THEODOR- [TROCA]

{Capítulo IX: A concubina abandonada}


    Era desagradável ter que acordar com tanta luz em meu rosto, minha cabeça chegava a latejar com o incômodo.

    De novo, estava no palácio do quarto príncipe.

    Um dia em seu corpo, outro no meu e agora dois dias seguidos aqui, poderia ser... que exista um padrão de troca? Deveria começar a me concentrar nisso.

    O quarto estava organizado graças ao meu esforço no dia anterior, então era uma preocupação a menos. Como não havia conseguido ir até o palácio da segunda concubina, deveria terminar o que tinha começado?

    Encontrar aquele... qual era seu nome mesmo? Bem, não me importa, não foi uma experiência agradável, deveria evitar encontrar com qualquer pessoa além de Dariel no caminho.

    Me alimentei e me vesti em seguida, tomando cuidado para deixar os trajes o mais desleixado possível, pensando bem agora, fazia sentido a quantidade anormal de acessórios que estava espalhado pelo quarto, o quarto príncipe não gosta de usá-los? Que desperdício.

    Deveria me abster de usar luvas também... não pude evitar de torcer meu rosto em desgosto, odiava sentir a textura dos objetos, como poderia ficar sem elas? Aliás, usá-las é uma regra básica de etiqueta, isso não deveria ser considerado uma falta de educação?

    Ah, ele era um sem modos.

    Respirei fundo, guardando minha frustração por optar em ir com as mãos nuas, desagradável... mas não ia cometer o erro de manchar ainda mais a imagem de outra pessoa, ao contrário dele, eu tenho ética, e ele já faz isso muito bem por si próprio.

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— Você veio — Dariel abriu um sorriso divertido assim que me viu se aproximando de seu palácio.

— Desculpe pelo o trabalho que te dei ontem — dei um sorriso leve em resposta.

    É válido ressaltar, que meus sorrisos falsos são de uma qualidade excelente, a não ser que você seja muito próximo de mim, será impossível de notá-lo mesmo que seja contra minha vontade.

    O que é o caso nesse momento, você está sendo muito simpático, Dariel, o problema é que eu apenas me canso por manter uma expressão agradável por muito tempo, então agradeceria se você se afastasse.

— Que nada, eu apenas me surpreendi, para você ter agido daquela forma ele dever ter dito mais um dos seus absurdos, sinceramente? Peter estava precisando de um desses a séculos, só não esperava que você fosse a pessoa que daria, haha — ele passou a mão em meu cabelo, o deixando mais bagunçado do que já estava — Você tem se soltado mais essa semana, que bom que as coisas estão funcionando ao ponto de te ver tão tranquilo, mas deveria arrumar esse cabelo, não é a única parte que você se dedica? O que tá acontecendo? — ele ergueu as sobrancelhas, com um misto de curiosidade e preocupação.

— Eu te disse, tô experimentando novos jeitos de arrumar — passei a mão sobre o cabelo, notando o quão embolado estava. Quando o vi pela primeira vez o cabelo dele parecia quase tão liso quanto o meu, então por que ter tantas complicações para cuidar...?

    Pela expressão de Dariel, eu notei que essa desculpa não ia durar por muito tempo.

    Como vou aprender a pentear isso?

— Qual é o nome do novo penteado? A moda do urso ou a juba do leão? Ambos me parecem adequados.

    Não deveria estar tão ruim...

— Tenho uma reunião para ir agora, então vou deixar meu pequeno leão sozinho, mande um beijo para a tia em meu nome! — ele deu um tapa de leve em minha cabeça antes de andar um pouco apressado pelos corredores.

    Ele de certa forma, me lembrava um pouco o Anthony. Um sorriso surgiu em meus lábios ao pensar nisso, o quarto príncipe deveria estar passando por maus bocados nas mãos daqueles sem juízo.

   Porém, algo chamou minha atenção na fala de Dariel. O que exato estava funcionando para o quarto príncipe?

    Eu gostaria de deixar minha curiosidade de lado, ainda mais quando se trata de um assunto sobre a realeza, entretanto de alguma forma, minha intuição parecia querer o contrário.

    Segui as instruções de Dariel e após perguntar a direção para alguns serventes, que para minha surpresa não me ignoraram, consegui chegar ao palácio da segunda concubina.

— Aah — suspirei — Isso parece tudo, menos um palácio...

    O que era para ser um jardim, estava repleto de ervas daninhas e galhos secos, limo cobria grande parte das paredes construídas, e até mesmo algumas janelas estavam a ponto de ruir. Esse tratamento... não era um pouco demais?

