Cap 31. Revelações com sabor de melancia

Chegamos à casa, casa não, mansão de Nathan em cinco minutos, tão perto de onde estávamos. Bastou virar três ruas na região do Ambassador — e do The Heat — e pronto. Agora estava explicado por que volta e meia Nathan aparecia no clube; era quase no quintal de casa.

Nathan apertou o controle remoto de dentro do carro, e o portão de ferro se abriu para entrarmos. No pátio havia estacionado outro carro, outro BMW, mas estilo sedã, que devia pertencer ao seu pai. Ele havia me explicado, um pouco antes de chegarmos, que ainda morava com os pais. Gostava da companhia deles e não via necessidade de sair de uma residência de seis quartos para viver sozinho. Poderia ficar lá tempo suficiente, até que pudesse conquistar um patrimônio com seu próprio trabalho. Apesar de seus 30 anos, era recém-formado, com muito para aprender e construir.

— Meus pais já devem estar dormindo — avisou-me assim que atravessamos, de mãos dadas, o portão interno de estilo oriental. — Talvez eu não lhe consiga mostrar a casa inteira hoje, mas teremos outra oportunidade.

— Se você me apresentar a cozinha, está de bom tamanho — brinquei, bem-humorada, porém mais nervosa do que no início da noite.

Eu nunca tinha visto uma propriedade tão linda quanto àquela. E olha que já havia adentrado outras mansões antes. Reparei em cada canto bem-cuidado, a começar pelo chão quadriculado, parte de grama, parte de concreto, enquanto cruzávamos o jardim zen principal. No centro do terreno, havia um chafariz de linhas retas, iluminado, de maneira que o valorizava ainda mais. No fundo, junto à parede, havia um laguinho artificial com cascata, também iluminado, moderno, contrastando com alguns detalhes rústicos característicos da arquitetura balinesa.

— Meu avô construiu esta casa nos anos 1960. Já passou por algumas reformas desde então, mas seu estilo e seus gostos permaneceram. Era um grande apreciador da cultura oriental, especialmente do Sudeste Asiático.

— Seu avô também era fã do Mick Jagger, Jim Morrison e Jimmy Hendrix? — perguntei, quando passávamos por um corredor envidraçado que seguia para o interior da casa, onde havia dois violões pendurados e uma galeria com quadros imensos de estrelas do rock.

— Isso é coisa do meu pai.

— Então vem dele a influência do seu gosto musical, da sua profissão... — concluí.

— Meu pai é meu espelho. Você terá a chance de conhecê-lo. Um grande homem.

Era nosso primeiro encontro formal, e a toda hora ele falava sobre me apresentar para os pais. Era um bom sinal, demonstrava que tinha interesse em mim além de diversão, mas, ao mesmo tempo, deixava-me desconfortável. Antes de conhecer os seus pais, eu gostaria muito de saber mais sobre ele mesmo. E Nathan deveria, no mínimo, desejar saber mais sobre mim também.

Não bastasse toda a magnitude do que eu tinha visto até então da área externa frontal da casa, assim que entramos na sala de estar principal, enorme, vi pelo vidro de ponta a ponta o terreno do fundo. E... Uau. A vista dali para a piscina era tão incrível que quase tombei para trás. Se meu queixo não havia caído até o momento, o instante encontrava-se próximo, tamanho deslumbre. Seguimos pela sala de jantar adjacente ao nosso destino e tudo que eu consegui pensar foi que a minha roupa estava mais adequada para jantar com ele no Mastro's do que para frequentar a sua cozinha.

— Sua casa é muito bonita. Nunca vi nada igual. — Não consegui não dizer, cercada de mármore, armários de madeira até o teto e eletrodomésticos de primeira linha. — Se eu morasse aqui, acho que não sairia para nada.

— Eu também gostaria de passar mais tempo em casa, mas na realidade fico mais tempo do lado de fora — queixou-se ele, puxando um banco debaixo da ilha e oferecendo-me o assento. — Sente-se. Vou fazer algo gostoso para nós dois. — Ele apertou a minha cintura antes de se dispersar.

— Eu posso ajudar com alguma coisa? — perguntei, tamborilando os dedos no balcão. — Lá em casa minha amiga é quem cozinha, mas acho que consigo lavar alfaces, se quiser. — Precisava me colocar em movimento ou acabaria congelada por dentro, de tanto nervoso.

