THEODOR - [DISTROCA]

{Capítulo XVI: Para a tristeza de uns, e o desespero de outros}


    Para a surpresa e desagrado de todos, eu estava presente no segundo dia do baile, já que permaneci em meu corpo. Desta vez estava ocorrendo ao ar livre no jardim principal e se estenderia até o final da tarde.

    Não apenas isso, a minha presença fez com que o quarto príncipe viesse contra sua vontade, e agora ele estava ao meu lado, com uma expressão que era de fato, algo.

Por que está fazendo isso? — Sua voz saia quase como um sussurro.

    Era estranho ver o quarto príncipe dessa forma, relutante e tímido, talvez por conta da primeira impressão que tive ao vê-lo naquela cratera, agindo como um desbocado confiante.

— O que?

    Ele me olhou como se fosse óbvio — Chamando tanta atenção, isso não é do seu feitio.

    De fato, hoje de forma proposital eu havia escolhido vestir os trajes da cor do brasão de minha família, vermelho vivo. Isso se deve porque a única razão pela qual eu me mantive no baile, é para lembrar aos nobres o quão desagradável os Morisete podem ser, caso nos provoque.

— Deu vontade — pude ver seu olho ter um tique de nervoso.

    Hm? Nesse momento... ele estava reprimindo a raiva?

    Interessante.

— Aliás, por que está sem luvas? Não sabe sobre etiqueta básica?

— Você... realmente leva essas regras sociais mais a sério do que deveria. Não costumo usá-las, além de quentes escondem minha marca — ele murmurou olhando para o lado.

     Inclinei a cabeça um pouco curioso, e de alguma forma o quarto príncipe pareceu entender o gesto.

— Aqui, veja. É minha marca de nascença — ele ergueu a mão e de forma inconsciente a peguei, aproximando um pouco para que visse melhor.

    E, de fato, tinha uma marca única.

— Um coração?

— Sim, não é fofa demais para esconder? — ele parecia orgulhoso disso.

    Era a primeira vez que via uma marca tão diferenciada, como se houvesse sido pincelada por tinta vermelha, porém algo além disso chamou minha atenção, mesmo estando com uma luva de renda, ao passar o dedo devagar por cima de sua marca pude sentir a textura diferente entre as duas peles.

    Uma falha, porém essa falha não parecia tão desagradável aos olhos assim.

    Ao erguer o rosto para encarar o dono da marca, ele estava com uma feição, complicada.

— Diga.

Hm? Dizer o quê? Sua voz diminuiu um tom, de novo.

— Seu rosto, parece está pensando em milhões de coisas, porém não tem coragem de dizer uma sequer.

    Ele ergueu as sobrancelhas e deixou seus lábios entreabertos, com a expressão tentando se decidir entre desgosto, raiva ou frustração.

— Você é o primeiro idiota que me diz algo tão absurdo — as palavras escaparam antes que percebesse, sei disso pois logo em seguida ele arregalou os olhos e colocou sua outra mão sobre a boca — Minha deusa, apenas se afaste daqui — um pequeno tapa foi dado em minha mão enquanto recuando a sua, que por algum motivo ainda tinha se mantido apoiada por algum tempo.

— Por que deveria?

    Ele pareceu se perder um pouco em sua própria frustração, procurando palavras — Você não costuma aparecer em reuniões sociais, e quando faz ao invés de falar com os outros nobres fica ao lado de um inútil como eu?

— Então sabe que é inútil?

Seu...!

— Uma lástima para eles, e uma tragédia para você, porém não irei sair daqui — peguei uma taça de suco do garçom que passou, e pude ver ele ficar cada vez mais irritado.

    Veja, talvez eu tenha encontrado um novo passatempo, suas expressões verdadeiras surgem quando o provoco, isso não é divertido?

    Quanto mais preciso pressiona-lo para ao invés das expressões saírem palavras? Um sorriso travesso escapou de meus lábios, e pude vê-lo recuando com asco do que tinha visto.

