《Alguns meses depois》

    Me mexi na cama, abrindo os olhos com certa preguiça devido a escuridão, que eu já tinha me acostumado, conseguia até enxergar as coisas normalmente agora.

    Ergui a cabeça para admirar a aparência de Theo, quem diria, esse mini-capeta atentado fica com uma expressão dos deuses quando está dormindo.

— Theo — o chamei para que acordasse, mas ele sequer deu indícios de que ia fazer isso — Ei, Theo, Theeo — puxei sua bochecha, e a cutuquei um pouco.

    Pressionei os olhos, estranhando sua falta de reação — Já está acordado, infeliz.

    Ele aproximou mais o nosso abraço, abrindo os olhos com seu sorriso quase imperceptível presente — Acordei antes, mas preferi deixar o relógio chegar às oito, para vossa alteza não reclamar que não dormiu o suficiente.

— Quer receber um tapa de manhã cedo?

— Oito horas já não é mais cedo.

    Ele selou nossos lábios, antes de iniciar um beijo carinhoso, sua mão se entranhando por baixo de meu cabelo para que não embolasse, em que eu correspondi segurando seu pescoço, e aos poucos seus beijos foram percorrendo em uma decida até minha clavícula.

    Um tempo após o caos que fizemos, fui pessoalmente até o rei abdicar o meu título de quarto príncipe, me tornando oficialmente apenas "sir Hamilton", e minha mãe fez o mesmo, não estava presente no dia, mas meu avô disse que ela realmente assumiu o papel de doida e causou um desastre no escritório do rei até que ele aprovasse o divórcio.

    Bem, e não é como se o rei estivesse vendendo saúde para estar se preocupando com isso, estava ficando cada vez mais debilitado, e apesar da pressão do duque imperial, ele estava fazendo o máximo que podia para atrasar o julgamento dos dois príncipes e suas duas esposas, e mais ainda a coroação de Dariel (novamente) como príncipe herdeiro.

    Ele conseguiu limpar sua barra completamente jogando a culpa da falsa acusação de golpe de estado sobre Uriel. O que não era mentira, apesar dele ter realmente cogitado isso, nunca fez.

— Ana, eu vou acabar saindo no soco com esse mimadinho de óculos — Willian apontava a faca de mesa para Filípe.

— Por mim, não desperdiçando comida, vão na fé — Anastásia pelo visto havia desistido de tentar controlar os outros por hoje.

— Oh? Bom dia, garotos! — Roger cumprimentou assim que nos viu no salão de jantar.

— Bom dia — sorri, e Theodor acenou ao meu lado — Onde estão os outros? — perguntei enquanto me sentava na cadeira.

— O duque e o jovem conde saíram cedo para o castelo, tio Cassius foi para a fronteira, e os outros dois foram atender a porta — Benjamin falou, cortando seu pão tranquilamente.

— Hm.. sobre... o seu cabelo-

— Não mencione.

— Combinou com você, deveria fazer mais vezes — Theo provocou, sem esboçar um sorriso, o que fez Benjamin o olhar mortalmente.

    Seu cabelo estava novamente, entupido de trançinhas.

— Vejo que chegamos em uma boa hora. Saudações, Roger, que todos tenham um bom dia — meu avô entrou no salão, segurando sua bengala decorativa.

— De onde veio essa intimidade? Me chame pelo meu título, seu velho — Roger apontou a colher para ele.

— Papai, você é mais velho que o conde, tá querendo se por com o pé na cova?? — Margaret entrou ao lado, com os braços entrelaçados com minha mãe.

    Confesso, não estava esperando que fosse surgir uma amizade daí.

— Deixem esse rabugento de lado, peguem assento — Anastásia acenou com a mão para que sentassem.

— Mas veja isso, até minha filha me ofende!

— Quem não te ofende, tem desvio de caráter, vovô — Anthony alfinetou com um sorriso, fazendo o velho cair de vez.

— Ela veio hoje~ — Karina começou, se levantando para segurar um dos braços de Zaydete, que havia entrado um pouco tímida atrás de nosso avô.

— Sim, sim~, vem se sentar com a gente~ — Katarina terminou, segurando o outro braço dela, a arrastando até a mesa para que sentasse entre as gêmeas.

    Ela me olhou como se pedisse ajuda, e eu ofereci um sorriso de consolo. Boa sorte aguentando essas pestinhas.

— Lady Corália, por favor, sente-se — Xavier puxou a cadeira, se inclinando para mostrar o lugar.

— Ei! Pare de cortejar minha mãe — chamei a atenção dele.

    Que branquelo descarado.

— Haha, deixe o moço, Zayn. Está apenas sendo gentil — minha mãe se sentou na cadeira se divertindo com a situação.

    Ele ajeitou a cadeira para ela antes de se sentar ao lado, lançando uma piscadela para mim. Gentil, aham, confia.

— Viemos hoje para trazer boas notícias — meu avô sorriu.

— Berto morreu?? — Roger o olhou esperançoso.

— Ainda não, infelizmente — o marquês murchou novamente em sua cadeira.

— Dariel desarquivou o arquivo de condecoração da família Morisete — Zaydete disse com um sorriso contido.

— Ué, e havia algo como isso? — Anastásia estranhou.

— Estava guardado, há mais de um século, para ser mais precisa — minha mãe soltou uma pequena risada.

— Se depender de quanto mais a vida de Berto se arrastar, deve ficar em andamento por mais um século também — Roger debochou.

— Se nossa família possui o título de marquês — Anthony iniciou, contando em seus dedos provavelmente, a ordem hierárquica — Isso não significa que passaremos a ter um ducado?

— Céus, pelo amor da deusa, não! Terei ainda mais trabalho  — Willian se jogou na cadeira, se deixando derreter.

    Era estranho ver essa cena, minha verdadeira família unida, conversando normalmente com os Morisete, que em breve serão de fato, também minha família.

    Nunca poderia imaginar algo como isso, mas sinceramente, não havia mais nada que pudesse pedir, eu estava tão feliz esses últimos dias, que as vezes até me assustava, pensando na possibilidade de tudo isso desaparecer do nada. Mas talvez, quem sabe, isso não era um compensação por todo perrengue que passei até aqui.

    Senti a mão de Theodor sobre a minha, e voltei a si, pude vê-lo me olhando com a cabeça inclinada, provavelmente havia viajado por mais tempo do que deveria em meus pensamentos.

— Estava apenas pensando, é realmente divertido está todo mundo assim, junto — sussurrei, para que apenas ele ouvisse, o que não era difícil, considerando o barulho que sempre estava nessa mesa.

    Ele lançou um olhar avaliando toda a mesa, que meu deus, Xavier e Margaret haviam começado a querer se matar de novo em que momento?? Mas a risada que minha mãe dava devido a isso, era realmente reconfortante.

— De fato, essa é a melhor família que poderíamos ter — fiquei um pouco constrangido com a inclusão, mas não pude evitar de sorrir.

    Apesar de todo o estresse que esse atentado me causou, e ainda me causa hoje propositalmente, tinha consciência que se não fosse por aquele nosso desentendimento besta a primeira vista, não estaria tão feliz quanto estou agora.

    Eu nunca ia esquecer quando por causa desse garoto, toda minha vida virou de repente, às avessas.

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𝐹𝐼𝑀.