✭*・ Uma história e tanto ・*✭

Eram 18:45h quando terminei as planilhas. Enviei para o e-mail do meu chefe e fui tomar um longo banho.

Esperei que a água levasse toda a minha aflição pelo ralo quando me dei por pensar em como as palavras têm poder. Antes, adorava estar isolado o máximo de tempo possível, pois sempre fui um homem tímido e que odeia aglomerações. Mas nunca me senti tão solitário. Deus... sem falar que meu tratamento estava indo tão bem. Fazia um bom tempo que meu peito não apertava. Fazia um bom tempo que o ar não deixava meus pulmões, que meu coração não palpitava. Já não suava e nauseava havia meses.

Meus demônios voltaram a atormentar-me.

Faça exercícios. Medite. Concentre-se na sua respiração. Já lembrou de suas conquistas hoje?

Lembrando das palavras do doutor, visto roupas leves e dou início à minha sessão diária de alongamentos e exercícios de respiração a fim de procurar focar em outra coisa que não seja esse caos em que vivemos. Inspiro profundamente até encher os meus pulmões enquanto estico os braços para cima e em seguida, expiro e abaixo para tocar meus pés. Fico assim por um longo tempo.

Repito o processo mais algumas vezes e dou início aos abdominais. Querendo esvaziar minha mente, permiti que as ondas sonoras da música ambiente me envolvessem e concentro-me na minha respiração. Olho ao meu redor, meu pequeno apartamento é seguro e aconchegante. Observo meus móveis em diversos tons de azul perfeitamente em ordem. Entre as estantes, alguns porta-retratos com momentos marcantes congelados no tempo. Imortalizados. Eternamente jovens. Sorri ao lembrar de alguns desses dias. Ei, essa viagem para Recife com o Pedro, Luca e Rapha foi hilária.

Estava tudo bem na medida do possível.

É um exercício que aprendi. Até que funciona. Me acalma ver coisas que posso deixar em ordem. Vou até a janela e a abro. Sento-me segurando minha caneca de chá quente e observo o céu. É apenas o décimo quinto andar, mas me sinto alcançando o Paraíso se olho por um longo tempo. Hum... nublado. Nenhuma estrela à vista. Pego o celular e vejo que há uma mensagem de Luca, ele mandou uma foto com a filha de 4 anos vestida de Mulher Maravilha, junto a um áudio: "Oi, tio Rodligo".

Conversamos um pouco. Ele e a família estavam bem. Ele perguntou como estava indo meu tratamento me dando todo o apoio. Ainda assim, não dei detalhes e nem falei da minha última crise para não causar alarde. Falamos da falta que Pedro fazia e de como esse maluco adorava desafios de comida. Isso me deu uma tensão. Respirei fundo e logo em seguida perguntei da recuperação do Rapha com um certo receio. Saber que estava indo bem aliviou um pouco. Ele precisou ir depois de um tempo, ajudaria no jantar.

Coloco imediatamente os fones de ouvido e selecionei a música "Ligth", do Sleeping At Last. Gostava de músicas calmas e profundas para relaxar. O instrumental do início me fez sonhar. Nada de vírus, nada de crises de ansiedade. Só eu, as pessoas que eu gosto, uma água de coco, a brisa gostosa da orla da cidade e o céu lindo e estrelado. É um bom sonho.

Quando, então, cantei junto: May these words be first to find your ears. The world is brighter than the sun, now that you're here. Though your eyes will need some time to adjust to the overwhelming light surrounding us...

Meus olhos se voltaram a uma janela do outro prédio, na mesma direção da minha. Por algum motivo, era decorada com pisca-pisca por dentro. E nem é Natal! E lá dentro, uma mulher dançava algo que parecia balé... ou seria jazz? Seu semblante estava leve, animado. Isso acabou despertando minha curiosidade. Por estar longe, não dava para ver tantos detalhes, mas parecia uma moça bem bonita de vestido amarelo. Seus cabelos bem escuros com as pontas tintadas de roxo. Encantadora.

Isso até ela reparar que eu olhava. Imediatamente me pus para dentro e fechei a janela, erguendo a mão esperando ela entender que pedia desculpas.

Abaixei as cortinas.