— Descanse, ficamos muito tempo em pé. — Ele passou por mim em direção à geladeira e aproveitou para apertar a minha cintura de novo. — O Nathan's chicken salad sairá em breve. Você come frango?

— Uhum, como — assenti, olhando em direção à sala de jantar, com medo de que os pais dele aparecessem. No entanto, daquela direção, caminhando com classe, o que surgiu foi um gato branco, de raça. — Temos companhia — avisei, chamando a atenção de Nathan para o bichano.

— Princess! — De onde estava, ele cumprimentou a gata e não o gato como eu havia pensado. — Está acordada? Já é hora de você estar na cama.

— A Princess tem hora para dormir? — perguntei, achando divertido ele conversar com o animal.

Ele levantou o olhar para mim e sorriu.

— Mas que nada, a Princess anda por aí a noite toda. E se você der confiança, já, já ela vai subir no seu colo.

Fiquei na dúvida se Nathan estava falando da gata ou usando figura de linguagem para falar de mim; a princesa da noite para quem ele deu confiança e acabou montada no seu colo.

Não. Pare de viajar, Isabelle. Pare de viajar!

Antes que eu entrasse em um ciclo de autossabotagem fora de hora, desci do banco para acariciar gata, que ostentava uma coleira com o seu nome cravejado de diamantes. Depois de ela roçar seu pescoço nas minhas mãos e ronronar um pouco, deu meia-volta e retornou para a sala.

— Curiosidade felina, veio só fiscalizar — Ri. — A Princess só queria saber quem é que estava com o seu príncipe.

— Então eu sou um príncipe? — Ele sorriu, provocando-me com sua indagação. — Sempre achei que estou mais para um ogro.

Fiquei vermelha enquanto subia para me sentar novamente no banco, de frente para Nathan, que agora estava bem ali, do outro lado do balcão, com os ingredientes em volta. Ajeitei-me, muito sem graça, e ele, ao perceber, disse:

— Vou assumir que a sua não confirmação é um sim. Sou um príncipe. Só porque eu gostaria de ser um. — Você é mais do que um, eu quis dizer, mas não disse, tentando mandar meu coração desacelerar. E Nathan continuou, enquanto lavava as mãos: — O príncipe aqui quer que se sinta à vontade e confortável em seu castelo, então vou preparar nossos pratos e levar para comermos lá fora, em frente à piscina.

— Não está um pouco frio do lado de fora do castelo? — questionei, entrando na sua brincadeira e arrependida de ter saído de casa toda piriguete.

— Posso dar um jeito nisso... — Ele secou as mãos e voltou-se para o preparo do sanduíche. — Vai ser muito mais agradável comer e conversar ao ar livre, nas espreguiçadeiras acolchoadas, do que com dor nas costas nesses bancos desconfortáveis da cozinha, acredite em mim. Não me esqueci de que, para virar um príncipe de verdade, antes preciso lhe explicar algumas coisas.

Ui. Coisas muitíssimo importantes. Tão importantes e tão aguardadas que a lembrança, seguida de um desconcertante sorrisinho de um lado só, fez-me necessitar de um banheiro. Perguntei a ele onde ficava o mais próximo e fui o mais rápido que pude, sem deixar transparecer que a merda da ansiedade — literalmente — estava a ponto de me deixar em maus lençóis.

*****

Nathan me acomodou recostada em uma das espreguiçadeiras da varanda da piscina, colocou a bandeja com nossos pratos em cima de uma mesinha ao lado e foi até o bangalô anexo àquele ambiente. Voltou de lá com uma manta e a arrumou sobre as minhas pernas. Não era assim que eu imaginava que ele fosse dar um jeito no frio quando falara sobre isso na cozinha, mas, para um primeiro momento, aceitei de bom grado a coberta.

— Pronto, agora está bem melhor — disse ele, recostando-se com as pernas cruzadas ao longo de outra espreguiçadeira, do outro lado da mesinha.

— Espero que a comida esteja tão boa quanto todo o resto do serviço, senhor — impliquei, arrancando mais um sorriso dele. O sorriso que, naquele momento, era mais do que suficiente para me nutrir. A inquietação mantinha-me tão embrulhada que duvidava muito que fosse conseguir comer aquilo tudo. Dei um gole no suco, para começar. — Hmmm. Adoro suco de melancia, e nesse você caprichou.

