Capitulo 01
Larissa passou pelas prateleiras empoeiradas da biblioteca, observando de perto e com certa descrição um casal juvenil que conversava a respeito das próximas leituras que fariam. Para a menina, haver jovens naquele tempo com o mesmo gosto pela leitura, sendo ainda um casal, era incomum e motivo o bastante para contar ao mais tardar a sua amiga. Mas naquele momento seu principal objetivo se tratava de encontrar o conjunto de mesa e cadeira com a qual se acostumara a passar o tempo lendo. O livro em suas mãos se tratava de “Laços Vermelhos”, um romance bem estruturado com bases fictícias, onde o casal principal roubara suspiros da mesma.
Na maior parte do tempo, a garota estava ocupada ajudando sua mãe na limpeza de casa ou trabalhando com sua tia, em um salão de beleza, longe o bastante de seu lar para ter de aguentar uma viagem de 2 horas dentro do famosos transporte público, em outras palavras, no ônibus.
Então os raros finais de semana com o qual não ficava atarefada, serviam como uma relaxante massagem mental, dando continuidade em suas leituras atrasadas. Ter uma amiga tagarelaga, da qual vivia recebendo indicações ou pequenos mimos de novas estórias não a ajudava. Entretanto, era preciso. Seus pais não tinham vindo de uma classe social alta, apesar de desejar profundamente que assim o fosse, então toda ajuda era necessário. Ficar sentada sem poder ajudar era algo angustiante para a garota, trabalhar, mesmo que o tempo encurtasse muito, era bom.
Ela sorriu quando avistou a cadeira vazia, sentindo-se grata por ninguém te-la pego antes que chegasse. Seria constrangedor ficar ao lado de uma pessoa desconhecida, tão de perto. Principalmente ao saber que as letras do livro eram grandes e algumas cenas...quentes.
Assim que sentou-se, abriu o livro de capa dura e voltou a sua leitura. Percebeu assim que colocou seus olhos sobre as páginas, que estava no último capítulo. No anterior, infelizmente, o antagonista havia sido morto de um modo injustiçado, pois obviamente Ekrom Kratsaros não podia ser considerado um vilão qualquer. Quando leu o seu final trágico, teve de fechar o livro e respirar fundo para continuar.
Não acredito que te deram um fim tão ridículo! Ninguém era capaz de mata-lo e por causa de um CIO ele morre?! Que final tosco! Só protagonismo faz isso! Foram esses os pensamentos da garota, ainda indignada enquanto tentava continuar sua leitura.
Entretanto, ninguém esperava o que aconteceria em:
1.
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.
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.
.
2
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.
.
.
.
3......
— O que é isso....— Antes que pudesse dizer qualquer outra palavra, uma luz oriunda do centro do livro que estava aberto em suas mãos, surgiu, forte como a luz do sol em seu auge. Circulando o corpo mortal e frágil da garota, como uma onda de luz dourada, com uma forte correnteza da qual a mesma não escaparia. Puxando-a com uma pressão semelhante ao motor de carro, Larissa apenas conseguiu soltar um último grito, fechando-se o livro sobre a mesa de madeira. Em seu lugar uma bela menina de cabelos castanhos e ondulados ficara, observando a biblioteca com claro choque.
Já Larissa se encontrava dentro de um redemoinho de ouro, que lhe girava como a um liquidificador. Começando a sentir-se enjoada, a garota realmente pensou que vomitaria ali mesmo.
Estou com uma crise de labirintite enquanto durmo? Se passou ainda em sua mente que pudesse estar em casa, dormindo, com uma crise forte de tontura. Só aquela era uma explicação plausível para tantas voltas.
Quando já não aguentava mais, sentiu uma pressão em suas pernas, ouvindo o “baque” alto, assim que seu corpo acertará uma cadeira de pedra.
De frente para a garota enfeitavam a paisagem um jardim botânico, tão bem cuidado quanto o palácio da rainha Elizabeth. Não que pudera ter o privilégio de visita-lo, mas era a única coisa que puderam comparar mediante aquela beleza sem igual.
