Cap 118. Início da jornada
Cem mil dólares!
Meus tímpanos zumbiram ao ouvir a quantia oferecida por Gigi, e os olhos lacrimejaram quando contei os zeros no papel diante de mim. A estilista me provara a sua generosidade ao me dar a oportunidade de trabalhar para ela, mas aquele tanto de dinheiro superou minhas expectativas.
— Não é muito, mas vamos rever esse contrato no futuro e aumentar o seu cachê. — Olhando-me com descrença, sentada detrás de sua mesa, Gigi me pareceu em dúvida se eu aceitaria o valor proposto.
Não era muito? Em que mundo aquela grana não significava coisa para cacete. Eu era ninguém, tinha nada de experiência, e ela me oferecera 100 mil dólares! A quantia era muito mais do que eu havia ganhado durante todo o tempo em que trabalhei no Landon, no The Heat e no Cuisine et Jardin somados. Dividindo os 100 mil dólares por seis meses, tempo pelo qual aquele contrato valeria, daria mais de 16 mil dólares por mês. Eu nunca trabalhara no meio da moda, mas tinha noção de que essa soma era bem acima do que modelos iniciantes ganhavam durante um ano inteiro ralando.
— O que me diz? Está bom para você? — Gigi parecia aflita diante de meu silêncio.
— Se está bom? Nossa! Isso está maravilhoso!
A Beverly Angels era a melhor vitrine para qualquer modelo. De onde muitas saíam do anonimato para conquistar seus reinados, o topo, os cachês de milhões de dólares. Se uma garota desejasse estar entre as melhores do país — e do mundo, precisaria passar pela BV, e eu fora colocada ali de uma hora para outra, praticamente no camarote. Era bom demais para ser verdade.
O contrato me ligava diretamente à linha de maquiagem e a todos os eventos relacionados à Angelical Touch. Seis meses em que a qualquer momento poderiam me solicitar para algum trabalho, fosse onde fosse. Fotos, desfiles, comerciais, eventos e festas. Podia até parecer demais, um tanto abusivo, mas eu não via a hora de começar.
— Onde eu assino? — perguntei a ela, não me contendo de excitação.
Gigi virou algumas folhas do contrato e apontou o espaço no final da última página.
— Você deve ter reparado que nesses primeiros seis meses, o contrato exige exclusividade com a Beverly Angels. Isso porque é muito importante para a marca que o seu rosto fique ligado somente à Angelical Touch. No futuro, porém, mudaremos essa cláusula, de forma que você possa trabalhar para outros contratantes e aumentar o seu lucro.
— A exclusividade não é problema. Eu nem estaria nisso se não fosse por você... Sou muito grata, e será uma honra representar a Beverly Angels.
— Isabelle, prefiro pensar que, se não fosse por mim, você alcançaria o mesmo fim por outros meios. Não precisa me agradecer pelo que conquistou com o seu potencial. O que eu fiz foi pescar o melhor peixe, aquele que, se eu não fosse rápida, alguém pescaria antes de mim. — Gigi piscou um dos olhos, sorrindo para mim, e Nancy, com um movimento de cabeça, concordou com ela. — Jamais me perdoaria se não fosse eu a revelar a próxima top model.
— Não exagere. — Meu rosto queimou com o lisonjeio.
— Ainda há um longo caminho, minha querida, mas estando no time da BV, nem o céu é o limite — falou Nancy, que agora não era apenas minha sogra e amiga, mas minha agente.
— E para alcançar além do céu, embora pareça contraditório, é importante manter os pés no chão — alertou-me Gigi.
— Estou com os dois bem colados no chão. Nem sempre foi desse jeito, já tive a minha fase sonhadora, de viver no mundo da lua, mas, de uns tempos pra cá, vi-me obrigada a descer. Sei o que é despencar do Everest e agora cautela é meu sobrenome.
— Outra coisa: estabilidade emocional. — De sua cadeira, do outro lado da mesa, ela se esticou para frente, olhando dentro dos meus olhos. — O ritmo acelerado da vida de modelo está ligado a estresse constante e... não é fácil. Já vi muitas surtarem e desistirem. Você precisa me dar certeza de que conseguirá ir até o fim. Esse projeto é extremamente importante para mim e, uma vez começado, não poderá ser abandonado no meio do caminho.
Estabilidade emocional. Se havia ausência de algo em mim, era isso. Uma luta diária para me manter sã, inteira. Se Gigi citara esse aspecto, provavelmente ficara sabendo das minhas grandes crises do passado recente, e eu nem podia culpar Nathan por, talvez, ter aberto o jogo com ela. Por mais que me sentisse bem melhor, sabia que ainda haveria um grande caminho pela frente em busca de algo próximo à cura. Ou controle. Porém, confiante no processo terapêutico e no meu esforço, confirmei a ela que nada atrapalharia o meu desempenho como modelo de sua marca. Não chegara tão longe para fraquejar.
— Somos humanos, estamos sujeitos a altos e baixos, mas precisarei que guarde seus problemas, caso os tenha, para você.