— Que bom que está ao seu gosto, madame. — Ele entrou na onda. — Não sou um especialista em cozinha, mas sei me virar.

— Já pode casar — soltei a clássica piadinha infame, dando-me conta, em seguida, do tamanho do furo que tinha dado. Ele havia acabado de terminar um casamento. Tinha, não tinha? Isabelle, sua idiota. Sabendo que qualquer tentativa de consertar seria pior do que ficar calada, deixei que ele falasse alguma coisa.

— É, eu poderia. — Riu, sem graça, e desviou o olhar para o céu. — Eu até tentei. Só não deu muito certo.

A primeira mordida no meu sanduíche quase ficou entalada na garganta. Burra, burra, burra.

— Sinto muito.

Fato é que eu não sentia, não sentia nada. Se o relacionamento dele tivesse dado certo, eu não estaria ali agora.

Mantendo minha expressão compassiva — dissimulada —, comemorei por dentro. Eu quase conseguia ver fogos coloridos estourando na imensidão negra acima de nós dois, por ter confirmado, de uma vez por todas, que sim, ele estava solteiro. Já tinha ficado óbvio, pela ausência de aliança, pelo seu comportamento, mas escutá-lo dizendo foi libertador. Nada como a clareza das palavras.

— Tudo bem... Águas passadas. Não era para ser. — Ele bebeu um pouco do suco e, depois de deixar o copo sobre a bandeja, sentou-se virado para mim, com os pés no chão e os ombros tensos pelas duas mãos pressionadas na borda da espreguiçadeira. Seu olhar fixo em meu rosto não chegou a me inibir, então, tentei saber mais um pouco sobre o término:

— Sei que foi recente, afinal, há menos de um mês eu estava na sua despedida de solteiro... Como se sente depois do fim?

— Agora me sinto leve. O pior já passou. — Ele se esticou para pegar o copo e deu mais um gole no suco, mas o sanduíche continuou intacto. Qual de nós dois conseguiria comer alguma coisa depois do tema casamento-não-concretizado ter vindo à tona? Muito difícil. — Foi até bom você ter tocado no assunto, porque eu já queria falar sobre isso de qualquer jeito. — Ele fez uma pausa dramática e meu coração quase parou. — Aquela noite da minha despedida de solteiro foi definitiva para acabar tudo de vez...

— Sua noiva descobriu da festa e ficou chateada? — Com um tum-tum-tum acelerado no peito, arrisquei, louca para saber mais. Max dissera que Nathan estava demorando a chegar porque tinha que inventar uma desculpa para sair no meio da noite.

— Não, não. Ela sabia da festa, não estava se importando muito com isso. Giorgina é muito madura para sua pouca idade, fria para algumas coisas e muito mente aberta. Aliás, antes da festa tínhamos até jantado juntos. Foi ela que me deixou lá no prédio do Max... O problema foi que naquele dia... — Ele se ajeitou, curvando o corpo para frente, apoiando os antebraços na altura dos joelhos. Seu olhar foi profundo e direto, dentro dos meus olhos. — Naquele dia, eu percebi que estava completamente atraído por você.

Como se tivesse sido atingida por um abalo sísmico do mais alto grau da Escala Richter, deixei o copo cair da minha mão, molhando a minha roupa e a manta antes de se espatifar no chão. Que Nathan sentia-se atraído por mim eu sabia, mas escutar de sua boca que ele estava "completamente atraído" desde aquela época e que por isso seu relacionamento foi por água abaixo, deixou-me deveras mexida.

Nathan se levantou, tirou a manta de meu colo e, hesitante, pressionou-a sobre a minha regata na altura dos seios e da barriga, para tirar o excesso de suco. Em seguida, com uma mão apoiada em minha cintura e outra em minhas costas, conduziu-me para a espreguiçadeira onde antes ele estava sentado.

— Depois eu limpo o resto, não se preocupe com isso — acalmou-me, ainda em pé, esperando que me ajeitasse. — Quer que eu pegue uma camiseta? Vai ficar um pouco grande, mas...

— Não, não... Está tudo bem. Foi só o susto — recusei a oferta, sentada com os pés tocando o chão, desenrolando a echarpe do pescoço e me embrulhando nela.

