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CAPÍTULO 1
105 D. C; BAELON TARGARYEN.

QUERIDO DAEMON,

Acho que você está surpreso em receber uma mensagem minha e não do seu irmão, mas eu queria falar com você sobre algumas coisas que me impedem de dormir à noite. Como sabe estou grávida, faltam pouco menos de dois meses para o fim da minha gravidez e a cada dia que passa as coisas estão piorando. Sinto que estou morrendo, Daemon, não quero morrer, não quero deixar minha Rhaenyra sozinha.

Eu sei que você conhece os curandeiros Essos e por isso sinto a necessidade de pedir que você traga alguns para a Fortaleza, não confio nos mestres e donzelas que dizem cuidar de mim. Viserys não ajuda, você sabe como ele é, ele confia cegamente em todos eles e sei que se eu pedir ajuda a ele será em vão. Também sei que você deve manter um pouco de afeto por mim, mas prometo que pedirei a Viserys que anule seu casamento se você me ajudar. Não posso fazer isso sem você, Daemon.

Preciso da sua ajuda... Rstou com medo.

Tenho medo de morrer assim, não me deixe morrer assim.

Com carinho,

Aemma Arryn.

Querida Aemma,

Você não precisa se rebaixar para implorar ou se oferecer por trocar de minha ajuda. Você é minha cunhada e a única naquela corte que vale alguma coisa, além de nossa querida Rhaenyra.

Quando esta mensagem chegar às suas mãos, estarei em Essos procurando os melhores curandeiros, enquanto isso enviarei minhas mulheres de confiança para que você possa trocar suas donzelas e receber cuidados de verdade. Sei que todos vão ficar alarmados em receber esse tipo de mulher na Fortaleza, mas garanto que não são prostitutas, são mulheres que trabalham honestamente nos bares da Baixada das Pulgas, muitas delas ainda são puras então são seguras para cuidar. Além disso, enviei dois de meus homens de maior confiança da Vigilância da Cidade para aumentar sua segurança.

Mysaria, ela é uma prostituta, ela se encarregará de entregar minhas mensagens para você, se precisar de mais alguma coisa pode dizer a ela e ela atenderá sem problemas. Mesmo que seja uma gravidez, trate como comer pão barato Flea Bottom.

Espero que, com a troca de donzelas, você consiga dormir.

Vou tentar voltar o mais rápido possível.

Com carinho,

Daemon.

A Rainha sorriu redobrando a carta e olhou para as mulheres a sua frente, eram sete mulheres vestidas com finas sedas vermelhas e uma que estava vestida de branco, atrás das mulheres estavam dois membros da Guarda Municipal de costas retas e prontos para proteger dela.

— Príncipe Daemon nos pediu para cuidar de você, Sua Majestade. — Mysaria, a mulher de branco, falou. — Por isso escolhi minhas melhores mulheres, o príncipe as conhece e são as de maior confiança.

— Alguns delas parecem muito jovens. — comentou Aemma, passando a mão sobre a barriga.

— Se me der licença, Majestade, escolhi as mais novas para evitar que acabassem em alguma casa de prostituição. — Mysaria olhou para as jovens. — Você é uma boa pessoa e sei que elas ficarão bem aqui.

— Obrigada, Mysaria, vou cuidar bem delas. — Aemma tentou se acomodar e logo tinha sete mulheres ao seu redor tentando ajudá-la.

— Se você precisa enviar uma mensagem para o príncipe, basta enviar com uma de suas criadas e eu enviarei para o príncipe.

Mysaria fez uma reverência e ajustou o capuz de sua capa sobre a cabeça antes de sair do quarto. Quando as portas se abriram para deixá-la sair o Rei apareceu acompanhado de sua Mão, Otto, os dois olharam para a mulher que os cumprimentou com uma reverência antes de sair. Aemma imediatamente amassou o papel em sua mão e uma das garotas se moveu para agarrá-lo para escondê-lo, ela agradeceu com um sorriso gentil.

— O que está acontecendo, Aemma? — Viserys olhou para sua esposa cercado por mulheres que ele nunca tinha visto antes. — Me disseram que você mandou suas criadas. — seu olhar parou nos dois cavaleiros.

— Não me senti confortável com as outras, Viserys. — ela também olhou para os cavaleiros. — Daemon queria enviá-los para ver o quanto havia melhorado a Vigilância da Cidade.

— Daemon? — Viserys virou-se para olhar para sua esposa. — Daemon os enviou?

Aemma assentiu sem mudar sua expressão delicada em seu rosto, seus olhos indo para Otto que olhava para as mulheres com desdém.

— Sir Harrold... — chamou a Rainha. — Se puder levar minhas criadas e guardas para se instalarem.

