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CAPÍTULO 2
106 D. C; SILVERWING.

QUERIDO DAEMON,

Já faz quase um ano desde a última vez que te vi, só sei de você graças a Mysaria que responde minhas cartas. Por que não me responde? Já te disse mil vezes que não estou chateada por você chamar Baelon de 'herdeiro por um dia'. Não vou negar que você me machucou, mas não estou brava com você.

Tentei falar com Viserys sobre isso, mas ele não quer mais saber. Ele também não concordou em anular seu casamento, sinto muito, mas não se preocupe, continuarei tentando.

Como sabe, me integrei mais ao tribunal e agora tenho assento na mesa do conselho, gostaria que tivessem visto a cara de surpresa de todos. Eu sei que você ouviu os rumores sobre minha mudança repentina de atitude, minhas donzelas dizem que as pessoas falam sobre o dragão que despertou dentro de mim depois de perder meu filho. Se soubessem que a morte dele não me afetou como pensam...

Rhaenyra está feliz, troquei suas empregadas e atribuí três das minhas, a mais nova e ela ganhou novas amigas. Ela também se sente mal com a perda de Baelon, mas acho que tem mais a ver com a ausência de Viserys.

Antes que eu me esqueça, descobri que Alicent Hightower visita meu marido em seus aposentos quando ele está sozinho. Pobre menina, tão jovem e já estão tentando vendê-la como gado. Suponho que o conselho exija que meu marido tome uma mulher em casamento para lhe dar mais herdeiros. O que supõe que devo fazer? Mesmo com minha presença nas reuniões e minha mudança de caráter, eles continuam a pisar em mim.

Espero sua resposta,

Aemma Arryn.

A rainha passou a mensagem para sua criada principal, Calia, e ela rapidamente a guardou em suas roupas para que pudesse enviá-la assim que tivesse tempo.

— Por favor, diga a Taryn e Shamsi que minha filha vai jantar comigo hoje.

— Claro, Majestade.

Com sua graça habitual, Aemma deixou seu quarto com dois membros da Patrulha da Cidade seguindo a uma distância respeitável. A esposa do rei caminhava calmamente pelos corredores da Fortaleza, com as costas retas e a cabeça erguida, sempre com um sorriso suave no rosto. Seus passos a levaram a uma de suas varandas favoritas na Fortaleza, aquela que revelava os jardins que ela mesma supervisionava. A princesa Rhaenys estava sentada em um banco olhando para os jardins, quando a ouviu chegar virou a cabeça para olhá-la e ambas sorriram gentilmente.

— Prima. — Aemma cumprimentou-a enquanto ela se aproximava.

— Prima... — Rhaenys se levantou. — Como você está hoje?

— Estou bem, prima. — a Rainha cruzou as mãos atrás das costas. — Acho que devemos abandonar as formalidades e falar sobre coisas mais importantes.

— Claro. — a mais velha olhou para o jardim. — Corlys me disse que eles estiveram conversando no conselho.

Sobre uma segunda esposa?

Eu sei que meu primo nunca tomaria outra esposa. — seus olhos se encontraram. — Então eu quero aconselhá-la. — Rhaenys gentilmente pegou sua prima pelos ombros. — O que você me disse sobre reivindicar um dragão, você deve fazer, se você tiver um, ninguém pode passar por você.

Eu tenho trabalhado nisso. — Aemma colocou as mãos nos braços de sua prima. — Se Daemon não responder à minha última mensagem, irei para o poço e reivindicarei Dreamfyre.

— Gosto dessa nova atitude. — confessou Rhaenys. — Não a perca, deixe todos verem que você tem sangue de dragão correndo em suas veias.

Depois dessa conversa, elas seguiram caminhos separados. Aemma soube que o conselho estava em reunião e não hesitou em entrar na sala com o sangue fervendo nas veias. Ela havia ignorado os sussurros de um segundo por um longo tempo, mas era hora de detê-los antes que alguém tivesse a brilhante ideia de oferecer sua filha como candidata. Ela teve o suficiente com Otto Hightower tentando vender sua filha sem qualquer coragem.

O filho da puta.

Os guardas que guardavam a entrada da sala não tiveram tempo de anunciar sua chegada, ela mesma abriu as portas causando um escândalo. Todos se viraram para olhar para ela e ficaram surpresos com sua entrada abrupta, certamente sua expressão irritada também tinha algo a ver com isso. Rhaenyra olhou para ela preocupada de onde ela estava ao lado de seu pai, e Aemma teve uma ideia. Se eles querem um herdeiro, ela daria um a eles.