    Havia apenas dois guardas localizados frente a porta, que sequer se deram o trabalho de me olhar quando entrei, não havia mais nenhum servente além deles. A cada passo que dava entre os corredores em ruínas, mais eu pensava que talvez não devesse ter vindo até aqui.

    O que o terceiro príncipe disse sobre sentença de morte, agora consigo entender.

— Não se preocupe minha senhora, tenho certeza que ele virá antes da ordem do imperador se estabelecer, de qualquer forma, só começará amanhã, certo? — ouvi uma voz feminina vindo de uma porta um pouco mais a frente, seguindo ela parei em frente ao cômodo.

    Meu coração parecia encolher.

— Oh, querido. Você veio, se aproxime um pouco mais — a segunda concubina sorriu enquanto erguia suas mãos, como se pedisse um abraço.

    Ela estava sentada em uma poltrona rente a janela, deixando que a luz do sol ultrapasse seus cabelos vermelho fogo, mais escuro de que seus filhos. Havia olheiras profundas marcadas em sua pele, e a desnutrição de seu corpo era visível, o quarto em que estava parecia ser o único habitável de todo o palácio, mesmo que houvesse inúmeras rachaduras na parede, indicando que a construção poderia desabar a qualquer instante.

    Uma única dama de companhia tinha acabado de finalizar uma trança em seus cabelos, era uma mulher em seus quarenta, com uma expressão tão agradável quanto a da concubina, porém seu estado de saúde não se diferenciava tanto de sua senhora.

    Andei com um pouco de hesitação, entretanto ela sempre fazia sinal para que eu me aproximasse mais, até que me ajoelhei no chão, deixando meus braços apoiados em seu colo, com ela brincando com um cuidado inigualável com os cabelos ruivos em minha cabeça.

— Estava com tanta pressa que não arrumou seus cabelos? Não faça isso, eles são preciosos, gosto de ver meu pequeno bem cuidado — pegando o pente que estava com sua dama, ela começou a desembaraçar os fios devagar.

    Eu não conseguia me mover.

    Seus sentimentos contagiava de uma forma, que parecia ter sido embriagado.
   
— Sei que é um egoísmo meu, mas estou tão feliz que veio, fiquei com receio de não conseguir sequer lhe ver antes de me confinarem novamente — sua voz era doce e agradável de escutar.

    Dariel havia dito algo semelhante.

— Por que irão fazer isso?

— O rei não lhe contou? O sobrinho do imperador de Valley virá passar um período aqui no Reino, enquanto a guerra não estabiliza. Para que não ocorra rumores desagradáveis, ficarei isenta de receber visitas — ela acariciou meu rosto com cuidado, como se tentasse gravar cada detalhe do que via — Tome ainda mais cuidado, meu filho. Não dê motivos para a rainha lhe atormentar, o mais importante para mim é vê-lo seguro, não importa como.

    De certa forma, a decisão de vir até aqui acabou dando um consolo para a concubina, por mais que sido apenas por curiosidade.

    Porém essas palavras... não sei como reagiria, se fosse a minha mãe nessa situação.

    Aquele soco me pareceu ainda mais justo agora.

— Dariel lhe mandou um beijo, parece que ele tinha uma reunião — meu tom de voz saiu mais baixa que o costume, estava em um misto de angústia e conforto diante a essa situação.

— Os nobres não irão deixá-lo em paz agora que voltou a participar da política, espero que ele aguente firme — a concubina deu uma pequena risada — e sua irmã, como está?

    Parecia muito bem quando estava defendendo aquele príncipe no chão.

— Está bem, a vi ontem com o terceiro príncipe — ouvi ela soltar um pequeno suspiro.

— Garota tola, mas não posso reclamar, é minha culpa vocês terem que passar por isso. Continue cuidando dela por mim, por favor.

    Ficamos assim, em silêncio, por um longo tempo, as vezes ela cantarolava alguma canção e em outras citava algumas das coisas que fazia quando ainda morava com seu pai no condado.

    A segunda concubina parecia tudo, menos demente. Qual poderia ser a origem desses rumores infundados ao seu respeito? E por a necessidade de deixá-la isolada?

    De repente, senti vontade de lembrar de seu nome, deveria procurar quando saísse.

    Sinto que de alguma forma, por presenciar esse momento que não pertencia a mim, tinha acabado de me envolver em algo além de minha imaginação.

                           

*Calendário Ominiano: [30/06]

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