Capítulo 8 O Papagaio E O Celular

O dia estava indo normalmente, sem grandes surpresas. Eu tava ali, no sofá, estirada feito preguiça depois do almoço, mexendo no celular enquanto Zezinho, meu querido papagaio, estava empoleirado na estante, me observando com aquele olhar curioso de sempre.

— Não se atreva a se aproximar, Zezinho. — murmurei, sem tirar os olhos da tela. Ele sempre queria dar uma bicada em tudo que eu segurava.

O problema é que eu estava distraída demais com as fofocas do dia para dar a devida atenção. De repente, uma coceira danada no nariz começou a me incomodar. Já sem paciência, peguei um papel e, sem pensar, comecei a limpar o nariz. Nada glamouroso, sabe? Aquele momento íntimo que você nunca gostaria que ninguém presenciasse, muito menos fosse documentado.

Só que, enquanto eu tava lá, distraída com a limpeza nasal, Zezinho deu uma voada rápida em direção ao celular. O bicho era mais rápido do que eu imaginava! O susto me fez soltar o aparelho, que foi parar no chão. Zezinho, com a sua sabedoria de ave intrometida, desceu atrás do celular, bicou aqui e ali, e... ouvi um "click".

— Zezinho! O que você tá fazendo? — gritei, meio rindo, meio irritada, tentando pegar o celular de volta.

Mas não deu tempo. Quando consegui recuperar o telefone, uma notificação apareceu na tela. "Foto publicada no story." O sangue me subiu pela cabeça.

— Não... Não pode ser... — falei, já abrindo o Instagram com os dedos tremendo. E lá estava. A gloriosa foto de Rafaela Pereira, limpando o nariz como se não houvesse amanhã, publicada para o mundo ver.

Fiquei paralisada por uns segundos, olhando para aquela imagem ridícula. Zezinho, ao meu lado, me olhava inocentemente, mexendo a cabeça de um lado para o outro. Parecia que tava esperando minha reação, como se soubesse exatamente o que tinha feito.

— Zezinho, pelo amor de Deus, você tirou uma foto minha limpando o nariz! — exclamei, em choque.

Rafa limpa nariz! — o papagaio repetiu, com sua voz metálica, completamente despreocupado.

— Claro que eu limpo! Mas ninguém precisa ver isso! — eu tava quase surtando. Comecei a correr pelo quarto, desesperada, tentando apagar o story o mais rápido possível, entretanto, o estrago já tava feito.

As mensagens começaram a pipocar no Instagram.

"Rafa, amei o novo look! 😂" "Ficou gata na foto, hein? 😂😂" "É moda nova, limpar o nariz na cara dura?"

Eu queria sumir no chão. Enterrar minha cara, junto com a foto, num buraco e nunca mais sair.

— Não acredito que isso tá acontecendo... — falei, me sentando no sofá, com a mão na cabeça.

Zezinho, percebendo a confusão, começou a rir daquele jeito irritante que só ele sabe fazer. Ele bateu as asas e soltou um:

Rafa tá famosa!

— Você tá achando graça, né, Zezinho? — perguntei, encarando o papagaio. — Porque você que tirou essa foto, seu bicudo!

Ele me olhou, inocente como sempre, e soltou mais uma de suas pérolas:

Zezinho fotógrafo!

Eu não sabia se ria ou se chorava. Uma parte de mim queria pegar aquele bicho e trancar ele na gaiola por uma semana. A outra parte... bem, já tava rindo da situação, mesmo morrendo de vergonha.

— Agora todo mundo vai ficar me zoando, e é tudo culpa sua! — apontei o dedo para ele. Ele, claro, não tava nem aí, e começou a repetir de novo:

Rafa tá famosa! Rafa limpa nariz!

Revirei os olhos, tentando ignorar. Mas como ignorar, quando o estrago já tinha sido feito? Abri de novo o Instagram, e lá estava a maldita foto, com mais comentários do que eu conseguia acompanhar.

"Isso sim que é vida real 😂😂😂" "Mostrando a realidade sem filtro, gostei!" "Rainha do nariz limpinho!"

Eram tantos comentários que eu não sabia se ria ou se chorava. No fim, resolvi apagar o story de uma vez por todas. Não sem antes tirar um print, claro. Vai que isso vira história pra contar pros netos, né?

— Você é um desgraçado, Zezinho! — falei, rindo de leve, enquanto ele continuava a tagarelar. — Vou te ensinar a mexer no celular, só pra ver o caos que você vai causar.

Rafa famosa! — ele repetia, como se estivesse com um mantra na cabeça.

Levantei do sofá e fui até a cozinha beber um copo d'água, tentando acalmar o coração. Meu celular não parava de vibrar, e eu sabia que mais zoeiras estavam chegando. Enquanto bebia, tentei pensar no que diria quando encontrasse a Natália ou, pior ainda, a Dona Dulceneia. Se a velha fofoqueira descobrisse isso, ia virar assunto na cidade inteira. Não tinha dúvida.

Voltei pra sala, encarando Zezinho, que agora tava brincando com um lápis que tinha achado na mesa. Eu deveria me livrar daquele papagaio, sabe? Mas como? Apesar de tudo, amava ele.

— E se a Dulceneia descobrir, Zezinho? — perguntei, meio rindo, meio preocupada. — Ela vai espalhar isso pela cidade em cinco minutos.

Ele me olhou, piscou e soltou:

Rafa famosa! — como se isso fosse resolver tudo.

Soltei um suspiro longo, me jogando de novo no sofá. Uma fama como aquela que ele queria, estava dispensando.

— Eu vou ser lembrada para sempre como a menina do nariz limpo, graças a você.

Ele não se importou. Continuou com seu mantra irritante, porém, agora eu já estava mais conformada. O caos já tinha acontecido, e não havia muito o que fazer além de rir de tudo. Pelo menos, na próxima vez, eu vou ter certeza de trancar meu celular em algum lugar longe das garras daquele papagaio xereta.

Peguei o celular mais uma vez, entre risos, e mandei mensagem pra Natália.

"Se você ver um print de uma foto minha hoje, limpa a cara de riso antes de me ligar. Foi o Zezinho."

O celular já começou a tocar em seguida. Sabia que isso ainda ia render muito assunto. Eu precisava levar no bom humor ou ia acabar ficando estressada.

E no fim, o que mais eu poderia fazer? No fundo, eu sabia que, depois de um tempo, seria só mais uma história engraçada pra contar. Só restava torcer para que ninguém tivesse tirado print fora eu e fizesse memes com a bendita foto.

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