— Claro, Majestade. — o cavaleiro fez uma reverência.

As mulheres moveram-se sem esperar por uma ordem e seguiram o homem para fora da sala, deixando o casal real e a Mão do Rei sozinhos. Aemma queria que Otto fosse embora, mas ela precisava ouvir o que ele tinha a dizer.

— Majestade, não acho prudente trocar suas criadas e guardas por pessoas que não conhecemos. — Otto falou de cabeça baixa, sem olhar para ela, num falso ato de submissão.

— Otto está certo, Aemma. — Viserys se aproximou dela. — Eles podem te machucar.

— Você acha que Daemon seria capaz de enviar pessoas para me machucar? — ela agarrou as mãos do marido.

— Com todo o respeito, Sua Majestade. — Otto falou novamente. — Príncipe Daemon não conhece outras mulheres além das prostitutas da Baixada das Pulgas, não seria apropriado para...

— Elas não são prostitutas, Lorde Otto. — Aemma o interrompeu, sentindo o sangue ferver em suas veias. — Elas são minhas donzelas e terão o respeito de todos na Fortaleza.

Um silêncio tenso se espalhou e Otto se desculpou com ela. Nenhum dos dois esperava aquela explosão dela e ela sorriu internamente, a partir de agora ela iria lembrar a todos que ela também era uma Targaryen.

— Deixe-nos em paz, Otto. — pediu o rei.

O homem fez uma reverência e saiu da sala sem dizer mais nada. Aemma suspirou e esfregou a barriga, ao lado dela Viserys também suspirou, mas não disse nada para não irritá-la. Ficaram em silêncio durante vários minutos até que o meistre apareceu acompanhado pelas novas criadas da Rainha que agora usavam os mesmos uniformes das restantes donzelas da Fortaleza. O meistre verificou sob o olhar atento do Rei e quando este assegurou que estava tudo bem e tentou dar uma chávena de chá à Rainha, uma das donzelas interveio.

— Com licença, Majestade. — Calia, uma das mais velhas do grupo falou. — Príncipe Daemon nos pediu para preparar as bebidas da Rainha.

— Mestre Mellos, por favor, anote a receita para que minhas criadas possam prepará-la. — pediu Aemma prontamente, satisfeita com a mulher.

O meistre olhou para o Rei em busca de ajuda, mas o homem apenas acenou com a mão indicando que ele seguiria as ordens dadas. Foi Lélia, uma jovem de cabelos negros, que se mexeu para seguir o mestre quando ele começou a escrever a receita do chá. Viserys ficou de lado observando as mulheres se moverem pela sala a pedido de Aemma e por um segundo ele se sentiu mal. Ele não via sua Aemma tão calma há meses, então decidiu não interromper e saiu da sala para dar espaço a elas.

A Rainha levou seu tempo nos dias que se seguiram para conhecer as mulheres, duas das quais vieram de Dorne, três do Norte e mais duas de Porto Real. Havia quatro jovens que tinham quase a idade de Rhaenyra, sendo que a mais nova tinha apenas dezessete anos, a mais velha das sete tinha vinte e nove anos e estava encarregada de liderar a mais nova. Durante horas ouviu histórias divertidas e deixou as mais novas se deliciarem em pentear os cabelos, era a primeira vez que relaxava tanto desde que Viserys fora nomeado herdeiro e não podia negar que gostou. Seu jantar foi preparado pelas mãos experientes de Taryn e Shamsi, ambas de Dorne, e ela desfrutou do novo sabor com gosto. Após o jantar, prepararam um banho para ela com água morna e folhas de alfazema para relaxá-la.

— Você passa mais tempo aí do que eu no trono. —Viserys comentou aproximando-se da banheira, sua mão tocou a água e ele sorriu levemente. — Posso mandar trazer um pouco mais de água quente.

— Mmh, não, está tão quente quanto o meistre me permite. — Aemma abriu os olhos para vê-lo.

— Dragões precisam de calor. — ele agarrou a mão de sua esposa para beijá-la.

— Eu não ficaria surpresa se um dragão realmente nascesse. — ambos riram.

Aemma olhou para o marido e sentiu um nó na garganta. Como ela iria dizer a ele que esta seria sua última gravidez? Ela odiava ter que matar sua ilusão de ter outro filho, mas não podia mais, aquela gravidez a estava matando e Rhaenyra precisava dela.

— Viserys... — ela chamou suavemente. — Este é o último.

Viserys olhou para ela e acenou com a cabeça, abaixando a cabeça, ele entendeu, ele sabia que não poderia exigir mais de sua amada Aemma e ele se odiaria se seu desejo de ter um filho acabasse prejudicando-a.