Parecia cruel o discurso da estilista, mas entendia sua posição. Teria muita responsabilidade envolvida assim que eu assinasse aquele contrato. Não perdi tempo refletindo nem por mais um segundo. Apesar das mãos molhadas e do peito apertado, peguei a caneta e assinei no campo indicado.
— Feito.
— Então agora a jornada começou. — Gigi sorriu e, depois de conferir a assinatura, esticou as mãos para me cumprimentar. — Seja muito bem vinda ao meu time.
— A jornada definitivamente começou, e a próxima parada será na Westland Hills. — Nancy, sentada na cadeira ao meu lado, apertou o meu ombro. — Parabéns minha querida, e agora vamos ao vestido de noiva.
— Adoraria acompanhar vocês, mas ainda tenho coisas a resolver por aqui. — Gigi se esquivou do convite que Nancy fizera a ela mais cedo, pedindo para a que estilista nos acompanhasse na escolha do vestido. — Vocês serão muito bem recebidas na loja e tenho certeza de que sairão de lá com um modelo maravilhoso. Boa sorte, minha nova parceira. Nós nos veremos em breve.
*****
Nancy tinha uma capacidade incrível de me persuadir, sem que chegasse a ser chata. No final das contas, eu achava graça. Acabei saindo da Westland Hills com o vestido que ela escolhera, pois seus argumentos convincentes nem precisaram ser repetidos para que eu aceitasse o estilo boho-chic, de manga longa e corpete rendado, com apliques florais.
— É um dia único em sua vida, Edward virá as lágrimas, assim como eu vim quando a vi nesse vestido. Você parece um anjo. Além do mais, ele lhe serviu perfeitamente, nem precisará de ajustes. Você não gostou?
Todos os modelos que vestira caíram como uma luva, e como eu havia gostado bastante daquele, fiz exatamente o que ela sugeriu. De fato o caimento do vestido, de ombros nus, e o tecido liso e fluido da saia, davam-me o ar leve que pretendia encontrar desde o início. Sem contar que o fato de não ter um véu e uma cauda, daria mais liberdade para dançar durante a festa.
Seu poder de convencimento não parou por aí. Naquela mesma semana, Nancy conseguiu me fazer aceitar voltar a morar na mansão dos Smiths. Então no sábado, antes da festa de lançamento do perfume Saturday Night, eu já estava parcialmente instalada no quarto de Nathan em Beverly Hills. Até o dia do casamento, que aconteceria dois sábados depois, eu traria o resto de minhas coisas e cessaria o contrato do apartamento em Westwood. Pelo visto, dividiríamos o mesmo teto com Nancy e Simon mesmo depois de casados. E quanto tempo levaria para termos a nossa própria casa ou apartamento? Não fazíamos ideia.
— Sua mãe sempre consegue o que quer? — perguntei à Nathan, mas sem carregar na crítica, enquanto colocava os brincos, quase pronta para deixar o quarto.
— Você já viu que sim, e logo ela começará a nos pedir netos. — Ele soltou um risinho e me abraçou por trás, roçando os lábios em meu pescoço desnudo. — É isso o que as mães fazem quando seus filhos se casam.
— Taí uma coisa que ela não vai conseguir, não agora. — Virei-me e dei-lhe um beijinho nos lábios, quase que pedindo desculpas pela negativa. — Agora, com a carreira de modelo logo ali, não existe a menor possibilidade de estragar tudo com uma gravidez. Gigi foi bem clara, está no contrato, eu não posso deixar nada interferir nos planos dela para a BV.
— Eu sei disso e estou de acordo. — Ele deslizou suas mãos pelos meus braços, acariciando-me. — Concordaria com a sua decisão mesmo que não estivesse nas entrelinhas do contrato. Você precisa se realizar profissionalmente, se estabelecer, e eu também, antes de pensarmos em formar a nossa família. — Nathan me apertou junto ao seu corpo. — Não significa que nós nos amamos menos porque não teremos um filho neste momento. Tudo tem sua hora, e quando a hora chegar, nós saberemos.
— Que bom que pensa como eu; assim será mais fácil controlar a pressão externa. — Respirei aliviada. — Bem, talvez sua mãe não interfira nisso. À frente de minha carreira, ela sabe de todos os prós e os contras, do que eu devo ou não fazer, das prioridades.
— E filho não é uma delas. — Nathan sorriu maliciosamente, tirando do bolso uma embalagem de camisinha e mostrando-a para mim. — Estou preparado, para caso a gente queira usar o lavabo da Gigi...
Apertei seu volume na calça social, animando o meu brinquedo, certa de que ele estava guardadinho em uma cueca de algodão.
— Você sabe que usaremos aquele lavabo, talvez mais de uma vez. — Abri a clutch e mostrei a ele que também pensara no preservativo, ao pegar uma fileira com três. — Vamos logo, antes que a gente comece a diversão agora mesmo. Seus pais estão nos esperando.
.......
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