・*:.。.✭.。.:*・

Conforme minha rotina, sentei-me na janela outra vez e li um pouco. Conversei com meus amigos. O estado de Rapha ainda era o mesmo. Sempre evitei a maioria das redes sociais. As notícias mexiam comigo de modo que me fazia sentir um fraco.

Não... Não vai me dominar de novo. Declaro ao sentir os malditos sintomas. Abri a janela para tentar me acalmar. Inspirei e expirei. Pus a mão no peito, que começou a arder em aflição. Cantarolei mais uma vez. E... vi alguém mexendo os braços. Pisquei várias vezes incrédulo. Era aquela bailarina que espiei feito um maluco! Eu ia entrar mais uma vez antes que ela achasse que sou um perseguidor. Estava prestes a fechar a janela quando ela fez um sinal com as mãos indicando para esperar.

Ela abriu a sua, que tem uma pequena varanda com vasos de flores. Ela me olhava preocupada. Provavelmente me viu passando mal. Levantei a mão para indicar que estava bem, mas ela pôs as mãos na cintura não parecendo convencida. Fiz que "não" com a cabeça. Em um salto, ela parecia ter tido uma ideia. Ela sorriu e começou a balançar seu corpo delicadamente. Rodopiou mexia os braços a dançar. E saltava como uma criança.

Até que ela riu da própria palhaçada. Quando me dei conta, estava fazendo o mesmo. Rindo. Cocei a nuca com vergonha. Ela sorria parecendo realizada.

Ela pediu para espera-la e eu assenti. Me perguntando qual seria sua próxima ação, olhei para o céu. Hum... parcialmente nublado. Ela havia voltado com um grande quadro branco e escreveu alguma coisa. Foi até a varanda e ergueu o quadro. Pus a cabeça mais para fora da janela e tentei decifrar. Até que pude visualizar. Era uma combinação de números.

Usando os dedos polegar e mindinho, perguntei se era um número de telefone. Ela assentiu.

Linda, engraçada e ousada, pensei. Anotei no meu celular e ela pegou o seu após guardar o quadro.

Não pude deixar de ficar nervoso com aquela ideia maluca, mas ela era tão atraente e interessante. Respirei profundamente, meu coração palpitou.

"Oi", enviei.

Olhei para ela esperando que tivesse digitado corretamente. Ela olhou seu aparelho e sorriu.

"Olá, observador"

Nos olhamos de nossas janelas. Ela se divertia com a situação. Tímido, não sabia dar sequência àquilo.

"Além de curioso, é caladão?Rsrs : )"

"Tô ficando maluco. Pensando: o que diabos estou fazendo? (^_^;)"

Ela gargalhou.

"Já que é tímido, eu começo. okay? ; )" Ela não esperou eu responder.

"Meu nome é Sara. E você é...?"

Sara... Lindo nome. Segundo a origem hebraica, dama ou princesa.

"Rodrigo. Hãã, prazer? (-_-;)"

"Sim. Isso vai ser interessante... (^_^)"

Com toda certeza iria ser.

・*:.。.✭.。.:*・

Minha conversa com a garota do prédio ao lado não durou muito tempo. Minha timidez inventou uma desculpa esfarrapada para precisarmos interromper o bate-papo, apesar de estar muito bom. Naquele momento, já sabia que Sara tem 25 anos; ama animais, tem uma gatinha chamada Doçura; é professora de balé; ama cinema culto e romances clássicos.

É engraçado como passei o dia empolgado para falar com ela de novo. Meu coração acelerou quando chegou uma mensagem e era ela. Isso me assustou um pouco, foi diferente dessa vez. Peguei minha xícara de chá e sentei na janela. Ela estava debruçada em sua pequena varanda. Acenou charmosamente, como uma donzela.

Nossa conversa deu continuidade por um longo, longo período. Perguntei como dia tinha sido seu dia (tirando a parte de ficar apenas em casa). Ela perguntou sobre o meu. Falamos um pouco sobre nós e sobre nossos empregos. Descubro que ela faz vídeo aulas para seus alunos pequenos.

"Há quanto tempo dá aulas?"

"Cinco anos. Adoro cada uma daquelas criancinhas : )"

"E eles devem adorar você... (^_^)"

Pude vê-la sorrir.

"E você? Com o que trabalha exatamente?"

