Você conseguiria me amar?
Oi minha gente! Tudo bem? Hoje temos alerta de gatilho ⚠️
Primeiramente, desculpa o atraso, como avisei no Instagram, eu fiquei alguns dias sem dormir e minha cabeça não estava funcionando muito bem, achei melhor descansar para escrever um bom capitulo do que forçar algo mal pensado.
Como já disse, no capítulo de hoje teremos gatilhos tá? Então se você for sensível para tópicos como relacionamento abusivo e afins, não lê nao, fala comigo que eu mando um resuminho.
Enfim, boa leitura pra vocês 🤠.
Ainda durante aquela semana, quando a tinta do quarto finalmente secou, Félix foi para o apartamento do Hwang ajudar a decorar o quarto. Ele já havia comprado algumas coisas, como prateleiras, mobile, quadros, umas estrelinhas que brilham no escuro e até uma caixa de som, pois falaram que música séria de grande ajuda para acalmar os bebês. Já estava quase tudo pronto, mesmo que parecesse cedo demais para tudo aquilo, ainda faltavam uns seis meses pra ele nascer, mas Hyunjin estava animado demais, queria até já deixar o lençol e o berço todo arrumado, por sorte o Lee conseguiu convencê-lo que não era uma boa ideia, já que ficaria juntando pó, infelizmente não foi convincente o suficiente para impedi-lo de ir comprar brinquedos para as prateleiras. E bem, lá estavam eles no shopping, explorando cada uma das lojas de brinquedos e roupinhas para bebês.
— Hyunnie, você acha mesmo que precisa disso? Nós podemos comprar depois, ein. Eu não posso ficar gastando com brinquedos agora, tem coisas mais importantes que precisamos comprar pro neném.
— Eu que vou comprar, Lix. Vai ser bom, vai ficar tão bonitinho. - fez um bico exagerado em puro drama. — Deixaaa?
— Já vi que não adianta eu falar não …
— Só vou comprar uns dois e depois que ele nascer, a gente compra mais.
— Recém nascido nem brinca, Hyunjin.
— Mas ele pode ficar olhando, isso é bom e estimula o bebê, vou achar algo bem colorido…tipo, esse dinossauro aqui, ein? Bonito, né?
— Você não vai levar isso, né?
— Por que não?
— É muito grande, Jinnie ! Como ele vai brincar com isso? - o brinquedo facilmente tinha mais que oitenta e cinco sentimentos.
— A gente leva um menor então e esse baby shark aqui. - decidiu pegando os brinquedos e colocando na cesta. — Que tal uma boneca?
— Você disse, só dois.
— Tá bom…estraga prazeres… - O ômega riu e negou com a cabeça. Hyunjin era quem parecia a criança às vezes. — Quer ver as fantasias para festa da Winnie?
— Pode ser, mas eu não sei o que usar ainda.
— Nem eu, me ajuda a escolher?
— Vai de vampiro...
— Todo mundo vai de vampiro. - o alfa falou revirando os olhos. — Odeio ter que pensar em fantasia, parece que nunca acerto.
— Ah, mas você vai ser tipo, o vampiro mais gostoso de todos.
Hyunjin riu e passou o braço pela cintura dele, deixando um beijo na bochecha em seguida. — Vamos ver, o jisung disse que tinha umas ideias.
— Nem pergunta, ele quer que eu vá de Elsa do Frozen, ridículo.
— A Elsa mais dezoito só se for… Aí Lix! Não me bate!
— Você merece! - retrucou batendo mais algumas vezes no braço dele. — Eu ainda não sei do que vou, mas com certeza não é de Frozen.
— Seria fofo, eu queria ver isso, mas sinceramente achei que ia com orelha de bichinho e lingerie, como as garotas da pesada.
— Não, a minha barriga tá aparecendo já…tá ficando redonda.
— E qual o problema?
— Você já sabe.
— Lix, você não tá gordo, nem feio, para com isso, a sua barriguinha tá uma gracinha. - falou deixando um carinho no local.