Nathan dobrou e ajeitou a manta embolada na outra espreguiçadeira e, com os pés, empurrou para um canto os cacos de vidro maiores. Tive a sensação de que ele tentava ganhar tempo antes de continuar. Quando não havia mais nada para arrumar, ele voltou para sentar-se do meu lado. Nathan segurou a minha mão, puxando-a para baixo, impedindo-me de continuar comendo a pelezinha do dedo, e ficou em silêncio. O silêncio que parecia preceder a morte. Mas, no caso, uma morte maravilhosa. Ele colocou a mecha do meu cabelo, caída sobre o rosto, atrás da orelha e, mais uma vez, invadiu-me com seus olhos, antes de dizer:

— Eu estava e ainda estou completamente atraído por você, Penelope. Não tinha a menor condição de me casar com uma mulher desejando outra por inteiro. Não seria justo com a ela, comigo e... com você.

— Comigo?

— Sim, com você. — Ele assentiu com a cabeça e piscou os olhos. — Por que você abandonou a dança e saiu correndo do apartamento do Max quando deu de cara comigo? — perguntou, mas como se já soubesse a resposta.

Ah, eu não entregaria que tinha fugido porque ficara chocada e chateada com o fato de que o homem pelo qual eu também estava atraída — embora naquela época eu negasse — se casaria no dia seguinte. Que eu estava, na realidade, arrasada com a descoberta. Será que ele tinha sacado tudo tão rápido? Se sim, ele de fato entendia de comportamento humano.

— Depois que vi você indo embora, ficou um vazio estranho, uma sensação ruim... — ele continuou. — E então os momentos seguintes foram terríveis. Terríveis porque eu me dei conta de que teria que acabar com tudo; com todo casamento pago e organizado. E eu me senti um monstro por causa disso; por tomar a decisão de terminar o noivado na véspera da cerimônia. Nunca imaginei que um dia faria uma desfeita dessa com alguém. Principalmente com alguém que era, e ainda é, muito importante para mim, como a Giorgina. — Era ridículo, mas senti uma pontinha de ciúme. — Fiquei muito mal. Então peguei o telefone e marquei de conversarmos na casa dela na mesma hora. Não dava para adiar. — Ele fez uma leve pressão na minha mão, acariciando a palma com o polegar. — Saí da casa do Max e fui direto para lá. Abri o jogo com ela. Achei que seria uma conversa superpesada, mas a Gio ficou aliviada.

— Aliviada?

— Apesar de nos darmos bem, de nos gostarmos, ela também estava em dúvida sobre o casamento. Giorgina só não tinha me dito nada pois sentia-se igualmente culpada ao pensar na desfeita. Não sabia se queria mesmo se casar aos dezoito anos e construir uma família, logo quando a sua marca, a Beverly Angels, estava se expandindo e ganhando o mundo. Com muita conversa, respeito e carinho, optamos juntos por suspender tudo. E assim continuamos amigos. Foi mais difícil comunicar aos familiares e amigos sobre a nossa decisão do que decidirmos pelo fim em si.

Que gente evoluída. Enquanto o meu casamento tinha terminado num tremendo barraco.

— Mas ela não ficou nem um pouco chateada por você estar interessado em outra? Nem um pouquinho?

— Um pouco, sim, mas entendeu. — Ele bebeu mais um pouco do seu suco e me ofereceu o último gole. — Naquele primeiro dia que fui com Max ao The Heat, no dia da sua estreia, o motivo pelo qual ele me carregou para lá foi porque eu estava chateado, chateado com a Gio. Fui para espairecer. Eu sentia a minha noiva um pouco distante. Já não era mais comigo como há um ano antes, quando começamos a namorar. No fundo, acho que ela desistiu de mim primeiro... Então, quando contei que estava interessado em outra, ela não chegou a criar caso. Por mais estranho que possa parecer, acho que a Gio ficou satisfeita com isso, porque tirei um peso de seus ombros. O que ela disse, por fim, com a calma que é natural dela, foi que "era melhor terminarmos antes, a começar uma vida a dois da maneira errada".

— Mas... — interrompi meu pensamento, boquiaberta com tudo que Nathan dissera.

— Está tudo resolvido. Tudo resolvido para ela, para mim e, espero, que para nós dois também. — Ele passou o indicador de leve pela minha bochecha, vindo de cima para terminar o toque quase nos meus lábios.

