{Capítulo XXII: A solidão dentro dos muros reais}

    Para acalmar minha mente, decidi fazer algo que venho deixando de lado há algum tempo.

    Esse cabelo de crina-de-galo.

    Observei o melhor que pude a maneira em que Zayn o arruma nas últimas vezes que nos encontramos, e após tentar reproduzir os padrões que havia notado na direção das mechas, cheguei a conclusão que não irei conseguir.

    A não ser que pergunte a ele, e não é algo que eu pretenda fazer.

— Isso... está muito estranho, porém está melhor do que sem pentear — suspirei desistindo, não sabia como ele criava a franja desde o topo da cabeça, então apenas desapareci com ela, deixando o cabelo baixo por completo.

    Guardei o pente e o gel que usava na mesa de cabeceira, e me pus de pé ao lado da sacada vendo ao longe o movimento nos outros palácios, já havia arrumado o seu quarto todo, que de alguma maneira ele conseguia deixar cada vez mais desorganizado, eram poucos os livros que tinham, e todos eu já li, estava sem o que fazer.

    Minha curiosidade pedia para que eu saísse e visse qual era a situação dos outros em relação a decisão do duque que pegou todos de surpresa, entretanto, todas as vezes que pisei o pé para fora deste quarto consegui problemas, então deixei essa ideia de lado.

    Toc, toc.

— Estão lhe esperando no corredor lateral do seu palácio — ouvi a voz do que deveria ser uma servente.

— Quem? — perguntei olhando para a porta, porém não obtive resposta alguma.

   Suspirei um pouco frustrado, agora teria que decidir entre ser sensato, e me manter aqui, ou evitar um possível problema, indo atrás de um maior.

    Decidi avaliar primeiro, sai do quarto e fui até a direção dita, entretanto assim que deveria me aproximar, me esgueirei pela parede para não ser visto, e poder ver quem teria me chamado.

    Ha, o sabugo de milho estava de pé com algum outro nobre que desconhecia.

    Neste caso, manterei a sensatez. Me virei para voltar ao quarto, mas fui pego de surpresa ao agarrarem meu colarinho.

— O que está pensando em fazer? — a princesa disse com rispidez.

— Ir embora, há algo errado nisso? — a olhei com a sobrancelha erguida.

— Acha que vai fugir tão facilmente das reclamações depois do problema que incentivou? — ela aumentou a voz, chamando a atenção dos outros.

    Deveria derrubá-la de novo?

— Qual problema está se referindo?

— Vejo que mantém fingindo-se de bobo até o final, obrigado por evitar que esse rato escapasse, Zaydete — o sabugo de milho se aproximou junto com o outro homem.

    O que disse alguns momentos antes? Toda vez que saio os problemas vem até mim.

— Não sei do que estão falando — afastei a mão da princesa e ajeitei a camisa, recuando alguns passos para caso isso se tornasse uma discussão, pudesse me segurar em socá-lo de novo.

— Zayn, não se faça, até mesmo o Uriel já está de olho em você, finalmente está colocando suas asinhas para fora, achou que ninguém fosse perceber seu esquema de se aproximar do Morisete e usá-lo contra nós? — ele apontou o dedo com um tom de acusação.

— Exatamente, vossa alteza. Se não, por qual outro motivo ele teria se aproximado do jovem marquês no baile e na recepção do duque imperial? Com certeza ele deve ter conversado antes com ele, para que conseguisse mover o duque até a família Morisete — o homem ao seu lado incentivou.

— Estou ciente, jovem visconde — o sabugo de milho pareceu ficar ainda mais irritado ao ter a confirmação do outro.

    Espera, eles estão achando de forma séria, que tudo o que aconteceu ontem foi armado pelo Zayn? Logo >o Zayn?<

    Isso se quer faz sentido? É tão absurdo que não consigo mensurar, mesmo se fosse o caso em que ele tivesse algum tipo de capacidade básica para raciocínio, em que isso o ajudaria? Pelo contrário, se nossa maldição for descoberta, irá prejudicá-lo ainda mais.

    Que bando de asnos.

— Como chegou a essa conclusão?

— Como? Graças a deusa o jovem visconde abriu meus olhos, tinha achado estranho Uriel ter ido atrás de você, mas pelo visto ele só tinha notado antes de mim! No fim você também quer a coroa, não é? Está só se fazendo de otário — ele avançou um passo em minha direção.

    Abriu seus olhos? Há, parece que os nobres encontraram alguém excelente para manipularem.

   Puxei a princesa para minha frente, e a empurrei em direção ao sabugo de milho, fazendo ambos perderem o equilíbrio.

— Se quisesse perder meu tempo indo atrás de sua coroa, começaria primeiro melhorando minha imagem para ter apoiadores, não me queimando ainda mais com os Morisete, sequer tem cérebro? — suspirei indignado e me virei para sair, não perderia meu tempo com essas pessoas, era melhor ficar sem ter o que fazer.

— Você sabe que não tem como melhorar sua imagem por causa de sua mãe, por isso mudou a estratégia! Quem em sã consciência apoiaria o filho de uma louca? — a princesa se alterou.

    Em alguns momentos devido as suas falas, eu cogitei a possibilidade dela não ser filha da concubina Corália, porém a herança não mente, ela é a exata cópia de sua mãe.

— Não deveria lhe perguntar isso? Afinal, você também é filha dessa louca, e está sendo apoiada pela rainha — lancei um olhar de repulsa para ela, que a fez estremecer, deixando uma expressão de raiva tomar seu rosto.

— SEU VERME HIPÓCRITA, EU TENHO ÓDIO DE VOCÊS, ESPERO QUE O TERCEIRO PRÍNCIPE SEJA COROADO E OS EXPULSE DAQUI! — algumas lágrimas apareceram em seus olhos irados.

    Algumas outras palavras foram ditas por ela e pelo os outros dois, porém eu apenas apressei meus passos para que aquela discussão não escalasse.

    Não sabia ao certo a origem dessa raiva da princesa, entretanto, olhando de outro ponto de vista, isso não parece um pouco cruel de ouvir da boca de sua própria irmã?

    Além da concubina Corália que estava em reclusão e não podia ser visitada com frequência, Zayn tinha alguém que pudesse confiar sem impensilhos dentro desse castelo? Era visível que tentavam afastar até mesmo Dariel de ter contato com ele, sequer era possível chamar isso de família?

    Nem mesmo os serventes faziam questão de respeitá-lo, passa o dia trancado entre quatro paredes para não sofrer represálias, ele deveria ser de fato, responsabilizado por sua postura indigna?

    Aaah, por que estou pensando sobre isso? Não deveria sem um problema meu, estou passando por isso apenas por estar preso em seu corpo.

    Não deveria me ater tanto aos detalhes sobre ele, certo?

*Calendário Ominiano: [10/07]