— Para com isso, Hyunjin, as pessoas vão ver. - pediu afastando a mão dele.
— E daí? Daqui a pouco sua barriga vai crescer mais e todo mundo vai saber.
— Mas eu não quero, e quando esse dia chegar, eu não saio mais de casa. - falou com um bico choroso.
— Tá bom, depois a gente conversa sobre isso…Quer um docinho antes de ir ver as fantasias?
— Uhum…quero pão de mel.
— Tá bom, vamos lá comprar.
Depois de passar na loja de doces e pegar muito mais coisas que um simples pão de mel, eles foram ver as fantasias. Félix parecia uma criança, ia de um lado para o outro pegando roupas e acessórios, levando tudo pro Hwang. Ele adorava esse tipo de loja
— Toma, vai lá provar!
— Não dá pra gente só escolher qualquer uma e comprar logo?
— Hyunjin, para de ser chato, vai lá provar e trate de fazer um bom desfile.
— Aah Lix..
— Vai logo! - disse o empurrando para o provador e voltou para sentar no sofá. Em alguns minutos, Hyunjin saiu com a primeira fantasia, caminhando com um pouco de vergonha e imitando as poses que o omega fazia para si. — Uh! Eu disse que o vampiro ia ficar bom!
— Não quero ir de vampiro…
— Ah, mas eu queria tanto que você me comesse com essa roupa. - falou com biquinho.
— Isso é fetiche por acaso?
— Eu gosto muito de nosferatu, drácula, sombras da escuridão, crepúsculo, hotel transilvânia, Hm… filmes de vampiros em geral.
O alfa riu e negou com a cabeça. — Tá bom, eu vou de vampiro se você for de Elsa.
— Acho justo esse acordo, mas eu vou cortar o vestido, ninguém merece aquela coisa longa.
— Ok, combinado.
— Hyunnie, eu tô com uma dor aqui. - apontou para o baixo ventre.
— Senta aí, eu vou pagar e já vamos pra casa pra você descansar um pouquinho.
…
Mais tarde, já na casa do Hwang. Os dois arrumaram as coisas no quarto do bebê, Hyunjin colocou os bichinhos de pelúcia na prateleira enquanto Felix ajeitava o móbile em cima do berço e ficou tudo uma graça, agora só faltava o bebê.
— Tudo pronto pro moranguinho do papai chegar. - o Hwang disse fazendo um carinho na barriga, abraçando o ômega por trás.
— Moranguinho? - perguntou rindo. — De onde tirou isso?
— Eu vi no aplicativo, estava falando que o nosso bebê tem o tamanho de um morango, então é o moranguinho do papai, né bebezinho?
— Bobão.
Hyunjin deu um beijo na bochecha dele e o abraçou mais forte. — Tá cansadinho?
— Uhum… bastante cansado na verdade.
— O que acha de um banhozinho de banheira?
— Você vai comigo? Se for, eu quero. - falou deitando a cabeça no ombro do Hwang para olhar em sua direção. — Quero carinho.
— Vamos lá, então. Comprei umas coisas pra você.
— É mesmo? E o que é?
— Hm… tem argila, uns creminhos e aquelas máscaras de bichinhos pra um dia relaxante, quer?
— Sério? - perguntou com um sorriso e o alfa confirmou com a cabeça. — Eu quero muito! Você é perfeito, hyunnie. - como descrevê-lo naquele momento? Ele só era perfeito mesmo. O ômega se virou de frente e o segurou pelas bochechas, puxando para um beijinho. — Vamos então, vou pegar as toalhas.
Hyunjin foi até o banheiro do quarto colocar a banheira para encher e aproveitou para colocar uma música ambiente, já que passariam um bom tempo ali. Queria que Félix conseguisse relaxar um pouco, pois devido as conversas mais recentes, percebeu que talvez ele estivesse muito estressado com essas coisas sobre o bebê, além dos hormônios, agora seu corpo começaria a sofrer mudanças mais visuais e isso já vinha incomodando o ômega a algum tempo. O Lee sempre pareceu muito vaidoso, além de ter uma pequena obsessão por se sentir desejado.
