《Jogando...poker?》
EXTRA 5: Alguns meses depois da coroação do novo rei.
— Touché! — Dariel mostrou sua mão de cartas animado, ganhando novamente pela quinta vez.
Era impossível eu ganhar trapaceando de quem me ensinou a trapacear.
— Sabe... Não é por nada não, mas por que me chamaram para algo tão tedioso? Tá mais claro que eu que ele está roubando — Anthony soltou suas cartas frustrado, jogando seu corpo para trás enquanto se apoiava nas mãos.
— Precisávamos de alguém para completar, e Ben não gosta de jogos — Theo me entregou suas cartas, me ajudando a reuní-las novamente para começar outra rodada.
Simplesmente Dariel tinha chegado de surpresa para nos visitar, e como eu não ia mandar embora nem meu irmão, nem o rei, só me sentei no chão do quarto como costumávamos fazer, e de alguma forma ele acabou conseguindo convencer o Theo a se juntar a gente para jogar cartas, e consequentemente o Theo arrastou o Tony.
— Sir Anthony me ofende, como poderia está roubando? Sou um dos homens mais íntegros que poderia conhecer — Dariel enrroscou seu braço ao redor do pescoço dele, fazendo Tony deixar uma careta bem óbvia no rosto.
— Quem diria que encontraria alguém mais perturbado que você. Vossa majestade, venha mais vezes, preciso de alguém que faça essa criatura se manter quieta — Theodor lançou um olhar provocando o primo, que estava com as bochechas infladas de raiva.
Theo vira um encapetado quando se trata de infernizar seu primo albino, mais que o normal, realmente parecem irmãos.
— Agora que reparei, a mãe do sir Anthony era estrangeira? Seus traços não parecem de Yigrem — Dariel deve ter sentido Tony se tencionar em seu braço, porque logo em seguida ele se afastou pegando as cartas — Por que não vamos uma última rodada? Se o marquês chegar e me encontrar aqui, vou ter que ouvir algumas horas de reclamações antes de conseguir sair.
— Bem feito, ninguém manda ficar fugindo do trabalho — suspirei pegando uma carta.
— Sabe quanto trabalho pendente aquele velho deixou para trás? Estou tendo que resolver tudo sozinho, nem sequer meus irmãos estão vindo me resgatar, não aguento mais ouvir os nobres do conselho — Dariel se derreteu no chão, parecendo pronto para ser enterrado.
— Oras, apenas substitua eles então — Anthony falou, dando de ombros em seguida.
Acho que se todo rei tivesse a mesma liberdade que os Morisete, o planeta Tessen estava ferrado.
— E como faz isso? Chutar eles escada abaixo parece uma boa — fechei os olhos tentando imaginar a cena, vários velhos nobres rolando.
— Meu irmão já não era certo da cabeça, depois de virar um Morisete piorou — Dariel me olhou indignado.
— Com licença?? Por que do nada estou sendo ofendido?
Eu devo ter parecido muito revoltado para os três terem começado a rir ao mesmo tempo, mas sério, o Theo para e agora tenho aguentar o Dariel? Me recuso.
— Me desculpe, me desculpe, mas falando sobre isso, tem visto a Zaydete? — reiniciando a rodada de cartas, ele tentou tirar o foco do jogo de novo, era assim que conseguia trapacear.
E funcionava muito bem.
— A garota de cabelo de fogo? O conde Hamilton nos visita mais do que ela — Tony respondeu em meu lugar.
— Mesmo? Como assim? — Dariel me olhou confuso.
Pressionei os lábios um pouco frustrado de me lembrar, não queria falar sobre ela.
Mas assim que senti a mão de Theodor acariciando minhas costas, me acalmei um pouco, respirando fundo.
— Bem...
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— Zayn~ — Karina apareceu correndo no corredor, acompanhada por Katarina logo atrás.
— Zayn, Zayn~ — Katarina me rodeou.
— O q-que houve? — se continuarem girando que nem pião, vão me deixar tonto!
— Sua irmã está lá embaixo~
— Sim, sim~ Disse que quer lhe ver~
Zaydete? Estranho, normalmente ela só vem aqui acompanhada pelo avô e pela nossa mãe.
— Podem levar isso ao marquês enquanto vou ver ela? Por favor — mostrei os documentos que estava segurando e rapidamente as duas pegaram e saíram correndo.
Bem, vamos ver o que minha irmã quer.
Desci as escadas para ir a sala de visitas e me deparei com ela de pé, olhando para a janela com uma cara digna de alguém que acabou de açoitado e mandado para um convento.
— Zaydete... — chamei, despertando ela de quem sabe a deusa os pensamentos que estava tendo.
— Ah, você chegou — ela respirou fundo indo se sentar no sofá.
Uau, que recepção calorosa.
