alguma gracinha, como a maioria dos homens teria aproveitado. Assim que se tocou do real motivo da minha reclamação, ele disse:
— Então vamos entrar. Vou pegar uma roupa mais quente para você. Essa echarpe fina não esquenta nada. — Ele entrelaçou os braços ao meu redor, para me aquecer, deu-me um beijo rápido, e logo nos levantamos.
Enquanto descíamos da varanda e cruzávamos o jardim da piscina para entrar no cômodo principal, Nathan retomou o assunto do Valentine's Day:
— Naquela noite que voltei ao The Heat, meu término ainda estava muito recente. E por mais que a gente termine um relacionamento sem brigas, sempre fica um gosto amargo. — Em silêncio, pude apenas concordar. — Eu não estava preparado para fazer com que você se sentisse especial... Mas também não era minha intenção, de maneira alguma, fazer com que se sentisse mal. Talvez eu devesse ter esperado um pouco mais para procurá-la, quando já não tivesse mais nenhum peso em meu coração. Talvez assim não tivesse passado aquela sensação de desconforto para você.
— Não, foi muito bom você ter aparecido, uma grata surpresa... Eu só queria que, mesmo despreparado, você tivesse ficado e me beijado, como nos beijamos ainda há pouco. — Fiz beicinho, jogando charme.
— Assim? — Nathan surpreendeu-me ao me enlaçar pela cintura junto ao seu corpo. E ali, no meio do jardim, beijou-me com muito desejo, fazendo-me ensopar um pouco mais a calcinha.
— Assim... Assim mesmo — sussurrei em seu ouvido, mordiscando o lóbulo de sua orelha e esquentando minhas mãos geladas em sua pele quente, ao enfiá-las debaixo de sua camiseta.
— Oh, tadinha. Você deve estar com muito frio, está quase congelando. — Para me aquecer, Nathan me envolveu de novo em seus braços. — Vamos entrar de uma vez. — Ele me deu a mão, e adentramos na casa pela grande sala de estar. — Acredite, linda, naquele quarto, só nós dois, não me faltou vontade de beijá-la desse jeito. Seus lábios são muitos convidativos... Tudo em você é um convite... — Ele interrompeu as palavras e fez uma voz séria em seguida: — Mas eu fui ao The Heat naquele dia apenas para entregar o seu pagamento e devolver os seus pertences. Só para isso. Então tive que me manter no propósito. — Nathan pigarreou e prendeu o riso, divertindo-se com a afirmativa, a qual nós dois sabíamos que estava muito longe de ser verdadeira.
— Ah é, é? Foi até lá só para isso? Uhum, sei. — Entrei na pilha. — Naquele dia, você disse que tinha usado os meus pertences como desculpa para me ver, mas depois admitiu que teria ido mesmo sem a desculpa.
Ele riu alto e, logo que se tocou que passávamos pelos corredores dos quartos, fez uma careta fofa com o indicador nos lábios e nariz, lembrando-se de pedir silêncio.
— E foi isso mesmo, linda — sussurrou. — Eu teria ido com ou sem sua bolsa para devolver. Nossa! Naquele dia, cheguei ao The Heat com as pernas bambas.
— Ah é? — Achei graça da confissão.
— Eu ainda estava pesado pelo término, o que já me deixava em situação desfavorável. Além disso, senti medo de sua reação ao me ver. E pior: tive medo de que você nem estivesse lá.
— Por que eu não estaria?
— Era uma noite em que os comprometidos não ficam em clubes de strip; nem mesmo as strippers, caso sejam comprometidas.
Uau. Ele tivera a mesma insegurança que eu quanto ao status de relacionamento. Eu não poderia sequer imaginar que isso fosse motivo de preocupação para ele àquela altura.
— Por que passou pela sua cabeça eu estar comprometida? Alguma vez dei a entender?
— Um pouco depois de eu ligar para a Giorgina, lá na festa do Max, o seu celular começou a tocar e a tocar... — Gelei. Agora não de frio, mas de tensão. Já tinha até me esquecido desse fato. E, com o coração acelerado, soltei a sua mão. — Eu não costumo atender o telefone de ninguém, mas como você tinha ido embora atordoada e largado tudo para trás, achei que estivesse usando o celular de outra pessoa para ligar para o seu número...
Eu o interrompi:
— Naquele dia, fui andando a pé para o The Heat, eu não tinha a chave de casa, dinheiro, nada. Só tive acesso a um celular uma hora depois, quando enfim encontrei a Mirana.