Era fato que a sociedade sempre foi muito cruel com os ômegas em vários sentidos, principalmente estéticos e não queria aquele incômodo se tornasse algo mais grave com o tempo, até porque, ele só estava com três meses e já estava se incomodando com a barriga e mudanças sutis, imagina mais pra frente.
— Prontinho, tá aqui as toalhas. - o Lee falou sorrindo e deixou tudo em cima do balcão da pia. Estava realmente animado com aquilo e se sentia especial por Hyunjin se preocupar daquela forma, pois nunca havia recebido esse tipo de proposta de alfa nenhum, seria bom um dia pra relaxar, recebendo carinho, só pra variar.
— Então agora, deixa eu cuidar de você... - pediu o trazendo para mais perto e dispensou beijos pelo pescoço enquanto o ajudava a se despir. — Meu ômega.
— Hyun, não…
— Shiiiu…quietinho, Lix. é um dia de relaxar. - falou o guiando até a banheira, tirou as próprias roupas e sentou o trazendo para sentar entre suas pernas. — Nada de ficar pensando demais, ok?
— Ok… - Félix relaxou contra o corpo do Hwang, fechando os olhos, enquanto recebia carinho na barriga e aproveitava do cheiro gostoso dos feromônios do alfa se espalhando pelo banheiro. As mãos de Hyunjin eram tão grandes que a cobriam quase por completo e deslizavam por seu corpo em um contato agradável. — Hmm isso é bom… só falta alguma coisa pra beber, um vinho seria bom.
— Não pode.
— Eu sei, eu sei. Relaxa ai papai. - falou dando um risinho.
— Depois que o moranguinho nascer, nós podemos fazer isso, combinado?
— E você ainda vai estar aqui? Quer dizer, vai demorar né?
— Lix, acho que você não entendeu que eu vou continuar na sua vida um tempão né?
— Entendi sim, nós vamos ter um bebê e você vai ficar por ele, mas nada te prende a mim necessariamente, né?
— Isso é verdade, mas eu gosto de ficar com você.
Félix deu um riso soprado e deitou a cabeça no ombro dele. Eles passaram longos minutos em silêncio, só trocando carinhos e ouvindo a música ambiente. O ômega já estava com os olhos fechados e murmurava trechinhos das músicas hora ou outra com um sorrisinho no rosto, entre os suspiros que escapava ao receber beijinhos e apertos mais intensos em seus ombros.
— Quer me contar o que está acontecendo com você? - Hyunjin sussurrou baixinho ao pé do ouvido.
— Como assim?
— Eu tenho percebido que você anda estressado e inseguro, o que tá acontecendo? E por que não quer que as pessoas vejam nosso bebê?
— Ah hyunnie, eu não quero falar disso agora…
— Por que? Você sabe que pode confiar em mim né? Eu sou seu amigo e me preocupo com você e sua saúde.
— Eu tô bem, sério.
— Lix, eu não gosto de mentiras, por favor, não mente pra mim, tá?
O Lee suspirou um pouco e voltou a fechar os olhos na tentativa de se acalmar. — Você sabe como as pessoas são né? Quando souberem, vão começar a falar coisas pra mim, coisas ruins que eu não quero ouvir. Eu já escuto muitas coisas por ser do jeito que sou, e eu não acho que faço nada de errado. Tipo, o corpo é meu e eu posso ficar com quem eu quiser, se eu fosse um alfa, ninguém falaria essas coisas pra mim, entende?
— Sim, entendo.
— Não é que eu tenha vergonha de estar grávido e não saber quem é o pai, só tenho medo do que pode acontecer comigo ou com o bebê, as pessoas são cruéis e quando souberem vai ser um inferno.
— Mas eu vou estar com você, Lix, vou cuidar e proteger vocês, não precisa ter medo de nada..
