Cap 119. Dia do sim

Eu estava pronta. Vestida em meu branquinho, quase hippie, e com uma coroa de flores delicadas presa aos cabelos, ondulados em um penteado simples, porém bonito. Da janela de um dos quartos, no segundo andar da mansão de Little Dume Beach, parcialmente escondida atrás da cortina, apreciava o movimento dos convidados no jardim. Alguns chegando, andando para lá e para cá entre as mesas, e outros se acomodando mais adiante, nas cadeiras de madeira enfileiradas diante do altar sobre o gramado. A tenda de bambu, decorada com flores, folhagens e voal branco, ficara muito bonita e bem posicionada, quase no limite da falésia, em harmonia com o mar ao longe, na paisagem ao fundo. O horizonte, delimitado pelo céu azul do começo da tarde, tornava o cenário ainda mais incrível.

Apertei os olhos para ver Nathan perto da piscina, conversando com Daniel e alguns amigos, adorável — e gostoso — em seu traje bege, praiano-chique. A escolha do colete sobre a camisa branca e a ausência de paletó, também ideia de sua mãe, combinava perfeitamente com o meu vestido e o clima simples da festa.

Meu estômago dava voltas devido a proximidade do momento no qual faríamos nossos votos, do instante em que nos comprometeríamos diante do juiz e de Deus. E que dia lindo para a maior promessa de minha vida, de que eu seria daquele homem maravilhoso para sempre! Sorrindo, deixei a janela, agora atenta à Mirana e Nancy, que faziam pequenos ajustes no meu buquê.

— Você faça o favor de jogar essas benditas flores na minha direção. — Mirana riu, deixando simétricas as pontas do laço branco que unia as rosas claras. — Vou ficar do lado direito.

— Você não pode se beneficiar assim. Se não pegar o buquê por acaso, não vale. — Nancy se divertiu com a situação. Mirana e ela, durante a preparação do casamento, conviveram o suficiente para se tornarem bem próximas. Uma adorava a outra, e isso me deixava muito contente.

— Claro que vale. Para me casar com o Daniel eu faço qualquer coisa. — Ela beijou as flores do buquê, como se isso fosse lhe dar a tal sorte de que precisava. — Ele me ama, esse é o empurrãozinho que falta.

— Pode deixar, farei o meu melhor. Lado direito. — Pisquei para Mirana.

— Os convidados já estão sentados em suas cadeiras. — Nancy, olhando pela janela, avisou. — Ah, e meu ursinho, tão lindo logo aqui embaixo, parece ansioso. Está chegando a hora, minha norinha querida. — Ela voltou para perto de mim e de Mirana. — Você tem certeza de que prefere caminhar sozinha até o altar? Simon ficaria muito feliz de acompanhá-la.

— Já me decidi. Quando meus pais disseram que não sabiam se conseguiriam vir, me conformei de que faria minha entrada sozinha. E isso não tirará a minha felicidade. — Não seria a primeira vez sem a presença deles em minha cerimônia de casamento, e desta vez nada apagaria o meu brilho ou me impediria de caminhar até o altar ao encontro do amor. — Trabalhei minha cabeça para essa ausência, estou bem.

— Que bom, querida. — Ela segurou minhas duas mãos, firmando-as e puxando-as para baixo, como se quisesse me passar força. — Você está deslumbrante e este dia será perfeito. Há um homem muito especial lá embaixo que a ama mais do que qualquer coisa.

Lacrimejei quando ela falou do amor de Nathan por mim, tão grande que me sentia envolta por aquele sentimento a cada segundo. Havia no ar, não só naquele dia, mas em todos ao lado dele, uma névoa cintilante do mais puro desejo e dedicação. Arregalei os olhos e os abanei, para não permitir que as lágrimas caíssem e borrassem minha maquiagem.

— Nós já vamos descer e nos preparar para dar início ao cortejo. Assim que tivermos sua autorização, entrarei com Nathan, e logo depois entrarão a madrinha e o padrinho. — Nancy me deu um abraço e sorriu. — Não demore.