— Aemma, querida. — Viserys a chamou em confusão. — Algo errado?

— Por que não fui informada da reunião? — respondeu ela com outra pergunta.

— É apenas uma pequena reunião, querida, eu não pensei...

— O quê? — ela o interrompeu. — Você estava lendo a lista de possíveis candidatas a uma segunda esposa?

Todos se enrijeceram e olharam para baixo com tristeza, exceto Lyonel Strong e Lord Beesbury. O Senhor de Harrenhal olhou para o Rei que suspirou em derrota.

— Aemma...

— Não haverá uma segunda esposa. — Aemma sentenciou. — Querem um herdeiro para o trono? — olhou para os Lordes sentados. — Minha filha Rhaenyra tem direito ao trono, não há necessidade de mais herdeiros.

Os olhos de Rhaenyra se arregalaram de surpresa e a caneca em suas mãos quase caiu no chão graças a suas mãos começando a tremer.

— Majestade...

— Aemma...

— Mãe...

Todos falaram ao mesmo tempo tentando negar, mas um único olhar da mulher foi o suficiente para que todos ficassem calados. Até Viserys tremeu quando o olhar ardente pousou sobre ele.

— Rhaenyra deve ser sua herdeira. — Aemma sentenciou. — Ninguém merece mais do que ela.

Viserys olhou para a filha, que se endireitou completamente e olhava para a mãe com admiração. Sem poder recusar sob o olhar da esposa, o rei acabou cedendo. Quando Aemma saiu da sala com Rhaenyra, ela podia ouvir as vozes tentando falar umas sobre as outras, mas ela se concentrou apenas em sua filha, que precisaria dela agora mais do que nunca.

Querida Aemma,

Rhaenys irá ajudá-la a sair da Fortaleza.

Assinado,

Daemon.

Aemma agarrou a capa que estava ao lado do bilhete e por um segundo se perguntou se deveria seguir o plano de Daemon. Plano que ela desconhecia. Depois de pensar bem, ela resolveu colocar a roupa que encontrou debaixo da capa, eram roupas de montaria e para sua surpresa lhe serviram bem, ela colocou a capa por cima da roupa e cobriu os cabelos com o capuz. Quando ela estava pronta, Rhaenys apareceu vestida igual a ela, Corlys a acompanhou para garantir que elas pudessem sair sem nenhum problema.

— Qual é o plano de Daemon? — Aemma perguntou em um sussurro enquanto caminhavam pelos corredores escuros da Fortaleza.

— Eu tenho que levá-la para Dragonstone. — respondeu Rhaenys.

— O que? — a voz de Aemma aumentou e os três pararam. — Você vai me fazer voar Meleys? — ela baixou a voz novamente.

— Vai te dar prática.

Rhaenys agarrou a mão de sua prima e continuou seu caminho, arrastando-a consigo. Corlys continuou andando na frente delas, certificando-se de que o caminho estava seguro, quando eles conseguiram sair da Fortaleza sem nenhum problema, um guarda da casa de Velaryon os esperava com três cavalos. Assim que conseguiu sentar no cavalo, Aemma se sentiu perto da liberdade, pelo menos até ouvirem vários guardas gritarem. Rhaenys olhou para o marido e com um único aceno dele, ela colocou seu cavalo em movimento, Aemma seguindo, fugindo dos guardas que gritavam para elas pararem.

Amanhã ela falaria com o marido.

Elas conseguiram chegar ao fosso do dragão e correram para desmontar seus cavalos, foi Rhaenys quem falou com os guardiões e pediu que Meleys fosse levado para fora. Aemma ajustou seu capuz e se escondeu atrás de Rhaenys enquanto esperavam que a rainha vermelha fosse trazida. Meleys apareceu logo depois, jogando seu corpo e rosnando baixo, o enorme dragão parou na frente de seu cavaleiro e se agachou.

— Venha, vem conhecê-la. — Rhaenys caminhou até seu dragão e estendeu a mão para sua prima.

Com alguma hesitação, Aemma agarrou a mão de sua prima e deixou-a guiá-la até que sua palma tocasse as escamas quentes do dragão. Meleys rosnou baixinho e ela sorriu olhando para sua prima, naquele momento ela entendeu porque sua filha preferia passar seus dias em Syrax do que manter os pés no chão.

