Capítulo 5 - parte 2 (não revisado)
– Olhe, comandante – disse Ernesto apontando um animal com o dedo. – Aquele bicho vem nos observando com um comportamento anormal.
Johnas olhou na direção apontada e viu um pequeno animal, não maior que um metro. A criatura estava em cima de uma átvore e parecia bípede, além de ter uma forma bem humanoide. Ernesto apontou o aparelho para o bicho que se ergueu e ficou mais atento, mas não fugiu.
– Pela leitura deste analizador, essa criatura tem inteligência rudimentar – disse, fotografando o animal. – Vou-me aproximar.
– Tenha cuidado, doutor – disse o comandante, pegando a arma. Nesse momento, o bicho saltou para um galho mais alto e fugiu em alta velocidade por entre os galhos, de forma similar aos macacos.
– Que pena que fugiu – comentou o cientista com um movimento triste.
– É muito mais esperto do que pensa, doutor.
– Por quê?
– Fiquei apreensivo pelo senhor e peguei a minha arma. Ele compreendeu o gesto, apesar de eu não a ter apontado.
– Nesse caso, peço que não faça isso de novo.
– Tudo bem, mas o senhor terá de se responsabilizar – disse o comandante, dando de ombros. – Não tenho o menor interesse em ter que explicar para o Almirante por que motivo não o protegi.
– Responsabilizo-me desde já desde que se trate desse animal semi-inteligente – disse Ernesto.
― ☼ ―
Daniel estava ainda mais preocupado do que antes. Os seus sentidos telepáticos captavam a tensão em todos os setores da nave, em especial nos ociosos, nos armamentos e na engenharia. O seu medo era que isso pudesse interferir no desempenho daquela tripulação de elite e que a supernave deixasse de atuar como tal. O engenheiro chefe já voltara para a ative e estava melhor com o descanso. Acora faltavam umas poucas horas para alcançarem o objetivo e esperava o retorno da nave exploradora para qualquer momento, de acordo com o combinado. Ia a caminho do hospital ver a esposa quando os seus devaneios foram interrompidos pelo comunicador de pulso:
– Comandante para Almirante – disse a voz de Nobuntu. Daniel ergueu o braço e a imagem tridimensional do comandante apareceu sobre o relógio.
– Daniel – disse, lacônico.
– O comandante Johnas deseja falar com o senhor.
– Ele já retornou?
– Não, senhor. Está na superonda.
– Mande passar para mim.
Nobuntu olhou para o lado e fez um aceno. No segundo seguinte, no pulso do almirante apareceu a imagem do comandante em uma pradaria.
– Olá, Johnas – disse o almirante, sério. – Julguei que já estivesse de volta.
– Pretendia mesmo voltar há uma hora, senhor, mas o doutor Ernesto insiste em ficar mais um pouco. Por isso, achei melhor contatá-lo para dar os dados e obter permissão.
– Estou ouvindo – disse Daniel.
– O sistema é seguro, sem nada no espaço que não seja natural. O planeta em questão é um pequeno paraíso e já localizams uma área plana e espaçosa o suficiente para ambas as naves. Alguns dos meus homens já preparam sinalizadores para facilitar a localização e o pouso.
– Mas isso é maravilhoso – disse o imperador, visivelmente aliviado. – Qual foi o motivo para o doutor Ernesto desejar ficar.
– Ele encontrou uma espécie semi inteligente e tenta a todo custo contato com ela.
– Nesse caso, façamos o seguinte: o senhor fica aí e prepara o pouso das naves. Dê suporte ao doutor onde ele desejar. Contate a engenharia e fale com o senhor Kami se vocês podem adiantar alguma coisa para eles.
– Sim, senhor, farei isso imediatamente.
– Excelente, Johnas – disse Daniel. – Muito obrigado por tudo. O senhor foi de um valor inestimável.
Johnas sorriu e a imagem desapareceu, voltando a ser um relógio comum.
Daniel deu meia volta e retornou para a ponte, mais tranquilo. O quanto antes a nave estivesse cem por cento operacional, tão mais rápido ficariam com a segurança garantida.
― ☼ ―
– Atenção, espaço normal em dez segundos – disse o piloto, iniciando a contagem regressiva. Cansadom, João olhou para as telas. Ele sabia que precisava de dormir algumas poucas horas oirque estava acordado há quase uma quinzena, mas a preocupação roubava-lhe o sono, só que também lhe aumentava o cansaço.
Já haviam passado as Nuvens de Magalhães e retornariam para orientação e tentar localizar alguma coisa que fosse. O grande problema, desde sempre, era o fato de que eles tinham uma distância e uma direção relativas, mas nada de concreto. Era como procurar uma agulha em um palheiro na esperânça que um raio de Sol a fizesse brilhar do nada.
A nave retornou ao universo de quatro dimensões e a Vega surgiu ao seu lado, frenando com toda a potência. As demais naves, mantinham uma distância de segurança maior. Como não podia deixar de ser, o avô surgiu nas telas, já sem o se tradicional sorriso.
– "Então, João" – disse ele, insistente. – "Estamos às portas da Anã do Escultor e ainda nada".
– Avô. Concordamos que o rádio pode ser demasiado perigoso e a galaxia, apesar de ser uma "Anã", ainda assim é algo gigantesco. Tudo o que temos são aproximações, então acalme-se.
– "Desculpa, querido" – disse ele, reconhecendo que ressionava demais. – "Bem sei que tens razão, mas é a preocupação com o Daniel."
– Eu sei disso, avô – respondeu o sobrinho neto. – Também ando bastante angustiado por causa do meu primo, tento que nem consigo dormir.
– Vê se não vais ter um esgotamento completo porque o teu rosto não tem boa aparência...
– Senhor – interrompeu o cientista que vinha trabalhando nas tentativas de localizar a nave capitânea. – Nós perdemos por completo a posição aproximada. Tudo o que sei é que devem ter emergido entre cem e cento e quarenta mil anos luz à frente com uma probabilidade de setenta e seis por cento.
João olhou para o tio-avô, aflito.
– "Vamos para os cem mil. A partir daí abrimos um leque e procuramos possíveis posições da nave. Se a direção que usamos foi semelhante, ainda que remotamente, sei que eles vao rumar para a estrela mais próxima a fim de procederem aos reparos. Assim, basta mapear as mais próximas em uma possível reta entre o ponto mais próximo de retorno ou o mais distante."
– Acho uma decisão muito sábia – afirmou o cientista, compenetrado. – De fato, eu ia sugerir algo parecido, mas com voos curtos para procurarmos vestígios energéticos ou destroços.
– "Então será isso que faremos" – decidiu o governador. – "Vamos preparar já as rotas."
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