Mirana repetiu o gesto, fazendo-me rir ao dar uma piscadinha e um sorriso maroto ao me entregar o buquê.

— Quando estiver pronta, minha amiga linda, nós também estaremos. Amamos você.

— Ei, esperem! — Fiz com que virassem ao se dirigirem para a porta. — Mina, senhora Nancy, queria aproveitar que estamos as três aqui para agradecer de todo o meu coração por tudo que fizeram por mim, não somente nos últimos dias, mas desde o primeiro momento. Mirana, sem você eu nem sei se teria sobrevivido. Quando a vida me jogou na lama, você foi a única que esteve lá para me dar a mão... E você, senhora Nancy, me recebeu em sua família sem preconceitos, como uma verdadeira filha, e tem sido sogra, empresária e mãe. Por favor, antes de irem, me deem mais um abraço.

Envolta pelas duas, recebendo todo aquele carinho, foi impossível não molhar o rosto por inteiro. As lágrimas escorriam sem fim pelas minhas bochechas quando ouvimos batidas à porta e o rosto risonho de Gigi surgir logo depois por uma fresta.

— Desculpe atrapalhar o momento. Tem alguém aqui querendo falar com você, Isabelle — avisou.

Dei batidinhas leves logo abaixo das pálpebras, mas certa de que teria que retocar a pele, sombra e rímel antes de descer. Quando minha mãe entrou no quarto, chique em um vestido de crepe salmão e um arranjo da mesma cor no cabelo, a emoção passou para outro nível, e foi impossível não soluçar e borrar de vez o que sobrara da maquiagem.

— Filha! — Dona Ana não hesitou em correr para me abraçar, tão tocada quanto eu.

— Mãe! — Sorri, sentindo o gosto salgado das lágrimas nos lábios. — Não acredito que está aqui! Senhora Nancy, Mina, esta é minha mãe, Ana. Mãe, estas são minha sogra e minha melhor amiga.

— Prazer, Nancy, Mina. — Cumprimentou-as com apertos de mão. — Perdão por aparecer assim, tão de repente.

— O importante é que conseguiu chegar a tempo, Ana. É um prazer recebê-la. — Nancy foi simpática. — Nós já estávamos de saída. Vamos deixá-las a sós e conversaremos melhor depois, durante a festa. Fiquem à vontade.

Nancy deixou o quarto com Mirana e Gigi. Correndo o risco de amassar o vestido, sentei-me na beirada da cama, puxando minha mãe para sentar-se comigo.

— Filha, minha Isabelle, como está linda... — Ela apoiou o meu queixo, fazendo-me olhar para os seus olhos também chorosos.

— Eu pensei que... que não viesse. — Voltei a enxugar as lágrimas misturadas à base. — Você disse que...

— Disse que não tinha certeza se viria. Não podia gerar em você uma expectativa que talvez não viesse a acontecer. Você não me deixou terminar de explicar quando nos falamos da última vez. Eu e seu pai tínhamos planos de viajar para vê-la, sem que precisássemos de um motivo, mas as coisas ficaram difíceis na nossa empresa e... E foi tão em cima da hora essa história de casamento... Me perdoe, minha filha.

— Sim, mãe, eu a perdoo. Que bom ver a senhora aqui... Eu nem acredito! — Abracei-a sem me preocupar com nada. Há quanto tempo, veladamente, eu esperara por aquele aconchego.

— Isabelle — afastou-se ligeiramente para me encarar —, quero lhe pedir perdão por tudo, não somente por não ter confirmado a presença no seu casamento e ter chegado quase na hora da cerimônia. Gostaria que me perdoasse por toda pressão, descrença, e o apoio que não lhe dei todos esses anos. Não acreditei em você, não confiei nos seus planos...

