Capítulo 4
27 anos atrás...
As grandes janelas do quarto de Raíssa deixava o luar e os ventos do litoral roçarem a pele pálida e nua por debaixo dos lenções vermelhos de seda. A rainha não dormia, não precisava. Não queria desviar sua atenção da mulher que estava em seus braços. Os cabelos longos e ruivos tinham uma textura macia, que brilhavam mais na penumbra do ambiente que qualquer pedra de rubi.
Mavis moveu o corpo sonolento e esbelto; as pernas longas se entrelaçaram e Raíssa sentiu todas as formas do corpo dela conta o seu. A pele fria esquentando uma a outra e continuou calada quando a viu erguer o rosto e encontrar seu olhar.
— Boa noite, alteza.
Raíssa arqueou a sobrancelha e apertou seu quadril, em uma provocação que sabia que ela amava.
— Mavis, já não discutimos que não teve me chamar de alteza?
— Humm... — Quase ronronando, Mavis rolou para cima dela, preguiçosa como uma gata e abriu um sorriso de canto. — É verdade. Se não me engano, sua regra foi que não era nada adequado chamá-la com tanta formalidade quando estivéssemos nuas na mesma cama.
Sem se conter, Raíssa riu e a puxou para um beijo. Mavis se abriu para ela, a recebendo com o mesmo desejo que corria nas suas veias. Elas rolaram na cama, os lenções deslizando para o chão, se tornando um amontoado rubro no chão escuro. Mãos, pernas, beijos se perdiam entre elas.
A rainha de fogo estava marcando uma trilha de beijo entre os seios de Mavis quando ambas ouviram um vento zunir ao redor delas. Surpresa, ergueu a cabeça e ao olhar para a lua cheia lá fora, ouviram um choro. Um choro de um recém-nascido bem longe dali.
Um bebê de outro reino.
Sem se dar conta, Raíssa pulou da cama e nua, foi até a janela. O vento batia contra seu rosto, fazendo seus cabelos longos e platinados flutuarem ao seu redor. Fechou os olhos, deixou que o luar a envolvesse, que lhe mostrasse o que precisava ver.
E viu.
Viu um homem de olhos cinzentos, seus braços fortes segurava um machado no ar em um ataque; fios loiros e longos do cabelo escapavam das tiras de couro que os amaravam. Ela prendeu a respiração quando ouviu as batidas do próprio coração ecoar em seus ouvidos. Um coração que estava congelado desde a transformação.
— Raíssa.
Ela se virou e encarou os olhos escuros de Mavis, que estavam surpresos com o som das batidas do seu coração. A rainha continuou em silêncio, ainda se acostumando com o fato de ter um coração novamente e não levou muito tempo para perceber que ele batia lento, por algum motivo, partido.
— Raíssa.... — Mavis se levantou e foi até ela. — Aconteceu, não aconteceu? A benção do Tecido Dourado.
— Sim, eu estou surpresa também.
— Seu coração está batendo por isso.
Raissa passou a língua nos lábios secos e tentou controlar os pensamentos.
— Meu coração voltou a bater chamando a outra metade dele.
A tristeza tomou o rosto de Mavis quando voltou a falar em uma voz baixa:
— É esse bebê que ouvimos o choro? Quem é?
— O nome dele é Gael, príncipe das sombras, do reino do Diamante Negro. — Seus olhares se encontraram quando completou: — A outra metade do meu coração.
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A biblioteca no castelo da rainha ficava na torre norte. O teto alto se erguia e era sustentado por colunas de pedras escuras, as mesmas das paredes que sustentavam lamparinas elegantes que eram dispostas em pontos que iluminavam o lugar com perfeição e não fugiu a atenção de Gael que, mesmo sob a luz do dia, do sol, todos os lugares fechados eram escuros e isso foi a primeira coisa que perguntou a Raíssa assim que se acomodaram no sofá de couro vermelho perto da lareira que crepitava um fogo calmo e caloroso. Acima da lareira, uma pintura de um homem de olhos vermelhos, com vestes reais e reconheceu na cabeça dele, a coroa que meses atrás, destruíram para romper o selo.
Ele era o antigo rei, adivinhou. O tutor de Raíssa.
— Somos vampiros, Gael. Enxergamos no escuro, gostamos dele.
Raíssa respondeu sua primeira pergunta e a viu abrir uma garrafa de vinho. Despejou o líquido vermelho em duas taças e entregou uma a ele ao mesmo tempo que ocupava o espaço ao seu lado no sofá. Reparou que ela encostou nos braços do móvel, com o corpo virado em sua direção e não pode deixar de notar o movimento lento das pernas dela, longas, se cruzando e deixando a pele a mostra na fenda lateral do vestido longo, de seda preta que caia como um manto escuro pelo corpo.
Desviou os olhos para o rosto dela e ergueu a taça.
— Vampiros podem beber e comer alguma coisa além de sangue?
Ela abriu um sorriso sob a borda da taça.
— Eu posso. Porque sou a rainha de fogo. Mas comer essas coisas não me alimenta, não me fortalece.
— O que mais você pode fazer do que os outros vampiros não podem?
