Primeiro namoro.


Quando cheguei em casa, Gustavo me colocou no chão com cuidado, segurei em seu braços, senti o joelho falhar e doer. — Ainda está doendo?

— Um pouco, mas é normal, não se preocupe — respondi e toquei a companhia de casa.

— Sua mãe está em casa?

— Sim, por quê?

— Posso me apresentar como seu namorado? Ou preciso mentir?

Sorri, foi fofo da parte dele perguntar, era engraçado, parecíamos mesmo adolescentes. — Pode dizer que é o meu namorado. Eu conversei com ela sobre você, antes de te pedir desculpas. Ela sabe de tudo, tirando a parte de que nós dois voltamos no tempo... — disse e dei uma risadinha forçada.

Ele ficou surpreso, e após me escutar, sorriu ladino. — Que surpresa. A senhorita falou de mim para sua mãe? Disse que gostava de mim? — Ele provocou, estava todo orgulhoso.

— Menos Gustavo... — pedi e sorri, não consegui ficar séria.

— Que fofa — ele disse, e tocou a ponta do meu nariz todo sorridente.

Revirei os olhos, e escutei a voz da minha mãe, quando nos viu do lado de fora, através do portão, esboçou surpresa. — Filha? Por que está aqui? — perguntou, em seguida seus olhos se fixaram em meu joelho, minha calça rasgada e o sangue.

Ela abriu o portão, e cumprimentou Gustavo com um "oi". — Olá, eu sou o Gustavo, namorado da sua filha, é um prazer em te conhecer — ele se apresentou, estendendo a mão para minha mãe.

— Olá, Gustavo. Sou a Débora, é um imenso prazer conhecer o garoto que fez minha filha se apaixonar — mamãe disse, apertando a mão dele e sorrindo. — Vejo que o pedido de desculpas deu certo... já estão até namorando — ela disse, curiosa.

— Sim, eu acabei caindo. Corri atrás dele para me desculpar e caí... viemos aqui apenas para que eu pudesse lavar meu machucado e trocar de calça. Vamos voltar para a escola no segundo horário — expliquei.

— Ah querida, se estiver doendo muito, não precisa voltar para a escola hoje, não se preocupe, eu confio que você consegue pegar a matéria perdida.

— Sério? Desde quando se tornou tão compreensiva? — perguntei, surpresa com sua atitude.

Minha mãe nunca gostou que eu faltasse à aula, era raro quando ela me permitia faltar, até dias de chuva ela me obrigava a ir.

Ela sorriu envergonhada. — Alícia, não exagera, o que o Gustavo vai pensar? — ela perguntou e sorriu.

Então, comecei a entender tudo. Ela estava sendo compreensiva em relação a isso porque o Gustavo estava ali! Ela queria causar uma boa impressão no namorado da filha! Não acredito nisso... que espertinha!

Gustavo sorriu. — Que a minha sogra é ótima e uma boa mãe! — ele a elogiou, que puxa-saco!

Mamãe ficou sorrindo feita boba. — Ah, você é um amor...

— Bom, acho que estou sobrando aqui — brinquei.

Eles riram, e todos nós entramos. Entrei no meu quarto para pegar uma roupa e levei até o banheiro, resolvi tomar um banho para limpar a ferida, o sangue havia secado em meu joelho. Gustavo ficou sozinho com mamãe. Provavelmente os dois estavam trocando altos papos!

Saí do banheiro já vestida e fui para meu quarto novamente, peguei um remédio cicatrizante e joguei na ferida, ardeu muito, tanto na hora de tomar banho quanto no momento de jogar o remédio. Definitivamente fazia anos que eu não caia e me machucava assim, disso eu não tinha saudades, mas graças a isso, o Gustavo me perdoou, então, valeu a dor.

Me olhei no espelho, eu estava bonita, quer dizer... essas roupas não me valorizavam, mas... eu daria um jeito de comprar roupas melhores, no meu estilo. Esse estilo aqui já não é mais o meu.

