Capítulo 1

Atualmente....

Rubi. Novo Mundo.

A brisa fria da noite tocava a pele do pescoço de Raíssa, que agora estava exposta devido ao recente corte de cabelo, que deixou os fios platinados na altura do queixo delicado. Seus olhos vermelhos, como o vestido de seda que marcava o corpo delgado, observava as pequenas casas que se aglomeravam metros à frente do castelo de pedras, de onde estava. Da janela, dentro do seu gabinete, conseguia ouvir a movimentação dos vampiros que moravam ali, das suas famílias, dos vendedores que gritavam seus produtos, das pequenas crianças que ainda eram humanas, rindo, brincando.

Aos poucos, seu povo recomeçava.

Aos poucos, eles iam recuperar tudo o que perderam com o reinado do seu tio Rubião. O homem que tinha dado o golpe, que a tinha tirado do trono e a prendido em um feitiço de sono com o poder do sangue de Gael. Mas no final, tudo tinha dado certo, lembrou. O sacrifício que os antigos reis tinham feito para proteger o Novo Mundo; aprisionando a magia nos selos, tinha dado certo.

Raíssa sabia que havia muito para que todos pudesse voltar a se como era antes. Ainda olhando para a janela, sorriu quando ouviu os passos e os batimentos de um coração humano que acompanhavam um cheiro natural de um homem que passou uma boa parte da vida caçando vampiros.

— Soube que queria conversar comigo.

Como sempre o tom de Gael era de impaciência, como se tivesse coisas muito mais interessantes para fazer do que ficar de papo com ela. Ainda com o sorriso no rosto, virou-se para encará-lo. Se tivesse um coração batendo, Raíssa sabia que sem dúvida a visão do caçador o faria acelerar. Ele era o tipo de homem fazia qualquer mulher parar para apreciar. Os fios loiros escuros estavam como sempre preso em um rabo baixo, da altura dos ombros largos que acompanham os braços fortes, com os músculos destacados pela camisa de linho.

Mas nada disso era mais impressionante do que os olhos dele.

Eram intensos. Cinzentos com uma nuvem carregada que prometia tempestades e ela sempre gostara de tempestades.

— Temos muitas coisas para serem resolvidas, Gael. — Disse ela se movendo com a graciosidade típica dos vampiros e ocupando a cadeira de couro atrás da mesa feita de carvalho branco. — Sente-se. Queria ter tido essa conversa antes, mas resolvi deixar você se sentir confortável primeiro.

Com o corpo jogado contra a cadeira, em um contraste gritante com a postura reta da rainha de fogo, Gael deu um meio sorriso.

— Sou um caçador, vampira. Como eu poderia me sentir confortável em um reino de vampiros?

Relaxada, Raíssa bateu levemente os dedos longos e pálidos contra a superfície de madeira; os anéis de diamantes e rubis brilharam contra a luz de velas. A sombra de um sorriso brilhou no rosto bem desenhado.

— Não preciso explicar para você, Gael, que nós, vampiros do reino de Rubi, não matamos pessoas. Não somos assassinos.

Ele revirou os olhos.

— Eu sei. Eu sei. Vocês comem o fruto daquela árvore que lembra o sangue humano. Mas isso não apaga a realidade que nos últimos anos esses vampiros de Rubi mataram muitas pessoas no Novo Mundo.

— Isso foi por causa do meu tio. Meu deus, Gael! Você sabe melhor que ninguém que ele me aprisionou e roubou meu trono! Derrotamos Rubião e voltei para o meu lugar de direito. Vampiros não são mais uma ameaça.

— Ainda são vampiros.

Ela revirou os olhos vermelhos, brilhantes como rubis.

— Não seja preconceituoso. Além disso, não vou te segurar aqui Gael. Você é um homem livre para ir aonde quiser.

Gael riu sem nenhum humor.

— Sabe tão bem quanto eu que não tenho escolha, Raíssa. Meu destino se concretizou quando eu lhe dei meu sangue.

Raíssa lembrou de quando ele a libertou do feitiço de sono e da prisão que o tio a tinha colado, na Ilha Perdida. Foi o sangue dele que a aprisionou e que a libertou. Foi o sangue dele que a salvou da morte.

Porque ele era a outra metade do coração dela. Porque foram abençoados pelo Tecido Dourado.

— Bem — se endireitou. — Se vai ficar, eu quero que fazer de você o general do nosso exército.

Os olhos cinzentos se arregalaram.

— O quê? Você quer que eu treine um exército de vampiros?

Raíssa não se abalou com a reação dele, apenas continuou com a calma característica de quem tinha todo o tempo de mundo. O que era verdade, pensou com certo humor.

— Você foi caçador por muitos anos, e como sempre deixou muito claro desde o dia que me libertou; sabe melhor que ninguém como matar vampiros.

Gael balançou a cabeça, desacreditado.

— Raíssa, mesmo que eu aceite sabe tão bem quanto eu que eles nunca vão me aceitar. Sou um caçador.

Ela sabia muito bem que não estava se referindo aos soldados vampiros e sim aos membros do conselho. Nos últimos dia, desde que tomara de volta o trono e derrotado seu tio, o conselho não estava muito disposto a segui-la, afinal, tinham apoiado o golpe junto com Rubião. Sabia que foram eles que ajudaram a aprisioná-la e que não gostaram nenhum pouco quando ela voltou.

Eram três vampiros que agiam como conselheiros reais, que auxiliavam o rei – ou no caso dela; rainha — nas decisões, nas leis, no modo que como poderia agir para cuidar do povo. Ela não tinha ideia de quanto tempo estavam lá, mas sabia que eles serviram o antigo rei; o homem que a escolheu para o trono e a criou. O homem que a transformou. Então, o antigo rei se sacrificou por seu povo e a fez rainha. E ela sempre soube que o conselho nunca quis segui-la.

Porque era uma mulher que não se curvava as vontades deles; era uma rainha que pensava e priorizava seu povo e não as regalias dos membros do conselho. E por isso, até conseguia imaginar os três vampiros se reunindo com seu falecido tio e armando o golpe contra ela. Contra o Novo Mundo.

— O conselho não poderá falar nada sobre isso. Do mesmo jeito que não posso fazer nada contra eles, eles não podem fazer nada contra mim.

— Eles irão questionar cada decisão sua e me usarão para atacá-la.

Ao ver a cautela no olhar dele, abriu um sorriso lento e sensual.

— Ora caçador, não me diga que está preocupado comigo. — Provocou e como ele não respondeu, deu de ombros. — Bem, não precisa se preocupar. O conselho é assunto meu e eu sei lidar com eles. Agora, aceita ser o nosso general?

Gael suspirou e deu de ombros.

— Aceito. Parece que é esse meu destino mesmo.

Raíssa assentiu com um brilho divertido no olhar.

— Não fique assim, caçador. Tem destino piores que esse e falando em destino... — arrastou a fala e se levantou da cadeira, contornou a mesa e encostou o quadril contra a madeira, ficando de frente para o caçador que ergueu a vista para encará-la sem levantar.

— O quê? — Gael quis saber quando ela deixou no ar, o olhar questionador.

Raíssa passou a língua nos lábios, como se fosse para secá-los e o gesto chamou a atenção dele. O formato sedutor, a maciez e o fez imaginar qual o gosto que teria um beijo dela. Precisou se lembrar que por trás dos lábios cheios e naturalmente vermelhos, havia presas que poderia rasgar a pele dele com facilidade.

— Eu preciso do seu sangue, Gael.


Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top