Capítulo 19 Declarando O Amor

Eu não sei em que momento o clima mudou entre mim e Daniel. Estávamos sentados no banco da pracinha, aquele mesmo lugar que já foi palco de tantas brigas, especialmente devido à bananeira. As árvores balançavam levemente com o vento e o ar cheirava a terra molhada, mas, pela primeira vez, o silêncio entre nós não era incômodo. Pelo contrário, tinha até uma certa paz.

— Sabe, Rafaela... — Daniel começou, a voz dele um pouco mais baixa que o normal. Olhei pra ele, e o vi brincar nervosamente com os dedos, como se estivesse preparando as palavras certas. — A gente começou isso de um jeito meio louco, né? Por causa de uma árvore.

Eu ri. Era impossível não lembrar do começo daquela confusão toda.

— "Meio" louco é um elogio. Eu quase enfiei uma enxada em você na primeira vez que te vi. — brinquei, cruzando os braços.

Daniel deu uma risada abafada e passou a mão pelos cabelos, como quem está tentando se recompor. Só que dessa vez ele não estava tão brincalhão. O jeito dele estava diferente, mais sério, e aquilo me fez sentir um friozinho estranho na barriga.

— Rafaela, eu vou ser direto. — ele me olhou nos olhos, e por um momento o tempo pareceu parar. — Eu gosto de você. De verdade. E não é de agora. Desde que você apareceu toda brava, com essa teimosia que só você tem, defendendo aquela bananeira como se fosse um pedaço do seu pai... — ele suspirou, e eu vi o quanto aquilo estava sendo difícil pra ele. — Eu percebi que você era diferente. Alguém com quem eu quero estar, mesmo que a gente brigue por cada coisa boba.

Minha cabeça deu uma girada. Daniel estava se declarando para mim, e eu não fazia ideia de como reagir. Meu primeiro instinto foi fazer uma piada, mas, dessa vez, eu me segurei. Ele estava falando sério, e merecia uma resposta à altura.

— Você tá me dizendo que se apaixonou por mim no meio de uma briga por causa de uma bananeira? — perguntei, tentando descontrair, contudo, minha voz saiu um pouco trêmula.

— Não só por causa disso. — ele respondeu, sorrindo de canto. — Foi por tudo. Pelo jeito que você enfrenta as coisas, pelo seu carinho com tudo que tem a ver com a sua história, sua família. E, claro, pela sua teimosia também.

— Teimosia, né? — brinquei, me fingindo de ofendida. — Achei que homens preferiam mulheres mais... como posso dizer? Dóceis.

Ele deu uma risada mais leve dessa vez, e eu senti o peso no ar diminuir um pouco.

— Eu gosto do jeito que você é. Não queria que fosse diferente. — ele ficou sério de novo, os olhos fixos em mim. — E é por isso que estou te pedindo pra ser minha namorada.

Minha respiração engasgou. Namorada? Ele já tava pulando logo pra isso? Não tinha nem um "vamos sair mais vezes" ou um "ver no que dá". Daniel Correia não perdia tempo mesmo. Era oito ou oitenta.

Porém, antes que eu pudesse pensar demais, minha boca soltou as palavras por mim:

— Sim, eu aceito!

Assim, sem mais nem menos. Soltei o "sim" e senti meu coração disparar logo depois. Meu Deus, o que eu tinha acabado de fazer? Daniel abriu um sorriso que parecia iluminar a praça inteira. Ele chegou mais perto e, sem pensar duas vezes, segurou minhas mãos. O toque dele era quente, e eu não conseguia esconder o sorriso idiota que tinha se estampado no meu rosto.

— Cê tem certeza disso? — ele perguntou, como se ainda duvidasse da resposta. — Porque você sabe que eu não sou de fazer as coisas pela metade.

— Tá achando que eu aceito pedido de namoro todo dia, é? — brinquei, tentando esconder meu nervosismo.

Ele riu, e eu comecei a rir também. Rimos como dois idiotas, como se tudo aquilo fosse a coisa mais absurda do mundo. E, pensando bem, até que era. Toda essa história tinha começado com uma briga ridícula sobre uma bananeira que ninguém dava a mínima, a não ser eu. Uma briga que se transformou em encontros forçados, depois em discussões intermináveis, e agora... agora éramos namorados.

— Quem diria, hein? — comentei, ainda rindo. — Eu pensei que no máximo você ia mandar me prender por causa da bananeira. Agora tô aqui, de mãos dadas com o cara que eu mais briguei.

— Pois é, e olha que essa bananeira ainda tá lá. Intacta. — ele sacudiu a cabeça, rindo.

— Você tá brincando, mas eu venci essa batalha. — falei, soltando uma risadinha de vitória.

— Eu deixei você ganhar. — ele rebateu, com um sorriso malandro. — Senão, acho que ia acabar apanhando com a tal enxada.

Gargalhei dessa vez. Não conseguia lembrar da última vez que me senti tão leve, tão feliz. Toda aquela tensão entre nós, que antes parecia sempre prestes a explodir, agora fazia parte de uma história que nos aproximou. Era irônico, entretanto, de um jeito bom.

— Agora é sério, Daniel. — comecei, me recompondo. — A gente começou brigando tanto que eu nunca pensei que isso ia dar em alguma coisa boa.

Ele me olhou, o sorriso mais suave no rosto, e respondeu de um jeito que eu não esperava.

— Às vezes, as melhores coisas começam de um jeito complicado. Eu não me importo de brigar com você, Rafaela. Contanto que no fim das contas a gente sempre se entenda.

Meu coração deu mais um salto. Aquilo não parecia só uma promessa de namoro, parecia algo maior. Algo que, apesar de todo o caos e confusão, eu estava disposta a tentar. Quem diria que, no meio de tanto bate-boca e teimosia, eu encontraria alguém que realmente me entendesse?

— Só não vai se arrepender, viu? — avisei, tentando manter o tom de brincadeira.

— Nem se eu quisesse. — ele disse, e então, antes que eu pudesse responder, me puxou para um beijo.

E foi ali, no meio da pracinha da cidade, com o cheiro de terra molhada e as folhas das árvores dançando ao vento, que tudo mudou. O que começou com uma briga boba por uma bananeira se transformou em algo que eu nunca imaginei. E, pela primeira vez em muito tempo, eu estava pronta para deixar o passado um pouco de lado e viver algo novo.

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