Na verdade, eu não esperava muito vindo dela, apesar de sempre discordar das falas que o Theo dizia, no fundo eu sabia que ele estava certo sobre a Zaydete.
O lapso que ela teve de me ajudar a não morrer com nossa mãe, não foi por pura simpatia, ela provavelmente deve ter se sentido humilhada por ter sido enganada por Audrina.
Não sei que tipo de conversa nossa mãe teve com ela no dia em que saímos daquele julgamento, mas essa é a primeira vez que fala diretamente comigo quando estamos a sós, normalmente ela só tenta fingir algum nível de simpatia em público.
E tentar me repreender em qualquer oportunidade.
— Aconteceu alguma coisa...? — me sentei no sofá oposto, nem me dando ao trabalho de servir o chá.
Minha mãe já está segura, não tenho mais motivos para proteger Zaydete.
— Sim, aconteceu — ela mesmo se serviu um pouco de chá, bebendo antes de continuar — Não me dou muito bem com você, principalmente por ter sido sua culpa tudo o que eu passei naquele castelo.
Ah, não me diga, se você não contasse isso nunca iria descobrir.
— Veio até aqui para me insultar? — pressionei as sobrancelhas tentando entender.
— Sem querer, ouvi algo interessante na mansão Hamilton — ou seja, espiou a conversa alheia — Nunca entendi porque nosso pai era tão ressentido com nossa mãe, em específico com você, tem alguma ideia sobre isso?
— Pareço querer saber? — a encarei, mesmo sabendo que ela não olharia para mim.
Sem que me desse conta, estava batendo meus dedos em minha coxa. Não gostava de falar sobre isso, o olhar de nossa mãe sempre ficava nebuloso e distante quando tocava nesse assunto, era o suficiente para eu saber que nada de bom poderia sair disso.
— Óbvio que não, você nunca teve coragem para essas coisas — desdenhou.
— Ha, estou mesmo ouvindo isso logo de você? — eu consigo ver muito bem a quem minha irmã puxou.
E não gosto dessa sensação.
— Se veio apenas espalhar rumores sem sentido, pode voltar, estou ocupado — me levantei dando as costas para ela, pronto para sair.
— Tem certeza de que é um príncipe?
...
— O que você... — virei o rosto para olha-lá, e pude sentir todo o meu corpo estremecer ao me deparar com seus olhos.
Zaydete nunca olhou nos meus olhos, apesar de ser extremamente ressentida comigo, percebi só recentemente que o motivo dela fazer isso, era porque sabia do que eu era capaz, deve ter sabido por conta de Audrina.
Ela não estava com medo.
Isso só pode significar, que ela sabe muito bem o que vai fazer para me atingir.
— Saia.
— Sequer vai me ouvir? É assim que cuida de sua irmã?
— Nunca me considerou como irmão, e que eu saiba irá completar a maioridade em breve, não precisa mais que cuidem de você, então vá embora, não tenho porquê aturar você longe de nossa mãe — disse seriamente, minha voz se enrrigecendo no automático.
— Claro que nunca tratei, afinal agora faz ainda mais sentido, você não é meu irmão de fato — Zaydete soltou um arzinho pelo nariz.
— VÁ EMBORA!
— Um filho ilegítimo, com metade do sangue sendo do reino caído de Andi, quem diria que o rei causou a destruição de um território inteiro só por sua culpa — sua voz escorria como veneno, fazendo os meus ouvidos zunirem ao ponto de doer minha cabeça.
— Você só está se mantendo de pé agora porque está escondido atrás do sobrenome Morisete, mas o que aconteceria se essa informação fazasse? Não seria ainda mais desdenhado do que eu já fui? — um sorriso rancoroso surgiu em seus lábios, e isso foi o suficiente para que eu fosse em sua direção, a agarrando pelo colarinho e a erguendo a força do sofá, fazendo ela arregalar os olhos pela minha ação inesperada.
Era só um movimento.
Eu poderia matá-la agora mesmo, com um único movimento, e ninguém daria falta se eu agisse rapidamente igual fiz com os outros,
Exceto...
— Você realmente acredita no que acabou de falar...? — senti seu corpo tremer assim que coloquei mais força em meu aperto — Zaydete, você só está viva, porque infelizmente, nossa mãe considera muito você, e eu não quero ver ela mal novamente, não depois de tudo o que passou. Mas no seu lugar, eu não tentaria me subestimar, porque se eu me livrei de um rei não tendo nenhum apoio, não seria difícil fazer isso com uma princesa insignificante e inútil como você, sendo agora resguardado pelo atual rei e os Morisete.
Seu olhar estava aterrorizado.
Por um momento, Zaydete realmente achou que estava em posição de me ameaçar.
