ZAYN - [DISTROCA]

— Eu vou matá-lo! Tenha a certeza que se aquele faisão inútil aparecer em minha frente eu vou fazer questão de arrancar cada osso de seu corpo um a um, irei desová-lo vivo — O homem gritava irado para todos os lados no quarto, seus cabelos pretos mesmo grisalhos pareciam roubar a noite para si, o porte de urso provido de batalhas e acompanhado de cicatrizes o deixava ainda mais assustador. Ele definitivamente não estava brincando com o que falava.  

    Digo, é realmente admirável ver um avô tão preocupado com a saúde do neto, mesmo sendo uma leve queda de cavalo em que o jovem saiu praticamente ileso, o Marquês está disposto a blasfemar contra a coroa real abertamente por isso.

— Se aquele príncipe de uma figa ousar se encontrar comigo em algum momento de sua vida, eu vou garantir de fazê-lo se arrepender de ter nascido, de chorar por sua mãe não ter abortado ele nos primeiros dias de gravidez, vou fazer ele pedir que abram os portões do inferno ao invés de ficar ao meu lado. Como ele pôde fazer meu neto cair de um cavalo no dia de caça, esse estúpido não tem amor a vida!? — os serventes tentavam com todas as suas forças fazer com que ele não saísse do quarto, já que continuava a ameaçar puxar a espada de sua bainha por baixo de todo aquele traje preto demoníaco.

    Ah, aliás, eu sou o príncipe ao qual ele está desejando a cabeça...  Me chamo Zayn Von Yigrem, e por alguma maldição do destino no momento eu me encontro no corpo do Theodor de Morisete, sentado em seu quarto após também ter caído por um cavalo, ouvindo de forma muito agradável e detalhada as formas de tortura que o Marquês pretende fazer comigo.

— Eu vou capar aquele faisão desgraçado!!

    Por favor, alguém me tira daqui.

CAPÍTULO 1: passo-a-passo de como NÃO insultar um deus》

    Uma vez ao ano, no início do inverno, a realeza sempre convoca todas as famílias nobres a participar do evento de caça, que tem como objetivo diminuir a população de animais salvagem que poderiam vir a invadir alguns povoados ou até mesmo cidades em busca de comida. É obrigatório a presença dos principais membros da família real nestes eventos, para que façam o discurso de abertura, e eu, como quarto príncipe da família real do reino de Yigrem, tenho minha participação completamente dispensada.

    O rei, a rainha, o príncipe herdeiro e o terceiro príncipe que é um árduo oponente para também suceder o trono, já estão todos aqui, então por que o quarto príncipe que tem zero participação na política e só não é destratado pelos cavalos por que ainda não lhes foi concedido a racionalidade, está aqui?

    Simples, esse é um dos poucos momentos dos quais eu posso me enfiar no meio do mato e passar o dia longe dos compromissos e reclamações estúpidas da minha família, nunca perderia essa oportunidade.

— Minha nossa, é realmente um dia abençoado. Vossa alteza, o quarto príncipe e o Marquês de Morisete nos agraciando com suas raras presenças ao mesmo tempo — um dos nobres que participariam da caçada falou em alto e bom som não muito longe de mim, era proposital, quase como um: esqueceram do título que tem e resolveram se isolar do mundo?

    Mas eu realmente tava afim de me isolar do mundo, ainda mais agora, que sei que ao virar as costas encontrarei um olhar mortífero de um demônio encarnado, e não tenho a opção de não virar depois desse imbecil me mencionar com uma voz tão alta.

— Haha, o visconde é realmente divertido. Meus cumprimentos, Marquês Morisete — tratei de colocar um sorriso falso no rosto e me aproximar, mas para minha surpresa o demônio parecia esconder algo atrás de si — Há algo de errado, Marquês?

Tsk, minha primeira recepção é com um embuste? Vamos para nossa cabana, Theodor — ao virar suas costas para sair, me ignorando por completo após uma ofensa, pude ver o que estava de pé atrás de sua capa, era um demônio júnior! Uma cria do capeta que estava encarando minha alma com aqueles olhos azuis marinhos como se estivesse julgando todos os meus pecados e rindo de mim por eles. Mas para minha felicidade, ele também virou as costas e seguiu o Marquês.

— Quem era aquele que acompanhava o Marquês? — perguntei ao visconde infeliz que tinha me feito ir até lá.

— Faz sentido vossa alteza ainda não está consciente sobre a identidade daquele rapaz, ele recentemente foi apresentado como herdeiro do Marquesado, Theodor de Morisete, é neto do Marquês. Esse é o segundo evento que ele aparece — o homem se aproximou mais de mim para dizer, como se estivesse me contando um segredo.

— E qual foi o primeiro? — perguntei curioso.

— A repressão das tropas inimigas na fronteira, da grande guerra de Iselin.

    ???

    O debute social do garoto foi reprimir soldados de guerra? Que tipo de absurdo estou ouvindo?

— Pelos boatos ele deve ter uma idade semelhante a de vossa alteza, talvez seja mais fácil lidar com ele do que com o avô — dessa vez ele se afastou para falar como uma pessoa normal.

    Pelo olhar que ele me ofereceu duvido muito que seja fácil tratar com ele. A família Morisete tem um certo ódio justificado pela família real, Yigrem era um reino pequeno e fraco em todas as camadas, e o antigo rei se desesperou ao notar o avanço violento que o império de Valley fazia em nossa direção.

