Capítulo 3
— O quê? — A mão pesada do ex-general Simões bateu com força contra o vidro a tampa da mesa feita de diamantes; os olhos escuros fuzilavam a rainha de fogo que ocupava a ponta. — Eu ouvi direito? Quer fazer aquele caçador o general do nosso exército?
Raíssa apenas o olhou com firmeza, o rosto inexpressivo. Sabia como tinha que lidar com os homens do conselho.
— Isso mesmo. Gael será o general do exército de Rubi.
— Você está louca!
— Simões tem razão — disse Silvestre, um dos vampiros mais velhos do conselho, sua aparência magra e os olhos fundos e escuros, a fazia lembrar de que ele era um dos braços direito do antigo rei. — Ele é um caçador alteza, não podemos colocar a segurança do nosso povo em alguém que ganhava a vido matando a nossa espécie.
Raíssa apoiou o braço na mesa, as mãos entrelaçadas e olhou para aquelas três pessoas com uma determinação que de quem sabia que não poderia ser derrotada.
— Olha, todos nós aqui sabemos o que aconteceu na época que o Novo Mundo estava com sua magia adormecida e que meu tio, Rubião assumiu o trono. Os vampiros do nosso reino era uma ameaça para o mundo e se não fosse pelos caçadores para proteger os outros, vidas teriam sido perdidas. E vocês sabem que isso levantaria a desconfiança dos outros reinos. Seriamos excluídos do comercio, nosso povo sofreria e viveria com medo.
— Me perdoe a franqueza, alteza, mas você poderia manter o caçador somente na sua cama e não diante do nosso exército.
— E não achamos que o caçador tem o conhecimento e habilidade necessárias para treinar nosso povo. — Nelson, um cara corpulento, de longos cabelos loiros e olhos azuis falou pela primeira vez enquanto mastigava um biscoito vermelho.
— Gael nos guiou na última batalha no Diamante Negro? Vocês lembram dela? Foi quando os Herdeiros romperam o último selo e quando matei Rubião. — Provocou Raíssa, e os viu vacilarem como sempre faziam quando falava do odiado tio. — Saímos vitoriosos dessa batalha, em comparação com os outros reinos, o exército de Rubi saiu com menos baixa, ficando atrás das sereias de Eldorado, que são guerreiras natas. Mas, não importa os meus motivos, a decisão está tomada.
— Não pode decidir sem nós! — Simões resmungou.
Raíssa virou-se para ele e elevou as sobrancelhas.
— Claro que posso. Eu sou a rainha e vocês somente o conselheiro. — Depois, virou-se para encarar todos. — A função de vocês é de me aconselhar, mostrar motivos plausíveis para que eu mude de ideia.
— Motivos plausíveis? O fato dele ser um caçador não é o bastante?
Raíssa revirou os olhos e quando falou, não pode esconder o som impaciente.
— Gael não vai nos machucar. Ele está conosco agora.
— Mas não é um de nós.
— Mas se for uma escolha dele, um dia será.
Todos se calaram diante da declaração de Raíssa, e ela sabia que todos naquele momento tinha percebido o verdadeiro significado do que a presença de Gael significava. Claro, todos eles sabiam que o caçador era a outra metade do coração dela, de que ele era sua força e fraqueza. Todos sabiam que agora, a rainha de fogo estava vulnerável de um jeito que nunca esteve.
Raíssa afastou a cadeira e se levantou.
— Bom, acredito que não há mais nada para se discutir. Reunião encerrada.
Assim que ela atravessou a porta e saiu no corredor escuro, iluminado pelas velas brancas, Mavis que se manteve quieta durante toda a reunião, acompanhava os passos apresados da rainha com facilidade e comentou.
— Você conseguiu, alteza. Conseguiu deixar todos do conselho enfurecidos.
Raíssa olhou para ela.
— Eu não ligo, Mavis. Eles não podem fazer nada contra mim.
Mavis parou e Raíssa fez o mesmo. Sob a luz bruxuleantes das velas, viu a preocupação assumir os traços no rosto da amiga e quando os olhos dela, se ergueram intensos para a rainha, disse:
— Sei que acredita que é indestrutível, Raíssa. Que acredita que nada pode atingi-la, que nada pode magoá-la. Mas nós duas sabemos que isso não é verdade. Pelo menos não mais.
