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15/10/2017
Brooklyn, Nova York

ERA mais uma noite comum para a família Carpenter. Ou era para ser.

Michael estava preparando o jantar enquanto seus dois filhos jogavam GeoGuessr no computador do pai. Os dois estavam sentados à mesa da cozinha para fazer companhia ao pai enquanto ele cozinhava.

— Muito bem, chega de computador. — Michael disse e Isabella obedeceu com um suspiro.

— Faltava um país pra eu marcar trinta acertos, papai. — Isabella disse deixando o computador na mesinha de centro da sala de estar.

— Está ficando cada vez melhor. — Michael disse sorrindo. — Pode pegar os pratos, querida?

— Estou mesmo, eu teria acertado mais se não fosse pelo Jacob. — Isabella disse com indignação na voz. — Acredita que ele errou a bandeira do Brasil? Ela nem é difícil por não ter outras parecidas com ela.

— Eu achei que fosse da África. — Jacob disse colocando talheres na mesa. — Confundi.

— Você é burro.

— Isabella!

— Desculpa.

— E você é chata!

— Jacob, sua irmã já se desculpou. — Michael disse e o garoto suspirou olhando para sua gêmea.

— Desculpa, Bells.

— Certo, agora lavem as mãos e venham se sentar para comer. — Michael falou e os filhos o obedeceram indo até o banheiro.

O jantar foi como sempre, Michael ouvia sobre o dia dos filhos com um sorriso no rosto e depois contava sobre seu dia para os filhos, que adoravam ouvi-lo contar sobre as perseguições policiais e investigações. Depois de comerem a sobremesa, que na maioria das vezes era um cookie recheado de uma cafeteria próxima a delegacia onde Michael trabalhava, todos tiravam as coisas da mesa e assistiam a dois episódios do desenho Scooby-Doo. E então, depois que os dois episódios acabavam, eles subiam para dormir. Naquela noite de quinta-feira, nada havia sido diferente. Michael colocou os filhos para dormir no quarto de Jacob, por conta de uma reforma no quarto de Isabella, e depois foi se deitar em seu quarto.

Logo pela manhã, Isabella acordou com o sol entrando pela janela e batendo em seu rosto. A garota então se sentou no colchão em que dormia e se virou para a cama do irmão na intenção de acordá-lo também, mas ver a cama vazia e ainda bagunçada fez Isabella franzir a testa intrigada, ela e o irmão sempre arrumavam a cama assim que se levantavam e sempre acordavam um ao outro pela manhã.

— Papai? — Isabella chamou, ainda sentada no colchão. — Jake?

Isabella levantou do colchão e pegou o celular na pequena mesinha de cabeceira do irmão. Ela caminhou até o quarto do pai e encontrou a cama também vazia e bagunçada. Ela então desceu para o primeiro andar da casa e sentiu um arrepio percorrer seu corpo ao ver tudo exatamente como eles deixaram na noite anterior, tirando o copo de água pela metade que agora estava sobre o balcão da cozinha.

— Isso não é engraçado! — Isabella exclamou parada em frente a televisão.

Irritada com a situação, imaginando que talvez o pai e o irmão tivessem saído para comprar algo para o café da manhã sem avisá-la, algo que ela detestava, Isabella ligou para seu pai e ao escutar o telefone de seu no andar de cima seu corpo gelou e ela subiu a escada devagar, foi até o quarto de seu pai e pegou o telefone nas mãos.

Ao descer novamente para a sala de sua casa, Isabella esperou pelo pai e o irmão por duas horas antes de se cansar e preparar ovos mexidos para si e beber um pouco de suco. Ela continuou esperando por eles enquanto assistia televisão, costurava, pintava livros de colorir que encontrou no quarto do irmão e um lanche para seu jantar. Antes de ficar completamente escuro, Isabella abriu a porta da frente e ficou encarando a rua, procurando pela presença do pai e do irmão, mas os viu. O carro continuava na garagem, tudo parecia normal, mas tudo também estava completamente diferente.

Isabella não queria ficar sozinha em sua casa, então trancou todas as portas e janelas antes de atravessar a rua e bater na porta da casa de sua melhor amiga. Assim que a mãe da mesma atendeu, Isabella começou a chorar e então foi levada para dentro de casa, onde contou que seu pai é irmão simplesmente sumiram deixando tudo para trás.