— Bem, — ela balançou a taça, fazendo o líquido ondular como ondas no oceano — muitas coisas. Não preciso dormir cinco horas por dia, como os outros. Posso fazê-lo duas vezes por mês e por meia hora. É o necessário para meu descanso físico e mental. Posso beber e comer coisas humanas, mesmo ela não me fortalecendo.
— Então, por que come?
— Para a socialização. Fica difícil manter amizades com os outros reinos quando em jantares especiais eu não possa comer como um deles. Até porque, eles ficariam muito desconfortáveis com a ideia de que um único modo de eu me alimentar seria com o sangue deles. Não queremos ser temidos, Gael.
— Por quê?
— Porque somos uma civilização como qualquer outra e não seres malignos de histórias de terror. Somos o que somos, Gael. Não devemos ser excluídos por isso.
— E isso me leva a outra questão. Percebi que tem crianças aqui, e que elas são humanas. Pensei que vampiros não pudessem procriar.
— Não podem. Vampiros não nascem, Gael. Eles são transformados.
— Como?
— Todos aqui no reino nascem humanos, seus pais são humanos. Quando a maioridade é atingida aos 18 anos, todos os humanos precisam escolher suas datas de transformação. Alguns deles querem logo. Com 19 ou 20 anos já são vampiros. Outros preferem ficar mais algum tempo como humanos, se apaixonam, se casam e escolhem terem filhos antes da transformação.
— E não tem idade limite para a transformação?
— A transformação é um direito de todos nascido em Rubi, claro, recomendamos a transformação entre 25 e 30 anos; e na maioria dos casos, acontece nessa faixa ou bem antes. Ninguém realmente quer envelhecer e ser transformado. Ninguém quer congelar pela eternidade na velhice.
Gael bebeu mais um gole do vinho, mal tinha percebido a garganta seca.
— Quantos anos você tinha quando foi transformada?
— Cinco anos depois de ter sido escolhida como rainha. Aos 22 anos.
Ele a olhou curioso.
— E como foi isso? Ser escolhida como rainha?
Ela sorriu e tomou um gole de vinho antes de continuar, com o olhar distante no passado.
— Quando o atual rei revolve que já é hora de colocar outra pessoa no trono, ele realiza o torneio. Nele, todas as pessoas que alcançaram a maioridade pode participar e conquistar o dragão. E foi assim que eu conheci o Neném. — Um sorriso carinhoso surgiu nos lábios vermelhos e a deixou tão linda que Gael se agitou. — A ideia do torneio não é realmente controlar o dragão, conquistá-la. E ele escolher. Eu fui escolhida pelo dragão de fogo.
— E se tornou a rainha de fogo.
— Princesa — o corrigiu. — Rainha eu me tornei anos depois. Meu criador me ensinou tudo sobre governar o reino, sobretudo o que uma rainha precisava ser. E foi na cerimônia real, quando realmente me tornei rainha, eu me tornei vampira também.
— E como foi a transformação para vampira?
— É uma cerimônia cheia de ritos, de palavras bonitas e sangue. Não tem como explicar algo assim, Gael. Com sorte, vou mandar um comunicado real para que as pessoas fazem as inscrições para a transformação. — Ela inspirou fundo. — Descobri que Rubião tinha proibido novas transformações, que ele controlava e escolhia a dedo as pessoas que seriam transformadas. O que é ridículo é claro. Ele negou o direito de todos.
— E você vai devolver esse direito as pessoas.
— Irei. A partir das próximas noites, começarei a dar andamento. O comunicado a população será feito e as cerimonias organizadas. Estarei presente em cada transformação e preciso de você ao meu lado Gael. Como general e como meu parceiro.
Ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Parceiro?
Raíssa abanou as mãos no ar.
— Amante então, como preferir.
— Não somos amantes.
Ela abriu um sorriso provocante.
— Ainda não. Nós dois sabemos que é uma questão de tempo, Gael. É o nosso destino.
Gael bebeu o resto do vinho em uma golada só, furioso por saber que ela estava certa.
O que estão achando gente? Estão gostando?
Alguns de vocês já viram que Sol Maior, meu outro romance aqui no Wattpad irá ser retirado no próximo mês, então se você não leu, corre que ainda dá tempo!
Vou deixar aqui no comentário o link para o livro.
Segue a sinopse e banner
SOL MAIOR
RETIRADA DIA 25/09!
Catarina Ramos era uma mulher que vivia momentos, apreciava-os tanto que buscava eternizá-lo nas fotos que tirava. Engajada em projetos sociais, utilizando seu trabalho para ajudar outras mulheres, sempre teve muito certeza do que queria, da própria felicidade. E mesmo assim, não imaginou conhecer o pianista Leandro de Lima e ver nele algo que gritava por ela.
Após pausar a turnê na Europa, Leandro retorna ao Brasil acreditando que poderia reencontrar a parte que faltava de si mesmo. E seu caminha se cruza com Catarina, uma mulher que vivia disparando fotos e alegria de uma maneira que fazia o mundo dele girar.
Logo aceitaram a atração que sentiam um pelo outro e aos poucos vão percebendo que o futuro e a felicidade não poderiam existir enquanto o passado fosse tão presente em suas vidas.
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