— Eu estava tão mexido, tão nervoso, que nem me toquei que talvez você não tivesse como voltar para casa. Não me passou pela cabeça que fosse levar um tempão por aí caminhando... Quando ouvi as chamadas, a primeira coisa que veio à minha mente foi que era você ligando do celular de uma amiga. Naquela época, eu não sabia o nome da sua colega de quarto, ainda não conhecia a Mirana. Eu vi o nome Taylor na tela e pensei que, sei lá, que fosse uma amiga. — Maldito nome unissex! — Desculpe por ter atendido.
— Tudo bem, eu teria feito o mesmo. Ainda mais sendo ligações insistentes.
— Sim, parecia importante. Então, como a tela estava desbloqueada, atendi. Mas, ao contrário do que pensei, não era uma amiga. Era uma voz masculina. — Ai. Ouvir Nathan narrando aquilo, fazendo-me relembrar da tentativa de contato de Taylor e tudo que veio depois, deixou-me muito angustiada. — Foi estranho porque, apesar de parecer urgente, assim que falei "alô", ele desligou. Na hora fiquei confuso e pensei em retornar a ligação. Mas, raciocinando melhor, concluí que poderia ser seu namorado, ou algo do tipo, e que, sem querer, eu pudesse ter deixado você em uma situação complicada.
— Ah. — Peguei de volta a sua mão e entrelacei meus dedos nos dele. — Não. Não deixou, não. Uns dias depois, eu vi que havia várias ligações perdidas e que uma delas tinha sido atendida. Imaginei que tivesse sido você. Tudo bem, não era nada demais. — Achei por bem não dizer a Nathan quem era Taylor e tentar mudar o rumo da conversa. Tudo o que eu não queria era ressuscitar o maldito àquela hora e correr o risco de sepultar o clima gostoso que rolava entre Nathan e eu. Aproveitei para deixar claro que eu não tinha compromisso com ninguém, caso aquele tivesse sido o jeito que Nathan arrumara para sondar a minha vida amorosa. — Você ficou com medo à toa. Eu estava no The Heat totalmente disponível e fiquei muito contente em vê-lo, você sabe que sim.
— Também fiquei. Muito, muito contente... Linda, perfeita naquela fantasia de cupido... — Nathan parou em determinado ponto do corredor, e senti seus lábios sobre os meus. Ao final do beijo, seus dedos pinçaram a parte úmida da regata para soltá-la em seguida. — Linda, sempre maravilhosa, até sujinha de suco... — Ele riu, segurou o meu queixo com o polegar e o indicador e me deu mais um beijo. — Venha, você precisa tirar logo essa roupa do corpo.
Desta vez Nathan é que, provavelmente sem querer, fez uma afirmação ambígua. Pressionei os lábios, prendendo o riso de contentamento, tentando controlar os pensamentos libidinosos que vieram à minha mente logo depois.
*****
Nathan abriu a porta à nossa frente, e entramos no que logo descobri ser o seu quarto.
— É aqui onde eu durmo. Muito menos horas do que gostaria. Pode se espalhar, fique à vontade. Eu já volto.
Ele sumiu em uma porta deslizante em frente à cama que, pelo pouco que consegui ver, era um closet enorme. Fiquei sem saber o que fazer, sentindo-me abandonada naquele quarto digno de rei enquanto ele não voltava.
O palácio gótico de Lola era nada se comparado ao quarto de Nathan. Só aquele ambiente devia ser o equivalente ao meu apartamento inteiro, ou até mais. A cama era king size, estilo antiga, toda de madeira maciça e dossel. Um luxo, de aparência muitíssimo confortável, encostado a uma parede revestida com papel adesivo de sistema solar, que eu desconfiei que devia estar ali desde sua adolescência. Do outro lado, dando para uma varanda exclusiva e arborizada, havia um espaço aconchegante com um sofá de couro preto cheio de almofadas. Nathan devia passar o tempo ali, assistindo à TV que compunha a parede vermelha em frente, perto da qual havia uma bancada com uma cadeira, uma vitrola e um computador.
— Pronto, estou de volta. Peguei minha favorita para você vestir. — Ele me entregou uma camiseta preta desbotada do Guns n' Roses. — Turnê de 1991, Use your illusion. — Fiz as contas. Ele acabara de confiar a mim uma relíquia.
— Tem certeza de que quer que eu vista sua camiseta comemorativa?
— E por que eu não iria querer? — Com as duas mãos, ele me apertou mais uma vez na cintura e me puxou para perto de si. Não soube dizer se foi porque agora estávamos trancados em seu quarto, mas senti minha ansiedade subir para outro patamar. — Não será nada mal se o seu perfume inebriante, agora meu cheiro favorito, impregnar a minha camiseta... — Ele terminou com o nariz enfiado em meu pescoço e uma das mãos percorrendo o meu quadril, levantando um pouco a barra da saia, fazendo-me ouriçar por inteiro.