— Vou preparar algo para comermos, tome um banho quente, troque de roupa e fique a vontade, sabe que aqui também é sua casa. — Poppy Montgomery, mãe da melhor amiga de Isabella disse.

— Vamos, Bella, eu te faço companhia. — Liz disse guiando a amiga até o quarto, mesmo que ela já soubesse o caminho. — Vou pegar um pijama meu pra você, aí se quiser, amanhã pegamos algumas coisas na sua casa.

— Pode ser. — Isabella disse ainda atordoada.

Depois de um banho, Isabella vestiu o pijama e desceu novamente para a sala. Liz e sua mãe estavam colocando os pratos na mesa e logo o pai de Liz, Shawn, apareceu na sala dando um abraço apertado em Isabella, que retribuiu o abraço reprimindo o choro.

— Vou tentar falar com meu tio, talvez ele saiba de alguma coisa. — Isabella disse enquanto jantavam.

— É melhor mesmo, querida. Mas não sei, acho que algo tenha acontecido no país…talvez no mundo. — Shawn disse pensativo. — Diversas pessoas do escritório não apareceram hoje, pessoas que nunca faltam. Mais da metade dos funcionários não deu sinal de vida.

— Que esquisito.

Mais tarde, Isabella e Liz estavam no quarto, assistindo televisão enquanto Isabella ligava para o tio, que demorou um pouco para atender, mas assim que atendeu a garota, a mesma soltou um suspiro aliviado.

— Bells, aconteceu alguma coisa? Não consigo falar com seu pai de jeito nenhum. — Andrew pergunta para a sobrinha.

— Eu não sei onde eles estão, tio Andrew, eles simplesmente sumiram. — Isabella disse se segurando para não chorar e Liz segurou a mão da amiga.

— Está sozinha? — Andrew perguntou preocupado.

— Não, eu vim pra casa da Liz.

— Eu e sua tia vamos pra Nova York amanhã mesmo e assim resolvemos o que fazer, pode ser? — Andrew pergunta e Isabella concorda. — Vou resolver algumas coisas e nos falamos logo pela manhã.

— Tá bom, tio Andrew.

Assim que desligou o telefone, Isabella ficou olhando para o aparelho em sua mão e Liz abraçou a amiga com força.

— Vai ficar tudo bem, Bella. Eu te prometo. — Liz disse antes de segurar o rosto da amiga entre suas mãos. — Eu sei que é difícil acreditar, mas vai ficar tudo bem.

Aquelas palavras deram esperança para Isabella. Mas depois de meses esperando o retorno de seu pai e irmão, ela parou de acreditar que um dia os veria novamente, assim como quando aceitou que sua mãe nunca mais voltaria. A diferença das situações é que em uma ela teve de lidar com o luto e a morte, já em outro, ela precisou simplesmente lidar com o sumiço repentino. Isabella considerou a morte algo mais fácil de se aceitar e superar.

Andrew e Lily decidiram que era melhor se mudarem para a casa de Michael no lugar de tirar Isabella de perto de casa. Talvez isso tivesse feito Isabella se sentir menos pior, pelo menos tinha Liz no outro lado da rua. Ir para a escola era estranho, andar pelas ruas era estranho. E com o tempo algumas das casas começaram a ficar com seus jardins com a grama alta, as casas começaram a ficar sujas e os carros enferrujados devido a falta de uso. Por sorte, sua vizinhança era muito unida, então os vizinhos adotaram alguns dos animais que haviam ficado para trás, outros haviam sumido com seus donos, limparam calçadas e jardins, e deram um jeito de limpar as fachadas das casas.

Dessa forma o tempo foi passando. Isabella cresceu, foi a festas, teve seu primeiro baile, seu primeiro beijo, aprendeu a dirigir, bateu o carro em uma árvore enquanto aprendia e quase atropelou seu instrutor no dia da prova. Começou a fazer aulas de desenho e caminhadas matinais com seu tio e Thor, seu novo cachorrinho, tinha ataques de pânico durante a noite e precisava tomar remédios para dormir e controlar a ansiedade. Isabella ia bem em todas as matérias, era uma aluna dedicada, sempre ajudava seus tios com as coisas de casa e no tempo livre ficava com seus amigos.

— Tio, vou sair andar um pouco, precisa que compre alguma coisa? — Isabella gritou da sala.