— De certa forma, você tinha motivos para não acreditar. Decepcionei a senhora ao abandonar a faculdade... E, mal ou bem, pensei que ao lado de Taylor eu seria feliz e alcançaria alguma coisa maior. Porém, com ele, os meus objetivos não teriam dado certo. Jamais teriam. Tivemos aquele noivado fracassado e depois... Depois... Bem, em outro momento eu contarei à senhora o que mais aconteceu. — Como se uma chave de fenda perfurasse meu peito e rodasse, suportei o desconforto que falar do maldito ainda me causava. Inspirei e expirei vagarosamente antes de continuar: — A vida me mostrou o certo e o errado, e eu precisava vivenciar tudo pelo que sofri. Você fez sua parte como mãe, do seu jeito, na tentativa de me proteger, e eu segui o caminho que quis seguir... e aprendi. Vamos esquecer o que passou; nossas desavenças, pois se tem uma coisa que sei agora, é que não adianta remoer o que não se pode mudar, mas viver ao máximo o presente, a beleza da vida acontecendo a cada segundo. Hoje é meu dia com Nathan, um momento de alegria, de amor... — Abracei-a mais uma vez. — Amo você, minha mãe.

— Obrigada, minha filha, pela sua generosidade. Saiba que esse amor é recíproco. Estou muito feliz por você, que tenha encontrado um homem bom, como seu noivo parece ser, que tenha alcançado sua meta como modelo. Essa menina, Gigi Robins, ela me recebeu tão bem...

— Gigi é ótima, estou realizada com a nossa parceria profissional e amizade. Encontrei muitas pessoas boas por aqui... Já falou com o Nathan?

— Ainda não. Seu pai e eu corremos do aeroporto para um hotel e viemos depressa para cá, acabamos de chegar. Mas não vejo a hora de ser apresentada ao meu genro. Vi de longe o rapaz, muito bonito.

— Você ficará encantada. Meu príncipe... — Suspirei. — Onde está o papai? Quero que me leve até o altar.

— Ele já vem. Enquanto isso, vamos dar um jeito nessa maquiagem.

*****

Não adiantou refazer a base, pó, blush, sombra, rímel e batom. Meus olhos voltaram a lacrimejar a cada passo dado ao lado de meu pai, na escadaria interna da mansão. Pelas imensas janelas de vidro, enquanto descíamos os degraus em direção à sala que antecedia o jardim, era possível ver toda decoração rústica para a festa e o jantar no gramado. O nervosismo me fez tremer as pernas e alimentou o friozinho constante na barriga quando vi, mais a frente, os convidados nos aguardando na área reservada para a cerimônia. Desta vez daria certo, desta vez não teria fuga e desespero, somente uma linda tarde e noite cercada de boas vibrações, pelo amor da minha vida e pelas pessoas mais queridas do nosso convívio.

Os pais de Nathan e minha mãe já haviam entrado. No altar também estavam minha dama de honra e um amigo de Nathan, que ele convidara para ser seu padrinho e a quem, na falta de crianças para a função, meu príncipe confiara nossas alianças. Meu coração parecia querer saltar pela boca ao ver tudo pronto para o grande momento.

— Isso está mesmo acontecendo?

— E como está, filhota. — Meu pai tampouco conseguia controlar a emoção. — Meu bem mais precioso está prestes a se casar.

A felicidade transbordou quando ao som de Everything I do (I do it for you), do Bryan Adams, em versão instrumental e tocada ao vivo por músicos profissionais, pisei no caminho de pétalas de rosas que me levaria a Nathan. Meu amor, tão extasiado quanto eu, mantinha o olhar fixo em mim, e, com o maior sorriso já visto em seu rosto, recebeu-me delicadamente quando meu pai me entregou a ele.

— Linda... — sussurrou ao segurar minha mão.

— Você... — elogiei-o de volta.

Mirana deixou seu lugar para pegar e tomar conta do meu buquê, e, em seguida, Nathan e eu nos posicionamos diante do altar, com as duas mãos dadas, não cabendo em nós mesmos de tanta alegria.