— Onde fica o banheiro? — Desconcertada e nervosa, eu precisava de mais um tempo para organizar o turbilhão de sensações. Precisava pensar se eu queria ou não que logo na primeira noite nossos beijos evoluíssem para algo mais. Porque sozinha com ele naquele ambiente, com Nathan empenhado em me seduzir, se eu me deixasse comandar apenas pelo emocional, com certeza acabaríamos a noite na cama.
Isabelle, você já fez metade do serviço quando o agarrou no The Heat, colocou sua melhor lingerie para sair com ele, aceitou "comer um sanduíche" na mansão do cara... A quem você quer enganar? Levei um safanão da minha consciência antes mesmo de entrar pela porta de onde Nathan havia saído minutos antes.
Pensei que levaria mais tempo para aceitar, que ficaria longos minutos indecisa, que talvez nem saísse do dilema, mas quando entrei no estéril banheiro estilo SPA atrás do closet, já tinha admitido para mim mesma que queria dar para Nathan. De todas as maneiras possíveis.
Encostada a uma parede de pedras, sem nem me incomodar com o relevo e a aspereza, olhando em volta sem me deter em nada de tão abobalhada, toquei os meus lábios e sorri. Sentia-me uma devassa, pensando no quanto a minha boca queria ainda mais a dele naquela noite, no quanto desejava provar o gosto de sua virilidade. E, ao pensar nisso, em minha boca preenchida pelo seu pênis, não pude deixar de sentir o quanto uma parte mais sensível do meu corpo gostaria de ser abocanhada por ele. Minhas coxas tremiam e meu clitóris pulsava, só de pensar na saliva de Nathan misturando-se à minha excitação.
Se eu saísse do banheiro daquele jeito, quase ofegante de tanto desejo, não demoraria muito para me entregar a ele. Pularia em seu colo e enfiaria os dois peitos em sua boca, como havia feito na noite do Valentine's. Então, para diminuir um pouco o fogo, fui até a pia e joguei água no pescoço e na região do decote, esperando que ajudasse a diminuir também a frequência cardíaca.
Quanto tesão acumulado, quanto tesão!
Parada em frente à bancada de mármore me concentrei, respirei profundamente e, em seguida, troquei a regata manchada pela camiseta limpa de Nathan — não sem antes trazê-la ao meu rosto para sentir o cheiro do amaciante.
Conferi o meu novo visual, frente e verso, achando-me bastante sexy com uma camiseta masculina encobrindo a minissaia. Torci para que Nathan, ao me ver com a peça, achasse-me tão gostosa e irresistível quanto. Eu havia imaginado mil coisas com ele, do sexo romântico ao pornô hardcore, mas, fosse o que fosse, eu deixaria que ele tomasse a iniciativa.
*****
Ao som de um rock progressivo que vinha da vitrola, encontrei Nathan relaxando recostado no sofá. Com a cabeça no encosto, o quadril projetado para a frente, as pernas estendidas e os pés descalços em cima de um pufe, ele nem chegou a escutar o barulho da porta de correr. Sem os óculos, não tive a menor dúvida de que seus olhos estavam fechados.
Deparar-me com Nathan cochilando não tinha nem passado pela minha cabeça, mas lá estava ele; inerte, na penumbra.
Não sei se foi por mais cedo eu ter desejado algo leve para aquela noite, por Nathan não querer avançar o sinal — para me respeitar e não me comer logo de cara —, ou se foi o cansaço mesmo. Não faria diferença. Percebi que, diante daquela cena, havia pouca chance de que os beijos quentes que demos evoluíssem para algo mais. Nathan não parecia nem um pouco com alguém que fosse tomar alguma iniciativa. Enfim, em parte era culpa minha, por ter quebrado o clima perguntando onde ficava o banheiro justo quando a sua mão boba subia pela minha coxa. Ele podia ter entendido como um sinal vermelho.
É... já era, lamentei, resignada, pensando no que fazer diante daquilo.
Para não tirar o belo adormecido de seu descanso, tentei me afastar da porta do closet para pegar minha bolsa fazendo o mínimo de barulho possível. No entanto, o salto fino da minha bota indiscreta em contato com o assoalho de madeira não permitiu.
Nathan abriu uma fresta dos olhos pesados e disse:
— Venha cá, linda, deite aqui comigo... Tire os sapatos e fique mais à vontade.