— Traz dois sacos de farinha e alguns tomates! Vamos fazer pizza hoje! — Andrew gritou em resposta e Isabella pegou a guia de Thor para levá-lo junto.

— Vou levar o Thor! — Isabella gritou e seu tio concordou com um “Beleza! Se cuida!”.

Isabella caminhou pela rua com Thor na coleira, parando quando ele queria cheirar alguma coisa. Isabella caminhava ao som de sua playlist favorita, até mesmo Thor parecia saber as letras e ela tinha certeza que ele só não cantava junto dela porque era, obviamente, um cachorro. Depois de prender Thor no poste de sempre, Isabella entrou no mercado e comprou o que seu tio havia pedido enquanto ainda ouvia música  porém em um volume mais baixo. Ao sair, pegou seu cachorro, que recebia carinho de uma garotinha, e voltou a caminhar para casa.

Ela deixou as sacolas na bancada da cozinha e retirou a guia de Thor, depois subiu as escadas e foi para seu quarto, onde ficou vendo fotos de sua família. Em certo momento, Isabella se levantou de sua cama e foi para o quarto de seu irmão, que continuava do mesmo jeito que ele havia deixado, assim como o quarto de seus pais, que também permanecia intocado. Depois de olhar o quarto, Isabella decidiu que seria melhor sair dali. Ela desceu as escadas novamente e caminhou em direção a cozinha, mas ao erguer o olhar, Isabella parou de andar no mesmo segundo e arregalou os olhos ao ver seu pai parado atrás do balcão, olhando em volta confuso.

— Pai? — Isabella chamou e o mais velho a olhou confuso.

— Isabella? Como? — Michael diz olhando confuso para a filha.

Isabella não conseguiu responder as perguntas do pai, ela apenas correu até ele e o abraçou com força enquanto chorava.

— Pensei que tinha perdido você. — Isabella disse e Michael afastou a filha para olhá-la no rosto.

— Porque você tá chorando, Bells? — Jacob perguntou ao entrar na cozinha com seus tios atrás dele.

— Jake! — Isabella exclamou indo abraçar o irmão mais gêmeo, agora mais novo, com força.

— Ei, para com isso! — Jacob protestou enquanto o irmão abraçava e beijava todo o seu rosto. — Calma, porque você está tão diferente?

— Vocês sumiram por cinco anos. — Lily disse atraindo a atenção de Michael e Jacob para si. — Onde estavam?

— Na verdade, nem sabíamos que nós tínhamos sumido. — Michael disse. — Então quer dizer que…

— Cinco anos se passaram, eu tenho dezesseis anos, quase dezessete. — Isabella contou e Michael a olhou desconfiado. — Não, eu não tenho um namorado.

— Graças a Deus. — Michael disse sorrindo.

O reencontro foi repleto de lágrimas e abraços, conversas a respeito do que havia acontecido e tristeza pelo tempo perdido. Michael sentia que precisava recompensar Isabella pelos cinco anos da vida dela que ele havia perdido, mas Isabella insistiu que ele não teve culpa. E depois de muito tempo achando que o pai tinha simplesmente ido embora com o irmão, Isabella percebeu depois de conversar com seus vizinhos e colegas de classe que milhares de pessoas haviam sumido, não só nos Estados Unidos, mas sim, no mundo. O que tornava óbvio que não havia sido escolha do pai e do irmão desaparecerem.

Naquela noite, Michael dormiu no meio de seus filhos enquanto assistiam Scooby-Doo, o desenho mais amado pela família. Isabella dormiu sem precisar de remédios pela primeira vez em cinco anos e nenhum pesadelo a atormentou. O abraço de seu pai e a mão de seu irmão segurando seu braço para que ela não os soltasse a fez se sentir segura e em casa depois de tanto tempo. Não que seus tios Andrew e Lily não tivessem a feito se sentir segura, mas a sensação era diferente, era um tipo de segurança diferente da que ela sentia no momento.

Oi, Marvetes!!! Como vcs estão?

Introdução de Delicate finalmente postada (inclusive, achei q tinha postado e quase postei o primeiro capítulo oficial logo de cara)

Capítulo bem simples só pra contextualizar vcs da vida da Isabella antes de ela conhecer o Peter.

Vou deixar as playlists aq nos comentários desse parágrafo.👉🏻

Espero que tenham gostado, não se esqueçam de comentar ao longo do capítulo e favoritar ele também.

Bjs, Ana!!

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