Larissa era encantada com a natureza e suas belezas, por isso tentara dar continuidade à faculdade de biologia, mas não pudera. Naquele momento, o sonho se tornara muito belo. Era isso que presumia, enquanto observava a mesa de pedra, com seu livro aberto e jogado.
Mas...eu estava na biblioteca...faz pouco tempo. Tenho certeza que não estava dormindo...será que cai no sono enquanto lia? A mente da garota buscava alguma explicação plausível para o acontecimento bizarro e inacreditável.
Em um momento se encontrava rodeada por prateleiras de livros e sentada em uma cadeira de madeira e então, repentinamente, se deparava cercada por flores dos mais diferentes tons em dourado e vermelho, que já vira. Um lugar preenchido por folhas verdes vivas e árvores baixas, enquanto seu corpo estava sentado sobre um banco de pedra.
As sensações que sentira não podiam ser parte de seus sonhos, a menina sabia que não possuía criatividade o bastante para construir aquele cenário. E em uma tentativa de se acordar, olhando para os braços, beliscou a propria pele com as unhas que lhe custavam muito para cuidar, sentindo a dor fina do pequeno ataque. Sua pele branca como as pétalas de uma margarida foi riscada por uma linha vermelha, resultado da pequena agressão a si mesma.
Impossível...Em uma tentava desesperada, Larissa começou a massagear as têmporas e pálpebras, desejando repetidamente acordar daquele sonho descontrolado. Mas ao abrir os olhos devagar, após tanta força sobre eles, sentiu o chão sobre seus pés desabar (desse vez não foi algo literal). Ainda estou aqui...ainda estou aqui...não é um sonho! Aí meu Deus, não é um sonho! O desespero de pouco em pouco foi tomando conta de sua consciência e de modo rápido, sentindo seu coração aumentar as palpitações, entrando em pânico.
Sem saber como havia parado ali e nem aonde se encontrava, sua primeira reação foi correr para longe da mesa de pedra, onde se estava o livro de capa dura. Suas vestimentas constituíam-se em uma calça jeans de cor azul clara, justa sobre suas coxas fortes e uma blusa branca mais folgada, com uma pequena bolsa lateral de mesma cor, onde se estavam o celular, documentos e chaves da mulher. Mesmo assim, não se lembrará momentaneamente deles e apenas correra.
Suas pernas se atrapalharam com toda a agitação, se enroscando uma sobre a outra depois de alguns passos em falso, levando Larissa ao gramado do jardim. Suas mãos instintivamente foram para o chão, em uma tentava de evitar contusões em seu rosto. Assim que a ardência em suas palmas começou, dando-lhe a entender que havia se machucado, o gatilho foi acionado e as lágrimas começaram a descer por suas bochechas cheinhas, rosadas pela maquiagem. O choro foi aumentado, de acordo com o medo e a preocupação que cresciam em seu coração, impedindo que a menina raciocinasse com clareza e procurasse ajuda.
Com ela era daquele modo, sua reação mediante a uma situação descontrolada lhe causava preocupação e o choro era uma forma de descontar a frustração de não saber o que acontecia. Suas mãos procuraram a bolsa pelo seu corpo, ainda com a visão embaçada, abrindo-a para tentar achar seus pertences. Estariam todos ali ainda? Havia sido um sequestro relâmpago? Eram tantas as suposições erradas que logo os soluços acompanharam suas lágrimas.
Eu fui sequestrada! O que vão fazer comigo?! Meu pai disse para tomar cuidado! Eu podia ter deixado para ir na biblioteca amanhã! Sabia que algo ruim ia acontecer! Idiota! Como fui burra!
E sem dar um descanso para si mesma, Larissa se sentou próxima a uma árvore, juntando os joelhos para mais perto do peito, colocando as mãos por detrás deles e abaixando a cabeça. Seus ombros e costas balançavam de acordo com a força com que seus soluços saiam. Entre o som do vento passeando pelas flores e plantas, estava a menina.
Após longos minutos em lágrimas, a garota respirou fundo, sentindo seus olhos cansados e o rastro da água salgada seca em suas bochechas. Suas mãos ainda doíam por apertar tanto os joelhos. E quando pensava que estava perdida, um som familiar soprou em seus ouvidos, vindo ao longe e aproximando-se.