— Você está cansado. Trabalhou o dia todo, depois fomos para o show... É melhor eu ir — respondi, de onde estava.
— Fique mais um pouco, descanse aqui do meu lado. — Ele deu uma batidinha suave no sofá, chamando-me para perto dele. Apenas estendendo o braço esquerdo, ajeitou uma almofada para me receber.
Achei que o certo, o educado, seria ir embora e deixar a continuação do nosso encontro para outro dia. No entanto, foi impossível resistir ao apelo de Nathan, sonolento e fofo, convidando-me para repousar ao seu lado naquele sofá confortável. A verdade era que, apesar de ter desejado — e muito — sexo com ele enquanto me ajeitava no banheiro, eu também estava exausta. Se fizéssemos qualquer coisa de cunho sexual, talvez nem fosse tão bom. Depois de pensar melhor, não vi problema em me aconchegar em seu colo e ficar mais uma hora sentindo a sua respiração antes de voltar para casa. O clima entre a gente estava tão suave, tão honesto, tão bom, tão perfeito, que quanto mais eu pudesse prolongar, mantendo-me dentro daquela fantasia romântica, eu o faria.
Sentei-me no recamier aos pés da cama e tirei as minhas botas. Mais relaxada, caminhei ao encontro de Nathan, que ficara de olhos abertos, observando-me com a camiseta que me engolia.
— Ficou perfeita no seu corpo. Você está tão linda. — Ele estreitou os olhos, colocou os óculos e sorriu. Em seguida, ajeitou-se no sofá, subindo o quadril e dobrando as pernas para sentar-se direito. — Não me canso de dizer...
— Você vai me acostumar mal, sabia?
— Estou muito disposto a isso... E pronto para fazer com que se sinta especial.
Ignorei a almofada junto à sua perna, e, em vez de me deitar com a cabeça nela e o corpo esticado, acomodei-me de lado em seu colo, com as panturrilhas por cima do braço do sofá. Com as duas mãos segurando o rosto de Nathan, dei-lhe um beijo casto, ao qual ele retribuiu. Descansei a cabeça em seu ombro, sentindo o cheiro natural de sua pele enquanto ele acariciava o meu cabelo e eu arranhava de leve sua barba com as unhas.
Aquele momento de ficarmos ali aninhados, um nos braços do outro, foi muito mais íntimo do que uma transa. Quando me dei conta do que estava se desenrolando em minha vida, fiquei contente por não ver no horizonte uma fagulha de possibilidade para sexo. Vestida com a sua camiseta e recebendo seu carinho, senti-me protegida e cuidada, como uma lagarta no casulo em processo de metamorfose. A transformação que eu necessitava a caminho da felicidade. Não tinha certeza de que merecia tudo que estava acontecendo, mas... Ah, como eu me sentia completa!
— Como é gostoso estar aqui com você, desse jeito... — murmurei, manhosa, observando seu rosto bem de perto. — Você é tão inacreditável.
Nathan deu um sorriso, como se já soubesse de sua qualidade, e abriu os olhos aos poucos. Seu nariz roçou no meu e, em seguida, ele tocou de leve os meus lábios.
— Você também é inacreditável. Sorte a minha que uma menina linda e encantadora aceitou o meu convite para sair.
— Eu que tive a sorte de você ter me convidado. Sorte por essa chance... — declarei e beijei os seus lábios. — A noite de hoje foi tão boa que eu só posso estar sonhando.
— Nossos olhos estão quase fechados — murmurou Nathan —, mas não tem nada, nada de sonho.
A mão que afagava os meus cabelos apoiou minhas costas enquanto a outra, por debaixo da camiseta, acariciou a região das costelas. Puxei o tronco de Nathan, trazendo-o mais para perto, quando sua língua invadiu sem pressa a minha boca. Nós nos beijamos com mais vontade, sentindo o gosto um do outro, mas nem eu, nem ele, permitimos que o desejo que ressurgiu com aquele beijo evoluísse para algo além.
Depois de vários beijos suaves e mordiscadas no canto da minha boca, seus braços ao meu redor afrouxaram. Voltei a apoiar minha cabeça em seu ombro, e, assim, relaxados e agarradinhos, sentindo o calor um do outro, trocamos mais alguns sussurros melosos e logo adormecemos.
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[ Notas ]
Curiosidade: A música que vinha da vitrola era Stairway To Heaven, do Led Zeppelin.
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→ O Nathan preparou o clima no quarto, mas acabou cochilando! 🤦🏻♀️ Será que foi cansaço mesmo? Ou ele não quis apressar as coisas? Só sei que se tivesse tomado Flying Skull isso não teria acontecido! 😂
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