"Sou auxiliar administrativo de uma empresa de produtos de limpeza.

É, bem chatão (^_^;)

Ao menos, sou muito bom com planilhas"

"Ora, não se menospreze (◠‿◠)"

Lembrando-me se seus interesses, quis saber mais a respeito.

"Qual seu livro preferido?"

"Amo protagonistas fortes e inteligentes.

Creio que a história que mais tenho carinho seja Orgulho e Preconceito (^_^).

Conhece?"

"Só por alto rs.

Acho que no terceiro ano do Ensino Médio (-_-;)"

"Aposto que era o mais quietinho rsrs"

"E você a mais nerd"

"Isso é ruim? ¯\_()_/¯"

"De modo algum.

Com toda certeza, teria me apaixonado por você"

Não sei de onde tirei ousadia para comentar aquilo. Só sabia que queria me esconder atrás das cortinas. Por outro lado, pude vê-la rir. Parecia ter gostado. Olhou para mim de modo curioso.

"Filme preferido?", digitei rapidamente.

"São tantos...

Bom, assisti O Fabuloso Destino de Amélie Poulain recentemente.
No momento, é meu preferido : )"

"Bem interessante...

Gosto de comédias pastelonas, especialmente do Adam Sandler.

Meu preferido é Click (^_^)"

"Me indicaria algum?"

"Já que curte romances, Como se Fosse a Primeira Vez é bem a sua cara rsrs"

"Anotado ; )"

"Além de ser maravilhosamente culta e romântica... (^_^)

O que gosta de fazer no tempo livre?"

"Obviamente, dançar. Rs.

Eu pratico um pouco de yoga, brinco com a Doçura...

Aliás, ela pulou no piano KKK"

"Meu Deus! Rs. Imagino o susto!"

"KKK.

Ah! E toco piano"

"Que incrível! : )

Você também canta?"

"Sim. Um pouco rs.

E você? O que costuma fazer?"

"Aprender receitas, fazer exercícios e escutar música.

Me ajudam a manter o foco e controle"

"Posso perguntar uma coisa, Rodrigo?

Não precisa responder se não estiver à vontade"

Olho para ela pela janela. Assenti.

"Isso tem alguma coisa a ver com a noite passada?"

Não foi surpresa sua pergunta. Tive receio de início. Não falava muito sobre isso com outras pessoas para não causar pena ou estranheza. O que muitas vezes me sufocava. Sentia-me sozinho e preso a isso. Quando ela mandou um ponto de interrogação, pensei um pouco e resolvi falar. Sara não parecia como as outras pessoas. Podia parecer estranho, mas me sentia ligado a ela, mesmo tendo a conhecido há um dia, apenas.

Assim, suspirei decidido. Falei para ela da minha condição. Sobre como minha terapia estava em evolução e sentia que retrocedi, principalmente depois de ter perdido um dos meus melhores amigos. Ela parecia atenta, fez apenas algumas perguntas sobre como me sentia fisicamente.

"Eu sinto muito pela sua perda. (ŏ﹏ŏ)

E pela sua condição.

Não sei muito a respeito, mas suponho que seja muito difícil para você"

Eu demorei a responde-la. Era inédito a forma como eu já me sentia tão conectado com essa mulher. Meu coração palpitou em um misto de ansiedade e alivio. Algo que nunca senti antes.

"Você está bem?"

"Sim, estou.

Perdão, não me abro com alguém dessa forma há um tempo.

E você é confiável... : )"

"Que bom que pensa isso.

Você pode contar comigo (^_^)"

Eu sorri sentindo-me acolhido e conforto. Enquanto nos encarávamos cada um de uma janela, a música tocava: I'll give you everything, I have I'll teach you everything I know. I promise, I'll do better...

Não pude deixar de imaginar como seria se nos conhecêssemos antes de toda essa bagunça. E saber que essa mulher estava logo ao lado durante todo esse tempo...

"Queria poder te ver...

E ouvir você"

"Eu também...

Ei! Que tal tentarmos uma...

Rs, não sei se toparia (^_^;)"

"O quê, dona Sara? (¯―¯)"

"KKK

Bem, tentar uma chamada de vídeo (^_^)

Que tal?"

