Capítulo I - Antes
Antes – 2021
Entro no avião com o coração apertado de tudo que aconteceu. Lembro de Atreus sentado na minha frente enquanto assinamos o pedido de divorcio. Seu olhar vago e triste me olhando por cima do papel, querendo dizer algo. Queria falar tantas coisas para ele, mas simplesmente não podia. Perdi tudo que tanto lutei para conquistar, em pouco tempo. Por mais que tenha perdido tudo consegui encontrar o que sempre estava procurando. Minha família. Precisei perdê-la para encontrar.
Minha mãe senta do meu lado e segura firme no encosto da poltrona, enquanto o avião decola. Sinto uma pressão na cabeça e meu estômago começa a embrulhar. Nunca senti nada parecido antes e talvez o nervosismo seja a causa desse mal estar. Levanto e encosto minha cabeça, para aliviar, respirando fundo e tentando me concentrar em qualquer coisa que não vomitar.
Assim que o avião estabiliza e o piloto autoriza liberar o cinto de segurança, corro para o banheiro. Só tenho tempo de levantar o vaso e tirar meu cabelo da frente e vômito. Fecho a porta com o pé e me ajoelho no chão fraca.
Mas que droga é essa?
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Desembarcamos em Riad, capital da Arabia saudita, meu local de nascimento. A cidade é exatamente tudo aquilo que imagina. Extremamente linda e luxuosa, mas um lugar onde não pretendo ficar muito tempo.
Descemos e ainda não me sinto bem.
Deixamos nossas coisas no apartamento e vamos direto para o hospital. O clima quente e abafado da cidade. Tirando os prédios estranhos e a poluição, posso até comparar com São Paulo. Riad é a junção perfeita de São Paulo com Nova York.
Chego no hospital sentindo um embrulho no estômago e um pouco de tontura e vontade de vomitar. A médica me faz várias perguntas, examinando meu corpo e por último ela pergunta.
– Teve relação sexual a pouco tempo?
– Não. – Respondo automaticamente e depois lembro da noite que bebi e eu e Atreus acabamos... – Na verdade sim, não sei.
Minha mãe e a médica me olham estranho. Nesse País não é comum mulheres terem relação sexual fora do casamento, por isso o julgamento dela. Sabia disso quando quis conhecer meu País de origem.
– Vou pedir um exame de sangue, mas tenho cem por cento de certeza que a senhora está grávida.
– GRÁVIDA!? – Grito e sei que todos do corredor me escutaram.
Levanto da cama e ando ao redor com minha mãe cobrindo o sorriso com a mão de alegria e surpresa.
Não posso estar gravida. Isso é impossível, claro que não é, mas é sim. Meu Deus!
Meu coração começou a acelerar rapidamente e minha pressão cai. Começo a suar e minha visão fica embaçada. Sento na cadeira e minha mãe segura minha mão.
– Olha senhora Saad, vamos fazer o primeiro exame. Tá bem?
Balança a cabeça concordando em automático.
Estou sem chão e imagens começam a surgir na minha frente. Da borboleta pousando no meu ombro, do susto e da queda. Escuto o som do meu corpo batendo em cada degrau, ate minha barriga ser perfurada na ponta do degrau. Vejo o sangue escorrendo e a vida do meu primeiro bebe indo junto.
Coloco a mão na boca e começo a chorar. Mas diferente da primeira vez, tenho minha mãe comigo.
– Calma filha, vai ficar tudo bem. – Ela se aproxima e praticamente me coloca no colo. Acaricia meu cabelo e beija o topo da minha cabeça e isso me conforta.
Atreus.
Ele aparece na minha mente, mesmo nunca tendo ido embora. Ele é uma parte minha que estava disposta a esquecer. Atreus foi o amor da minha vida e sempre será, mas não fomos feitos para ficar juntos, como já ficou bem claro. Ele não pode saber de nada disso.
– Mãe, ele não pode saber. – Digo chorando para ela.
– Filha, calma! Precisamos de uma confirmação antes de qualquer coisa.
– Mãe, eu sei que estou grávida. Claro que estou. Quem mais teria tanta sorte? – Respiro fundo e volto a pedir para ela. – Me diz que não vai contar para ninguém, por favor. Atreus e meu pai não podem saber.
Se Atreus souber vai surtar e me obrigar a voltar. E não quero vê-lo outra vez. Deixá-lo foi a pior coisa que tive que fazer. Deixar a empresa foi fácil, mas pensar em nunca mais falar com Atreus... ainda me causa dor, pensar nele.
Já meu pai, o problema é cem vezes pior. Como ele gostava de dizer, foi feita para isso. Gerar filhos para levar o legado da família. Nunca vou permitir que ele chegue perto de mim novamente e se eu estiver realmente grávida, ele nunca vai conhecer essa criança.
– Ninguém pode saber.
– Tudo bem, ninguém vai saber de nada.
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Quando Zyan completou cinco meses nos mudamos para Istambul na Turquia.
Compramos uma casinha simples na cidade e começamos do zero.
Fui usada de tantas formas para engravidar e gerar uma criança que nunca havia parado para pensar que ter um bebê me tornaria mãe.
Cortei meu cabelo na altura dos ombros e deixei de usar meus vestidos curtos. Aquela empresária não existe mais. Tenho uma vida para viver e outra para cuidar. Quando me olho no espelho agora, enxergo quem sou de verdade e não quem tentava ser.
Ele é o bebê mais lindo e doce que já vi. Parece que foi desenhada e escrita pelo melhor escritor do mundo, feito pelos pensamentos da pessoa mais pura do mundo. E foi isso mesmo. Atreus está em cada detalhe dele, principalmente nos olhos castanhos claro, quase dourados, iluminado pelo sol.
Não sei o motivo, mas o saldo da minha conta nunca zerou. Meu pai ainda continua depositando o salário que costumava ganhar. Isso é sinal que a empresa continua firme e forte. Pensei diversas vezes em não aceitar, mas só a aposentadoria da minha mãe não era o suficiente para nos sustentar. E quando Zyan completou um ano de vida, comecei a trabalhar como leitora crítica em uma editora na cidade.
No dia cinco de setembro todos estavam comentando sobre um lançamento que iria ser lançado pela nossa editora. Uma obra que estava se tornando um fenômeno nas redes sociais, chamado "O Acordo Entre Nós". Meu coração parou quando li o nome do autor. Atreus Bernardi. Ele tinha conseguido. O caipira tinha conseguido.
Pedi ao meu chefe para ficar responsável por essa obra e ele autorizou.
Voltei para casa sorrindo, abraçado com o manuscrito impresso.
Zyan dormia nos meus braços, com a mão na minha cicatriz, abraçando minha barriga no sofá da varanda do andar de cima, enquanto lia nossa história sendo escrita por Atreus. Não percebi o quanto estava chorando até Zyan acordar e me olhar. Ele se aproxima mais, me confortando sem entender o motivo.
– Tá tudo bem meu bebê. – Ele continua me olhando com aqueles olhos lindos. – Não consegue dormir? Vou ler uma história para você.
A Partir daquele dia ele Zyan só dormia depois de escutar sua história favorita. A história que ninguém podia saber a verdade. O acordo que gerou ele e nós separou.
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Tudo mudou quando comecei a postar fotos quando Zyan tinha quatro anos. Achei que mais ninguém iria está buscando saber da minha vida. Já haviam se passado anos.
Como fui tola.
A primeira ameaça chegou em uma carta deixada na minha caixa de correios.
"Ele me pertence, amor"
Joguei no lixo a primeira. Até começar a aparecer as próximas.
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