Capítulo 4 - parte 2 (não revisado)

O churrasco da Cybercomp, um simples banquete tradicionalista é tudo o que os do palácio não são: alegre, sem floreios, descontraído e divertido,em especial sem os mestres de cerimónia apitando para o imperador o que devia ou não fazer, se bem que Daniel não lhes ligava nenhuma e fazia o que bem entendia.

Os organizadores haviam contratado um CTG para animar animar o festejo e a música ia bem descontraída, para alegria do casal governante. Certa hora Daniel desapareceu de mansinho e, pouco tempo depois, fez-se silêncio, enquanto o paio do João, tio do Daniel e um dos governadores de um mundo afastado cento e setenta anos-luz disse, acompanhado do senhor Nuan, pai da noiva dele:

- Amigos. É com muita alegria que anunciamos o casamento do meu filho João e a sua noiva, Daniela. Devido aos acontecimentos que põem a nossa frota em prontidão constante, foi tudo arranjado às pressas. Sua Alteza Imperial, que é um dos padrinhos, fez um convite pessoal para o nosso querido desembargador Jack Centerford presidir a cerimônia.

O magistrado levantou-se e foi aplaudido pelos presentes enquanto se aproximava dos pais dos noivos.

– Como eu disse – continuou o pai –, foi tudo às pressas, então a cerimonia será realizada neste momento. João, Daniela.

Ninguém havia notado o também sumiço do casal, que surgiu vestido para a ocasião. O João trocara o quimono por um novo e a Daniela usava um lindo vestido de noiva, todo branco e justo. O desembargador disse:

– Os padrinhos devem comparecer junto aos noivos...

O banquete de encerramento do festival acabou por se tornar uma festa de casamento e das mais agradáveis, mas o Daniel era o mais feliz por não ser um dos banquetes do palácio.

– Sabe, Alteza – disse o comandante lafita que se havia sentado ao seu lado –, se me permite a franqueza, esta festa é muito mais agradável que o seu palácio.

– Pode ter a certeza, meu amigo, muito melhor mesmo. Não precisa de me chamar pelo título a não ser em casos oficiais. Pode me chamar simplesmente de Daniel.

– Obrigado, Daniel.

– No fundo, não me sinto muito bem no meu papel de imperador.

– Mas o senhor fá-lo com perfeição e vejo o quanto o seu povo o ama, Daniel – contestou o lafita. – Atrevo-me a dizer que, matematicamente, a probabilidade de um governante ter o seu grau de aprovação é muito baixa. Eu vi a transmissão pública da sua reunião com o congresso.

– Bem, acredito que seja porque me importo de verdade com eles, mas isso é a obrigação de um bom governante – disse o imperador, encolhendo os ombros. – Mudando de saco para mala, vocês por acaso já fizeram algum tipo de experiência com transmissores de matéria?

– Nós não, mas os centurianos pesquisaram muito. A ciência deles é mais avançada, apesar de compartilharmos tudo. Eles chegaram à conclusão que não é possível.

– Mas é possível sim – contestou Daniel. – Com a nova matemática que eu lhe forneci, é possível. Acabei de criar um.

– Daniel – disse Infrime, excitado. – Eu ficaria eternamente agradecido se pudesse ver isso.

– Dê-me a sua mão. – Transportam-se direto para o laboratório de física e Daniel apresentou-lhe a máquina onde alguns dos cientistas trabalhavam.

- Olhe – disse o jovem. – Este aparelho é o transmissor, apesar de atuar em ambos os sentidos.

O doutor Herbert virou-se e sorriu para o par.

– O senhor deve ser um dos cientistas de Lafi – disse o cientista, descontraído. – Muito prazer, sou o doutor Herbert.

– O prazer é meu, doutor, sou o comandante Infrime.

– Dan – continuou o físico chefe. – Que bom que vieste. Os exames com o rato estão concluídos. Foi um grande sucesso. Quando quiseres podemos experimentar com um ser humano.

– Ótimo, faremos isso agora mesmo – disse o almirante. – Eu mesmo serei a cobaia.

– De jeito nenhum! – exclamou o doutor Herbert horrorizado.

– Ora doutor – respondeu Daniel, bem calmo –, fui eu que inventei isso. Sabia que ia funcionar desde o início, então pode ficar tranquilo que nada me acontecerá.

Contrariado o cientista obedeceu e ligaram os aparelhos, repetindo-se a cena anterior. O Daniel subiu na plataforma antigravitacional e ela é empurrada para dentro do halo energético. Quando chegou ao campo de energia o físico chegou a vacilar um pouco, mas Daniel insistiu. Nesse momento, ele desapareceu para reaparecer na sala ao lado.

Saltou da plataforma e sentou-se para verificar o seu cérebro, constatando que nada mudou. Saltou de volta para a sala ao lado.

– Senhores – disse ele, alegre. – Fizemos história outra vez. Segunda feira vou anunciar a descoberta. Agora preciso de voltar para o banquete. Até breve.

– Falamos depois – disse Herbert. – Foi um prazer conhecê-lo, comandante Infrime.