Semelhante a uma flecha veloz, um passarinho menor do que a palma de sua mão cantou para ela, rodeando-a enquanto se equilibrava em seu ombro. Como se pudesse entender o sofrimento da estrangeira, sua pequena cabecinha com um tapete longo esfregou a bochecha da mulher. Em uma carícia suave e quase imperceptível, porém de grande valor para Larissa, o passarinho não foi ignorado. Sua atitude ajudou a menina a parar de soluçar, acariciando sua cabecinha com a ponta dos dedos. Fungando após muito se entristecer, a menina finalmente decidiu se levantar e procurar por alguma ajuda.
Tomando forças com o canto do pequeno e novo amigo, a mulher se levantou e começou a caminhar pelo enorme jardim. Pelo menos não estava trancafiada em uma prisão ou casa abandonada. A beleza surreal do lugar lhe trazia uma pequena esperança.
Talvez meu sequestrador não seja tão mal. Foi o único pensamento que tivera para forçar seu coração a acalmar suas batidas.
Correndo por entre as plantas vividas, passando os dedos pelas demais flores diferenciadas, o passarinho seguia a garota, voando mais rápido a sua frente. Sua voz aumentará e os sons em comum que produzia aumentaram de vezes, como se para indicar algo. A garota que não era nada bolinha, logo percebeu que o animalzinho desejava ser seguido e sem pestanejar, ela foi.
Eu já estou aqui, de algum jeito, seguir um passarinho não será nada demais. E talvez me leve para a saída desse lugar. Era o seu pensamento, enquanto prosseguia em correr atrás do pequeno animal.
Quando avistou a ponta acizentada de algo alto, diminuiu seus passos, agachando-se por detrás de alguns arbustos com flores douradas. Achava que se tratavam de seus mal-feitores. Entretanto, após alguns minutos sem ver nenhuma movimentação ou diferença, se aproximou cautelosa. A ponta se tratava de uma estátua de pedra parecida com cimento. Nunca tinha visto aquele tipo de barro ou cerâmica. A imagem era de uma mulher com longos cabelos trançados, cheios de flores pintadas de dourado e avermelhado. As roupas que a vestiam eram reais, de um tecido que aparentava ser fino e macio, com tons amarelados e diferenciados. O vestido tinha de custar caro, nada que a garota já vira antes. Mas também nunca tinha andado por muitos lugares para ter a certeza. Também haviam diversos detalhes minimalistas, como os riscos finos dos cílios e até mesmo as pintas dos lábios.
Juntando a beleza incomparável do jardim e os detalhes da estátua, Larissa chegou a uma conclusão, talvez precipitada:
Isso é o trabalho de alguma máfia. A Yakuza poderia estar envolvida? O que iriam querer comigo? Existem mulheres muito mais bonitas para serem vendidas no mercado de escravos.
Continuando sua pequena investigação, os dedos brancos da menina passearam por toda a pedra, até os anéis também pintados em ouro da estátua. Seu olhar era calmo e se direcionava para o céu, como se enxergasse algo entre as nuvens que mais ninguém via. Um braço estava erguido, tentando alcançar aquela imagem e o outro parado sobre seu quadril, com os dedos para fora. Era uma pose muito delicada para que qualquer um a fizesse, ao mesmo tempo, sua altura e expressão facial não se encaixavam em alguém bobinha. Se fosse para chutar a resposta, Larissa diria que se tratava de uma princesa.
Nunca vi um cabelo tão cumprido. Não assim. Pensou a menina, olhando para as mechas muito bem esculpidas. Longos e ondulados fios grossos, que ultrapassavam o quadril da mulher. Eu também não aguentariam deixar um cabelo tão lindo sem enfeites. A menina observou as flores que adornavam o cabelo da estátua novamente. Perguntou-se se seria aquela mulher alguma imagem importante ou simplesmente uma mãe que tinha filhos que amavam enfeita-la.vira
Só então, ao procurar pelo passarinho, Larissa notara a ausência do mesmo, sem canto ou qualquer pista. O animal não se encontrava nem mesmo sobre os galhos das baixas árvores, apesar de que não se deveria confiar muito na visão de longe que a menina possuía. Miopia, era o nome. Um grau baixo, mas que ainda a incomodava.