Priscila acordou e correu em minha direção. — Você não foi para a escola, Alícia? — perguntou ela, com aquela voz infantil, ainda era muito estranho ver a minha irmã criança novamente. No futuro ela já era uma adulta, além de ser minha irmã mais nova, era a minha melhor amiga também, a única que conversava e saía comigo para os lugares. Mas em 2011, ela ainda era uma criança e eu uma adolescente. Ela era uma menina muita bagunceira na infância, mas, vivi bons momentos ao lado da pirralha.

— Fui, mas eu caí, me machuquei e tive que voltar.

Ela levou sua mão até a boca assustada e olhou meu joelho. — Eca! Está horrível! Doeu muito? Como você caiu? — perguntou, espantada.

— Não está tão feio assim, sua dramática... fui correr e tropecei. Doeu sim, doeu muito e ainda está doendo, se não quer que aconteça o mesmo a você, não corra por aí — disse e dei um sorrisinho.

Ela deu de ombros. — Eu sou criança, tenho que correr, você já não é mais criança, por que estava correndo?

Que coisinha irritantemente fofa! — Quem disse que eu não sou criança? Tenho 14 anos, também sou criança, você é novinha demais para entender.

Ela cruzou os braços. — Você é bem maior do que eu!

— Eu sei, mas isso não significa que eu seja adulta, pirralha — falei, bom, eu era adulta, mas estava no meu corpo adolescente, então, para todos, eu era uma criança.

E quem disse que os adultos sabem de tudo? Vários adultos estão perdidos por aí, a maioria não faz ideia do que estão fazendo com a própria vida. Nossa idade avança a cada ano, mas isso não significa que sabemos tudo, que somos maduros, não somos super-heróis, a maioria de nós está lutando todos os dias para vencer, para ser feliz. Os adultos também são jovens crianças lutando a cada dia com seus próprios pensamentos, sentimentos, sonhos, frustrações, no fundo, somos uma mistura de todas as idades que já tivemos um dia. Sentimos medo como qualquer criança, apenas fingimos aguentar porque a sociedade exige isso dos adultos, então, precisamos colocar um sorriso no rosto e fingir que tudo está bem, quando na verdade, estamos desmoronando por dentro, perdidos pelo caminho, sonhando com um futuro melhor. Mas nem todos conseguem chegar lá, alguns ficam estagnados, outros se perdem, alguns desistem, e outros continuam tentando até dar certo.

— Chata! — gritou ela, mostrando a língua. Sorri, era estranho vê-la assim, mas eu ainda me recordava com nitidez dessa época em que ela era uma criança atrevida e fofa. Nossa diferença de idade nunca foi importante, sempre brincamos juntas, sempre fomos amigas, claro, brigávamos como qualquer irmã, mas sempre fomos unidas.

— E você é muito fofa!

— Você está estranha, Alícia! Vou chamar a mamãe! — ela gritou, correndo pela casa na maior velocidade.

Logo em seguida, fui atrás dela, e fomos parar na cozinha, Priscila já estava enchendo o Gustavo de perguntas.

— Desde quando a minha irmã namora?

— Desde hoje — respondi.

— Mas você é uma criança! Não pode namorar, o papai vai te bater! — gritou ela, os olhos esbugalhados.

Mamãe riu. — Calma, pequena. Sua irmã é sim criança, mas também já é uma mocinha. Jovens da idade dela costumam namorar, vamos contar para o papai, ele vai entender — disse mamãe, cautelosa.

Priscila riu. — O papai não vai entender! Ele vai ficar é bravo...

Gustavo riu e bagunçou o cabelo de Priscila. — Eu enfrento ele! Não tenho medo, tudo para conseguir namorar a sua irmã — disse ele, brincalhão.

— Ela é a minha irmã! Não quero você perto dela — disse a pequena, cruzando os braços.

Gustavo riu. — Você não pode dividir a sua irmã comigo? — perguntou ele, cauteloso.

— Você tem irmãos?

— Não...

— Então nunca vai entender como é ruim dividir a sua irmã com outra pessoa!

Não aguentei e ri, não por maldade, mas porque ela estava sendo fofa e estava com medo de me perder. Quando Priscila se tornou adolescente, eu também tive medo de perdê-la para suas amizades e namoricos... ela era minha irmã e minha melhor amiga, eu morria de ciúmes quando ela demonstrava gostar mais de suas amizades do que de mim. Por que irmãos são tão ciumentos?

