Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)

Uma vibração estranha fez-se sentir, quase como um sussurro, trepidando de forma muito sutil e acalentadora tal como uma mãe embalando o seu filho. A sensação parecia gostosa, até pacífica, mas, a seguir, uma luz intensa e dolorosa penetrou nos olhos dele e criaram uma sensação de desconforto muito grande. A consciência retornou quase que de imediato e ele levantou-se, sentindo um mal estar súbito. Levou a mão à testa, espantado, ao mesmo tempo que se apoiava na poltrona. Segundos depois, voltou ao normal de súbito e arregalou os olhos, ficando ereto e olhando em volta. A sala circular estava bem iluminada e a estranha vibração cessou por completo. Em todas as poltronas ou no chão, vários dos seus companheiros jaziam inertes.

Assustado, Daniel não se precipitou e tratou de verificar o status da nave. Bem nesse momento, o computador de bordo falou:

– "Sistemas de suporte de vida restabelecidos com sucesso, tripulação incapacitada. Iniciando processo de autocontrole em, trinta segundos, a menos que..."

– Computador – ordenou Daniel. – Cancelar processo de autogestão. Fazer verificação completa e informar relatório o quanto antes.

– "Confirmado, senhor" – respondeu a máquina. – "Identidade e autoridade reconhecidas. Iniciando cumprimento das ordens."

Daniel ficou tranquilo porque o sistema de suporte de vida era controlado por dois reatores, sendo que o de reserva era independente de toda a nave e ele havia ordenado o seu acionamento antes do confronto. Aproximou-se do comandante e colocou o dedo sobre a jugular dele, notando que os sinais vitais eram todos estáveis. Por esse motivo, não se preocupou mais com os companheiros, mas estava demasiado preocupado com a nave porque, sem ela, seria impossível retornarem para casa.

Passou a relembrar os acontecimentos antecedentes e avaliar o ocorrido de forma a calcular possíveis soluções.

A nave saíra de controle quase que no início da reação em cadeia. Apesar de ter acontecido o que ele calculara, a verdade é que a forma como as coisas ocorreram foram bem diferentes do calculado. A realimentação do motor estelar não fora prevista e isso desencadeou toda uma série de imprevistos que agora precisariam de ser computados. Pensando na esposa, a primeira coisa que fez, após ponderar, foi transportar-se para a ala médica mas a mulher tinha acabado de se levantar e verificava a situação do hospital.

– "O que aconteceu, amor?" – perguntou ela, ao sentir a sua presença atrás de si. – "Apenas eu recuperei a consciência até agora, mas sinto que todos estão bem."

– "Não sei bem, princesa, mas acredito que fizemos um hiper salto forçado e gigantesco. Estão todos inconscientes e apenas nós recuperamo-nos mais rápido. O mal estar inicial foi forte, mas passou rápido"

– "Sim, também senti" – disse a esposa. – "Vai ver o resto que eu trato das pessoas. Dada a minha condição atual, ouso dizer que isto não afetou ninguém e todos deverão acordar bem."

Beijaram-se de novo e o almirante saltou direto para a engenharia, o setor mais crítico da nave dado o castigo que lhe foi infligido.

A primeira coisa que viu foi umas duas dúzias de robôs andando de um lado para o outro e regulando os equipamentos, a maioria em volta dos gigantescos conversores de antimatéria. Como alguns alarmes ainda tocavam, a primeira coisa que fez foi ir para o console de controle e desligá-los. No chão, ao lado da cadeira, jazia inconsciente o engenheiro chefe. Pela sua posição, ele diva ter-se levantado às pressas. Daniel olhou em volta e notou que um dos tripulantes inconscientes estava em uma posição muito estranha, até um pouco torta, talvez torta demais. Ele deu uma corrida até ao sujeito e constatou que estava ferido com uma certa gravidade.

– "Todos os sistemas em ordem, senhor" – disse o computador nesse preciso momento. – Os reatores voltaram a operar normalmente e o superaquecimento foi contido. O checkup da nave continua em andamento. Noventa mil testes positivos até ao momento e setecentos mil procedimentos pendentes de avaliação.

– Obrigado. Mantenham a observação até que os engenheiros recuperem a consciência.

Terminado de dizer isso, aproximou-se do ferido, avaliando a melhor forma de o ajudar. Olhou para cima e deduziu de imediato que ele despenco do posto de regulagem da nave.

Com medo de um dano na coluna, ele imobilizou o corpo do homem com telecinesia e ergueu-o no ar. A seguir, tocou no seu ombro e transportou a ambos para a esposa que tratou de puxar uma maca para baixo do paciente, usando os mesmos métodos nada ortodoxos. Aproximou-se da vítima e observou com atenção, dizendo:

– É grave, no mínimo um traumatismo, mas acho que se resolve sem dificuldades. Deixa ele comigo, anjo e vai adiante.