Estaria mentindo se dissesse que fiquei de boa com essa ideia logo de primeira. Eu ri de nervoso.

"Vamos! Vamos! Vamos! (◠‿◠)"

"Ah! Tá bem! (-_-;)"

"Vai ser divertido! (^_^)"

Assim, ela me ligou:

― Olá... ― suspirei ao ver seu rosto com mais detalhes.

― Oi, Rô ― ela deu uma risada gostosa.

Minha Nossa! Como ela é linda... E que voz mais doce!

― O que foi? ― Sara perguntou com um semblante divertido.

― Meu Deus! Só posso estar maluco... Tô com um pouco de vergonha e você tem um sorriso bonito ― cocei a nuca e abaixei meu olhar.

― Ora... ― ela riu sem jeito. ― Você é bem mais bonito do que eu pensava.

Demos gargalhadas. Conversamos e estávamos dispostos aprender mais sobre o outro pelo resto da noite. Sobre o que mais nos chateava: eu, desorganização e ela, injustiça. Comida preferida: eu, lasanha e ela, estrogonofe. Uma travessura na infância: eu contei sobre subir no armário de santinhos da minha avó e derrubá-los. E ela...

― Uma vez eu queria muito uma pelúcia panda em uma máquina de brinquedos e... ― começou a gargalhar.

― Calma! ― pedi enquanto ria junto.

― Eu não consegui. Acabaram minhas fichas e tive a brilhante ideia de entrar na máquina por... Aquele lugar onde pegamos o prêmio.

― Sara do Céu! ― gargalhei chocado com seu relato. ― Ficou lá por quanto tempo?

― Até minha mãe ameaçar me arrastar pra casa pela orelha ― ela cobriu o rosto ruborizado. ― E nem pude ficar com o panda.

― Senhorita, minha missão pós pandemia será lhe comprar uma bela pelúcia de panda ― imitei a voz de cavaleiro de desenho animado.

― Hum, não me desaponte, Sir Rodrigo.

― E depois, nós podíamos tomar um sorvete ou uma água de coco na orla da cidade.

― Nós? ― ela sorriu, me olhando surpresa.

Foi quando eu percebi que me empolguei e basicamente a convidei para um encontro no futuro.

― É... D-digo, se topar. Ou sei lá. Foi uma ideia...

― Eu ia adorar.

Meus olhos se voltaram para a telinha em espanto. Ela sorria de forma empolgante e seu olhar, agora, era esperançoso. Assim com o meu coração que palpitava de forma otimista.

―Legal...

― Pois é...

Rimos e acabamos mudando de assunto. Essa conversa se estendeu por um longo tempo. Ela até mostrou sua gatinha Doçura para mim. Fizemos até nossos jantares ao mesmo tempo, e comemos "juntos". Percebi que a forma como nos entendíamos era tão genuína que parecia uma amizade de longa data. Sua risada contagiante me fez esquecer do resto do mundo e do que ocorre. O jeito que ela balança os cabelos os faz parecer tão sedosos, até senti vontade de afaga-los. Seu olhar alegre e curioso sobre mim me fazia transbordar do desejo de poder estar perto dela.

Esse sentimento... Oh, Deus.

― Bom... que droga. Já está tarde ― minha voz saiu sonolenta.

Ela também parecia estar com os olhos pesados de cansaço.

― A gente continua amanhã, certo?

― Mal posso esperar... Obrigado.

― Pelo o quê?

― Por se ter se importado.

Lembro de quando começamos a conversar. Ela podia não saber, mas tinha salvado a minha vida naquela noite. Com sua dancinha maluca e tudo o mais!

Nos despedimos e assim que me fiquei cantarolando a fim de pegar no sono e não pensar em como desejei ainda estar conversando com ela: I will always hold you close, but I will learn to let you go. I promise, I'll do better. I will soften every edge. I'll hold the world to it's best. And I'll do better. With every heartbeat I have left, I will defend your every breath. And I'll do better...

Assim, eu consegui o que queria. Adormeci e continuei a ouvi-la. Em meus sonhos.

・*:.。.✭.。.:*・

― COMO ASSIM ELA É INCRÍVEL?! ― a voz de Luca no telefone soou ensurdecedora.

― Por acaso é tão chocante eu falar com uma garota? ― retruquei indignado.