— Me desculpe, eu sei que falhei com você. — a mulher de cabelos brancos se aproximou dele, apoiando o queixo nas mãos unidas. — Mas não aguento mais.

— Ok, Aemma. — Viserys beijou sua testa. — Tenho certeza que esta será a criança que esperamos por tanto tempo.

Naquela noite a Rainha conseguiu dormir sem preocupações.

Querida Aemma,

Finalmente voltei de Essos, espero poder visitá-la antes que você entre em trabalho de parto.

Eu enviei a você os melhores curandeiros que encontrei, eles serão leais a você e ao meu irmão. Peço-lhe, se necessário, que obrigue meu irmão a ser verificado por eles. Também seria bom se Rhaenyra estivesse sob seus cuidados quando ele precisasse. Também não confio nos meistres da Fortaleza, e me daria mais tranquilidade saber que estão todos sob os cuidados de mãos leais.

Falando em Viserys, ele me escreveu há algumas semanas para questionar meu súbito interesse em ajudá-la, acho que ele duvida de minhas intenções, embora isso possa ser obra do bastardo ganancioso que ele tem ao seu lado o tempo todo.

Espero que você se sinta melhor.

Assinado,

Daemon.

— Sua Majestade... — Mysaria chamou. — Eu garanto que esses curandeiros são muito capazes. — ela falou em valiriano. — Eles só falam valiriano, minha senhora, então serão leais à família real.

Você os testou? — Aemma examinou os homens e mulheres.

Claro, minha rainha, o próprio príncipe Daemon também os testou. — Mysaria assegurou-lhe.

— Obrigada, Mysaria. — a garota de cabelos brancos sorriu sinceramente. — Você tem sido muito boa para mim no último mês.

— Estou ao seu dispor, Majestade. — a mulher fez uma reverência.

Mais uma vez, a mulher saiu, deixando-a com seis pessoas vestidas de acordo com os costumes de Lys. Quatro homens e duas mulheres. A Rainha recostou-se ligeiramente no sofá e entregou a carta de Daemon a Anjali que imediatamente a jogou no fogo.

— Kirsi, por favor, procure meu marido. — ela pediu à jovem do Norte que acenou com a cabeça e desapareceu imediatamente. — Bem-vindos à Fortaleza Vermelha. — ela se dirigiu aos curandeiros.

É um prazer servir a Rainha dos sete reinos. — falou o mais velho dos seis, curvando-se.

É um prazer para mim que você possa me atender. — Aemma sorriu gentilmente, revelando a doçura que a caracterizava.

Com licença, Majestade. — uma das mulheres deu um passo à frente com uma xícara nas mãos. — O príncipe Daemon nos pediu para fazer uma avaliação de sua condição.

Verificar se há vestígios de veneno. — acrescentou o outro.

Veneno, com certeza.

Com algum medo, ela acenou com a cabeça e deixou que trouxessem a xícara que acabou por ser um chá de ervas de Lys. Enquanto ela bebia o chá amargo, explicaram-lhe que eram ervas que curavam o efeito de qualquer tipo de veneno. Viserys apareceu quando a mais velha das curandeiras explicou que ela teria complicações na hora do parto, algo que ela já sabia. O rei ficou confuso ao ver pessoas que não conhecia, mas com uma rápida explicação de sua esposa não teve escolha a não ser aceitar com a condição de que Mestre Mellos estivesse presente quando os curadores estivessem com ela. Naquele dia, o rei enviou uma carta ao irmão para que conversassem sobre o que estava acontecendo, mas não obteve resposta.

Querido Daemon,

Viserys está inquieto, você ignorando as cartas dele o faz girar como um dragão acorrentado. Rhaenyra acha engraçado, eu acho cruel da sua parte. Seu irmão te adora e quer você de volta, ele sente sua falta.

A cada dia a hora do parto está mais próxima e devo dizer que me sinto muito melhor do que meses atrás. Os curandeiros confirmaram que alguém estava me envenenando, daí a deterioração de minha saúde e a morte de meus filhos. Eles também verificaram Viserys e conseguiram curar os cortes que ele tinha, parece que ele também estava sendo envenenado, então designei duas de minhas criadas para cuidar de sua comida e bebida. E não se preocupe, fiz o mesmo com Rhaenyra, ela não estava sendo envenenada, mas é melhor prevenir.

Eles pensaram que poderiam se livrar de mim e de meus filhos, eles os mataram antes que pudessem respirar, agora serei eu quem vai se livrar deles. Mas preciso de você para isso, Daemon.

Quando volta? Temos coisas para conversar e não posso dizê-las por cartas.

