Capítulo 79

"Era hora de dar um sentido à vida. Hora de começar de novo".

- David Nicholls

Por Emma

Engraçado que agora que eu decidi deixar o passado de lado e tentar um novo caminho, ele se tornou o presente. Parece até ironia do destino! A forma como meus sentimentos reagiram à sua volta, me assustou.

Desde cedo eu aprendi a esconde-los, meu foco sempre foi minha carreira, em viajar o mundo em uma companhia de balé, fazendo aquilo que mais amo, mas isso tudo mudou. Eu sempre imaginei que a superação era tudo aquilo que eu fiz, pelo menos foi o que me falaram, ou o que lia em diversos livros clichês, mas na vida real não funciona assim. É tudo tão profundo, e não gosto do fato de que agora não consigo mais, controla-los.

Faz dois dias que cheguei em Londres, não fiz exatamente nada, além de dormir. Estava precisando descansar, fazia muito tempo que não dormia tanto assim. Com as aulas na companhia, meu trabalho com as crianças, e ainda estava correndo atrás de tudo para a compra do prédio, da minha escolinha de balé e as reformas. Eu não sabia que ser uma adulta responsável e agora empresaria dava tanto trabalho.

Resolvo sair um pouco, para curtir um pouco a noite de Londres, as estrelas estão lindas, apesar da noite fria. Resolvo usar um vestido curto estampado, um casado preto e para complementar um coturno preto de salto e alguns acessórios.

Desço para pedir o carro da mamãe emprestado. Mas paro no topo da escada quando vejo ela e o papai no piano cantando juntos a música "Falling Like The Star" do James Arthur. Suas vozes são encantadoras e parecem que foram feitas para cantarem juntas, porque elas combinam perfeitamente uma com a outra. Sento em um dos degraus e fecho os olhos imaginando a coreografia perfeita para essa música.

— Oi meu amor, não tivemos — ela diz quando termina a música, abro meus olhos saindo do meu encantamento. É incrível o que uma boa música faz com você.

— Já falei que sou apaixonada pela voz de vocês? — Falo apoiando meu braço no piano, eles sorriem um para o outro, um sorriso tão apaixonado — queria saber se posso pegar a petúnia maria, queria dar uma volta? — Pergunto.

— Não precisa pedir, você sabe né — ela diz e apenas sorrio - amor vocês - beijo o rosto dos dois e vou até o Taylor para pedir a chave do carro. Hoje é dia de música ao vivo no restaurante da tia Mel, então vou lá.

Sento em uma das mesas bem na frente do palco, o garçom pergunta se quero fazer meu pedido e peço apenas um martíni e alguns minutos depois ele traz o meu pedido.

— Olá — alguém diz, olho para cima para ver e é minha tia — posso? — Ela pergunta se pode sentar comigo.

— Por favor — sorrio para ela. Deito minha cabeça em seu ombro, enquanto fico assistindo uma garota tocando Mozart em seu piano. Se fosse a algum tempo atrás já estaria dançando perto dela.

— Lembro de quando você e o Chris eram crianças, amavam fazer seus shows nesse palco, você não tirava sua sapatilha de balé, sempre saltitante por aí.

— Era um bom tempo.

— Porque você voltou? — Olho para ela estranhando a pergunta.

— Minha vida está aqui, minha família

— Não Emma, porque você voltou, de verdade? — Estreito os olhos para ela pensando no porquê de estar aqui hoje.

— Porque tenho coisas aqui, inacabadas, que eu preciso resolver — ela dá um pequeno sorriso de lado e deito minha cabeça em seu ombro novamente.

A garota termina a última música, se despede do público e sair do palco. No mesmo instante escuto uma voz atrás de mim conhecida. Olho para ver e ele está me encarando.

— Christian... você sabia que ele ia tocar hoje aqui? — Pergunto.

— Sim... a alguns anos atrás, eu estava nessa mesma posição, por coincidência nessa mesma mesa, com a Bella ao meu lado, chegando em Londres para recomeçar sua vida. O Thomas estava cantando, não lembro a música, mas sei que tocou algo no coração da Bella, porque nesse dia, os destino deles se cruzaram e eles não conseguiram mais se distanciar, mesmo que tentassem. Eu vejo o mesmo em vocês, desde pequenos, lembro bem de vocês brigando, mas não se desgrudavam por nada, um protegia o outro, era amigo, eram felizes juntos, mesmo negando isso — bebo um gole da minha bebida tentando entender onde ela quer chegar — e eu queria muito ver meu filho e minha sobrinha postiça felizes daquele jeito de novo — engulo seco o que ela diz, é horrível não saber o que fazer.

— Eu não sei tia, é complicado, eu o amo, sabe? Mas não sei se sou feliz com ele, quer dizer, eu sou, mas tem momentos que me pergunto se é o que quero para mim, é tão complicado — respondo olhando para ele.

— Mas o amor é isso, vocês são jovens, imaturos, vão aprender — volto a olhar pra ela — eu já fui assim um dia, sua mãe, todo mundo — respiro fundo.