— E se você não ficar com a gente?
— Não existe essa opção, Lix. Eu vou ficar com vocês pra sempre. Não vai conseguir se livrar de mim tão fácil. - falou fazendo carinho na barriga. — Eu, você e esse bebezinho seremos uma família, pode até não ser do jeito "certo", mas vamos estar sempre juntos, independente de qualquer coisa. Prometo pra você.
Félix deu um suspiro com um sorrisinho e o abraçou como pode, naquela posição que não era tão favorável para isso. — Você é bom demais pra mim, hyunnie. Obrigado.
— Eu que agradeço, por me deixar ficar. Vou me esforçar muito, pra que nunca falte nada pra vocês e que sejam felizes.
— Confio em você.
— Mesmo? - perguntou e o ômega assentiu com a cabeça. — Isso é ótimo, fico feliz.
Mais uma vez eles ficaram quietinhos, aproveitando da companhia um do outro, até a água esfriar e saírem da banheira. Foram se secar para colocar os pijamas. Hyunjin percebeu que o ômega continuava tentando esconder o corpo dele, mesmo que não estivessem falando nada a respeito, podia sentir que ele estava meio tenso e tentava se secar escondidinho no canto. O alfa vestiu uma calça e pegou um dos cremes que comprou, se aproximando do Lee, que o olhou meio confuso. As mãos grandes puxaram a toalha com gentileza e o ômega tentou se encolher e até protestar, mas antes disso, já estava do colo do Hwang.
— O que tá fazendo? - ele perguntou tentando puxar a toalha de volta.
— Vamos passar um creminho. - explicou sentando ao lado dele e esquentou o creme entre as mãos antes de espalhar pela barriguinha dele. — Eu vi que é importante hidratar a pele para prevenir estrias e ajudar na cicatrização.
— Ah…mas será que você pode fazer isso de luz apagada?
— Por que quer se esconder de mim?
— Eu já disse que tô feio, hyunnie… eu tô me sentindo horrível e esse é só o começo. - suspirou. — Daqui a pouco, ninguém vai me querer…
— E isso é importante?
— Claro que é!
— Por que?
— Jinnie, para de fazer perguntas difíceis de responder. - falou com um risinho para descontrair.
O Hwang sorriu e se levantou apenas para pegar o short do pijama e ajudá-lo a vestir. — Bom, eu sei que não me perguntou nada, mas eu te acho muito lindo e extremamente sexy, - contou espalhando beijinhos pelo tronco dele. — Seu corpo é maravilhoso e a sua barriguinha é a coisa mais fofa do mundo.. - falou ao chegar com os beijos, apoiando a cabeça ali, sem deixar todo o peso sobre ela de fato, só para beijar e falar com o bebê. — Tá me ouvindo, moranguinho? seu mamãe é lindo, não é? Viu só, Lix? Ele concordou.
— Você é muito bobo, Hwang. - falou com uma risadinha.
— E você é muito lindo.
Depois de vestirem os pijamas, eles fizeram o skin care e escolheram máscaras de panda que eram muito engraçadas e não se pareciam em nada com o animal. Eles deitaram na cama abraçados enquanto trocavam carinhos. Felix estava com a cabeça deitada no peito de hyunjin, com uma de suas pernas em volta da cintura dele e recebia carinho nas costas, por baixo da camisa larga que havia pego do Hwang. Se sentia tranquilo e seguro fazendo desenhos imaginários no peito dele.
— Não tá com sono, pandinha? - o alfa perguntou afundando o nariz nos cabelos dele e inspirando profundamente.
— Um pouquinho e você?
— Também. - bocejou. — Vamos dormir?
— uhum…aí tô com preguiça de ir pra aula amanhã.
— Eu também, quer faltar e ficar aqui comigo? Não vou ter aula amanhã.
— Queria muito, mas não posso, hyunnie.
— Pode sim. - o alfa falou deixando beijinhos nas costas da mão dele. — Você tem alguma coisa importante pra amanhã?
