{Conhecendo a sogra}
Extra III: O dia em que os Morisete salvaram um príncipe.
Se eu estava cansado após toda essa confusão, quem dirá o Zayn, que acabou por adormecer de pé.
— Você deve ter aguentado muito... — suspirei, o abraçando de lado pela cintura para que não caísse de frente com o chão.
Meu peito estava inquieto de tantas emoções que haviam se misturado nessas últimas horas. Fechei os olhos sentindo o vento em meu rosto em uma tentativa quase falha de por a mente no lugar.
— Pensei que já haviam ido — ouvi a voz feminina perto de mim e abri os olhos em um supetão, quando havia se aproximado? Não tinha feito nem um único som.
— Os outros já foram para casa, apenas meu avô e meu tio que ficaram em meio a confusão ainda, imaginei que gostaria de falar com seu filho. Mas e a senhora, como está se sentindo? — Corália sorriu com uma ternura inesperada ao me ouvir.
— Estou bem, querido. Obrigada por cuidar do Zayn — ela lançou um olhar para a raposa que dormia em meu ombro, e em seguida soltou um suspiro de alívio.
— Não é algo que tenha que agradecer, ele fez a maior parte de tudo.
Agora olhando de perto, tirando os cabelos ruivos e a expressão tranquila, Zayn não se parecia tanto com sua mãe, até mesmo nos olhos a única coisa que marcavam era o marrom, mas tampouco lembrava o rei.
Marrom da mãe, verde do conde Hamilton... será que o rei tinha algum parente distante que possuía olhos azuis?
— Me pergunto quais dúvidas estão pairando sobre sua mente — voltei a mim com sua fala, que parecia muito interessada.
— Devaneios de minha mente, não se preocupe.
— Você também parecia assim da última vez que nos vimos, por favor, não hesite em perguntar — Corália abriu um longo sorriso, deixando seus olhos ocultos.
— Podemos deixar para outro momento — um estalar na minha mente, me fez retroceder o que ela havia dito — Espere, já nos encontramos antes? — não que minha memória fosse uma das melhores, mas era difícil não se lembrar de alguém com uma aparência tão marcante.
— Claro, você veio me visitar em meu palácio antes da chegada do duque, não se recorda?
Um frio subiu pela minha espinha ao ver a tranquilidade em que falava isso, o que raios essa mulher...?
— Como a senhora...? — antes que completasse a pergunta, uma fala de Zayn veio em minha cabeça: "Assim que minha mãe pegou a criança nos braços e percebeu que era uma menina, ela fingiu um desmaio e no outro dia se passou por louca."
Ah, óbvio, essa era a mulher que havia ensinado tudo o que Zayn soube fazer.
— Fiquei um pouco cética no começo, então apenas fui fazendo alguns testes — ela ergueu sua mão em minha direção, acariciando meus cabelos com bastante cuidado — Meu filho nunca deixaria o cabelo bagunçado, ele havia me dito uma vez, que essa era a única coisa que o fazia sentir próximo a mim.
Senti uma pontada em meu peito assim que terminei de ouvir sua frase, era esse o real motivo por trás de tanto cuidado...
— Você tinha se apoiado em mim com o braço direito, o Zayn é canhoto, e não havia forma dele não saber sobre a chegada do duque naquele momento. Depois ouvi alguns rumores de que repentinamente, o jovem marquês da casa Morisete se aproximou do meu filho, apenas somei um mais um.
— Sequer cogitou em admitir que aquele não era de fato, o Zayn? — não duvidava de suas palavras, porém chegar em uma conclusão tão fora da realidade, é algo bem inesperado.
— As mães conhecem seus filhos, querido.
Hesitei um instante, apenas para também acompanhar o seu sorriso, isso seria uma fala que minha mãe com certeza diria.
