Capítulo 7 Fofocas Após A Festa
Acordei com o Zezinho gritando no meu ouvido:
— A Rafaela dormiu com o Daniel! A Rafaela dormiu com o Daniel!
A boca do papagaio não tinha freio, e eu, com o coração quase saindo pela boca, levantei num pulo.
— Quem foi que te disse isso, seu linguarudo? — perguntei, esfregando os olhos e tentando processar o que estava acontecendo.
Zezinho, sem nenhum resquício de remorso, repetiu a fofoca, batendo as asas como se estivesse anunciando a chegada do apocalipse. A frase ecoava na minha cabeça enquanto eu tentava entender como as coisas tinham chegado naquele ponto. Tudo porque eu tinha me deixado levar um pouco na festa... Ok, eu tinha dado uns beijos em Daniel, mas nada mais do que isso. E agora, a cidade inteira parecia ter decidido que passei a noite com ele.
— Droga! — resmunguei, andando pela casa e pegando o celular. — Isso não vai ficar assim!
Eu já sabia exatamente de onde essa fofoca tinha começado. Era claro como o dia: Dona Dulceneia. Aquela mulher não podia ver um cochicho sem querer transformá-lo em novela mexicana. Com certeza, tinha visto eu e Daniel nos beijando e decidido que era a sua missão espalhar a notícia com um toque de criatividade.
Peguei meu celular e liguei para Natália, precisando desabafar antes de sair de casa.
— Nati, você não acredita no que tão dizendo por aí! — comecei, sem nem esperar um "oi".
— Ah, eu já sei, amiga... — ela respondeu, com a voz cheia de cautela. — Eu tava na padaria agora de manhã, e o assunto principal era você e o Daniel.
— Que ódio! — soltei, sentindo meu rosto queimar de raiva. — Como é que esse povo tem coragem de inventar uma coisa dessas? A gente só se beijou!
Natália riu do outro lado da linha.
— Só se beijaram? Aí tem coisa, né? — provocou ela, sempre disposta a me cutucar.
— Nati, eu tô falando sério! Você sabe que eu nunca faria uma coisa dessas. E o pior é que agora parece que a cidade inteira já tá falando disso.
— É, não tá fácil não. Até o Seu Raimundo da mercearia tava comentando, e olha que ele nem sai de casa direito! — comentou ela, tentando aliviar a situação com humor. — Mas relaxa, amiga. Todo mundo sabe que a Dulceneia adora uma fofoca. Isso vai passar logo.
— Passar nada! — rebati. — Eu vou lá na casa dela agora mesmo. Essa história vai acabar hoje!
Desliguei o telefone e, sem pensar duas vezes, troquei de roupa, pronta pra enfrentar a tempestade de boatos. Caminhei com passos firmes pela rua, as pessoas me encarando como se eu fosse uma celebridade saindo de um escândalo. Tentei ignorar os olhares, mas, lá no fundo, aquilo estava me corroendo.
Ao chegar na porta da Dona Dulceneia, nem bati. Só abri a porta com tudo, entrando na sala dela com a fúria de quem não tinha mais paciência.
— Oi, Rafaela! — ela disse, com aquele sorriso que mais parecia o de uma cobra prestes a dar o bote. — O que te traz aqui tão cedo?
— Eu vou te dizer o que me traz aqui! — falei, tentando controlar minha raiva. — Eu soube que tão espalhando por aí que eu dormi com o Daniel depois da festa de ontem. E eu sei muito bem de onde essa fofoca começou!
Dona Dulceneia, sem perder o rebolado, ajeitou a postura e respondeu com uma tranquilidade irritante.
— Ah, menina... Sabe como é, né? O povo fala o que vê... E vocês dois estavam bem juntinhos ontem, não estavam?
— A gente só se beijou, Dona Dulceneia! — gritei, frustrada. — E isso não é motivo pra inventarem uma história dessas!
— Beijou hoje, dorme amanhã... Quem sabe, né? — ela retrucou, soltando uma risadinha venenosa.
Respirei fundo, me obrigando a não perder a cabeça de vez.
— Eu não sei qual é o seu problema. — disse, tentando manter a compostura. — Porém, eu não vou admitir que espalhem mentiras sobre mim. O que faço da minha vida é problema meu. E eu já cansei dessa cidade cheia de fofoca!
— Menina, fica tranquila! — ela disse, como se estivesse tentando me acalmar. — Ninguém tá te julgando, não. Só tão comentando. Sabe como é, né? A língua do povo não tem freio.
— Se depender de mim, a língua do povo vai ter que se controlar! — rebati. — Porque eu não vou deixar isso passar em branco.
Antes que ela pudesse responder, saí da casa dela, batendo a porta com força. Eu estava fervendo por dentro, e precisava de um lugar pra esfriar a cabeça. Caminhei sem rumo, os olhos ainda brilhando de raiva. Como é que o pessoal podia ser tão intrometido? Eu não podia nem dar uns beijos em paz que já me transformavam na personagem principal de uma fofoca gigante.
No caminho de volta pra casa, encontrei Daniel. Ele estava no meio da praça, conversando com um grupo de trabalhadores da fábrica, contudo, me viu de longe e veio até mim com uma expressão de preocupação.
— Rafaela, eu preciso falar com você.
— Se for sobre o que o povo tá dizendo, nem começa! — retruquei, sem paciência. — Eu já tô com raiva suficiente por hoje.
— Eu soube das fofocas. — ele disse, levantando as mãos em sinal de rendição. — E eu também tô chateado com isso. A última coisa que eu queria era que você passasse por essa situação por minha causa.
Olhei para ele, ainda irritada, mas com um certo alívio por ele entender o meu lado.
— Isso é culpa daquele bando de fofoqueiros! — explodi. — Eles não têm nada melhor pra fazer da vida?
— A gente sabe como essa cidade funciona. — disse ele, num tom calmo. — Mas vamos deixar isso morrer por conta própria. Não vale a pena gastar energia com esse tipo de coisa.
Suspirei, percebendo que talvez ele tivesse razão. Porém, ainda era difícil engolir essa história.
— Tudo bem. — respondi, finalmente. — Mas se alguém vier me perguntar sobre isso de novo, vai ouvir umas boas.
Daniel sorriu, e por um segundo, eu esqueci toda a confusão. Mesmo com as fofocas, ele ainda conseguia me fazer sentir melhor. No entanto, eu não cairia em seus encantos.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top