— Não…
— Então fica, pandinha, prometo que faço algo bem gostoso para o almoço e eu te levo pra casa antes de ir para o trabalho.
— Proposta muito tentadora, papai.
— Fica mamãezinha, por favor. - fez biquinho passando a mão na barriguinha. — o bebê quer ficar com o papaizinho dele, Hm? Fica?
— Tá bom..
— Ebaa! - comemorou e mais uma vez cheirou os cabelos dele. — Você tá com um cheirinho tão bom de neném.
— Deve ser dele… ai que dor. - resmungou ao sentir aquele mesmo incômodo no pé da barriga.
— O que foi?
— Nada, só … Aí hyun. - falou se escolhendo e abraçou mais forte o corpo dele. - Tá doendo aqui. - apontou.
— Tá doendo muito?Quer ir pro hospital?
— Não, não precisa, acho que é só a cólica que a doutora disse, lembra? já vai passar.
— Tudo bem. - o alfa concordou e o trouxe para mais perto. Ergueu um pouco ambas camisas para encostar pele na pele e ficou abraçado ao Lee. — Isso deve ajudar.
— Obrigado jinnie.
— Relaxa, meu bem, já vai melhorar. - prometeu beijando o rosto dele. — Respira fundo.
— Tá passando…
— Quer que eu faça um chá?
— Não precisa, só fica aqui comigo. - Felix pediu e o alfa do concordou deixando um beijinho na testa e mantendo os corpos bem colados e eles continuaram assim, em silêncio por um bom tempo.
Felix estava muito pensativo, se sentia diferente em relação ao Hwang. Ele era um alfa incrível que se preocupava e demonstrava afeto por todos a sua volta, às vezes se preocupava tanto que chegava a ser chato, mas não podia negar que adorava ser cuidado por ele. Ao longo de sua vida, para ser mais específico, desde quando despertou como ômega, o Lee sentiu de forma muito drástica a mudança na forma em que era tratado por todos. Ninguém respeitava os ômegas, os alfas e até alguns betas achavam que poderiam fazer o que quisessem só por serem "dominantes", era um fato que os ômegas não tinham muito direitos, mas Félix nunca concordou com esse tipo de ideologia, ele era livre antes e não iria se prender só por causa de sua classe. Ele estava certo, entretanto, as outras pessoas não pensavam assim, e ali começou sua queda.
No começo da adolescência, mais ou menos de treze para quatorze, ele se apaixonou pela primeira e talvez única vezes. Era um alfa do ensino médio, um pouco mais velho, ele nunca teve boa fama e Félix, inocente como era, acabou caindo no papinho dele. Começaram a namorar uma semana depois do primeiro beijo, todo mundo achou aquilo precipitado e motivo suficiente para ficar em estado de alerta, mas ele não, ele achava que tinha muita experiência em romance, por ler e assistir muita coisa do gênero.
A ingenuidade infantil e arrogância adolescente foram os maiores culpados nas decisões erradas que tomou, ele não sabia que as pessoas poderiam lhe fazer mal só para conseguirem o que queriam e quando descobriu isso, já era tarde demais. A manipulação misturada com chantagem, dependência emocional e afastamento de amigos e familiares, resultaram em um jovem totalmente quebrado, que fazia coisas que não queria por medo de perder aquele relacionamento horrível, tinha medo de ficar sozinho, pois muitas vezes ouviu que não era o suficiente e que deveria agradecer por ter alguém que lhe amasse, de acordo com aquele alfa, era um sacrifício muito grande estar com alguém tão chato e sem graça.
Ele sempre reclamava de si, da forma como se comportava, do som da sua risada, do seu corpo, da performance na cama, mesmo que já tivesse dito diversas vezes que não queria aquilo. Félix se esforçava, pois ele alegava que se não fizesse, iria procurar em outra pessoa, e não é como se não soubesse que ele realmente o traía o tempo todo, só achava mais fácil ignorar toda a situação, pelo menos assim evitaria brigas e o possível fim do relacionamento. Aquele era seu maior medo.
