{Capítulo XXXII: A verdade por trás das máscaras}

    Não dormi.

    Pensei a respeito e cheguei a conclusão óbvia, que qualquer coisa que fosse acontecer, seria pela noite. Então fiquei sentado na cama, relendo os únicos livros que Zayn tinha em seu quarto, que eu posso garantir que nunca chegou a ler, já que as folhas estavam intactas, e ele não aparentava ter interesse em: "5 passos de como pescar enguias."

    Nem possui enguias em Yigrem.

    Toc.

    Uma única batida. Me levantei, tomando cuidado para não emitir nenhum som, e então então aproximei da sacada, abrindo sua porta de vidro.

    De repente, um homem encapuzado pulou em minha frente, se ajoelhando em uma saudação. Dei passagem para que entrasse tentando fingir costume, e assim que ele fez, fechei a porta.

    O que era essa situação? Que sentimento de desconforto.

    O homem ergueu a mão para que eu apertasse em cumprimento, entretanto, eu já tinha feito esse gesto antes com o avô de Zayn, então não hesitei em apertar.

    Zayn era canhoto, porém nenhum de seus pertences ou organizações mostravam isso, as pessoas do castelo não perceberam? Se esse fosse o caso, faria sentido o acusarem de não ter educação, ele não tinha o controle devido dos talheres.

    Pensando dessa forma, ele com certeza era próximo de seu avô, e dessa pessoa.

— Pensei que não me receberia hoje também, irei me abster de perguntar a razao, mas estávamos começando a ficar preocupados  em não te passar as informações — o homem suspirou, tirando seu capuz.

    Eu lembrava de sua voz, era a pessoa que estava discutindo com a primeira concubina no baile, entretanto não tinha ideia de seu nome ou título.

— Tive alguns problemas, mas já resolvi, então não se preocupe. Diga o que veio fazer — me escorei na parede, mantendo uma expressão calma com um leve sorriso nos lábios.

    Tinha que agir como Zayn, para que ele não desconfiasse. Porém, eu não conhecia essa parte dele, então tudo o que podia fazer era seguir o fluxo da conversa.

    Estou jogando xadrez às cegas.

— Já consegui provas o suficiente para acusar a rainha de envenenar o rei, e Hamilton já conseguiu roubar os livros de finanças adulterados que ela fez. Os rumores que pediu para espalhar sobre Peter já se tornou assunto de debate nos círculos sociais, Elise também tentou sabotar mais uma carga de suprimentos dos soldados de Morisete, como você ordenou o conde a incentivá-la, mas as ervas foram descobertas antes de adentrar o território deles.

    Estremeci.

— Apenas isso?

— Não, estava tentando lhe contatar porque preciso de sua aprovação em duas coisas, a quantia de veneno para o rei, devo manter a mesma, não irá mudar de opinião? Sei que o objetivo inicial era apenas adoecê-lo, mas se continuarmos nesse ritmo, se ele for capaz de sobreviver, terá sequelas terríveis.

    Minha mente ficou em branco por alguns instantes.

— Por favor, não me entenda mal, pergunto apenas porque afinal, ele ainda é seu pai, se dependesse apenas de minha decisão eu teria dado uma dosagem maior desde o início.

— Não se preocupe, não mudei de opinião.

— Certo — ele suspirou aliviado — Hamilton pediu para lhe perguntar se já deve desvencilhar Zaydete da rainha, no ritmo que estamos não irá demorar muito para destruí-la.

— Deixe-o agir quando julgar ser necessário.

— Bem, isso é tudo. Me permita apenas lhe dar um conselho sobre o que eu ouvi entre os príncipes, o humor deles estavam em péssimo estado devido ao que ocorreu na última festa do chá que organizaram, vossa alteza deveria tomar cuidado, eles dois podem acabar causando uma variável em nossos planos se tentarem algo.

— Obrigado pelo conselho, tomarei mais cuidado.

    Ele me deu um último olhar, como quem se preocupava com meu estado de ânimo — Se me der licença.

    Assim como surgiu, ele deixou o quarto pela sacada como uma sombra, sem deixar um único rastro. Fechei a porta de vidro, e a cobri com as cortinas de tecido creme que sempre ficavam abertas, andei até a cama e então sentei em sua borda, apoiando uma das mãos na cabeça.

    O que foi que eu acabei de ouvir?

    Venenos, rumores, sabotagens, o que era esse cerco que estava sendo controlado por Zayn?

"Se aproveitar da batalha do trono para arruinar a família real. Quem seria capaz de aplicar uma estratégia tão paciente e complicada como essa?"

    Encontrei.

    Encontrei a pessoa que seria capaz de espreitar uma presa por tempo o suficiente de ser confundida com o terreno, e saltar quando todos estivessem distraídos uns com os outros.

    Me preocupei com a presença da serpente, enquanto tinha uma raposa faminta ao meu lado.

    Eu estava tão surpreendido que sequer conseguia ficar irritado, Zayn conseguiu fazer com que minha família se visse obrigada a se posicionar para não ter prejuízos. Ele estava planejando isso mesmo antes de sermos amaldiçoados? Desde quando?

— Pfft- Hahaha — deixei uma risada escapar dos meus lábios.

    A pessoa que estava arruinando a família real me chamava de demônio louco?

    Quem exatamente era o louco de nós dois?

*Calendário Ominiano: [18/07]