Eram poucas pessoas que poderia dizer o primeiro nome da rainha de fogo, e quando Mavis a chamava assim, sabia que ela não estava falando com a rainha e sim com a mulher que conhecia há anos, que foram amigas, amantes e confidentes. E sabia do que ela estava se referindo. E antes que pudesse comentar alguma coisa, Mavis continuou.
— Todos agora sabem o que o caçador representa para você. E seus inimigos vão usá-lo contra você, Raíssa. Você precisa tomar cuidado.
Raíssa sorriu e segurou a mão pequena dela entre as suas.
— Não precisa se preocupar comigo, Mavis. Sei o que estou fazendo.
— E o caçador sabe do que você está abrindo mão por ele?
— Não estou abrindo mão de nada.
— Você já o fez, Raíssa, na noite que ele nasceu.
Sabendo do que ela se referia, Raíssa sentiu o coração contrair.
— Mavis...
Mas a secretaria já tinha se afastado.
— Ouvi dizer que o caçador a está esperando na área militar alteza.
E Raíssa esperou Mavis desaparecer no corredor e virou-se para encontrar com Gael.
*************************
Dentro do gabinete militar do general, Gael ainda não sabia se tinha sido uma boa ideia ter concordado com aquilo. O lugar era escuro e com poucas janelas, o que imaginava ser por causa da luz do sol durante o dia, já que os vampiros não dormiam o dia inteiro. Portanto eles viviam escondidos dentro de suas casas até a lua nascer novamente. Franziu o cenho.
Tinha muita coisa que ele não sabia sobre o reino dos vampiros. Sabia como matá-los, mas não sabia como conviver com eles. Sabia que Raíssa era a única vampira que poderia andar livremente sob a luz do sol e que não precisava dormir com a mesma frequência que os outros. Não sabia direito com qual frequência era e.... merda. Precisava perguntar essas coisas para ela.
Sentado na mesa de aço simples no canto do quarto escuro, ele esfregou o rosto.
Se sentia cada vez mais no escuro. Sentia que precisava entender sobre muitas coisas, não só o funcionamento do reino Rubi. Precisava saber o que realmente significava ser a outra metade do coração da rainha do fogo. Queria saber quais eram as chances, as escolhas que tinha e precisava saber até que ponto aquela estranha e inexplicável atração era verdadeira ou somente era o fruto da benção do Tecido Dourado.
— Ouvi dizer que estava querendo me ver, caçador.
Gael levantou a cabeça e piscou ao ver Raíssa encostada na porta aberta do pequeno quarto militar. Sob a luz do sol, os cabelos platinados dela brilhavam como os diamantes do reino do ar, a pele pálida se iluminava e destacava os traços firmes do rosto perfeito. O coração dele disparou, sentiu o sangue se engrossar ao lembrar do modo de como ela provou seu sangue. Dos lábios dela contra sua pele, a sensação das presas enterradas nele e do sangue subir, correr em direção a ela.
Ele a sentiu mais profundamente do que qualquer outra mulher que tomou para si. Era estranho, inexplicável e mesmo assim, nunca se sentiu tão ligado a uma pessoa antes.
— Precisamos conversar, Raíssa. — Disse e indicou a cadeira diante dele, onde ela se sentou.
— Sou uma mulher que é sempre a favor de conversar. Você já se apresentou aos soldados?
— Ainda não. Acho melhor esperar a noite chegar e reunir todos no campo de treinamento.
Ela assentiu e o olhou curiosa.
— Sobre o que quer conversar, Gael?
Ele respirou fundo e olhou fundo nos olhos vermelhos.
— Eu preciso saber mais sobre o reino Rubi. Sobre os vampiros, o modo de como vivem e sobre nós. Quero saber o que realmente significa ser a outra metade do seu coração.
— Está certo. Tenho mesmo muitas coisas para te explicar. Podemos nos encontrar duas horas antes do pôr do sol na biblioteca, que tal? Podemos ficar mais confortáveis lá.
Gael assentiu.
— Ótimo. Está marcado então.
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