— Quando foi que isso começou? Quando foi que você começou a sentir atração por mim?

— Não é assim tão difícil se sentir atraído por você... — Seu polegar desenhou o contorno dos meus lábios enquanto o resto da mão apoiava o meu queixo. — Senti algo diferente desde a primeira vez que a vi no palco, antes mesmo daquele desmaio.

— Onde você estava naquele dia? Porque só me lembro de que, quando acordei, você estava cuidando de mim. Antes disso, não o tinha visto.

— Acompanhei a sua dança ao lado de Max, então entendo por que você não me viu. As garotas sempre olham para ele, um homem bonito, alto e forte; não para mim... o patinho feio. — Notei que ele se fez de coitado de propósito, então lhe dei um empurrãozinho para deixar de ser bobo.

— Ora você se chama de ogro, ora de patinho feio. Você tem que se decidir. — Virei-me um pouquinho mais na espreguiçadeira e deixei meu joelho encostar no dele. — A verdade é que, com certeza, não é nem um nem outro; você é um perfeito príncipe... Você é lindo, Nathan. Por fora e ainda mais por dentro... E acho que não preciso dizer o quanto me sinto atraída por você também... — Com o estômago revirando, arrastei a bunda no forro da espreguiçadeira, chegando ainda mais próximo dele. Doida para demonstrar o carinho guardado em mim, deslizei minha mão pela lateral de sua cabeça, acariciando seus cabelos, descendo pela sua orelha, pelo seu rosto, terminando com os dedos contornando os seus lábios.

Depois de afagar os meus cabelos da mesma maneira que eu havia feito com ele, Nathan puxou minhas pernas, colocando-as esticadas sobre as suas coxas. Nós nos encaramos por um segundo que pareceu eterno, e, no instante seguinte, não mais nossos dedos, mas nossos lábios é que exploravam o contorno um do outro, grudados, com nossas línguas brincando entre si, em um beijo com gosto de melancia e paixão, com vontade de mais e mais.

— Que delícia de beijo... — sussurrou Nathan, com a voz macia, ao terminar com vários beijinhos estalados nos meus lábios. — Que delícia... — murmurou, roçando os lábios nos meus, antes de voltar a me beijar com intensidade e terminar num abraço forte e aconchegante. Respirando fundo, com o rosto enfiado em meu pescoço em meio aos cabelos, ele disse: — Como é bom estar aqui com você depois de ter ido tantas vezes ao The Heat em vão.

— Algumas vezes não foram em vão. — Sorrindo e ainda abraçada a ele, protestei. — Por exemplo: aquela primeira vez que fiz uma dança privada no sofá, tão desconjuntada e sem jeito. — Ri. — Foi um momento estranho, mas um momento só nosso.

— Aquilo foi bem estranho mesmo. — Ele riu e roubou-me um beijinho no pescoço. — Mas foi também especial, por ter sido nossa primeira vez juntos naquela situação. — Senti o calor dos seus lábios mais uma vez, perto da orelha. — Baby, I'm hot just like an oven, I need some lovin'...* — baixinho, deixando-me arrepiada dos pés à cabeça, ele cantou os primeiros versos de Sexual healing, tentando dar a mesma entonação do Marvin Gaye. — Eu estava, de fato, como na música; sentindo-me quente como um forno, quase explodindo — confessou e se afastou um pouco para olhar o meu rosto. — Mas também estava morrendo de vergonha. Vergonha e culpa... Naquela época, apesar da atração que sentia, ainda tinha convicção de que me casaria. Por isso recusei o convite para assistir à sua apresentação e acabei indo embora logo depois, com o peso de uma tonelada sobre as costas.

— Eu também me senti culpada, sabia?

— Culpada por quê? Eu que, de certo modo, estava traindo a Giorgina. Você não tinha como saber se eu era comprometido ou não. E homem comprometido é o que mais deve aparecer nesses clubes...

— Me senti culpada depois. Eu estava na festa de inauguração da Beverly Angels. — Ele fez uma expressão de surpresa. — Vi você com a Gigi. Me senti culpada e triste. Foi ali o momento que percebi que o nosso contato, para mim, tinha ultrapassado a barreira do profissional, que era algo mais forte, sem explicação. And baby, I can't hold it much longer, It's getting stronger and stronger** — cantei a continuação da música, encarando aqueles olhos cristalinos, encobertos pelas lentes sujas dos óculos e pelas pálpebras ligeiramente caídas, que eram um charme, por sinal. — Fiquei mal quando vi que você tinha um compromisso.