Foram três longos e cansativos anos de humilhação, foi totalmente sugado por aquele relacionamento e quando acabou, percebeu que nem se reconhecia mais. Como o término não foi uma decisão sua e o alfa simplesmente foi embora sem avisar, nem nada, ainda passou um bom tempo sofrendo. Estava venerável, era a isca perfeita para seu próximo "namorado" se é que poderia o chamar assim.
Foi logo que entrou no ensino médio. Eles se conheceram na excursão que fez com a escola para um parque temático que abriria na cidade vizinha. Esse era um beta, bem mais velho, com vinte e três anos, Félix só tinha dezesseis, mas ele alegava que o ômega aparentava ser muito maduro para sua idade e que era diferente dos outros, mesmo assim, na primeira briga o chamou de infantil. Vejam bem, já tinha tudo para dar errado desde o começo, geralmente quando a parte "dominante" do relacionamento é uma pessoa bem mais velha, ela usa disso para te manipular, pois já sabe de muitas coisas que você não sabe e vai usar de sua experiência de vida para te fazer mal, foi exatamente isso que aconteceu com o Lee.
Esse relacionamento durou dois meses aproximadamente, e tirando que nunca foi assumido por ele,as coisas horríveis que tinha que ouvir hora ou outra, tapas na cara que nem eram no bom sentido, seguidos de chacoalhões e outras violências, estava tudo perfeito, pois ele sempre vinha com um lindo buquê de flores, um pedido de desculpas ensaiado e podia até mesmo escolher o que iriam comer naquela noite. Tudo ótimo até a esposa dele aparecer na porta da escola, com um filho na barriga e gritando para todo mundo que ele estava saindo com um homem casado. Foi humilhante e mais uma vez se decepcionou, foi ali que prometeu para si mesmo, nunca mais se envolver, não queria se entregar tanto para alguém a ponto de se perder e quanto mais pessoas conhecia, mais tinha certeza de que eles só usam o quanto querem e depois descartam sem querer saber dos seus sentimentos.
Foi nessa época que conheceu Jackson Wang e sua filosofia de manter ficantes fixos sem ter que se apegar a eles. Ele era lindo, gentil e aquele, parecia um bom acordo, pois assim, com os combinados muito bem determinados antes de começar, ninguém sairia machucado. Tudo bem que ficou com má fama, não era comum os ômegas agirem assim, principalmente por ter crescido em uma cidade pequena mais para o interior, mas já não se importava com o que falavam, só queria se proteger de sofrer tanto novamente e assim surgiram os seus chamados vibradores, um maravilhoso rodízio de caras bonitos que fodem bem e que não teriam nenhum poder em lhe fazer sofrer. Um relacionamento perfeito e não tinha a menor chance de se apaixonar. Quer dizer, isso até conhecer Hwang Hyunjin.
Na verdade, Felix ainda não tinha muita certeza do que estava sentindo por ele e sinceramente, preferia nem pensar muito a respeito, não queria que as coisas dessem errado. Sinceramente, ele era diferente e sentia isso desde o momento que o conheceu, ele o tratava com respeito e era doce, parecia fazer questão de sua companhia até mesmo em momentos em que não estavam transando, o que era bem estranho, além de fazer questão de estivesse confortável, tudo isso fora o fato de que conseguiu confiar nele muito facilmente e talvez isso que tenha assustado mais ainda o Lee no primeiro momento. Não queria se deixar levar por um rostinho bonito e um corpo gostoso, estava cansado disso, mas Hyunjin continuava ali, sendo o alfa mais querido que já conheceu.
