THEODOR - [DISTROCA]

{Capítulo XVIII: Ajudando um acéfalo a agir}

— Estamos chegando? Minha deusa, que demora! Nesse ritmo iremos chegar após o duque ter ido embora — Vovô reclamou, pela quinquagésima vez.

— Já estamos na capital, conseguimos ver o castelo daqui, não demorará muito, então se acalme — suspirei.

    Por que aceitei o título de herdeiro? Era para o Benjamin está lidando com essas coisas, não eu.

    O vovô bufava, batia os pés, os dedos das mãos, virava para um para um lado e para o outro, arrumava seus cabelos, olhava a janela, olhava para mim.

    Céus, isso está irritando.

— Vovô, se o senhor não quisesse ter vindo poderia ter me mandado só.

— Como eu poderia deixá-lo sozinho no meio daquelas bestas selvagens!? Você ir só para o baile já foi contra minha vontade — seus movimentos de inquietação não paravam.

    Faltava pouco para chegarmos, porém isso parecia durar uma eternidade...

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— Fazia tempo que eu não ficava tão nervoso quanto hoje — o marquês Sivan ria tentando manter a postura. Ele era um homem de estatura média, pele bronzeada e cabelos castanhos, conseguia chamar a atenção onde ia por conta de seu bigode pontiagudo que sempre mexia.

— Realmente, é um evento único de se acontecer — O rei concordou.

    Foram reunidos os líderes das quatro jurisdições do reino, marquesado de Sivan com o leste, marquesado de Raismand com o oeste, ducado de Pemberton com o norte e o marquesado de Morisete com o sul. Entretanto, somente três líderes haviam chegado, eles estavam de pé conversando casualmente com rei, enquanto a rainha, a concubina, a princesa, o primeiro e o terceiro príncipe estavam sentados na mesa, que tinha sido posta no jardim principal.

— Esse seu nervosismo todo não é por saber que o Roger virá? Hahaha — o marquês Raismand provocou. Era um homem de pele escura e um porte robusto, seus cabelos longos presos em um coque já estavam grisalhos, igualmente a sua barba, e mantinha um óculos quadrado na ponta de seu nariz.

— Fique tranquilo, vossa majestade escolheu cadeiras de madeira leve hoje, não doerá tanto — o duque Pemberton enrolou seu braço sobre o pescoço de Sivan, que o empurrou no mesmo instante. Os cabelos do duque já estavam completamente grisalhos, apesar de ainda estar na casa dos quarenta, o que dava uma harmonia com sua pele igualmente pálida.

— Me deixem! É óbvio que aquele brutamontes não virá, deve ter consciência que sua presença aqui irá causar problemas e assustar o duque imperial — Sivan se queixou.

— Agora que diz, ele deve mandar seu herdeiro, achei estranho que o garoto veio para o baile se apresentar, mas pensando dessa forma faz sentido — o rei ponderou.

— Mas a essa hora? Já estamos todos aqui, não acho que ele seja louco ao ponto de chegar depois do duque — Raismand olhou em seu relógio de bolso, conferindo que a carruagem do império poderia chegar a qualquer instante.

— Por que estão preocupados? Deveríamos agradecer que aquele demônio não virá, sempre que aparece causa problemas, quando embaixador do reino de Turin veio para cá ele quase o capou! — Pemberton recordou de um dos inúmeros acontecimentos caóticos que presenciaram.

— Vamos, nesse dia até mesmo vossa majestade estava com vontade de dar uma lição naquele homem — Raismand riu.

— Está fazendo o advogado do diabo, marquês? É diferente ter a vontade e fazer algo, ficamos quase um ano sem contato com Turin — o rei suspirou com pesar, apoiando sua cabeça com a mão, sentido dor apenas por lembrar.

— Sejamos sinceros, todos aqui comemorariam caso a carruagem daquele demônio caísse despenhadeiro a baixo — Sivan puxou a risada, fazendo todos rirem também.

— Capaz dele ainda sair vivo do jeito que é — Raismand enxugou as lágrimas ainda em meio ao riso.

— Hahaha! Deveriam ter a coragem de dizer essas coisas em minha cara, não acham?

    Todos paralisaram.

    O marquês Roger de Moriste havia chegado ao jardim acompanhado de seu neto, que ajeitava com cuidado suas luvas. Ambos usavam trajes com tons de vermelho sangue e preto, representando o brasão de sua família.

— O que foi? Por que pararam de rir de repente? Também gostaria de participar — o vovô disse isso com um sorriso, porém seu tom de ameaça era visível.

