Raticate
A atmosfera que cercava a cidade de Lavander Town era a mesma de sempre. A cidade exalava uma aura melancólica, atingindo qualquer um que a adentrava com uma tristeza aconchegante que só aqueles que experimentaram a perda de alguém querido poderia apreciar. Essa mesma aura parecia sugar toda a energia e vontade de viver das coisas ao seu redor, não é a toa que a cidade era muito temida pelos treinadores de Kanto e sua população não chegava nem a um número de 100 habitantes. Alguma coisa no ar emitia um odor de morte.
Blue odiava e amava aquele lugar na mesma intensidade com todas as células do seu corpo. Odiava, pois o lugar despertava suas lembranças mais obscuras. Amava porque ali se encontravam assim como eles pessoas que compartilhavam junto com ele a dor da perda de alguém querido. É como se existisse um contrato implícito de empatia compartilhado e assinado por todos.
Apesar de estar em sua jornada para se tornar o treinador mais forte de Kanto, não estava ali visando o aperfeiçoamento de suas habilidades e sim para visitar alguém que a muito tempo fora um de seus amigos inseparáveis, mas que agora não estava mais presente naquele plano. E isso o corroía como se um milhão de agulhas estivessem penetrando seu coração.
Blue estava em seu caminho para a Pokémon Tower, lugar popularmente conhecido na região de Kanto por ser o maior cemitério de pokémons da região. Para lá iam todos aqueles que estavam velhos demais para continuar lutando ou simplesmente encontraram um destino terrível e infelizmente faleciam. Entre aquelas tumbas, está um de seus primeiros pokémons, Raticate.
Blue lembra como se fosse ontem o dia em que capturou seu Rattata na rota 1. Depois pouco tempo, ele evoluiu para um Raticate e se tornou cada vez mais forte graças ao treino intenso que Blue dava aos seus pokémons. Apesar disso, Blue só se deu conta que exigia demais deles dquando era tarde demais.
Se pelo ao menos eu tivesse exigido menos dele...
Tudo desencadeou da batalha no S. S. Anne. Quando Blue encontrara o seu rival, Red, a bordo do navio. O seu instinto o levou a desafiá-lo mais uma vez, com o objetivo de provar que era superior a ele, provando que tinha evoluído desde sua última batalha. A batalha acirrada resultou na derrota de Blue. Depois de terminada a batalha, Blue procurará por todo o navio por uma enfermeira Joy porém não obteve sucesso. Isso não seria problema se estivesse em uma situação normal – seus pokémons já haviam enfrentado condições piores e em maior espaço de tempo. Porém, seu Raticate estava muito debilitado devido a batalha e ao treino do dia anterior. O cruzeiro demorou dias para chegar em terra firme, até lá já era tarde demais, o pior já havia acontecido. Quando chegou no Pokémon Center o seu temor foi confirmado pela enfermeira Joy, seu pokémon estava morto.
Se Blue tivesse o poder de voltar no tempo saberia que poderia ter agido de outra maneira, mas agora é tarde demais e teria que aguentar as consequências como um homem. Naquele dia havia perdido mais que um de seus pokémons, um pedaço de si. Havia aprendido quão cruel era o mundo real podia ser longe de sua fantasia infantil.
Quando se viu estava subindo as escadas da Pokémon Tower até chegar no terceiro andar. Haviam um grupo de pessoas no lugar, algumas chorando, outras segurando fotografias e flores em frente aos túmulos.
O túmulo em que se encontrava seu Raticate continuava da mesma maneira desde a última vez que o visitará. Haviam flores, já há muito tempo murchadas, caídas em frente. Na escritura de pedra estava escrito "Blue's Raticate". Blue parou em frente ao tumulo e mais uma vez devaneou entre seus pensamentos.
Por um curto período de tempo após a morte de seu Raticate, Blue tentou culpar a todos pela morte, tentando ao máximo se isentar da culpa. Culpou Red, a enfermeira, o Raticate, até que reconhecer que fora sua culpa ter chegado até esse ponto. Se não tivesse exigido demais de seus pokémons eles não ficariam tão machucados e Raticate ainda estaria vivo.
"Eu sinto muito..."
Antes que pudesse protestar lágrimas escorreram de seu rosto, como se todas as torneiras em seu interior fossem ligadas ao mesmo tempo.
Após algum tempo, Blue seca suas lágrimas e diz, como se estivesse mandando um recado para seu companheiro em um plano existencial longínquo aquele.
"Eu prometo que vou me tornar campeão de Kanto, por você!"
E desde aquele dia, Blue prometera para si mesmo que derrotaria a elite dos 4 usando apenas 5 pokémons, como homenagem ao Raticate. Mal sabia ele que, não muito longe dali, Red logo o encontraria para mais uma das diversas batalhas que ainda teria pela frente.
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