Capítulo 2 - parte 2 (não revisado)

– Almirante!

– Bom dia, senhores – disse o Daniel. – Como vai a situação com a nave?

– Esta nave tem umas coisas maravilhosas, senhor, mas algumas outras precisam de melhorias consideráveis. Os reatores, por exemplo.

– O que têm os reatores? – perguntou Daniel, curioso.

– A nave possui dois reatores. A potência desenvolvida por cada um deles é cinco vezes maior que os reatores da Jessy. O tamanho, porém, é metade.

– Então são muito melhores que os nossos! – exclamou o Daniel, encolhendo os ombros. – Nesse caso, o que pode haver de errado com eles?

– Nada, mas o alimentador de antimatéria é o grande problema. A nave só usa um tanque de antimatéria com uma saída bifurcada controlada por campos magnéticos de contenção ultra miniaturizados.

– Entendo – disse Daniel, sorrindo. – Eles não teriam tido problemas se tivessem dois reatores independentes como são os nossos. Pelo menos problemas de energia e talvez tivessem escapado dos atacantes.

– Exato, Almirante – confirmou Aditia Kami.

– Nunca pensamos por esse ângulo – afirmou o comandante, espantado. – Sinto-me como um aluno que acabou de ganhar uma bronca do professor.

– Bem, Comandante, Infrime – apaziguou Daniel. – Lembre-se quem, muitas vezes, as novas ideias vêm de um problema, ou seja, talvez isso nunca tenha acontecido antes.

– Nesse aspecto tem razão.

– E o resto, o motor estelar? – perguntou o almirante.

– O impacto sobre ele foi direto – disse o indiano, encolhendo os ombros. – Não tem conserto, vamos pôr um novo.

– Esses reatores aguentam facilmente um gerador de campo energético de subespaço intermediário continuo. O problema é a lei.

– O que é isso? – perguntou o comandante lafita.

– Falando em bom português, um motor estelar de mergulho, ou motor de imersão no espaço intermediário, mas o que colou mesmo, foi apenas motor de mergulho – explicou o imperador, sorrindo. – É o mesmo tipo de motor que o senhor viu na minha nave. Bem, Comandante, se não se importa, quero falar consigo a sós e com muita sinceridade.

– Acompanhe-me – pediu o alienígena. Seguiram por um corredor e desceram para o andar inferior. Infrime abriu uma sala e fez sinal para Daniel entrar. Dentro do recinto, o almirante sentiu-se bem e achou-o muito parecido com as cabines dos oficiais, lembrando um pequeno apartamento muito funcional, com uma pequena sala com sofás e outro aposento onde se via pela porta uma cama arrumada.

– Sente-se – apontou o sofá. – Aqui é o meu camarote, pode sem problemas que não seremos interrompidos.

– Comandante, eu tenho bons instintos e confio em vocês. Por isso, quero muito vos ajudar e acredito que sei o motivo de ainda não conseguirem ter saído da teoria do motor de mergulho similar ao nosso. O problema, deve ser o modelo matemático que vocês adotaram. As nossas tecnologias de navegação espacial e bélica, foram declaradas como sendo segredo de estado, especialmente esta última. Eu, pessoalmente, promulguei a lei. Entenda que todos os meus atos visam única e exclusivamente o bem-estar da raça humana. Para vos ajudar, deverei justificar o meu ato. Não posso dizer que foi apenas por instinto que eu agi dando-vos algo que nos é vital.

– O que o senhor sugere, Alteza?

– Eu tenho um dom que já poderia ter usado, mas, em respeito à vossa privacidade, ainda não utilizei, uma vez que notei que não nos oferecem riscos. Sou telepata. Se o senhor permitir, eu investigarei o seu espírito e terei a prova necessária para afirmar sob juramento, se necessário.

– Sabe, Almirante, mesmo sendo telepata, o que eu já sabia pois vi o senhor "conversar" com o seu avô, não conseguiria ler o nosso espírito, não contra a nossa vontade. Os centurianos, por serem telepatas, ensinaram-nos a protegermos a nossa mente.

– Sei disso, já vi o bloqueio na hora em que vos conheci. Por isso respeitei-o, mas eu poderia sim, atravessar o vosso bloqueio facilmente. Nós temos um código moral, não escrito, que nos impede de fazer isso a menos que fosse uma emergência, o que não era o caso.

– Alteza, não tenho nada a esconder, pode ler a minha mente, o meu bloqueio está baixado.

Sentados, os dois seres tão diferentes, e parecidos, também, ficaram quietos. Em silêncio, Daniel viu a história da civilização deles, um povo pacífico e ativo. Praticavam a navegação estelar há cerca de cem mil anos. Como a Terra, não usavam armas até que foram ameaçados, construindo os artefatos de que precisavam e usando-os. Aprenderam a lição e nunca mais deixaram de ter instrumentos de proteção, mas nunca deixaram de acreditar que poderiam encontrar outros seres pacíficos como eles, por isso, nunca foram adeptos do "atirar primeiro, perguntar depois".