    De fato, ele é um ótimo entretenimento. Será que meus primos já haviam notado isso?

— Zayn, Jovem marquês, minhas mais sinceras saudações, não esperava encontrá-los juntos — Dariel se aproximou de nós com um sorriso no rosto.

— Primeiro príncipe, é uma honra conhecê-lo — tinha sido a única pessoa que conheci dentro do palácio que parecia ter algum tipo de decência.

— O jovem marquês exagera, desde quando uma pessoa que tentou um golpe seria honrável? — ele parecia brincar com sua própria situação.

— É justo por isso que eu o acho honrável — afirmei com confiança.

Pfft, Hahaha! O jovem marquês é realmente uma pessoa única — por que? Eu tinha sido sincero, há algo mais honrável do que tentar destituir a coroa?

    De alguma forma, as habilidades sociais de Dariel era algo de fato, invejável, antes que me desse conta tinha sido preso em uma conversa. 

    E eu não sabia dizer se o quarto príncipe parecia aliviado ou incomodado.

— Foi bom falar com vocês, irei cumprimentar mais os outros nobres, e também, já tem algum tempo que algumas pessoas estão com olhos aqui, irei evitar confusão por hoje, boa sorte, Zayn~ — Dariel acenou com a cabeça para mim em despedida, e eu correspondi o gesto.

— Ei! Não me deixe aqui após falar isso...! — Zayn tentou segurar o pulso de Dariel, mas ele apenas se afastou cantarolando, deixando seu irmão para trás com uma expressão desesperada.

    Não demorou muito para que eu notasse a razão, os outros príncipes estavam olhando em nossa direção como abutres que vigiam carniça.

    Porém não tinha motivos para ele ficar tão alterado comigo estando aqui, enquanto estivesse em meu corpo, não seria complicado se livrar de insetos como esses.

— Não tem porque se alterar tanto.

— Aliás, por que você foi tão simpático com o Dariel enquanto só me ofende!? — Oh? consegui incomodá-lo.

— Nenhum motivo em absoluto, o altruísmo do primeiro príncipe me causou uma boa impressão, já você... bem, é você.

     Pude ver de relance seu olho ter outro tique de nervoso.

     Agora conseguia entender Anthony e as meninas, isso era divertido.

— Saudações, jovem marquês — não se supõe que ninguém viria falar comigo?

    Tanto eu quanto o quarto príncipe desviamos nossos olhares para ver a presença desagradável e nenhum pouco requerida, do terceiro príncipe e da princesa.

— Hm — respondi com indiferença. O que havia lhe dado confiança para vir até mim?

— Não esperava que fosse ficar tanto tempo conosco, por que não se junta aos outros? Ficaríamos contentes em ter sua presença — ele sorria como uma serpente, porém a forma em que indicou com a cabeça o grupo de alguns nobres, que olhavam com fervor em minha direção, me fez entender que aquela iniciativa não tinha sido sua.

    Ao mesmo tempo, a princesa parecia apenas uma ornamentação ao seu lado. Escolher ficar com uma pessoa que a trata dessa forma, será possível que não havia nenhuma outra opção em todo o palácio? Impossível.

— Já tenho companhia, vossa alteza, e mesmo que esse não fosse o caso, a última coisa que gostaria era de ficar ao seu lado — não fiz questão que essa fala fosse tranquila, ainda não havia esquecido da maneira que ele se referiu a concubina Corália e ao quarto príncipe.

— Ah, isso... — ele ficou sem graça de imediato, entretanto voltou seu olhar para o quarto príncipe no mesmo instante — Este é seu acompanhante? O jovem marquês deveria ter estandartes mais altos, ficar ao seu lado poderia marchar sua reputação — seu sorriso voltou, parecendo tentar manter uma conversa.