Infrime sorriu e inclinou a cabeça, enquanto Daniel segurava o seu braço e transportava de volta para o churrasco. Na festa, ninguém notou a saída deles que continuaram a conversar.

– Fascinante, Daniel – disse o lafita. – Com isso é muito fácil criar uma rota de comércio de baixo custo.

– A ideia principal é essa e passaremos a informação aos nossos aliados porque será um benefício mútuo.

– Obrigado, Daniel, quase que agradeço o ataque dos axturrs. Só assim conhecemos vocês.

– Afinal o que faziam neste setor da galáxia? – perguntou o imperador, curioso. – Afinal vocês estão muito longe de casa.

– Pesquisávamos emissões da quinta dimensão provenientes desta zona.

– Então acho que mais tarde ou mais cedo, acabaríamos nos encontrando – comentou o Daniel. – Vocês devem ter detetado as nossas comunicações de super onda. Meu Deus! Isso quer dizer que outras civilizações também podem nos encontrar!

– Sim – concordou o cientista. – Infelizmente, os axturrs têm essa tecnologia. Mas as vossas comunicações são difíceis de interceptar. A onda é demasiado alta.

– Mais um motivo para acelerarmos o encontro entre os nossos mundos. Temos de criar uma aliança para nos protegermos mutuamente.

– As vossas naves são muito mais poderosas do que quaisquer outras que já vi.

– Mas são poucas, Infrime, muito poucas. Temos cinco mil naves e mais cinco mil em produção, segundo a minha última ordem. Não se esqueça que o nosso povo era desarmado até há muito pouco tempo.

– Acho, Daniel, que as cinco mil atuais seriam capazes de enfrentar o inimigo. Nos temos sessenta mil naves e os centurianos outro tanto. O inimigo tem um contingente aproximado de trezentas mil naves e mantemo-los ao respeito

– Isso é preocupante – disse Daniel, pálido. – Trezentas mil é muito.

– Quantas naves do inimigo seriam necessárias para derrubar a sua, Daniel?

– Em tese apenas umas oitenta, mas os cruzadores cairiam com quarenta.

– Então as vossas naves suportariam cerca de duzentas mil unidades inimigas. Mas se fossem atacados sem revidar. Em movimento, acho que a vossa frota, sozinha, pode com eles.

– Mesmo assim, é demasiado arriscado – disse o soberano, pensativo. – Se eu mobilizasse todas as naves, os planetas ficam desprotegidos. Preciso de uma nova reunião com os governantes.

– Bem, Daniel, não o queria preocupar – disse Infrime. – Mas afirmo que é dificílimo interceptar as vossas comunicações.

– Bem, acho melhor não falarmos sobre isso agora. Afinal é o casamento do meu primo mais querido.

– Por falar nisso, parabéns. Espero que o seu filho seja tão grande quanto o pai.

– Obrigado, amigo. Será, se Deus quiser.

A festa estava perto do fim quando um planador desceu e um piloto abriu a escotilha.

– João – disse o primo – a vossa lua de mel tem início neste momento. Infelizmente têm somente uma semana. O planador aguarda-vos para irem para lá.

– Lá onde, maninho?

– Na minha casa, no Pará. Aproveitem bem. Lá é o paraíso. Há quatro empregados, mas, se quiserem dispensá-los, basta dar a ordem. Aproveitem. É um presente singelo, mas de coração. Passei momentos maravilhosos lá, nesta e na outra vida. Vão. Daqui a uma semana, o planador irá buscá-los.

Com um abraço no primo e na família toda, o casal despediu-se. A Daniela abraçou Daniel com força, agora seu primo, e disse:

– Obrigada, Dan, nunca fui tão feliz. Obrigada por tudo.

Eles entraram e foram-se.

– Amor – disse o Daniel no seu ouvido –, que tal nos recolhermos e experimentarmos o apartamento imperial? Tem uma hidromassagem que faz a nossa parecer desprezível.

– Vamos sim, vai ser gostoso e o mordomo vai para de encher.

O casal despediu-se e foi para o palácio, para grande alegria do mordomo.

– Não desejamos ser incomodados em hipótese alguma a não ser em caso de emergência – disse o Daniel.

– Sim senhor – respondeu o homem com uma vênia exagerada e que deu vontade de rir à Daniela. – Devo preparar o banho?

– Não, amigo, sabemos nos virar – voltou a dizer o Daniel. Deu um sorriso cortês e continuou. – Se precisarmos, chamamos. Considere-se de folga.

– Obrigado, Alteza.

O atendente fez uma mesura e retirou-se. Daaniel fechou a porta e, a seguir, foi para o recinto ao lado onde ficava a banheira de hidromassagem, mais parecendo uma casa de banhos do tempo do império Romano. Aquilo não devia ser chamado de banheira e sim de piscina, com os seus quase dez metros de comprimento e cheia de água até à borda, uma água muito transparente. O piso eram em parte de mármore, como as paredes, mas, em volta da área molhada, era uma pedra porosa para não se escorregar. Daniel foi até à parede oposta e viu os comandos dela, ligando as bombas que fizeram a água começar logo a se movimentar e borbulhar forte.