E foi nessa filosofia que encontraram os centurianos que eram atacados de forma furiosa pelos axturrs. Parte da frota lafita cercou a nave dos futuros amigos e o restante deu combate aos atacantes até que fugiram. A seguir, Daniel acompanhou como os centurianos foram ajudados, rebocados para Lafi e auxiliados. Após, quando descobriram que os novos amigos não podiam voltar, cederam um continente para eles ficarem e ambos os povos viviam em harmonia há quase dezesseis mil anos, tornando-se muito amigos.

Tudo o que ele viu foi bondade e amizade.

– "Eu estava certo em confiar em vocês, amigos" – transmitiu o Daniel. – "Agora, guarde estas informações."

Sem transição, passou a transmitir todos os postulados da hexa-matemática e sentiu a euforia do cientista ao receber um presente supremo: o conhecimento de uma ciência capaz de revolucionar toda a civilização. Além disso, o jovem incluiu as informações de como construir o motor estelar.

– Obrigado por esse presente, Alteza. Pode ter a certeza que não será usado em vão.

– Eu sei – disse o imperador, na língua dele, – Pode falar o seu idioma, agora.

– O senhor é impressionante! – exclamou Infrime. – Não vi um centuriano que reunisse tantos dons.

– O senhor sabe por que nós somos assim?

– Tem a ver com uma mutação genética que provocou a evolução da vossa raça, segundo disseram.

– Exato – disse Daniel. – Essa mutação tem, digamos, um grau de intensidade. Eu e a minha esposa temos o grau máximo possível. Infelizmente, isso provocará o fim da raça tal como vocês a conhecem.

– Explique, por favor.

– Nós somos o que pode ser chamado de quase imortais. Vamos evoluir tanto, que, ao fim de alguns milhares de anos, acabamos por virar energia. Descartamos o corpo. Chamamos a isso, de ascender. Os centurianos de Centúria, já ascenderam há muito. A última a ascender, foi a Edna que vocês viram na reunião. Isso ocorreu há mil anos, aproximadamente. O que presenciaram na sala, foi uma máquina biológica, criada artificialmente, com todos os conhecimentos que ela viveu. Significa que ela tem trinta mil anos de lembranças de uma centuriana de mesmo nome, mas ela tornou-se humana. Adquiriu identidade. Tem sentimentos e emoções. Um dia, acabará por ascender.

– Isso é fascinante.

– É sim, realmente. Como eu dizia, quanto maior o grau, mais tempo vivemos, até que chegamos a um ponto em que saltamos para o próximo estágio da evolução. Para os outros, teremos morrido, ou desaparecido. Para nós, é apenas uma transição.

– Entendo. Eu mesmo já vi dois centurianos transformarem-se em luz, mas eles não explicaram com tamanha precisão. Apenas falam em ascensão quase como uma religião.

– Talvez para alguns seja realmente uma religião, mas os resultados são os mesmos. Eu assisti a minha ex mulher ascender, mas foi um acidente que desencadeou o processo.

– De fato, ainda há mais de mil centurianos que vivem desde que foram encontrados. A nossa raça vive muito, cerca de dois mil dos vossos anos, mas nada que se compare aos centurianos ou a vocês.

– À não. – Daniel riu. – A nossa raça começou o processo de mutação há muito pouco tempo. Só aproximadamente vinte e cinco por cento da população tem o gene. E só há dois com grau cem, o máximo. O homem mais velho da raça humana é o meu avô, o da risada, que tem pouco mais de setecentos anos. Na verdade, tenho uma avó um pouco mais velha. Os primeiros mutantes que sobreviveram, foram o meu bisavô e a minha bisavô, assim como uma amiga. Depois, começaram a aparecer muitas crianças. A maior parte delas, aqui mesmo, pois o meu bisavô reuniu as maiores mentes do mundo e criou um complexo de pesquisas gigantesco que é isto aqui. Como o gene está ligado à inteligência, produziu-se um efeito avalanche. Esta região começou a concentrar um grande numero de portadores. O resultado, foi que unificamos a raça humana e viramos a capital do Império do Sol. Noventa por cento das descobertas modernas, vieram do meu bisavô e dos seus cientistas. Ele viveu cerca de quinhentos e cinquenta anos.

– Entendo o que diz, mas isto não tira o mérito. O senhor fez aqui na Terra o que os centurianos ainda não conseguiram fazer em milhares de anos, nem nós – enfatizou o alienígena levantando-se.

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