— Parem! — alguém gritou.

— Devemos ir. — Rhaenys olhou para a entrada do poço.

A princesa subiu nas costas de Meleys e ajudou a prima a subir. Assim que elas estavam seguras no monte, o dragão levantou vôo. Aemma fechou os olhos com força em sua prima e um grito escapou dela, ela não estava pronta para isso. Já no ar com Meleys voando firmemente, ela ousou abrir os olhos e se maravilhou com a vista de King's Landing do ar.

— Você gosta da vista? — a mais velha virou a cabeça para vê-la.

— É magnífico. — respondeu ela.

O vôo foi curto, especialmente porque elas estavam no dragão mais rápido que existe, elas chegaram a Dragonstone muito antes do sol pensar em nascer. Quando elas pousaram perto do Dragonmont Daemon já as esperava com uma tocha na mão, o príncipe não conseguiu esconder o sorriso de diversão ao ver suas duas primas em Meleys, principalmente Aemma.

— Bem-vindas à minha casa! — ambas reviraram os olhos.

Daemon se aproximou e ajudou Aemma a descer de sua montaria, Rhaenys olhou para eles pela última vez certificando-se de que sua prima estava bem e subiu no ar novamente com seu dragão, deixando-os sozinhos.

— Você está pronta? — o garoto de cabelos brancos olhou para a cunhada.

— Mais que preparada.

Com Daemon liderando o caminho para eles se movimentavam por Dragonmont com facilidade, o príncipe contou a ela sobre os dragões que habitavam a ilha e quais seriam os ideais para isso. A lista diminuiu para três, Vermithor, Silverwing e Gray Ghost, mas o terceiro era difícil de encontrar, então Aemma considerou apenas os dois que ela já conhecia. A caverna mais próxima era a de Vermithor, mas quando eles entraram o dragão não estava lá, então eles continuaram subindo a montanha.

Enquanto caminhavam, podiam ouvir os rugidos do dragão, mas não encontraram nenhum até chegarem à caverna de Silverwing. Daemon foi o primeiro a entrar e, quando saiu, tinha um sorriso no rosto que causou calafrios em Aemma.

— Você consegue, só precisa confiar em si mesma. — o homem de cabelos brancos passou a tocha para ela.

— Acho que te vejo no ar. — os dois se olharam por vários segundos.

O sol estava apenas começando a nascer quando Aemma entrou na caverna de Silverwing engolindo todos os seus nervos. Seus passos ecoaram nas paredes da caverna, era algo saído de um livro de terror, mas ele não parou até ouvir um movimento. Ela estendeu a tocha para a frente e seu corpo congelou quando um par de olhos brilhou na escuridão, o chão tremeu e a figura de Silverwing ficou um pouco clara à luz da tocha. Aemma abaixou a tocha e assistiu quase com admiração quando a boca do dragão se abriu, um rugido forçou seus olhos a se fecharem e o fogo da tocha morreu deixando tudo na escuridão. No entanto, a caverna se iluminou quando uma rajada de fogo foi lançada.

— Pelos deuses. — Aemma olhou para a rajada de fogo.

O dragão abaixou a cabeça novamente e ela mal podia vê-lo antes que tudo fosse consumido pela escuridão novamente. Era agora ou nunca.

— Silverwing , obedeça! — um rosnado foi ouvido. — Acalme-se! — ela tirou as luvas e estendeu a mão direita para a frente. — Obedeça! — um rugido sacudiu a caverna.

O sol já estava nascendo no céu quando Daemon finalmente chegou ao fim do Dragonmont onde Caraxes o esperava. Ele olhou para seu fiel companheiro e se virou para a montanha, talvez não devesse ter deixado sua cunhada sozinha, mas reivindicar um dragão não era algo que pudesse ser feito com a intervenção de terceiros. Caraxes gritou avançando em sua direção, mas de repente parou e levantou o pescoço para olhar para Dragonmont, Daemon olhou para seu dragão por um segundo ao ver como ele ficou alerta. Um rugido foi ouvido e da montanha um dragão voou em direção ao castelo, Daemon olhou para a figura do dragão que ele conhecia muito bem e não pôde deixar de sorrir, ao seu lado Caraxes rugiu.