Aquilo não era normal e não queria pagar pra ver, ficando perto demais e acabar presenciando ele se tornando um monstro como seus ex namorados, só que também era muito difícil ignorá-lo. Gostava de se sentir daquela forma, gostava de se sentir desejado e cuidado, por isso fez o que pôde para mantê-lo longe, aquilo era perigoso demais. Hyunjin era perigoso demais com aquele jeitinho amável e sorriso perfeito, e tentar afastá-lo foi uma das coisas mais difíceis que já tentou fazer, fugir era bem mais fácil, até que ele conseguiu lhe convencer a ficar, mas a verdade mesmo, era que talvez tivesse fugido novamente se não fosse pelo bebê.
A notícia da gravidez foi algo totalmente inesperado, tudo bem que dava todo fim de semana, - e às vezes até durante a semana - para pessoas diferentes, mas sempre se protegia e nunca pensou que poderia dar errado em algum momento. Quando descobriu, se sentiu tão desesperado, que achava melhor nem pensar muito sobre o assunto, na verdade, até agora, com tudo mais ou menos resolvido, ainda se pegava em fase de negação hora ou outra e ter Hyunjin ali consigo, - mesmo ele sendo um babaca no começo - foi o que fez tudo aquilo ficar mais leve e agora até aceitava melhor a situação, mesmo morrendo de medo do alfa simplesmente enjoar e mudar de ideia em algum momento.
Ter uma família, parecia um sonho distante até conhecê-lo, e bom, agora teria uma, mesmo que não fosse do jeitinho que sonhou na infância, com encontros ultra românticos, encontros de casais com seus amigos, um pedido bem brega, uma festa de casamento perfeita, vestido bufante digno de princesa da Disney, um marido maravilhoso que sempre presenteia com flores e elogios, roupas combinando, engravidar depois de terem viajado muito e curtindo a vida de casados, festas de família, datas especiais, comemorar o aniversário de casamento ano após ano até o fim da vida, ainda sim, era bom e estava até se sentindo feliz, só estava com muito medo daquilo tudo acabar de uma hora para outra. Queria muito poder amar novamente, do jeito certo e saudável, também queria muito ser amado, ser amado publicamente, sem ter que se esconder, ser amado de uma forma verdadeira e genuína, mesmo que o amor já não fizesse mais sentido para si, devido a toda sua trajetória, ainda sim, Lee Felix só queria ser amado.
Depois de tanto pensar, já estava chorando sem nem perceber, estava muito perdido na própria cabeça para notar as lágrimas escorrendo por seu rosto e para ser sincero, só percebeu pois ouviu o típico som que a geladeira faz de madrugada. Provavelmente, já eram por volta das três e meia da manhã, mesmo assim, não sentia a menor necessidade em dormir, só continuava ali no abraço gostoso de Hyunjin, sentindo seu cheiro hipnotizante de tão bom, era bom estar ali, e mesmo que não quisesse admitir, aquele já era seu lugar preferido de estar.
— Hyunnie… - chamou em um sussurro baixinho, se desfazendo um pouco do abraço para olhar em seu rosto. Ele está de olhos fechados e ressonava baixinho com aquela expressão tão serena. Acabou sorrindo e levou as mãos ao rosto dele, fazendo um carinho. Assim como a primeira vez que o viu tão de pertinho, sentiu aquele típico friozinho na barriga, seguido por uma enorme vontade de beija-lo, ele era perfeito. Levou uma mecha do cabelo dele para trás da orelha e aproveitou para lhe fazer um cafuné, que pelo murmurado de satisfação, parecia que ele havia gostado. Mais uma vez um sorriso enfeitou seu rosto, selou os lábios dele e acabou externando um pensamento que estava tendo frequentemente nos últimos meses. — Será que você conseguiria me amar? Mesmo que fosse só um pouquinho? Eu queria muito que você me amasse, Jinnie…
Notas:
Esse capítulo não estava no planejamento, mas achei melhor colocar ele aqui, pois já estava na hora de vocês conhecerem mais do Felix e os motivos por trás das ações dele. Pra um capítulo não planejado, eu acho que ele se tornou bem importante 🤔
Enfim, e aí? Choraram? Pq eu fiquei mal.
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