— Respondendo sua pergunta novamente, eu voltei por mim. Por muito tempo eu procurei minha felicidade em outras pessoas, mas tinha medo de me machucar e acabava afastando todos, hoje eu sei que não preciso de ninguém pra isso, eu sou feliz porque tenho a melhor família do mundo, sou feliz porque danço, pelos meus alunos e por ter tido um amor totalmente épico, que por um tempo acabou e que se for pra ser, será, não importa o tempo, o que importa é que estou muito feliz — ela sorri pra mim.

— Fico muito feliz com isso, de verdade, o que mais quero no mundo é ver vocês felizes, não importa como, eu te amo — abraço ela e enxugo uma lágrima perdida em meu rosto.

— Também te amo. — Termino meu drink escutando o Christian fazer seu show.

— Quero agradecer a todos por hoje, foi um prazer toca para vocês, tenham uma boa noite — ele se despede e desaparece no meio das pessoas. Espero ele guardar as coisas e vou falar com ele. — Não acredito que você está aqui, chegou quando? — Abraço ele.

— Faz dois dias, eu cheguei bastante cansada, então resolvi ficar em casa — respondo. Vamos caminhando até o lado de fora e como eu sei que ele costuma vir caminhando para cá, já que mora a alguns quarteirões daqui, resolvo oferecer uma carona.

— Quer uma carona — balanço a chave do carro em meu dedo. Ele assinta com a cabeça e vamos procurar onde eu deixei ele, eu sempre esqueço onde estaciono.

Depois de encontrar a petúnia, resolvemos dá uma volta pela cidade para conversar. Acho que precisamos disso, nunca conseguimos ter um papo legal, de adultos, sem brigas e agora como estamos bem um com o outro, acho que é importante, principalmente agora que vou passar um tempo aqui.

— Eu acho que o Pedro vai te obrigar a voltar para a CatCo e ele é seu tio, ele pode e eu super apoio, você fez muita diferença lá em alguns meses.

— Eu não sei ainda, tenho que pensar em como vou conciliar tudo, minha escolinha, minhas idas a Nova Iorque, minha carreira e o que fazer agora em diante.

— Porque não abriu a escola aqui em Londres, não vai ser difícil com tudo lá?

— Eu já dava aulas lá, eu amo as crianças e eles precisam, vai ser difícil, mas tem a Vicki e o Ryan tomando conta de tudo para mim, confio neles.

— Entendi — ele sorri - é bom ter alguém de confiança, assim não fica preocupada.

— Está afim de dá uma volta? — Ele estreita os olhos para mim — confia em mim? — Ele apenas dá de ombros. Sorrio e sigo para um dos meus lugares preferidos, praia de Brighton, a famosa praia de pedras.

— Viemos longe.

— Desculpa, eu estava querendo ver o mar — desço do carro e vou até perto da água e sento no chão e ele senta ao meu lado — esse cheiro é tão bom — fecho os olhos respirando fundo.

— Tudo bem? — Assinto pra ele com um pequeno sorriso em meu rosto — quer conversar?

— Queria conversar sobre a gente — ele arqueia a sobrancelha — eu não quero brigar, só conversar.

— Claro, sem brigas — ele sorri e que sorriso lindo, foco Emma, você não pode se perder por um sorrisinho lindo.

— Porque foi atrás de mim em Nova Iorque? Não vem dizer, que era para ver uma apresentação.

— Na verdade, era, eu fui ver apenas a apresentação da melhor bailarina do mundo.

— Qual é... — Riu sem acreditar, mas ele apenas me olha sem entender, será se ele estava falando sério mesmo? Pigarreio constrangida — porque não me falou que tinha terminado com a Olivia?

— Eu não sei, foi tão bom passar aquele tempo com você, como amigos, não queria estragar falando dela, da pessoa que fez eu te perder.

— Aah — falo sem muita emoção, mas logo depois entendo o que ele falou direito e arqueio a sobrancelha para ele — como assim?

— Eu não te trai com ela Emma, nunca, posso ter todos os defeitos do mundo, sou chato, idiota, ciumento, mas jamais passou pela minha cabeça fazer isso com você — engulo seco o que ele diz — eu estava te esperando, ela chegou e me beijou na sua frente de proposito, eu a afastei instantaneamente, mas foi tarde demais, você já tinha visto e eu não sabia, então não tinha como explicar. Aí no outro dia quando você terminou comigo, fiquei com raiva e decidido a te esquecer, por isso fiquei com ela, mas não adiantou, porque não teve um dia se quer, na minha vida, que não pensei em você, no seu cheiro — ele se aproxima de mim e toca em meu rosto — em seu beijo — fico encarando ele, ainda tentando digerir suas palavras, eu não acredito que deixamos de ficar juntos por causa dela e por nenhum dos dois ter coragem de ir atrás um do outro e tentar explicar o que aconteceu.

— Eu estava disposta a tentar mais uma vez, eu estava indo te falar, mas vi você beijando ela e desistir — ele baixa a cabeça triste. Deito minha cabeça em seu ombro e ficamos ali curtindo a companhia um do outro e escutando o som do mar.

Engraçado como as coisas podem ser resolvidas com um pouco de compreensão, porque isso é a base de tudo. Que bom que a gente pode se reencontrar e agora com a cabeça mais madura e aberta, estamos compreendendo um ao outro, talvez tivéssemos alguma chance de ser felizes, se isso tivesse acontecido bem antes.

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