No ar Aemma gritava, a adrenalina de estar em cima de um dragão era demais para ela, principalmente quando tudo o que ela tinha para se segurar eram as pontas no pescoço do dragão que pertenciam a sua avó. Quando Silverwing finalmente determinou que ela era uma cavaleira digna, começou a voar mais estável sobre o mar e Aemma conseguiu relaxar. Eles voaram por várias horas até que o sol já estava brilhando forte no céu, eles pousaram perto do castelo e Daemon a cumprimentou com um sorriso.

— Parabéns, Majestade! — Daemon gritou.

— Obrigada, Daemon! — Aemma sorriu para ele. — Talvez um dia possamos voar juntos! — ela olhou para Caraxes.

— Você deveria voltar para King's Landing antes que meu irmão perca a cabeça!

Aemma assentiu e respirou fundo.

— Voe! — Silverwing abriu suas asas e elas voltaram ao ar. — Leve-nos para Porto Real, precioso!

O dragão rugiu e mudou a direção de seu vôo.

Em King's Landing, Viserys estava prestes a perder a cabeça. Na noite anterior, eles pegaram Lord Corlys com duas pessoas suspeitas, mas quando tentaram obter informações dele, o homem se recusou a falar até que sua esposa aparecesse, então eles perceberam que a Rainha estava desaparecida. Não importa quantas vezes Rhaenys o assegurasse de que Aemma estava bem, o Rei continuou andando de um lado para o outro xingando, até Rhaenyra ficou surpresa ao ouvir seu pai amaldiçoar assim.

— Sua Majestade, um dragão está se aproximando da Fortaleza.

— Um dragão? — perguntou o confuso Rei.

— Não, Majestade, não sabemos que dragão é.

— Está na hora. — Rhaenys levantou-se olhando para o marido. — Devemos ir para o poço do dragão.

Ainda confusos e preocupados, Viserys e sua filha seguiram o casal, Otto se juntou a eles fingindo preocupação. Enquanto eles viajavam para o poço do dragão, Aemma pousou sacudindo o chão, Silverwing rugiu e ela sorriu ao ver os rostos surpresos dos guardiões do dragão. A Rainha acariciou o pescoço de seu dragão enquanto este se inclinava para descê-la. Nesse momento chegaram o Rei e os outros.

— Prima, você conseguiu! — Rhaenys bateu palmas encantada ao ver sua prima em cima do dragão.

— Pelos deuses. — Rhaenyra observou sua mãe descer do dragão, com os olhos arregalados de admiração.

— Parabéns, Majestade! — Lorde Corlys a parabenizou.

— Aemma. — Viserys tentou se aproximar.

Silverwing moveu-se assim que sentiu a presença de mais pessoas, envolvendo a rainha com o rabo e escondendo-a sob a asa, rugindo para os intrusos em alerta. Viserys parou e olhou para o dragão que parecia pronto para atacar a qualquer momento, Rhaenyra exclamou animadamente atrás dele.

Acalme-se, precioso, está tudo bem. — Aemma moveu-se para acariciar o dragão. — Não há perigo.

O dragão rosnou, mas deixou sua posição defensiva. Os guardiões se aproximaram com cuidado para não provocar o dragão, já fazia anos desde a última vez que Silverwing foi acorrentado então Aemma pediu que eles não o acorrentassem e apenas ficassem de olho nele, ninguém poderia recusar a ordem da Rainha.

— Mãe, você tem um dragão! — Rhaenyra se aproximou de sua mãe e a abraçou. — Podemos voar juntas!

— Voaremos juntas quantas vezes você quiser, minha princesa. — Aemma beijou a testa da filha.

— Aemma... — Viserys se aproximou. — Meus deuses, eu estava tão preocupado.

— Sinto muito, Viserys, mas era algo que eu tinha que fazer.

— Entendo, meu amor.

Rhaenyra fez uma cara de nojo que fez seus pais rirem. Os olhos de Aemma se voltaram para Otto Hightower e o encontraram olhando para ela com curiosidade, suspeita e outras emoções que ela não conseguia identificar. Mas ela notou a surpresa em seu rosto.

Querido Daemon,

A reação de Otto foi magnífica, gostaria que você tivesse visto.

Viserys está feliz em ver que consegui reivindicar um dragão, mas agora é ele quem reclama das horas que passo no ar com Rhaenyra. Você acha que podemos convencê-lo a reivindicar outro dragão?

Vou tentar convencê-lo a deixar você voltar, prometo.

Com carinho,

Aemma Arryn.

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