O casal tirou as roupas e entrou na água que, naquele lado, tinha quase dois metros de profundidade. Nadaram até ao outro extremo, mais raso, e sentaram-se em bancos construídos na parede da banheira, ficando a apreciar a massagem com água até quase ao pescoço.

Deixaram-se ficar quietos, bem relaxados, quando um chamado telepático dirigido ao imperador atingiu ambos:

– "Daniel, gostaria de falar com vocês. Estou no meu apartamento no palácio."

– "Também estamos no palácio, Edna" – respondeu a Daniela, antecipando-se. – "Pede a um agente para te trazer aqui em..."

– Não é necessário. Aprendi algumas coisas quando compartilhei o meu espirito com o Daniel e andei treinando – disse ela, aparecendo do nada e dando um susto nos dois. – Ó que delícia, um banho público. É mesmo o que estou precisando.

Ela tirou a roupa e entrou na água, fazendo o Daniel engasgar-se porque a amiga tinha um corpo de enlouquecer. Sem se aguentar, a Daniela deu uma risadinha baixa. Ela nadou até eles e sentou-se ao lado do casal.

– O que desejas? – pergunta ele, tentando não olhar muito, mas falhando de forma miserável.

– Eu estou um pouco confusa – disse ela –, muito na verdade, mas agora nem sei como abordar isso.

– Por quê? – perguntou a Daniela, divertida com o marido e as suas tentativas infrutíferas de não olhar.

– Bem, vocês têm casamentos em grupo ou só formam pares?

– Formamos pares, mas algumas sociedades ainda têm casamentos de um homem com mais de uma mulher – respondeu a médica. – Por quê?

– Nada – respondeu ela. – É melhor esquecer o assunto.

– Por que estás confusa? – pergunta a imperatriz. – Acalma-te, Edna, que nós não mordemos. Vejo que estás nervosa!

– É que eu tenho memórias que distam trinta mil anos, mas só vivi mil anos. Memórias minhas, da minha identidade, são apenas mil anos – explicou, olhando para baixo. Ergueu o olhar e fitou a amiga nos olhos. – E, durante esse tempo todo, eu só lidei com robôs. Só que agora conheci vocês; senti a presença humana. Eu sou humana apesar de ter sido criada, tenho um espírito e estou apavorada de voltar para Centúria porque fiquei com medo da solidão. Antes, não sabia o que era isso. Além do mais, descobri outra coisa, mas vejo que é uma impossibilidade e um lado meu acha que não é justo.

– Acredito que descobriste o amor – acrescentou a Daniela à queima-roupa. – Ficaste apaixonada pelo primeiro homem que conheceste

Ela voltou a baixar os olhos, um pouco envergonhada. Em seguida, encarou o Daniel e continuou:

– É verdade, mas ele não é qualquer um. Atrevo-me a dizer que jamais um centuriano foi tão excepcional. Ao abrir a minha memória para mostrar a história da Centúria, eu absorvi muitos conhecimentos que compartilhamos. A tua nobreza e mil anos de solidão... foi forte demais, Daniel. Desculpem-me, é que nós temos, ou tínhamos, liberdade total nos relacionamentos, desde pares a grupos, até do mesmo sexo, embora não fosse muito comum esses últimos. Por isso a minha pergunta.

– Não sei o que te dizer, Edna. – Daniel estava sem jeito pois era o alvo da conversa. – Eu, ao contrário de ti, tenho menos de dezessete anos. Sou relativamente inexperiente, na verdade muito inexperiente.

– Não mais que eu, se levarmos em conta que todo o meu conhecimento é proveniente de memórias – respondeu a centuriana.

– Não é justo, realmente – disse a Daniela tomando uma decisão. – Eu sei que agradas ao Daniel...

– Já vi esse filme e acho que foi no dia em que tomei o maior susto da minha vida – interrompeu ele, sendo ignorado.

– ...então, vamos passar esta noite juntos. Pelo menos terás conhecido o amor. Mas será só esta noite, como uma fantasia ou um sonho.

– Eu não sei... – disse Edna, reticente.

– Deixa disso – insistiu Daniela dando um puxão telecinético para cima do marido. – É isso que desejas, não vou ficar ofendida.

Ao sentir-se jogada nos braços do Daniel, ela não se conteve mais e entregou-se com o corpo tremendo todo. Afinal, ela nunca esteve na intimidade com um homem, embora tivesse as lembranças da Edna original. Para ajudar, a Daniela, safada, entrou na brincadeira pensando que pelo jeito os ubruranos não tinham aquele hábito exclusivamente por serem desproporcionais entre os sexos, mas sim uma herança da Centúria, apesar de serem muito mais liberais.

― ☼ ―

CTG – Centro de Tradições Gaúchas. Clubes que visão preservar as tradições regionais e centenárias envolvendo a dança folclórica e alimentos típicos, entre outras coisas de cunho cultural e regional.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top