― Sendo sincero contigo, cara: sim! Muito! Você tem esse ar todo seriozão, tímido... Sem falar na sua ansiedade... Cara, que aventura ― sua voz, agora, era preocupada.

― Nem eu acredito. Mas é sério. Ela é inteligente, engraçada, muito bonita...

― Quanto bonita? ― ele sussurrou. ― AI! CALMA, QUERIDA! Eu só perguntei...

Ele gritou quando Magda, sua esposa, lhe bateu.

Eu ri. ― Bem feito!

― Fúria a parte... ― Magda entrou na conversa, pelo viva-voz. ― Então o senhor Rodrigo tem uma nova namorada, hum...

― Ela não é minha namorada ― disse entediado. Já imaginava ouvir esse comentário.

― Ainda! ― Luca retornou. ― Mano, é só sobreviver a essa merda de vírus. Acabou a pandemia? Você não faliu? Beleza. É só voltar à terapia, dar um tapa nesse visual e chamar a bailarina bonitinha pra sair. Simples.

Ignorei ele ainda julgar mal meu guarda-roupa e refleti sobre isso. Era engraçado falar sobre Sara com alguém. Fazia tudo isso parecer mais real. Pensei sobre o plano do Luca enquanto almoçava e no quanto de repente Sara havia se tornado tão especial em minha vida. Quando me disseram que o amor pode surgir em situações inusitadas, contavam com uma crise de ansiedade em meio à uma pandemia?

Como era possível eu ter me afeiçoado tanto a uma pessoa sem poder me aproximar dela?

Eu pensava e refletia sem conseguir chegar a resposta alguma. Era intenso e eu senti ansiedade. Mas não do tipo ruim, com minhas fobias e traumas. Era uma ansiedade boa, esperançosa. Mais tarde, peguei o celular e decidi tomar a iniciativa hoje. Mandei "oi" e perguntei como ela estava. E a aguardei.

"Oii!

Estou ótima. Estava treinando"

"Se divertiu? Rs"

" ; ) "

Naquele dia, nossa conversa durou muito mais que nas outras vezes. Falamos mais uma vez sobre sair depois dessa maluquice acabar. Fizemos um ao outro sorrir com mais histórias. Fizemos chamada de vídeo e ela até fez uma apresentação de dança com alguma música que parecia ser...

― Mozart?

― Não. É "Por Una Cabeza". De Perfume de Mulher.

― Ah! Esse eu sei. Aquele com o Al Pacino.

Ela fez um sinal de aprovação e piscou um olho.

― Bom... ― aplaudi a encarando admirado. ― Você dança muito bem.

― Muito obrigada ― ela disse radiantemente.

Quando anoiteceu, eu fiz meu chá. Sentei-me na janela para olhá-la do outro lado.

― Você está bem, Rô?

― Sim... muito bem.

Sorrimos em cumplicidade.

― Estamos juntos nessa agora. ― ela declarou.

Nos encaramos em silêncio e foi ali que tive certeza: iriamos sair dessa, juntos. Iria convidá-la para sair, comparar-lhe uma pelúcia e passear na orla, se eu não conseguisse ter coragem, ela me beijaria. Eu ia querer namorá-la. Iria apresenta-la a minha família e amigos. Rapha estaria vivíssimo demais para saber todos os detalhes que ele perdeu.

Iriamos ficar bem...

Então, comecei a cantar para ela, que foi me acompanhar com seu piano. "Ligth". Nunca tinha cantado para alguém desse jeito... tão entregue: 'Cause you are loved. You are loved more than you know. I hereby pledge all of my days to prove it so. Though your heart is far too young to realize, the inumaginable light you hold inside...

Olhei para a telinha. Ela sorria enquanto me encarava.

― Será que estamos sentindo isso mesmo? ― ela indagou.

― Vai ser uma história e tanto...

Ela suspirou e foi até a pequena varanda. Em meio as flores em pequenos vasos, ela estava linda e pensativa. Eu acenei e disse para ela olhar para o céu. Limpo... Estrelado... Maravilhoso. Ela sorriu. Estava perfeito.

― Vai ser uma história e tanto.

E foi assim que Sara transformou aquele décimo quinto andar no mais doce e encantador Paraíso.

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