— Então por isso correu e foi embora quando soube que eu me casaria, naquela despedida. — Ele voltou a esse tópico e afirmou: — Você já estava bem a fim de mim.

— Bingo! — admiti, escondendo o rosto em seu peito. — Você sempre sabe de tudo? Ninguém deve conseguir esconder nenhum sentimento de você.

— Dos que tentam esconder, eu consigo arrancar com certas técnicas. Mas, no seu caso, não foi tão difícil decifrar. Você não disfarçou nada, linda. Eu seria capaz de ler suas reações mesmo que fosse cego. — Ele levantou o meu rosto e beijou a ponta do meu nariz, depois me deu um beijo de leve nos lábios.

— O príncipe está sendo um pouquinho convencido. — Fingi dar bronca e mordi seu ombro com leveza.

— Não, a princesa é que é muito transparente. — Mordiscou meu ombro, imprimindo a mesma pressão. — E isso é bom.

— Certo, sou mesmo transparente. Mas como eu — dei-lhe outra mordidinha —, ao contrário de você, não consigo decodificar muitas coisas, preciso de ajuda para traduzir: se já tinha conversado com a Gigi e terminado o relacionamento; por que quando voltou ao The Heat no dia do Valentine's, deu fim ao nosso encontro sem mais nem menos?

Eu não ficaria satisfeita se não decifrasse essa parte do enigma.

— Não foi sem mais nem menos. — Ele afastou uma mecha de cabelo da minha testa. — Lembra o que eu disse antes de sair do quarto?

— "Eu não estou indo embora porque não quero você, estou indo porque lhe quero bem". — Nunca esquecera essa frase.

— Exatamente. Penelope, eu estava mais do que envolvido, e percebi que você também estava. Não queria que as coisas entre nós saíssem do controle, como quase saíram, por muito pouco. Não queria que você pensasse que era só aquilo, apenas um momento. Eu queria que fosse especial, que você se sentisse especial, que jamais pensasse que eu estava ali unicamente porque eu tinha pagado ou por puro prazer. Porque não era. — Ele mordiscou o lóbulo da minha orelha, fazendo-me estremecer e continuou: — Sim, eu estava louco de tesão... Era impossível não estar. Você com aquela fantasia sexy, rebolando sobre mim... Eu não conseguiria resistir, linda. Disse isso para você naquele sofá, com todas as letras, sem vergonha alguma. Mas eu precisava resistir.

— Fiquei muito mal naquele dia. Mal mesmo.

— Oh, desculpe. — Ele me deu um beijo rápido nos lábios e tocou de leve o meu rosto.

— Fiquei pensando as piores coisas, e todas elas terminavam com você não se importando a mínima comigo.

— Desculpe, linda. Era justamente o contrário. Prometo recompensá-la pelo que lhe fiz sofrer.

— Promete? — Mordi o lábio inferior, fazendo charminho, e me aproximei de seu rosto, nariz com nariz. — Então me beije de novo... — Encostei meus lábios nos dele, sentindo sua respiração quente. — Só para começar.

Então ganhei mais um beijo com sabor de melancia, mais intenso e ainda mais apaixonado, com as mãos de Nathan ora entranhadas nos meus cabelos, na nuca, ora massageando os meus ombros. Os dedos firmes percorrendo as minhas costas, dedilhando as curvas da minha cintura, puxando-me mais para perto dele, quase me devorando. Do jeito que eu gostaria de ter sido devorada antes, entregue aos seus beijos úmidos naquela noite no The Heat.

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[ Notas ]

Música citada:
"Sexual healing" (MARVIN GAYE, 1982)

*Baby, estou quente como um forno, preciso de um pouco de amor.

**E baby, não consigo esperar muito mais, está ficando cada vez mais forte e mais forte.

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Quem quiser saber de onde tirei a inspiração para a "humilde residência" do Nathan, assista ao vídeo abaixo. É de cair o queixo!

https://youtu.be/vgqnIj4l8cA

Para ver fotos da mansão e a imagem da gatinha Princess, visite meu Instagram (caasitaylorfic).

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