    E então, como uma única luz no fim do túnel, os antigos Marqueses conseguiram fazer um tratado de paz antes que fossemos invadidos, em troca de tecidos, sim, você não leu mal, tecidos. Tudo o que o antigo Marquês tinha na época para negociar era um pequeno galpão em que produzia tecidos para a própria família, mas parece que de alguma forma isso chamou muita atenção da Imperatriz que nunca tinha visto um material tão elaborado.

    Dessa forma o reino não só conseguiu um tratado de paz para se manter existindo, como se tornou o maior parceiro comercial do império e conseguiu comercializar com outros reinos a partir do investimento que recebeu. O pequeno projeto do Marquês foi o suficiente para levar nosso reino do lixo ao luxo, aumentando até nosso poder político e militar.

    Mas os antigos reis foram burros o suficiente para tentar fazer eles assinarem um contrato que cedia a fábrica para a família real,  isso foi o suficiente para fazer o Marquesado de Morisete só por desaforo se isolar dos outros nobres e se tornar praticamente independente, eles conseguiram se estabelecer tanto e juntar tantas riquezas que se quiserem se desvencilhar do reino é completamente possível. E passando alguns séculos para o futuro, onde estamos atualmente, os mebros da família Morisete tratam a realeza como insetos.

    Até por que o que o rei vai fazer, prender a família com a maior força militar do reino? Taxar os responsáveis pela maior riqueza e tratados com os outros reinos que temos? Ou tentar tirar da política um louco que facilmente tiraria uma espada para matar o rei? Não me parecem boas decisões, e para estarem recebendo esse tratamento da família Morisete por séculos e ainda assim não fazerem nada a respeito, eles também devem pensar como eu.

— Atenção! Vossas majestades, o rei Berto Von Yigrem e a rainha Audrina Von Yigrem fazem sua entrada junto as vossas altezas, o príncipe herdeiro Uriel e o terceiro príncipe Peter! — um cara alertou a todos do acampamento, que se juntaram para recebê-los ao saírem de suas respetivas carruagens.

    Admirem a coragem da rainha Audrina, esse é um raro momento em que você verá ela pisando em terra com seus caros e belos sapatos na cor branca. Sério, quem vem de branco para um acampamento perto de uma floresta?

    Com algumas tocidas para limpar a garganta o rei iniciou seu discurso, o qual iremos pular e registrar apenas o final, não me entenda mal, é porque realmente eu só escutei o final, preferi ficar olhando as formigas que decidiram criar um caminho sobre minhas botas — ...e assim iniciamos o nosso evento de caça anual! Aqueles que trouxerem a maior quantidade de animais que possam representar perigo para os cidadãos do reino será devidamente recompensado, lhes desejo uma boa sorte.

    Com uma salva de palmas se encerrou o discurso, e assim cada um seguiu em direção ao seu cavalo para partir, as damas para seus acentos e os velhos que só vieram para fofocar em direção ao rei para bajula-lo. Rei esse que por alguma razão estúpida da qual eu desconheço decidiu se jogar na toca do leão.

— Marquês Morisete, que honra ter a sua presença aqui hoje, irá participar da caça? — se aproximou com um sorriso do Marquês, o qual revirou os olhos pela falsidade.

— Trouxe meu neto para fazer meu papel, se isso é tudo o que quer saber — o Marquês virou as costas e entrou dentro de sua cabana, deixando o rei com uma cara de tacho do lado de fora. Foi realmente uma cena agradável de ver antes de partir, apesar de que não gostaria que acontecesse comigo.

— Hya! — puxei levemente a corda do meu cavalo para que pudesse ir em direção a floresta.

    A floresta em si não era uma grande coisa, sinceramente nem sei se era digna deste nome, já que parecia mais um bosque. O problema era os animais que viviam nela, ursos, lobos, raposas, algumas espécies que apesar de bonitas, poderiam ser bem desagradáveis quando estavam com fome.

    Fiquei feliz ao notar que tinha pegado uma rota que não havia ninguém, normalmente nessa região que fui tudo o que você encontraria eram coelhos e no máximo alguns veados. Era perfeito para respirar um pouco fora da sociedade.

    Depois de trotar por algum tempo pacífico por aí, ouvi um barulho vindo de uma concentração de arbustos e sem pensar muito saquei meu arco, sim, arco. Peço desculpas pela decepção, mas como >quarto< príncipe da família real não tive interesse e muito menos um mentor decente para conseguir usar uma espada, então é o que temos por hoje.

    Desci de meu cavalo e me aproximei com cuidado dos arbustos ao notar que não teria como um animal grande se esconder por ali, foi quando notei o que parecia ser uma cratera escondida.

    Lembra quando disse mais cedo que ainda não tinha sido distratado por cavalos? Pois bem.

    Ao que parece um coelho saltou na frente do cavalo o assustando o suficiente para que esbarrasse em mim e me fizesse perder o equilíbrio e cair dentro da cratera, que caramba, era realmente uma cratera.

— Argh... — murmurei pela dor perfurante que atingiu minha perna, era só o que faltava, quebrar a perna em uma cratera no meio de uma mini floresta por ser empurrado por um cavalo.

— Vai sair por conta própria ou terei que te chutar? — ergui o olhar surpreso, e de surpreso mudei para aterrorizado.

    Tinha caído em cima do jovem Marquês Theodor de Morisete.


*Calendário Ominiano:[23/06]

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