Me aproximei e segurei em suas mãozinhas. — Pri... você é a minha irmã, eu nunca vou te deixar e nem te esquecer. O Gustavo agora é o meu namorado, ele gosta de mim, assim como você também gosta de mim. Poderia tentar se dar bem com ele? Por mim? — perguntei, fazendo biquinho no final, e uma voz manhosa.

Ela permaneceu séria por alguns segundos e depois sorriu. — Está bem! Mas você tem que prometer que não vai me deixar de lado por causa dele! Promete?

Sorri com a pureza dela. — Claro, prometo! Você é a minha irmã! É única — disse e a enchi de beijos no rosto, que a fez ri alegremente.

— Então tá! Eu aceito o namoro de vocês dois, mas se você fizer a minha irmã chorar, eu vou te bater! — ela apontou o dedo na direção de Gustavo, que acabou sorrindo.

— Pode deixar, sua irmã não vai chorar por mim, eu que vou chorar por ela! — brincou.

— Seu bobão! — disse e bati de leve em seu braço.

... ... ...

Não voltamos para a escola naquela manhã, ficamos conversando, e quando a Priscila não estava por perto, nos beijávamos um pouco. Gustavo almoçou na minha casa e após, se despediu da minha mãe e minha irmã, e agradeceu pelo delicioso almoço preparado por minha mãe, que ficou toda sorridente pelo elogio. Priscila já havia o aceitado, conversava o tempo todo com ele.

O acompanhei até a calçada. — Elas te adoraram... — falei.

— E eu as adorei.

Sorri. — Puxa-saco...

— Estou falando sério, Alícia. Elas fazem parte de você, como eu poderia não gostar? Enfim, só falta eu conhecer o seu pai.

— Ele é um pouco rígido...

— Não tem problema. Eu posso enfrentá-lo.

— Isso não é uma batalha.

— Só entra na brincadeira... — ele disse e sorriu, mexendo em meu cabelo carinhosamente.

— Eu também quero conhecer a sua família.

— Sim, em breve isso vai acontecer...

— É o meu primeiro namoro.

— Eu sei. Está nervosa com isso?

— Um pouco... é tudo muito novo para mim, mas eu me sinto bem ao seu lado, então, as coisas se tornam mais fáceis.

Ele sorriu e se aproximou mais, tocando meu rosto com carinho. — Ainda me fascina o fato de você nunca ter namorado durante todos esses anos... 27 anos sem nunca ter beijado? Bom, agora você perdeu o BV aos 14, conseguiu mudar isso — brincou no final, com um sorriso ladino.

— Para... seu bobo! Não é para ficar se achando por ter sido o primeiro a me beijar...

Ele riu e encostou sua testa a minha. — Desculpa... é que saber que eu sou o primeiro... é incrível. Foi preciso voltar no tempo para que nossos destinos pudessem se interligar novamente, talvez da forma como deveria ter sido desde o início...

Senti meu coração bater mais forte com o contato e suas palavras. — Você não sente medo? Do fato de termos voltado no tempo e estarmos mudando tudo? — perguntei. Ele me puxou para um abraço.

— Às vezes sinto... mas, quando estou com você, não sinto medo de nada. É reconfortante saber que estamos juntos nessa, aconteça o que acontecer, temos um ao outro — falou, em seguida, me soltou do abraço e me beijou.

Um beijo imerso de amor e paixão. Sentimentos únicos que eu estava vivenciando pela primeira vez, idade física de 14 anos, mas com uma mente de 27, mas eu me sentia uma adolescente em momentos como esse, estava beijando e namorando... momentos que perdi na primeira vez sendo jovem, saber que meu futuro já estava se tornando diferente,me alegrava.

Esse tempo presente não existia antes, mas agora sim, meu novo presente estava se realizando em 2011, e nele, o Gustavo estava presente, imaginar o meu futuro ainda era difícil, mas eu sabia que seria um bem melhor. Um futuro construído por esse novo presente não tinha como ser um futuro ruim.

Me entreguei ao beijo e foi difícil nos separarmos, tinha vontade de ficar com ele o dia todo... estou mesmo parecendo uma adolescente!

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