— M-marquês Morisete, não esperava que viesse — os olhos de Sivan percorreram até mim, estranhando o provável contraste entre mim e o meu avô — Trouxe seu neto também?

— Saudações vossa majestade, que a glória esteja convosco — fiz o gesto com perfeição, lógico, sem me curvar — Saudações vossa graça, vossas excelências — referir-me também ao duque e aos marqueses.

    Pude ver o rei se arrepiando, e os outros mantendo o olhar em mim com hesitação e estranheza.

— Minha deusa, meu neto é tão educado, cumprimentando até essas moscas mortas — meu avô me abraçou, esmagando meu rosto.

    Como gostaria de estar em casa...

    Me esquivei de seu abraço, recuando alguns passos enquanto arrumava meus trajes. Meu avô continuou trocando algumas farpas com outros, me surpreendendo com o fato dele não partir para a violência em nenhum instante.

    Desviei meu olhar para a mesa tentando encontrar algo interessante, porém tudo o que vi foram alguns rostos desagradáveis, e a rainha parecendo manter Dariel ao seu lado de uma forma estranha.

    Onde está Zayn?

    Parecendo ler a minha mente, Dariel se virou e sorriu para mim, eu acenei retribuindo o gesto, e em resposta ele inclinou a cabeça para um lugar.

    Segui a direção com o olhar, e me deparei com uma cena desagradável através de uma janela mais distante do palácio, um vulto do príncipe herdeiro e da crina de galo passando.

    Aah, sério? Esse garoto estava tentando conseguir problemas ontem, não conseguiu e irá tentar logo hoje?

    Conferi o meu ao redor, tendo certeza que ninguém além de Dariel prestava atenção em mim naquele momento, e então me esquivei até dentro do palácio. Não é como se fosse algo difícil para alguém que já esteve no campo de batalha, esconder sua presença.

    Segui o corredor interior confiando em minha intuição, o duque imperial poderia chegar a qualquer momento, e eu deveria estar lá no jardim, mas não, tinha que decidir vir até essa criatura problemática.

    O que estava fazendo?

— Você não costuma ir contra ao que falo, por que está sendo tão resistente hoje, Zayn? Não estou lhe entendendo, ou será que de repente você decidiu querer causar uma boa imagem ao império? — escutei a voz do príncipe herdeiro, dando alguns passos para trás pude ver suas costas, seus braços colocados nas costas em uma posição de dominação, enquanto ficava a frente do quarto príncipe, que tinha a cabeça baixa.

Perdão, não foi isso que eu quis-

— Mas é o que está parecendo — ele o cortou — Apenas volte para o seu quarto, usarei a desculpa que está doente, não está acostumado com os modos sociais, e se você causar uma cena vergonhosa para todos por conta de sua falta de conhecimento? Não seria algo bom para nenhum de nós, entende? Estou apenas querendo te ajudar, irmão. E outra, agir dessa forma poderia causar alerta para a rainha, não acha? De repente querer participar dessa reunião, poderiam achar que você quer o trono — sua falas eram ácidas, porém era possível perceber que dizia tudo com um sorriso no rosto.

Você... está certo, mas-

— Zayn, não tem mas — o príncipe herdeiro agarrou o seu pulso, fazendo com que erguesse a cabeça para vê-lo — Despreza tanto a preocupação de seu irmão a esse nível? Eu só estou querendo lhe ajudar, não seja teimoso, isso só fará mal a você. Deixe essas coisas para quem é adequado de verdade.

    Suas falas, faziam meu estômago revirar.

    Repulsivo.

— Vossa alteza não acha acha seu irmão já tem idade o suficiente para decidir o que deve ou não fazer? — entrei na parte do corredor em que estavam, os dois viraram seus olhares para mim, assustados com a presença repentina.

— Jovem marquês... não é muito ético interferir em assuntos familiares dessa forma — o príncipe herdeiro recuperou sua compostura, voltando a colocar um sorriso, porém ao invés de soltar o pulso de Zayn, apenas abaixou sua mão e aumentou o aperto, fazendo com que ele pressionasse os lábios pela dor.

— Receio que seja mais ético do que está fazendo nesse momento, ainda mais em um dia como este — indiquei com o olhar para sua mão.

— Como disse, isso é um assunto familiar, estou apenas aconselhando meu irmão, o jovem marquês não deveria estar no palácio — seu talento para esconder a raiva com falsa simpatia, era admirável.