As palavras proferidas pelo juiz trouxeram lágrimas abundantes a nós dois, aos nossos familiares e amigos. E foi assim, tomada pela emoção, que durante a troca dos votos eu mal consegui falar. Com a mão tremendo, segurando o papel que me fora entregue, esforcei-me para ler as palavras que escrevera alguns dias antes:

Nathan, meu amor. Na primeira noite em que nos vimos, quando me socorreu de um desmaio, não com um beijo, como fazem os príncipes em contos de fadas, mas com toda responsabilidade e cuidado de um médico, não fui grata o suficiente. Confesso que achei chata sua insistência para saber como eu estava nos dias que se seguiram ao incidente, e sua preocupação com meus hábitos ruins era um tremendo pé no saco. Demorei a entender que havia no zelo bem mais do que um mero interesse profissional. Sim, demorei. Até que as coisas começaram a mudar. E como mudaram! O médico, ruivinho e esquisito, de um momento para o outro, criou raízes dentro de mim, do meu coração e da minha vida. Agora sim como um verdadeiro príncipe, que me fazia sentir especial dia após dia, como uma princesa no seu reino de bondade, cumplicidade, amizade e amor. Tivemos nossos altos e baixos, e sou grata por nossa maturidade — a sua especialmente —, para passarmos por cima dos erros e nos unirmos novamente. Nós nos fortalecemos. Não me resta dúvidas de que fomos feitos um para o outro e que é com você que quero, e vou, viver o resto dos meus dias. Perdi as contas de quantos "sim" dei a você durante a nossa caminhada, mas saiba que direi outros mais, todos os dias quando acordar do seu lado pela manhã e confessar, olhando nos seus olhos lindos, que o amo. Amo. Mais do que tudo. Você mudou minha vida, da água para o vinho, e me curou de mil maneiras. Sou o que sou, hoje, graças a você, ao seu amor e devoção a mim. Prometo, na frente de todos e de Deus, que serei também todo esse amor e devoção, personificado e embalado para presente, fiel a você. Hoje, amanhã e sempre, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, sim, eu o recebo como meu esposo.

Em prantos e todo vermelho, Nathan precisou de um tempinho para recompor-se. Entre lágrimas e sorrisos, ele se desculpou por não conseguir controlar e emoção. Depois de enxugar o rosto com um lenço, pegou o papel para ler os seus votos.

Isabelle, linda, minha princesa. Eu me lembro de que quando a vi pela primeira vez, sua estonteante beleza me hipnotizou de tal forma, que eu mal conseguia piscar. Seu exterior fez com que você não saísse de minha cabeça, e desejar estar por perto, para olhar nos seus olhos, tornou-se uma necessidade. Tive a sorte de você querer o mesmo, tive a alegria de você ter aceitado meu convite para sair. Quando me deu a chance e a conheci por dentro, o que vi foi ainda melhor do que havia apreciado por fora. Fui arrebatado pelo seu jeitinho simples, pela sua autenticidade e doçura. Tão carinhosa e única; você foi um presente do céu, um muito especial. Precisava de você por perto, precisava de você para sempre. Não houve um dia que não tivesse certeza disso. Criamos uma conexão muito forte, que se intensificou com o tempo, e quando nos demos conta, havia um elo. Em alguns momentos, ele pareceu frágil, mas, na verdade, era inquebrável. Obrigado por ter suportado as minhas fraquezas, instabilidades, e por ter entendido as minhas manias. Não sou perfeito, mas sou e continuarei sendo o melhor que puder para você e para nós dois. Obrigado por todo o carinho e amor que me deu e, ufa, ainda me dá. Sou mesmo um homem de muita sorte! Você faz dos meus dias ordinários verdadeiras festas, você os torna musicais, completos, felizes. Estou profundamente comprometido, de corpo e alma, com o que somos como casal, e recebo você por minha esposa. Prometo ser fiel, prometo amá-la, com sinceridade e respeito, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias de nossa vida.

O padrinho de honra entregou a Nathan as alianças, e, após a troca do elo físico, nós nos entregamos a um beijo doce, do qual, se pudéssemos, não nos soltaríamos. Como marido e mulher, assinamos o documento oficial junto às testemunhas, choramos tanto mais e agradecemos.

Enfim, casados.

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[ Notas ]

Música citada:
"(Everything I do) I do it for you" (BRYAN ADAMS, 1991)

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