Com carinho,

Aemma Arryn.

Daemon Targaryen atravessou os portões da Fortaleza no início da manhã com ombros retos e um sorriso malicioso no rosto. O príncipe dirigiu-se diretamente ao quarto onde sabia que estava a cunhada, não foi ver o irmão, nem pediu que alguém avisasse da sua chegada. Ele simplesmente veio e invadiu a sala onde a Rainha estava descansando. Aemma estava no último mês de gravidez e poderia dar à luz a qualquer momento, então Viserys achou prudente realizar um torneio, e ele não perderia essa oportunidade.

— Daemon. — Aemma sorriu com felicidade genuína quando o viu. — Eu não estava esperando você.

— Eu não poderia perder o torneio que meu irmão está preparando para mim. — ele brincou fazendo-a revirar os olhos.

— Eu darei à luz uma criança. — ela assegurou. — Venha sentar comigo, eu estava prestes a tomar um chá.

Calia puxou uma cadeira ao lado da Rainha e se afastou deixando Kirsi para entregar-lhe o chá.

— Vejo que eles cuidam bem de você. — Daemon sentou na cadeira. — O que os curandeiros dizem sobre o bebê?

— Eles dizem que provavelmente não vai sobreviver mais de uma semana. — respondo no meio de um gole de chá. — O chá tem efeito sobre mim, mas eles não podem fazer nada pelo bebê.

Daemon descansou os cotovelos nas coxas dela e juntou as mãos olhando para a barriga protuberante da cunhada. Era muito foda para ele saber que a tristeza de sua família era causada por terceiros, embora quisesse manter sua posição de herdeiro, jamais desejaria a morte de alguém de sua família, ainda mais por um bebê que não tinha culpa de nada.

— Esquecem que você é um dragão. — endireitou-se o de cabelos brancos. — Acham que por não ter um dragão você é menos Targaryen do que os outros.

— Viserys também não tem um dragão. — ela o lembrou.

— E é por isso que é fraco. — Aemma balançou a cabeça e bebeu o último gole de seu chá. — Quando você se recuperar iremos para Dragonstone, você pode reivindicar um dragão.

— Eu não acho que tenho o que é preciso para reivindicar um dragão. — ela franziu a testa. — Talvez eu tivesse antes, mas agora...

— Então vamos encontrar um ovo de dragão. — ele a interrompeu — Temos que proteger nossa família, Aemma. — os dois se entreolharam. — Devemos fazê-los pagar pelo que fizeram a você.

Daemon estava certo, Aemma sabia disso, então ela concordou com a ideia de reivindicar um dragão. Ela nunca tinha voado em um dragão em sua vida, mas estava em seu sangue e se ela conseguisse fazer isso, ninguém ousaria tratá-la menos do que nunca.

Querida Mysaria,

Presumo que Daemon já tenha informado sobre o que está acontecendo e o que planejamos fazer. Por isso escrevo para lhe oferecer minha proteção, se a qualquer momento precisar de minha ajuda, não hesite em pedir.

Sobre o que conversamos da última vez que nos encontramos, tenho uma proposta para o Rei e prometo colocá-la em prática assim que me recuperar do parto.

Mais uma vez, você tem minha eterna gratidão e...

Acho que acabei de entrar em trabalho de parto, me deseje sorte.

Com amor sincero,

Aemma Arryn.

Os gritos da Rainha ecoavam pelos corredores da Fortaleza, o trabalho de parto estava sendo difícil, mas Aemma estava tranquila porque tinha consigo suas donzelas e curandeiros. Mestre Mellos também esteve presente, mas afastado por ordem da Rainha. Foram horas de dor agonizante onde Aemma não encontrava conforto em nada, saber que ela estava passando por aquela dor e que seu bebê não viveria muito era o pior. Horas se passaram até que ela finalmente conseguiu expelir o corpo de seu bebê, lágrimas de tristeza escorriam de seus olhos e suas donzelas a acompanhavam em sua dor quando o bebê chorava com todos os pulmões. Os olhos azuis da Rainha estavam desfocados, mas ela podia ouvir claramente o choro que foi diminuindo aos poucos até não ser mais ouvido.

— Uma criança, minha senhora. — ela reconheceu a voz de Morana. — Ele tem um nome?

Baelon. — ela sussurrou, piscando para clarear a visão. — Seu nome é Baelon.

Os olhos da Rainha se fecharam e a sala ficou em silêncio enquanto os curandeiros examinavam a mulher. Foi Calia quem tirou da sala o corpo frágil e sem vida do príncipe Baelon, ela não queria que sua Rainha sofresse muito ao ver uma criança que nunca abriria os olhos.

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