— Se eu sou ou não filho do falecido rei, isso é algo que só diz respeito a nossa mãe, se por algum acaso, eu ouvir qualquer tipo de rumor a respeito disso que possa manchar a honra de nossa mãe, você poderia acabar sofrendo um acidente infeliz... entendeu? — com algumas lágrimas nos olhos, ela acenou com a cabeça repetidamente — Excelente, então suma da minha vista, antes que eu mudei de ideia, e não se atreva a pisar mais em Morisete, pessoas da sua índole não são bem-vindas aqui.
Soltei sua roupa quase a derrubando no chão e pude ouvi-la tossir para recuperar o ar enquanto saia da sala.
— Jovem mestre Zayn, está tudo bem? — uma servente se aproximou um pouco receosa.
— Acompanhe a senhorita para fora, por favor, Grace — forcei um sorriso, mesmo sabendo o quão péssimo era com isso.
Preciso ir ao quarto, não posso me bater com ninguém no caminho, por favor...
De alguma forma, as escadas até o segundo andar pareciam mais longas do que o normal, o caminho se mexendo como ondas, enquanto sentia ficar cada vez mais difícil de respirar.
Realmente, Zaydete soube muito bem onde atingir, se ela queria que eu ficasse mal, meus parabéns, conseguiu.
Mas nunca daria o desprazer dela saber disso.
Cai sentado no chão do quarto assim que fechei a porta.
— Preciso me acalmar...
Eu odeio isso.
— Preciso me acalmar.
Eu odeio isso.
Não gosto de agir seriamente, isso não combina comigo, eu não quero atrair atenção, eu só...
Queria ver minha mãe sorrir.
Mas agora eu sequer consigo passar muito tempo com ela, porque assim que ela menciona a Zaydete me embrulha o estômago, ela não consegue ver ou apenas fingi que não? Essa garota foi criada por Peter e Audrina.
A fruta não cai longe da árvore.
Me assustei com o baque ao meu lado, sem perceber que alguém tinha entrado no quarto.
— Por que gosta tanto de ficar no chão? — Theodor perguntou, e não pude deixar de sorrir ao ver seu incômodo e estranheza ao tentar se acomodar na parede sentando ao meu lado, se esforçando para não reclamar.
— Sinceramente? Não sei, apenas me sinto confortável, algo como... um ninho de pardal?
— Isso foi muito específico — ele me olhou de canto de olho, me fazendo soltar um arzinho pelo nariz, mas logo em seguida entrelaçou seu braço em meu pescoço, deixando eu me apoiar em seu peito — Você está bem?
— Não sei... Mas acho que vou ficar — senti ele começar a distribuir vários beijos ao redor do meu rosto, me causando cosquinhas, o que me fez rir.
— As meninas vieram me contar que a coisinha estava aqui — Theo me olhou, parecendo verificar meu estado — Devo apenas me livrar dela?
Se eu fosse impulsivo, teria aceitado imediatamente.
— Deixe ela lá, não irá mais voltar aqui — me ajeitei sentando em seu colo e apoiando a cabeça em seu ombro, recebendo um abraço aconchegante em seguida.
Por estar de cabeça baixa, eu não tinha visto que tipo de expressão Theodor estava fazendo naquele momento...
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— Ela tinha dito algumas coisas desagradáveis e saiu, não acho que ela vai vir novamente — soltei um suspiro, pegando outra carta.
— Hm, que não volte então — Dariel deu de ombros, sem se importar o suficiente com a meia-irmã — Estranhei apenas porque não a vi em nenhuma reunião social nos últimos tempos, uma lady me contou que ela tinha sido excluída dos círculos sociais.
Espera, o que?
Virei minha cabeça para Theodor, que prontamente virou a dele para Anthony, claramente desviando o olhar.
Esse garoto...!
— Vocês deveriam vir me visitar mais vezes no palácio sabe? Estou me sentindo tão abandonado... — Dariel dramatizou enquanto deixava seu corpo cair sobre a lateral de Anthony, que torceu o rosto em uma careta.
— Os velhos de sua corte são insuportáveis, sempre que vou lá resolver algum problema ficam como abutres ao meu redor — Theo suspirou com desgosto.
— Não parece que está se sentindo tão abandonado, já que está fazendo esse drama para roubar minhas cartas! — Tony o empurrou de volta, pegando a carta que tinha sido roubada.
— Deveria arrumar um casamento se está se sentindo tão solitário, não acredito que está pedindo para seu irmão caçula cuidar de você — sorri provocando.
— Aah! Nem brinca com isso — Dariel abraçou os próprios braços fingindo se arrepiar.
Se tinha uma coisa que meu irmão estava fugindo nos últimos meses, era de casamento, já que ele acabou sendo coroado de última hora, sequer tinha uma prometida ainda, então todos estão enchendo seu saco.
Ficamos mais algum tempo apenas conversando enquanto jogávamos, até o Roger chegar e chutar o Dariel para fora, mandando ele parar de fugir do trabalho.
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