Capítulo 3 Academia do Amor
Acordei naquela quarta-feira com uma missão clara: conquistar o Rodrigo. E qual seria a melhor maneira de fazer isso? Ir para a academia, claro. Não importa que minha única atividade física nos últimos meses tenha sido desviar das fofocas da Dona Dulceneia ou carregar o Zezinho até o veterinário, o importante era fazer uma aparição triunfal na academia do Rodrigo.
Entrei pela porta da academia tentando manter a pose. Estava decidida a me mostrar como alguém que levava a saúde a sério, uma verdadeira fitness girl. Claro, isso ficou um pouco comprometido quando tropecei logo na entrada.
— Tá tudo bem? — perguntou uma moça que, pelo jeito, trabalhava lá.
— Tudo sim! Só estava... testando o reflexo do piso — respondi, tentando disfarçar o fiasco.
Ela não pareceu muito convencida, contudo, me entregou uma ficha para preencher. Enquanto escrevia meu nome e mentia sobre minha rotina de exercícios, meus olhos vasculhavam o local em busca de Rodrigo. E lá estava ele: perfeito como sempre, dando instruções a um cara que parecia ter saído de um filme de ação. Suspirei. Ele nem me notou. É claro.
Após entregar a ficha, fui direto para os aparelhos, fingindo que sabia o que estava fazendo. O primeiro que eu tentei parecia simples. Uma daquelas esteiras modernas. Sabe quando parece que você só vai andar no lugar e que não tem segredo? Pois bem, tinha.
Subi na esteira, apertei uns botões aleatórios e, de repente, ela começou a andar. No início, tudo sob controle. Eu estava me sentindo poderosa, o cabelo balançando com o ventilador da sala, quase uma cena de comercial de shampoo. Porém, a esteira aumentou a velocidade de repente.
— Eita! — gritei, tentando acompanhar.
Minhas pernas mal conseguiam acompanhar o ritmo. Quando percebi, já estava correndo como se estivesse fugindo de um enxame de abelhas. Tentei apertar os botões para diminuir a velocidade, mas nada parecia funcionar. Era como se a máquina tivesse vida própria e quisesse me desafiar.
Rodrigo, que estava de costas para mim, não fazia ideia do caos que se desenrolava. Eu, claro, estava a um passo de ser arremessada da esteira. Por sorte (ou azar), um instrutor se aproximou e, com um simples apertar de botão, resolveu o problema.
— Não é melhor começar devagar? — ele sugeriu, com um sorriso contido, segurando provavelmente o riso para não me humilhar ainda mais.
— Devagar é para os fracos. — eu menti, tentando recuperar o fôlego.
Saí da esteira me sentindo uma vencedora, mas mal conseguindo respirar. Achei que precisava de algo mais tranquilo. Vi uma máquina com uma espécie de barra na frente, e me aproximei. O pessoal puxava a barra para baixo com uma facilidade incrível, então resolvi tentar.
— Só puxar, né? Fácil demais. — murmurei para mim mesma.
Sentei no banco e puxei a barra. Quer dizer, tentei. Ela não se mexeu. Coloquei toda a minha força, e ela continuou ali, firme. Comecei a suar, entretanto, nada da barra descer.
— Precisa ajustar o peso primeiro. — uma voz grave disse atrás de mim.
Olhei para cima e lá estava ele, Rodrigo, me observando com aquele sorriso que fazia meu coração dar piruetas. Tentei parecer casual.
— Eu estava só... aquecendo. Gosto de sentir a tensão nos músculos, sabe?
Ele riu.
— Claro, Rafaela. Mas se precisar de ajuda, é só chamar.
Acenei com a cabeça, tentando disfarçar o rubor que subiu pelo meu rosto. Quando ele se afastou, fiz um juramento: jamais voltaria para aquela máquina. Na verdade, estava prestes a fugir da academia, mas aí me lembrei do motivo nobre que me trouxe até ali. E também do quanto já tinha pagado pela mensalidade.
Resolvi encerrar o treino com uma caminhada rápida. Só que ao sair, ainda sem fôlego, com o rosto vermelho e toda desajeitada, dei de cara com Daniel. Ele estava parado na frente da minha casa, com aquele olhar de quem quer ganhar uma discussão.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, já antecipando o motivo.
— Vim te ver, Rafaela. Precisamos conversar sobre a bananeira. — ele disse, com aquela calma irritante.
Revirei os olhos. Conversar? Ele queria era me obrigar a aceitar sua vontade, isso sim!
— Já te disse, Daniel. Não vou abrir mão da árvore. Meu pai plantou antes de morrer. É como se fosse parte da minha história, entende?
— Eu entendo, mas você também precisa entender que uma fábrica vai trazer empregos para a cidade. Isso vai beneficiar todo mundo.
— Todo mundo, menos a bananeira. — retruquei, cruzando os braços.
Daniel soltou um suspiro, esfregando a testa como se eu fosse a pessoa mais teimosa que ele já conheceu.
— Eu não quero ser o vilão dessa história, Rafaela. Mas precisa haver uma solução. Talvez possamos transplantar a árvore para outro lugar?
— Transplantar?! — quase gritei. — Você acha que a bananeira é um vaso de planta que dá para carregar de um lado para o outro? Além do mais, não é só a árvore. É o terreno, a memória... e você não entende isso, Daniel, porque nunca perdeu alguém importante.
Ele ficou em silêncio, me olhando de um jeito diferente. Por um segundo, achei que ele fosse desistir. Mas claro, Daniel era tão teimoso quanto eu.
— Está bem. — ele disse, depois de um longo suspiro. — Ainda assim, vou insistir. E vou achar uma solução que seja boa para você e para a fábrica.
— Boa sorte com isso! — respondi, sarcástica.
Ele deu um sorriso torto antes de se afastar.
— Você é mais teimosa do que imaginei.
— E você ainda não viu nada! — gritei para ele, me sentindo vencedora mais uma vez. Eu não sabia até onde aquele empresario insistiria em derrubar minha amada bananeira, porém, faria até o impossível para que ele desistisse dessa ideia.
Entrei em casa bufando. Que cara insistente! Porém, uma parte de mim não conseguia parar de pensar na maneira como ele olhou para mim, aquele brilho estranho nos olhos. Dei de ombros, ignorando esses pensamentos. Afinal, o importante era que eu havia sobrevivido à academia. E quem sabe, da próxima vez, eu teria finalmente a chance de impressionar o Rodrigo. Ou, pelo menos, não ser arremessada da esteira.
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