— Então essa era a maldição complicada que ele havia adquirido, o jovem marquês parar em seus corpo, neste caso o oposto também aconteceu? — o que há de errado com essa família? O conde Hamilton havia se aproximado com uma bengala sem demonstrar sua presença em nenhum momento.
— O senhor sabia?
— Não em detalhes — ele sorriu, antes de apoiar sua mão com a bengala nas costas e a outra em seu peito, antes de se curvar em minha direção— Agradeço profundamente por ter ajudado a salvar minha filha e meu neto, não há valor no mundo que eu possa pagar essa dívida.
— Não se preocupe com isso, não fiz esperando algo em troca — gesticulei com a mão livre para que se erguesse.
Zayn parecia ter uma boa relação com essa parte de sua família, mas o rei fez questão de acabar com qualquer possibilidade deles manterem contato.
Depois corrigir sua postura, sir Hamilton ofereceu o braço para que Corália se apoiasse.
— Conheço de perto a verdadeira índole dos Morisete, então confio os cuidados de Zayn a você a partir de agora, não me decepcione, querido — seu tom de voz não soava como uma imposição, e sim mais como... nostalgia e algum outro sentimento que não sabia identificar.
— Não irei — sorri — Meu avô pode ser um pouco ranzinza, mas tenho certeza que por trás de seu mau humor ele ficará feliz em lhes aceitar na família.
— Confesso que nem em mil anos, imaginaria a união entre Hamilton e Morisete — o conde Leonor gargalhou — Ficarei na expectativa do Roger não quebrar minha bengala em minha cabeça.
— Por acaso, há um histórico...?
— Há um histórico — dessa vez Corália que riu, me fazendo acompanhá-los.
— A senhora se importaria, se eu sequestrasse o Zayn com a permissão dele por um tempo?
— Essa nova modalidade de sequestro, eu desconhecia — seu sorriso se manteve largo — De forma alguma, fico feliz por isso — senti Zayn se aninhar um pouco mais em meu ombro e notei que estava despertando.
— Oh? Nosso adormecido acordou — O conde Leonor disse com um sorriso.
— Desculpe, nem notei quando fiz isso — com a voz amoada ele tentou se apoiar, enquanto ainda coçava os olhos, parecendo ainda um pouco confuso com a situação, só quando notou que eu o segurava que pareceu acordar por completo, se afastando de imediato.
Não pude evitar de olhar de relance para minha mão ao sentir o vazio ali.
— Meu amor, eu preciso falar com sua irmã para esclarecer os mal-entendidos, tudo bem? — Corália segurou com cuidado a cabeça de Zayn, fazendo com que ele se abaixasse para receber um beijo na testa.
— Por que não estaria? Por favor, faça isso, sua personalidade ficou muito estressada — ele deu um curto suspiro, parecendo conter o desagrado ao ouvir aquilo.
— Realmente, irei chamá-la para partirmos, não demore em vir nos visitar — O conde se despediu.
— Cuide-se bem, desculpe sua mãe por ter dado tanto trabalho, também quero falar com você depois — pude ver o corpo dele relaxar ao ser abraçado com tanto apreço pela mãe, sorri aliviado por finalmente, vê-lo respirar sem aquela aflição que sempre carregava.
Parecendo entender o que eu pensava, Corália olhou no fundo dos meus olhos a distância, antes de acenar de forma alegre.
— Vamos? — ergui a mão para que ele pudesse pegar.
— Como assim vamos? Para onde? — usei todo o meu autocontrole para evitar abrir um sorriso mais largo do que poderia para não irritá-lo tanto.
— Para onde mais seria? Para casa, Morisete. Se não quiser vir, ainda dá para alcançar a carruagem dos Hamilton — falei com confiança, para que ele não hesitasse tanto em decidir.
Mas até que Zayn segurasse minha mão, a outra apertava forte o suficiente o apoio da porta para rachá-la, agradeço por ele não ter reparado nessa aflição que tinha me atingido sem aviso prévio.
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