— E quem é você para me dizer quem eu devo ou não escolher como acompanhante? Receio que vossa alteza deveria se preocupar mais com sua reputação do que eu, já tenho meu título de herdeiro garantido, e no seu caso? — Seu rosto foi ficando cada vez mais vermelho, variando entre raiva e vergonha, e em um ato inconsciente ele lançou esse olhar ao quarto príncipe — Espero que vossa alteza não esteja pensando em ser baixo o suficiente para tentar amedrontar meu acompanhante, porque se esse for o caso, terei que faltar com o respeito contra vossa alteza.

   Com um último gesto de espantar animais que fiz com a mão, o terceiro saiu irado de nossa frente, saindo em direção ao palácio com os ânimos ao extremo, roubando até alguns olhares curiosos para si pela sua atitude.

    Suspirei um tanto quanto aliviado, já que sabia que não haveria a chance do príncipe herdeiro vir até mim, considerando que isso queimaria sua imagem diante aos novos nobres que o apoiam.

— Zayn, deveria ir falar com o terceiro príncipe, se não quiser que a cena de mais cedo se repita, suas atitudes sempre acabam sobrando para mim, sabe? — a voz da princesa era debochada e ríspida como de costume.

    Cena de mais cedo? O olhei inclinando a cabeça, e de imediato ele desviou o olhar.

Eu o farei... não se preocupe — murmurou.

— Que tipo de cena fala, vossa alteza? — nem sempre conseguia manter minha curiosidade para mim... O quarto príncipe puxou a barra da minha manga para chamar minha atenção, e me olhou com um olhar de repreensão.

— Nada que seja relevante para tomar seu tempo, jovem marquês, apenas uma correção familiar, mas como membro da família real, lhe aconselho a seguir as palavras do terceiro príncipe e se afastar desse... garoto, não seria agradável ter sua imagem recente atrelada à alguém violento que sai levantando sua mão contra os outros, certo? — podia sentir a confiança sair de suas palavras, ela estava convicta que com sua fala, havia acabado de recuperar a imagem do terceiro príncipe.

— Aprecio seu conselho, vossa alteza — acenei com a cabeça, indicando que estava me despedindo, e ela retribuiu o gesto em êxtase.

    De relance, pude ver o quarto príncipe soltando a minha blusa, e abaixando a cabeça de uma forma em que não deixava visível sua expressão.

— Então, com sua licença — a princesa sorriu e se virou para sair.

    No mesmo instante que que deu seu primeiro passo, seu corpo caiu contra o chão com tudo, deixando seu vestido azul claro coberto de grama e terra. Todos os olharem se voltaram para ela ao ouvirem o som.

— Oh, céus, vossa alteza está bem? — ergui a mão para a princesa segurar, e mesmo com sua expressão dominada pela raiva, frustração e vergonha, ela aceitou — No dia em que precisar do conselho de alguém que virá às costas para o seu próprio sangue em troca do mínimo de poder, eu informo a vossa alteza — sussurrei para ela assim que ficamos próximos, e pude ver seus olhos se arregalando.

    Ela deu um tapa em minha mão e também correu para longe, com alguns serventes e nobres a chamando atrás com preocupação.

    Veja bem, não seria bem visto se eu destratasse uma senhorita mais nova de forma pública, até mesmo os Morisete tem princípios, sabe?

— Foi você? — o quarto príncipe perguntou em uma altura descente, chamando minha atenção, com uma expressão atônita no rosto. Inclinei a cabeça em resposta — Digo, que a derrubou... — murmurou.

    Sorri.

    Pude vê-lo vacilar, parecendo se aterrorizar com minha imagem.

— Foi por conta de meu murro que ela a repreendeu daquela forma, certo? — ele pareceu hesitar, porém não discordou — Não se preocupe, reconheço minhas ações, da próxima vez farei questão de fazê-lo em meu devido corpo, Zayn.

    Apoiei a mão em seu ombro antes de me afastar. Já basta por hoje, não posso exceder minha cota de estresse diário, é melhor retornar para casa.

*Calendário Ominiano: [07/07]

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