— Não creio que isso seja um problema, desde que seja eu. Ou vossa alteza irá se queixar disso para o rei? — sorri.

    Havia humilhado o rei em público, por que um príncipe seria um problema?

— Vejo que meu irmão realmente se aproximou do jovem marquês, para se preocupar ao ponto de vir aqui — o príncipe herdeiro lançou um olhar para Zayn, que desviou de imediato.

— Não preciso ser próximo dele para repudiar sua atitude e decidi intervir.

    De fato, não havia a mínima necessidade de eu ter vindo aqui, o que esse galo faz ou deixa de fazer não me apetece.

    Porém, se algo acontecesse com ele eu poderia sofrer as consequências depois estando em seu corpo, certo? Então defendê-lo era uma necessidade.

— Repudiar a preocupação de um irmão? Jovem marquês, você se excede, vamos Zayn, diga a ele que eu só dizia essas coisas por você está doente — o príncipe herdeiro deu um pequeno puxão para que ele se manifestasse.

    O quarto príncipe pareceu hesitar por alguns instantes — O que há de errado? Diga a verdade, seu irmão está apenas te ajudando — o príncipe herdeiro se repetiu.

    Ele ergueu a cabeça em minha direção, olhando de forma direta para mim, creio que essa tenha sido a primeira vez que pude prestar tanta atenção em seus olhos, uma, duas... quatro cores diferentes?

    De forma inconsciente, inclinei a cabeça.

— Deixe-me ir com o jovem marquês, vossa alteza — Zayn falou com firmeza.

    Oh?

— O que disse? — o príncipe herdeiro lhe encarou incrédulo, deixando que o sorriso sumisse por um momento — Não pude lhe ouvir direito.

— Que... me deixasse ir... — seu tom de voz foi abaixando de novo ao ser questionado, fazendo com que o príncipe herdeiro voltasse a sorrir.

    Pela deusa.

— Zayn disse para que vossa alteza o deixasse vir comigo, será possível que sua falta de noção tenha começado a afetar sua mente e audição? — pude ver sua feição se tornando ofendida — E você, o que está fazendo? Não sabe ter decisões próprias? Se solte dessa coisa e venha logo ou o deixarei aí — me virei para sair do corredor, então não pude ver quais expressões fizeram após isso.

    Porém assim que entrei no outro, pude ouvir o ritmo dos passos apressados acompanhando os meus.

— Seu pulso — parei, virando meu rosto para encará-lo.

— Hm?

    Mas será possível?

    Agarrei seu braço o erguendo, podendo ver a marca do aperto que ficou visível a todos, já que a manga de seu traje não chegava até lá.

    Aliás, era a primeira vez que o via em roupas tão descentes, se usasse isso mais vezes, seria um colirio para os olhos alheios.

— É estúpido? Por que continuou lá? — retorci meu rosto em uma careta ao ver a situação, aquilo com certeza estaria doendo.

— Se eu só saísse poderia ter uma confusão maior depois...

    Suspirei entendendo o que queria dizer, o príncipe herdeiro não desistiria tão fácil, e com sua personalidade com certeza se faria de vítima. Tirei as luvas de minha mão e o entreguei.

— Por que... está me dando isso?

— Olhe para sua mão, quer ter que se explicar para o duque caso pergunte sobre esse machucado? — ele pareceu hesitar, porém as pegou em seguida.

— Não disse que ficar sem elas lhe desagrada? — um olhar de loslaio me foi dado enquanto as colocava.

— Me desagrada ainda mais ver um cabeça oca sem noção como você agindo como o inútil que é sem o mínimo de atitude própria frente aquela coisa.

— Se acha tudo isso por que veio meu ajudar? — sua feição variava entre frustração e indignação.

— Não precisaria fazer isso se soubesse cuidar de si mesmo, deveria agradecer a Dariel depois, ele que me indicou onde estava — me virei, voltando a andar sem manter o contato.

— Desde quando você e Dariel ficaram tão próximos?? — ele apressou seus passos de novo para me acompanhar.

— É mais fácil me aproximar de alguém como ele do que uma mula como você.

— Céus, você não cansa de me ofender! — ele deu uma pequena pausa — mesmo assim... — alguma coisa foi murmurada em uma altura inaudível.

— Fale em uma altura em que um ser humano possa compreender.

— No dia em que me tratar como um, farei isso — bufou.

— Se depender de você, isso acontecerá no pós vida.

*Calendário Ominiano: [09/07]

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