— Pequeno? Onde você está? — Sua pergunta começou com um sussurro, não querendo chamar atenção desnecessária. Iria pedir ajuda para a pessoa certa, alguém do qual seu coração diria ser de confiança e seu cérebro concordaria. — Ei! Passarinho! Vem aqui. Passarinhooo!! — A menina deu alguns passos ao redor da estátua, procurando entre as flores alguma pista de onde se encontrava o novo amigo.
Não fez som algum.
O vento cessou.
As flores também pareciam se esconder.
As nuvens brancas que desenhavam o teto de vidro, escureceram.
Foi com aquela visão que a menina se deparou, antes de sentir o toque sobre sua blusa longa. Um toque que no começo parecia suave, investigando o desconhecido, uma área estranha. E de maneira progressiva se tornava mais consciente, determinado. Eram dedos longos, masculinos pela firmeza com que sua cintura era agarrada. O cheiro amadeirado com leves toques de hortelã invadiu as narinas da garota, rodeando-a como gotas de chuva. Forte. Intimidante.
— Minha Shayka. — A voz como um estrondo de milhares de relâmpagos causou tremores em Larissa. Se as mãos do homem não estivessem lhe dando apoio, voltaria a cair de joelhos no chão. — Por onde andou?
A menina não tivera tempo de responder ou de recuperar o fôlego após o susto da presença misteriosa, pois seus dedos ansiosos que circulavam sua pele por cima do pano, procuraram mais contato. Foi repentina sua ação, em um momento suas mãos estavam ali, quietas e no outro passeavam por debaixo de sua blusa, pele a pele. Corpo a corpo.
Pervertido. Foi a única coisa que Larissa pensou a respeito do desconhecido.
— Q...quem é...você? — Demorou um pouco para que pudesse juntar forças e coragem em sua garganta, forçando sua voz a sair, mesmo que gaguejando.
A mulher nem mesmo percebera qualquer aproximação ou sombra sobre a grama, apesar do clima que antes exalava luz no jardim e naquele momento mais se assemelhava a quando o céu anunciava uma tempestade. Uma pessoa poderia causar toda aquela tensão no ar? Mudar o cenário apenas com sua presença? Os sons de seus sapatos não existiam? Nem mesmo galhos quebrados ou folhas sendo pisoteadas, nada surgiu, nada lhe deu qualquer pista de que alguém se aproximava. O estranho andava sorrateiramente como uma serpente.
— Sou seu. E você é minha. — Não era a resposta que esperava, queria um nome e sobrenome, mas a garota recebera uma afirmação determinada. Aquele era seu sequestrador. Com certeza.
— Calma aí...o que?! — E com a adrenalina correndo solta por suas veias, a quieta e medrosa garota deu lugar a uma energética e tagarela sobrevivente. Seu tom era mais sério, com pitadas de deboche, enquanto suas unhas bem feitas tentavam encontrar os dedos do desconhecido, por debaixo de sua blusa, para empurra-los. — Você está entendo errado! Eu não pertenço a ninguém.
— Que gatinha trabalhosa. — A resposta a sua reação fugitiva não agradou Larissa, pois mais parecia que o outro lhe considerava fraca, como a um gato esperneando.
— Não sou um animal de estimação! Você vai ver! Meu pai...— Seus pensamentos voltaram-se para o homem de óculos, alto e que na maioria das vezes lhe salvava de momentos ruins, seu progenitor, seu querido pai. —...ele não vai parar de me procurar! Pode ter certeza! Vocês raptaram a pessoa errada!
— Não raptei ninguém. Você invadiu o meu jardim, gatinha rebelde. Minha Shayka foi atraída até mim. Está onde pertence. — Seu aperto apenas aumentou, fazendo com que a garota desistisse de tentar qualquer outro movimento, temendo sair machucada.
Ele parece ser capaz de me quebrar ao meio. Esse tom confiante...isso me irrita.
Mal sabia ela que aquilo era apenas o começo de tudo.
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