– Ok – respondeu o marido. – Ninguém anda se recuperou fora nós?

– Ninguém se reportou à enfermaria, anjo – disse a Danela, enxotando o marido. – Vai, amor, cuida da tua parte que desta aqui eu garanto.

Daniel sorriu e desapareceu da frete da esposa para reaparecer na ponte de comando. Chegou bem a tempo de ouvir o computador dizer:

– Todos os sistemas online. Há danos físicos que dependem de verificação humana.

Mais uma vez ele saltou para fora do seu posto, indo para a artilharia e acionando todos os campos defensivos. Voltou para a ponte e ordenou:

– Computador. Executar comando cem por cento automático.

– Estamos no automático, senhor – respondeu a máquina.

– Parar a nave e aguardar ordens posteriores. Mapear todo o espaço em volta.

Mais tranquilo, sentou-se na sua poltrona e deu um suspiro profundo. A partir dali, teria de aguardar a sua tripulação voltar a si. Mal este pensamento lhe ocorreu, ouviu um resmungo e, logo a seguir viu a mão do Nobuntu agarrar a mesa e erguer-se.

– Mas que diabo – resmungou, levantando-se de vez e olhando em volta. Mal viu o superior, disse. – Senhor, perdoe-me por dormir em serviço, mas garanto-lhe isso foi involuntário. Que rica cacetada.

Daniel sorriu e o gigante de ébano passou a mão no rosto, como se o molhasse para clarear as ideias.

– Afinal o que aconteceu? – voltou a dizer, perguntando.

– Aparentemente só uma sobrecarga – respondeu o Daniel, encolhendo os ombros. – Alguns robots assumiram o controle assim que os sinais vitais dos tripulantes mostraram incapacidade geral. A Dani é muito mais aperfeiçoada que a sua irmã mais velha a Jessy.

Nobuntu sacudiu a cabeça e olhou em volta mais uma vez, só naquele momento se dando conta que todos estavam inconscientes.

– Mas que bando de preguiçosos. Vou pôr todos a ferros, Almirante.

– Sente-se bem? – O Daniel deu um sorriso.

– Sim. Nem parece que me nocautearam de forma sublime.

– Bem até agora os portadores nada sofreram...

– Artilharia para sala de controle – disse o Zulu. – O que aconteceu? Os meus homens estão todos desmaiados.

– Calma, Zulu – apressou-se a dizer Daniel. – Fique em alerta imediato porque não sabemos onde estamos. Toda a tripulação ficou incapacitada e o abalo que provocamos foi enorme. Até um surdo deve ter ouvido. Em outras palavras, não sabemos o que pode acontecer. Tudo o que sei é que sofremos um hiper salto gigante e descontrolado. Preste atenção à volta. Somente alguns portadores voltaram ao normal, até agora.

A partir desse momento, diversos chamados eclodiram na ponte, todos eles desejando saber o que havia acontecido. A resposta, contudo, era sempre a mesma, aguardar.

Meia hora depois, quase todos já se haviam recuperado e os não portadores começavam a voltar à consciência. Apesar de serem mais fracos que os portadores, a grande maioria deles acordou como se saísse de um sono leve sem qualquer dano colateral. Para os superiores ou sapiens que se sentissem mal por mais de dois minutos, bastava um bom analgésico que tudo passava sem dificuldades. Nesse momento, Daniel tomou uma decisão:

– Daniel para tripulação. – O intercomunicador passou a transmitir para toda a nave. – Quero os chefes de cada departamento e os oficiais da ponte na sala de reuniões daqui mesmo em vinte minutos. Edna e Hermes, se fizerem a gentileza de acompanhar a reunião, agradecíamos.

Daniel não esperou o prazo e Nobuntu seguiu-o até à sala de reuniões. Assim que ambos estavam sentados, o comandante disse:

– Temo que estejamos encrencados, Almirante.

O jovem ergueu o rosto e olhou para ele por alguns segundos antes de tomar uma posição. A seguir, disse:

– Estamos vivos, coronel. – Riu e continuou. – Vivos, mas bem encrencados.

Nobuntu abanou a cabeça e acompanhou a risada. Os primeiros a entrarem foram os dois centurianos e Edna disse:

– Vocês solarianos parecem não se abalar com nada! – olhou para o amigo e fez uma careta. – Eu e Hermes estamos bastante preocupados e até assustados.

– É natural, Edna – respondeu Daniel. – Muitas vezes cada um extravasa as suas inquietudes do seu jeito.

– Sim, mas tu não te abalas com nada!

– Bem – Daniel encolheu os ombros –, tenho um treinamento especial, mas o fato é que é bom estar vivo.

– Concordo – disse Hermes, entrando na conversa. – Só resta saber por quanto tempo.

– O que tiver de ser será – disse o jovem imperador, levantando-se e pegando um chá na máquina de bebidas. – Mas sentem-se que os demais devem estar para chegar.

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