Capítulo 1 - parte 2 (não revisado)

– Atenção à frota. – A voz do avô era melancólica, sem a tradicional alegria de viver ou as gargalhadas. – Agrupem-se em Lafi e aguardem o meu retorno. Eu vou acabar o que os axturs começaram e já volto.

– Confirmado, senhor – respondeu o comandante da Terra.

– Navegação, tracar coordenadas para Axturr. Artilharia, preparem uma bomba do Juízo Final. Piloto, quero chegar lá em quinze minutos.

– Senhor, permissão para falar francamente...

– Permissão negada – interrompeu Daniel. – Execute as minhas ordens.

– Senhor...

– Execute as minhas ordens. Se não gostar, registre no diário de bordo.

– Senhor, por favor...

– Eu não gosto de me repetir, imediato. – O governador jamais agiu ou falou assim com um dos seus subordinados, deixando todos espantados. O imediato ficou estático. Ele compreendia o motivo e, no fundo, desejava castigar o inimigo, só que sabia muito bem que não era essa a solução e o próprio imperador, se estivesse vivo, não aprovaria.

Em silêncio pesado, os oficiais cumpriram as ordens. Todos eles sentiam a morte do imperador, mas para o avô, foi algo pesado demais.

– Estarei na minha cabine – disse, saindo e trancando-se, abatido e com os ombros caídos.

Mal a porta fechou, serviu-se de uma generosa dose de algo bem forte e sentou-se.

– Computador, executar diário do comandante – ordenou, com a voz embargada. Deu um gole na bebida e tentou falar, mas tudo o que conseguiu foi começar a soluçar em desespero.

Nunca foi tão apegado a alguém da família quanto era com aquele neto, em especial porque sentia um laço pai e neto, como se o Daniel fosse o pai dele e também o neto, o que não deixava de ser verdade. Em meio ao choro, sentiu uma mão delicada tocando-lhe o ombro e ergueu o rosto assustado, já que ninguém poderia ter entrado no camarote.

― ☼ ―

Na Dani, o inferno ficou à solta. Com o início da reação em cadeia da superbomba, os campos de força da nave brilhavam de forma assustadora.

– Solicitação de campo a oitenta por cento – disse um auxiliar.

– Aumentar a carga dos reatores.

– Já estão a cem por cento – berrou o engenheiro chefe.

– Eu sei, mas dê uma sobrecarga ou viramos poeira – disse o jovem, mantendo a calma. – Tanto faz morrer se explodir o reator ou os campos colapsarem.

– Campo a noventa e oito por cento – disse o auxiliar, com a voz tremida.

– Vamos lá – pediu Daniel, falando para a sua nave. – Acelera e mergulha.

Mas a nave estava demasiado pesada sem os neutralizadores de massa. A sua aceleração era muito menor.

– Campo a cento e dez por cento, pode ruir a qualquer hora.

A nave vibrava de forma assustadora, coisa que nunca antes acontecera. Sirenes de alarme desandaram a tocar em todos os setores. O alarme de catástrofe iminente era irritante, mas o imperador sabia que era o começo do inevitável fim e, por isso, Daniel arriscou o mergulho antes de chegar a uma velocidade adequada. Isso solicitaria energia preciosa dos reatores, mas se não mergulhassem, a Dani explodiria.

– Campos de força a cento e quarenta por cento – voltou a dizer o auxiliar, aflito.

– Almirante os reatores não vão aguentar – disse o engenheiro chefe. – Cento e vinte por cento.

O almirante aguardou até ao último segundo, cuidando dos níveis de energia e solicitação.

– Computador, mergulho de emergência... já. – Daniel gritou, olhando para a nave prestes a detonar. – Não esperar velocidade de transição. Tripulação, atenção para possíveis problemas violentos. Engenharia olho nos reatores. Tudo para o campo de supercarga do contrário é o fim.

O computador obedeceu e, no momento que o motor estelar foi acionado, uma preciosa quantidade de energia foi retirada do campo de supercarga, para formar o campo de mergulho.

– O campo está ruindo – disse o auxiliar com a voz calma, mas expressando um tom de pavor, concluindo que pelo menos não sentiriam nada.

Reações nucleares gigantescas formaram-se dentro e fora dos campos de força. A Dani mergulhou no espaço intermediário, carregando a sua presa no exato momento em que o campo de supercarga caiu provocando uma explosão violenta no universo normal que se seguiu no hiperespaço, mas a nave ainda não explodira.

– O campo de supercarga ruiu.

– Transferir a energia para o motor de mergulho – ordenou o imperador, calmo.

O que a tripulação presenciava era impressionante e assustador. A energia da explosão foi em parte absorvida enquanto outra parte desmanchava-se em uma reação em cadeia no universo einsteiniano. Apesar de o campo ter ruido, a nave ainda não sofreu nada. A reação explosiva que arremessaria a matéria para o hiperespaço passou a fornecer energia para a nave, mais precisamente, ao motor estelar que acelerou de forma descontrolada.

– Atenção – disse o Daniel, preocupado. – Restabeleçam os campos de força que o pior ainda não aconteceu. Rápido. Não percam tempo.

– Reatores a cem por cento – disse Kani. – Campos de força restabelecidos e os motores não estão absorvendo energia dos reatores, senhor.

– Eu sei – comentou Daniel. – Estamos acelerando demais. Já devemos estar a centenas de anos-luz de Lafi, talvez até milhares. A reação em cadeia realimenta o motor estelar, mas, se for interrompida, explodiremos. Só nos resta aguardar que a bomba se consuma e rezar para que a Dani aguente o tranco.

A nave acelerava cada vez mais e a energia que ia para os campos de força começava a aumentar de forma anormal ao mesmo tempo que os reatores voltaram a entrar em regime de sobrecarga ao tentarem compensar.

– Almirante, o campo do motor estelar está sobrecarregado. Os equipamentos estão no limite e isso é mau sinal.

– É sim, mas terão de aguentar mais um pouco.

Na sala dos reatores, um deles começou a falhar. Às pressas, um engenheiro subiu por uma escada, a colocou-se em um estrado a dez metros de altura para melhorar a regulagem do equipamento,

A pequena nave estava no fim da sua reação e era o momento mais crítico. Alarmes recomeçaram a tocar de forma enervante.

Nesse momento o motor estelar colapsou e toda a energia foi para o campo de supercarga de um soco só. Ocorreram algumas explosões no anel equatorial, os alarmes enlouquecem e a nave sofreu um abalo terrível. O pobre engenheiro despencou de cima do reator e toda a vida na Dani cessou enquanto a nave desapareceu do espaço normal mal tinha retornado para ele.

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